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segunda-feira, 2 de março de 2020

Nouriel Roubini prevê a derrota de Trump (essa é a manchete mais importante...)

Essa matéria exagera um pouco, e mente em algumas outras previsões. Muitos outros economistas previram a crise de 2008, a começar por Roberto Schiller, prêmio Nobel (depois), que já tinha apontado a bolha imobiliária desde 2005. A matéria tampouco diz que Roubini previu  DEZ das últimas DUAS crises.
Que a Bolsa caia, está correto. Ela tinha subido muito nos últimos meses e anos, numa dessas repetições da "exuberância irracional", que também já tinha sido apontada por Alan Grenspan (presidente do Fed) desde 2006.
Não sei se teremos um desastre ainda maior do que em 2008: é possível, mas também as coisas nunca se passam como prevêem os economistas da Dismal Science. 
Por outro lado, considero sua previsão de DERROTA do Trump muito MAIS IMPORTANTE do que qualquer crise internacional ou americana. Vou apostar no Roubini no meu próximo lance de mercado. Se ele errar, vou cobrar...
Na verdade, eu preferia que o Trump fosse derrotado por ser um ignorante econômico, um idiota político, um xenófobo, misógino, racista, antiglobalista, não pelo CODIV-19. Na verdade, Roubini, um judeu iraniano, prevê que Trump será derrotado não tanto pelo virus, mas pelo aumento do preço do petróleo, que decorreria de uma guerra dos EUA contra o Irã, por mudança de regime, o que eu não acredito (os generais do Pentágono não vão se meter nesse loucura só por causa das obsessões do Trump).
Mas, se o corona virus derrotar o Trump, vou escrever uma crônica em homenagem à epidemia; aliás, historiadores econômicos dizem que a Peste Negra, ao eliminar 1/4, 25% da população europeia, serviu para impulsionar tremendamente a inovação e a produtividade...
Há males que veem para o bem. Viva o corona virus (mas só se o Trump perder...)
Paulo Roberto de Almeida

PS.: Transcreverei o original completo da entrevista na postagem sequencial.


Economista que previu crise de 2008 prevê desastre ainda maior em 2020

O economista Nouriel Roubini previu corretamente a crise financeira de 2008. Agora, ele acredita que o mercado de ações cairá de 30 a 40% por causa do coronavírus. E que Trump perderá a reeleição


Para economista Nouriel Roubini, que previu crise global de 2008, se não houver ajuste fiscal, país será rebaixado e real entrará em queda livre: “O Brasil não está fadado a uma crise. Existe um caminho, embora seja difícil e exija coragem política de quem quer que esteja no poder. Para as coisas se estabilizarem, é necessário um ajuste fiscal, não há escapatória”
Para economista Nouriel Roubini, que previu crise global de 2008, se não houver ajuste fiscal, país será rebaixado e real entrará em queda livre: “O Brasil não está fadado a uma crise. Existe um caminho, embora seja difícil e exija coragem política de quem quer que esteja no poder. Para as coisas se estabilizarem, é necessário um ajuste fiscal, não há escapatória” (Foto: Roberta Namour)

Carta Maior - Nouriel Roubini é um dos economistas mais importantes e enigmáticos do mundo. Ele previu corretamente o estouro da bolha imobiliária nos EUA, além da crise financeira de 2008, juntamente com as implicações de medidas de austeridade para a Grécia, carregada de dívidas. Roubini é famoso por seus prognósticos ousados, e agora, ele tem novos: ele acredita que o coronavírus levará a um desastre econômico global e que o presidente dos EUA, Donald Trump, como resultado, não será reeleito.
Qual a gravidade do surto de coronavírus para a China e para a economia global?
Essa crise é muito mais grave para a China e para o resto do mundo do que os investidores esperavam por quatro razões: primeiro, não é uma epidemia limitada à China, mas uma pandemia global. Segundo, está longe de terminar. Isso tem consequências enormes, mas os políticos não percebem isso.
Como assim?
Basta olhar para o seu continente. A Europa tem medo de fechar suas fronteiras, o que é um grande erro. Em 2016, em resposta à crise dos refugiados, o Acordo de Schengen foi efetivamente suspenso, mas esta crise é ainda pior. As fronteiras italianas deveriam ser fechadas o mais rápido possível. A situação é muito pior do que a chegada de 1 milhão de refugiados à Europa.
Quais são as duas outras razões?
Todo mundo acredita que será uma recessão em forma de V, mas as pessoas não sabem do que estão falando. Eles preferem acreditar em milagres. É uma conta simples: se a economia chinesa encolher 2% no primeiro trimestre, será necessário um crescimento de 8% nos três últimos trimestres para atingir a taxa de crescimento anual de 6%, que todos esperavam antes do vírus eclodir. Se o crescimento for de apenas 6% a partir do segundo trimestre, que é um cenário mais realista, veremos a economia chinesa crescendo apenas entre 2,5 e 4% durante o ano como um todo. Essa taxa significaria essencialmente uma recessão para a China e um choque para o mundo.
E seu último ponto?
Todo mundo pensa que os formuladores de políticas reagirão rapidamente, mas isso também está errado. Os mercados estão completamente iludidos. Veja a política fiscal: você pode tomar ações fiscais apenas em alguns países, como a Alemanha, porque outros, como a Itália, não têm margem de manobra. Mas, mesmo que você faça algo, o processo político exige muita conversa e negociação. Isso leva de seis a nove meses, o que é um tempo excessivamente longo. A verdade é que: a Europa precisaria de estímulo fiscal mesmo sem a crise da coronavírus. A Itália já estava à beira de uma recessão, assim como a Alemanha. Mas os políticos alemães nem sequer estão pensando em estímulo, apesar de o país estar tão exposto à China. A resposta política é uma piada - os políticos estão frequentemente atrasados. Essa crise transbordará e resultará em um desastre.
Que papel os bancos centrais devem desempenhar?
O Banco Central Europeu e o Banco do Japão já estão em território negativo. É claro que eles poderiam reduzir ainda mais as taxas de depósitos a prazo para estimular empréstimos, mas isso não ajudaria os mercados por mais do que uma semana. Essa crise é um choque de oferta que você não pode combater com política monetária ou fiscal.
O que ajudará?
A solução precisa ser médica. As medidas monetárias e fiscais não ajudam quando você não tem segurança de alimentos e água. Se o choque levar a uma recessão global, você terá uma crise financeira, porque os níveis de endividamento aumentaram e o mercado imobiliário dos EUA está passando por uma bolha, como em 2007. Até agora, ainda não se tornou uma bomba-relógio porque temos crescido. Isso acabou agora.
Essa crise mudará a opinião do povo chinês sobre seu governo?
Os empresários me dizem que as coisas na China são muito piores do que o governo está relatando oficialmente. Um amigo meu em Xangai está trancado em sua casa há semanas. Não espero uma revolução, mas o governo precisará de um bode expiatório.
Por exemplo?
Já existiam teorias da conspiração sobre interferências estrangeiras quando se tratou da gripe suína, da gripe aviária e do levante de Hong Kong. Suponho que a China começará a conflitar com Taiwan, Hong Kong ou mesmo com o Vietnã. Eles vão reprimir os manifestantes em Hong Kong ou enviar combatentes pelo espaço aéreo de Taiwan para provocar as forças armadas dos EUA. Só seria necessário um acidente no Estreito de Formosa e você veria uma ação militar. Não uma guerra quente entre a China e os EUA, mas alguma forma de ação. Isto é o que querem pessoas no governo dos EUA, como o secretário de Estado Mike Pompeo ou o vice-presidente Mike Pence. É a mentalidade de muitas pessoas em Washington.
Esta crise é obviamente um retrocesso para a globalização. Você acha que políticos como Trump, que querem que suas empresas abandonem a produção no exterior, serão beneficiados?
Ele tentará colher benefícios dessa crise, com certeza. Mas tudo mudará quando o coronavírus chegar aos EUA. Você não pode construir um muro no céu. Olha, eu moro na cidade de Nova York e as pessoas têm ido muito pouco a restaurantes, cinemas ou teatros, mesmo que ninguém tenha sido infectado pelo vírus até agora. Se vier, estamos completamente fodidos.
Um cenário de pavor perfeito para Trump?
De maneira alguma. Ele perderá a eleição, com certeza.
Essa é uma previsão ousada. O que faz você ter tanta certeza?
Porque existe um risco significativo de uma guerra entre os EUA e o Irã. O governo dos EUA quer uma mudança de regime e bombardeará os iranianos. Mas os iranianos estão acostumados a sofrer, acredite, sou judeu iraniano e os conheço! E os iranianos também querem mudança de regime nos EUA. As tensões elevarão os preços do petróleo e levarão inevitavelmente à derrota de Trump nas eleições.
O que faz você ter tanta certeza?
Isso sempre acontece na história. Ford perdeu para Carter após o choque do petróleo em 1973, Carter perdeu para Reagan devido à segunda crise do petróleo em 1979 e Bush perdeu para Clinton após a invasão do Kuwait. O campo democrata é fraco, mas Trump está morto. Cite-me sobre isso!
É necessária uma guerra contra o Irã para vencer Trump?
Com certeza, e vale a pena. Mais quatro anos de Trump significa guerra econômica!
O que os investidores devem fazer para se preparar para o impacto?
Minha expectativa é que as ações globais acumulem perdas entre 30 e 40% este ano. Meu conselho é: deixe seu dinheiro líquido ou em títulos públicos seguros, como nos bunds alemães [títulos do governo alemão]. Eles têm taxas negativas, mas e daí? Isso significa apenas que os preços vão subir e subir - você pode ganhar muito dinheiro dessa maneira. E se eu estiver errado e as ações subirem 10%, também estará tudo bem. Você precisa proteger seu dinheiro contra um craque, o que é mais importante. Esse é o meu lema: "Melhor prevenir do que remediar!"
*Publicado originalmente em 'Spiegel Internacional' | Tradução de César Locatelli