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domingo, 19 de maio de 2013

Existe alguma nova receita de crescimento? - Rolf Kuntz


Hora de mudar o jogo do crescimento

O Estado de S.Paulo, 18 de maio de 2013
ROLF KUNTZ *
E se os ventos mudarem? Entre 2003 e 2012, o crescimento econômico da América Latina, e especialmente do Brasil, foi puxado por uma combinação de bons preços de matérias-primas, acumulação de capital físico e aumento da mão de obra ocupada na produção. Também houve ganhos de produtividade, mas sua contribuição para o avanço econômico foi muito menor que o da acumulação de fatores. Depois de uma década brilhante, a região poderá enfrentar condições bem menos favoráveis no mercado global de produtos básicos. Se isso ocorrer, será muito mais difícil manter a prosperidade sem aumentos significativos de eficiência. O alerta apareceu há pouco tempo no blog do mexicano Alejandro Werner, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Por trás dessa advertência há uma porção de cálculos dos economistas Sebastián Sosa, Evridiki Tsounta e Hye Sun Kim, autores de um estudo sobre a expansão da economia regional nas duas últimas duas décadas. O interesse do trabalho foi essencialmente prático: estimar se o crescimento observado na recente fase de prosperidade será sustentável até 2017. A resposta sugere mudanças importantes na estratégia de crescimento.
Entre 2003 e 2012 a economia da maior parte da América Latina cresceu pouco mais que 4% ao ano. A média de Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai chegou a 4,4%. Esse crescimento foi decomposto pelos autores do estudo em três parcelas: a acumulação de capital contribuiu com 1,7 ponto, a adição de mão de obra, com 2 e a produtividade total dos fatores, com 0,7. O Brasil cresceu em média 3,3% ao ano durante esse período. Essa expansão resultou da soma de 1,3 ponto do investimento em capital físico, 1,9 da incorporação de trabalhadores e apenas 0,1 de ganho de eficiência. Este último componente, a produtividade total de fatores, corresponde à diferença entre o crescimento econômico observado e as taxas ponderadas de expansão dos fatores capital e trabalho. De forma simplificada: se os fatores de produção adicionados são insuficientes para explicar a expansão do produto interno bruto (PIB), a diferença deve ser atribuível a um aumento da produtividade.
A ideia de resíduo, logo traduzida em termos de progresso técnico, apareceu num estudo de Robert Solow, publicado em 1957, sobre a evolução da economia americana. A partir daí, economistas produziram enorme número de trabalhos para tentar detalhar e tornar mais claro esse conceito de progresso técnico. O ganho geral de produtividade pode estar associado a uma ampla variedade de inovações. Isso inclui, entre outras possibilidades, a invenção e a alteração de equipamentos, as muitas aplicações do conhecimento científico à produção, a formação de capital humano, as mudanças de organização e processo, os ganhos de escala e também a racionalidade da alocação de recursos. Pode-se esperar, de modo geral, uma associação entre os ganhos gerais de produtividade, as taxas de investimento em capital físico e a qualidade das políticas educacionais.
Segundo os autores do novo estudo publicado pelo FMI, os países latino-americanos dificilmente manterão taxas de crescimento parecidas com as da última década sem alterações importantes em suas políticas. Se tentarem prolongar a estratégia recente, o crescimento potencial da região deverá cair entre 2013 e 2017 para a vizinhança de 3,5% ao ano. A mobilização dos principais fatores determinantes do crescimento entre 2003 e 2012 deverá ficar mais difícil nos próximos anos, advertem os três economistas. Haverá menos recursos para investimento em capital fixo se o financiamento estrangeiro se normalizar (isto é, ficar menos favorável) e os preços dos produtos básicos se estabilizarem ou caírem. Além disso, alguns fatores naturais deverão limitar a contribuição da mão de obra para o crescimento econômico: 1) envelhecimento da população; 2) menos espaço para aumento das taxas de participação na força de trabalho, já muito elevadas pelos padrões internacionais; 3) menor possibilidade de elevação das taxas de emprego, depois de anos de redução do desemprego. Enfim, acrescentam os autores, uma contribuição mais forte do capital humano exigirá uma considerável melhora dos padrões educacionais.
O crescimento econômico latino-americano, observou Alejandro Werner, foi favorecido também pela melhora das políticas fiscais e pelo controle da inflação, mantida em níveis razoavelmente baixos por um longo período. Desde os anos 1990, poderia acrescentar o economista, as crises tornaram-se muito menos frequentes e a região passou a depender muito menos da ação de pronto-socorro do FMI. Mas ainda é preciso - dirigentes e técnicos do Fundo têm repetido esse aviso - consolidar os ganhos na área fiscal e aumentar as taxas nacionais de poupança e de investimento, mesmo sem a pretensão de igualar os padrões encontrados nas economias mais dinâmicas da Ásia.
Todas essas advertências valem especialmente para o Brasil, com ou sem avaliações técnicas do FMI. Segundo o estudo, o capital cresceu 4% ao ano entre 2003 e 2012 na média dos seis países incluídos no grupo do Brasil. No Brasil a expansão ficou em 2,7%. A diferença é facilmente explicável pela baixa taxa brasileira de investimento, raramente superior a 18% do PIB. No período, a produtividade total dos fatores aumentou em média 0,7% ao ano nos demais países. No Brasil, 0,1%.
O governo conhece todas essas deficiências. O esforço para mudar a política dos portos é uma de suas raras tentativas sérias para tornar o País mais produtivo. A demagogia educacional, a tolerância à inflação, a timidez nas mudanças tributárias, o abandono da responsabilidade fiscal e a hesitação nas parcerias com o capital privado têm mais que anulado as melhores iniciativas. Seriedade também é fator de produção.
* ROLF KUNTZ É JORNALISTA.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pierre Salama: as formigas asiaticas e a grande cigarralatino-americana ( o Brasil, claro...)

Le Brésil face aux autres économies émergentes d’Amérique latine et d’Asie
Paulo Paranagua
Le Monde, 20 Decembre 2012

Un émergent à la mode, le Brésil, peut en cacher d’autres, comme le Mexique, la Colombie, le Chili ou encore l’Argentine. L’ouvrage de Pierre Salama sur Les économies émergentes latino-américaines : entre cigales et fourmis (qui vient de paraître aux éditions Armand Colin) replace dans son contexte l’engouement suscité actuellement par les Brésiliens.

Salama privilégie le comparatisme et la mise en perspective, l’histoire économique au long cours.

Il ne se limite pas à comparer les performances des principales économies d’Amérique latine, il les confronte aux dragons et tigres asiatiques et à l’émergence de la Chine comme une nouvelle puissance, qui bouscule le vieux schéma sur le centre et la périphérie.

En même temps, il ne perd jamais de vue ses lecteurs français, soucieux d’une Europe en crise qui risque d’imiter des expériences latino-américaines révolues depuis deux décennies.

La comparaison entre l’Amérique latine et l’Asie tempère sérieusement l’optimisme des analystes incapables de prendre en compte les ombres et lumières du tableau. La croissance latino-américaine, notamment la brésilienne, reste très modeste par rapport à celles de la Chine et de l’Inde. Il ne faut pas prendre l’acronyme des BRICS (Brésil, Russie, Inde, Chine, Afrique du Sud) pour argent comptant.

Le poids du Brésil dans l’économie mondiale peine à dépasser les 1 %, tandis que la Chine est parvenue à atteindre les 10 %. La compétitivité de l’industrie brésilienne se dégrade, alors que celle de l’industrie chinoise s’améliore. Si les Chinois concurrencent désormais les Américains aux yeux des Latino-Américains, l’inverse n’est pas vrai : l’Amérique latine reste marginale pour Pékin.

Pédagogue, l’auteur discute aussi les théories économiques sur le développement et passe au crible les concepts, les indicateurs, les expressions utilisées couramment par les organisations multilatérales, les organisations non gouvernementales et les Etats. Derrière la critique des mots, il y a des nuances et la recherche de précision, de clarté.

L’engagement latino-américaniste de Pierre Salama n’est plus à démontrer. L’intérêt de son nouveau livre est de concilier le didactisme et la lucidité. Le Brésil et d’autres économies d’Amérique latine résistent plus ou moins bien à la crise internationale, mais elles n’ont pas pour autant surmonté leurs faiblesses. Ainsi, la moindre vulnérabilité, selon les critères traditionnels, a été remplacée par d’autres risques de contagion dus à la globalisation financière ou la dépendance à l’égard des cours des matières premières.

La reprimarisation de l’économie et la désindustrialisation relative précoce ne sont pas une fatalité. La mondialisation, l’ouverture économique peuvent être maîtrisés si l’Etat, déjà très présent par des dépenses publiques (et sociales) en hausse, se dote d’une politique spécifique. Des mesures protectionnistes passagères peuvent diminuer la désindustrialisation, mais le nationalisme qui freine l’intégration régionale n’est pas une solution à moyen ou long terme.

Salama décortique aussi les programmes sociaux et évalue leur contribution à la notable réduction de la pauvreté enregistrée dans la région. Il met en lumière l’importance de la croissance, de la création d’emplois et de la hausse des salaires dans l’amélioration du sort des Latino-Américains au bas de l’échelle. Il pointe du doigt la fiscalité régressive, qui n’aide pas à combler le fossé des inégalités.

Le social étant l’autre face de l’économie, l’auteur aborde un défi autrement plus complexe à comprendre et à relever que la dette des Etats : la montée des violences, avec l’explosion du nombre d’homicides à des niveaux insupportables en Amérique centrale, au Mexique, au Brésil, au Venezuela, alors qu’ils sont en baisse en Colombie, malgré l’absence de règlement du conflit armé interne. Salama avance prudemment sur ce terrain, conscient que les explications socio-économiques restent insuffisantes, mais qu’il n’est plus possible d’éluder l’insécurité dans une évaluation des chances de l’Amérique latine à s’imposer comme un partenaire dans le nouvel ordre économique international.

Pierre Salama, Les économies émergentes latino-américaines : entre cigales et fourmis, Armand Collin, collection U, 2012, 230 pages.