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sábado, 24 de maio de 2025

Sentimentos obscuros do atual dirigente político brasileiro, isto é, Lula, contam muito na determinação geral da politica externa nacional - Paulo Roberto de Almeida

Sentimentos obscuros do atual dirigente político brasileiro, isto é, Lula, contam muito na determinação geral da politica externa nacional

Paulo Roberto de Almeida

        Começo por uma distinção crucial.

        Sempre fiquei intrigado pela diferença entre o extremo ativismo político de Lula e do Itamaraty em relação ao problema do conflito Israel-palestinos, em especial Gaza, e a extrema vacuidade de atuação, ou sequer de reação, no tocante à guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia.

        Todos se lembram de que, no final de 2022, já presidente eleito, mas ainda não empossado, Lula participou de uma COP realizada no Egito, onde foi literalmente saudado pelo mundo inteiro, e até incensado pela mídia mundial, pelo fato de ter proclamado o “retorno do Brasil” (que ele passaria a dirigir em 2023) a posições normais na agenda ambiental, depois do horror que foram os quatro anos de políticas antiambientais e perversamente destrutivas da gestão bolsonarista que então finalizava. Lula assumiu o status de Messias do ambientalismo bem comportado e politicamente correto de um país determinante na agenda mundial da sustentabilidade. Sua recepção na mídia mundial subiu mais ainda depois dos desvairados ataques dos bolsonaristas em janeiro seguinte, reforçando o apoio de todo o mundo ao “retorno da democracia” no Brasil, após quatro anos de eclipse por parte de um abjeto  defensor da ditadura militar e do antiecologismo.

        Pois bem. Poucos se lembram do comportamento e da reação de Lula em face da apoteose que foi a recepção triunfal de Zelensky no G7 de Hiroshima, em meados de 2023, depois do fracasso da ofensiva russa contra a Ucrânia no decorrer de 2022, graças ao imediato apoio do G7, da UE, dos países ocidentais em geral, à nação atacada, em contraste com a postura objetivamente pró-Putin exibida antes por Bolsonaro e mantida e até ampliada sob Lula, por razões que remontam ao antiamericanismo tradicional do PT, à amizade de Lula por Putin, à aliança de Lula ao Brics e outros motivos inconfessáveis.

        Zelensky foi saudado como herói, ao passo que Lula foi praticamente ignorado pelos dirigentes do G7, inclusive porque já havia chocado todo o mundo democrático ao revelar sua postura notoriamente pró-Putin e pró-Rússia naquele conflito, ao atribuir ao próprio Zelensky e à OTAN a responsabilidade inicial pela guerra de agressão ao país vizinho: isso chocou o mundo democrático, o que foi confirmado por uma entrevista de Lula à Time, na qual reafirmava sua posição indisfarçavelmente de apoio à Rússia nessa cruel guerra de agressão unilateral contra um país soberano.

        Naquela reunião do G7 de Hiroshima, Zelensky foi “assediado” por todos os dirigentes, ao passo que Lula, ignorado por eles, recusou-se terminantemente a sequer encontrar ou cumprimentar o líder ucraniano, assim como passou a obstar e ignorar todas as mensagens e demandas da Ucrânia por encontros e apoio no terrível conflito.

        A partir daí, e sobretudo depois dos ataques terroristas do Hamas contra Israel, em outubro de 2023, a distinção entre uma e outra guerra se fez notória e recorrente: dezenas de notas e declarações pró-palestinas e nenhuma, absolutamente nenhuma em favor da Ucrânia, ao contrário, posturas nitidamente pró-Putin, até no claramente enviesado “Plano de Paz Brasil-China para a Ucrânia”, que obviamente foi ignorado pela UE, G7 e por todos os países democráticos.

        Podem conferir: a despeito dos piores morticínios diariamente perpetrados contra civis ucranianos não há sequer uma simples notinha de solidariedade do Itamaraty, claramente intimidado pelos pró-Putin do Planalto. Sinto vergonha pela diplomacia brasileira.

Paulo Roberto Almeida

Brasília, 24/04/2025