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domingo, 9 de março de 2014

Quo Vadis Brasil? Depende de quem responde... - Editorial Estadao

Para onde vamos?
Enfim, se você for um companheiro, para o mesmo caminho da Venezuela, mesmo sem querer, claro. Tudo acontece por instigação de poderosas forças internacionais, que incitam protestos sem sentido, apenas porque são de direita e se submetem a conspirações tramadas em Washington.
Essa é pelo menos a interpretação de um ideólogo dos companheiros, bastante conhecido nos meios acadêmicos.
Os EUA treinam forças reacionárias apenas para derrubar governos progressistas.
Certas pessoas no Brasil também acreditam nessas histórias, e como...
Paulo Roberto de Almeida

Vergonhoso apoio a Maduro

09 de março de 2014 | 2h 07
Editorial O Estado de S.Paulo
Em vez de assumir suas responsabilidades e pressionar o governo da Venezuela a dialogar com a oposição para superar a violenta crise no país, o governo brasileiro prefere fazer de conta que nada está acontecendo. O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, esteve recentemente na Venezuela e disse que há uma "valorização midiática" dos confrontos. "O país não parou, as coisas estão funcionando", afirmou Garcia. Não se trata de autismo, mas de uma estudada farsa, cujo objetivo é fazer crer que Nicolás Maduro tem a situação sob controle e que as manifestações só são consideradas importantes pelos "veículos de comunicação internacionais".
Desse modo, o governo petista continua a seguir a estratégia de desmerecer os protestos contra o chavismo, como se estes fossem mero alarido de quem foi derrotado nas urnas, e não uma legítima expressão de descontentamento com os rumos que o país tomou nos últimos anos. Essa política explica por que o Brasil aceitou subscrever a indecente nota do Mercosul que criminalizou os oposicionistas venezuelanos.
Enquanto Garcia finge que tudo não passa de invenção da imprensa - segundo ele, Maduro vai se encontrar com jornalistas estrangeiros para "aclarar os fatos" -, a situação na Venezuela se deteriora a cada dia. Um dos mais importantes sinais de que a desestabilização pode estar se espalhando inclusive entre os militares foi a destituição de três coronéis da Guarda Nacional Bolivariana. Eles são acusados de criticar a repressão aos manifestantes.
Além disso, em inegável tom de confronto, Maduro ordenou, durante um desfile militar, que as milícias chavistas dissolvessem barricadas erguidas por manifestantes. Esses grupos paramilitares, que agem impunemente à margem da lei, são justamente a vanguarda da repressão oficial aos manifestantes. O número de mortos em um mês de protestos já chega a 20, e há inúmeras denúncias de violações de direitos humanos por parte das forças governistas.
Foi diante desse quadro que um grupo de ex-presidentes latino-americanos, entre os quais Fernando Henrique Cardoso, decidiu publicar uma carta na qual critica a "repressão desmedida" contra "manifestações estudantis de protesto pacífico" e cita, com preocupação, os testemunhos de "tortura e tratamento desumano e degradante por parte de autoridades". A mensagem exorta Maduro a, "sem demora", criar condições para o diálogo com a oposição, pedindo o "fim imediato" da perseguição a estudantes e dirigentes oposicionistas, o fim da hostilidade à imprensa independente e a libertação dos detidos nos protestos, em especial do líder Leopoldo López - acusado pelo governo de ser o principal articulador dos protestos.
Era essa a mensagem que deveria constar das manifestações da diplomacia brasileira em relação à crise venezuelana, e não o cinismo de quem acha que nada está acontecendo. Mas o governo petista prefere endossar a beligerância de Maduro - que rompeu relações com o Panamá apenas porque esse país sugeriu uma reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) para discutir a situação. A OEA, como se sabe, é para os chavistas o equivalente à encarnação do diabo, por ter os Estados Unidos como membro.
Conforme informou Marco Aurélio Garcia, a única instância aceitável de diálogo para Maduro é, claro, a União de Nações Sul-americanas (Unasul) - aquela que, em sua última reunião de cúpula, exaltou o "impulso visionário" do falecido caudilho Hugo Chávez para a criação da entidade e que é atualmente presidida pelo notório Dési Bouterse, ex-ditador e atual presidente do Suriname, procurado pela Interpol por narcotráfico.
Sem poder contar com os países vizinhos mais importantes para constranger Maduro a interromper a violência e negociar de fato, resta à oposição seguir a prudência de Henrique Capriles, seu principal líder. Para ele, embora os protestos sejam legítimos, a única solução para a crise é a "saída eleitoral", porque "a maioria do país apoia a Constituição e quer viver numa democracia".

quinta-feira, 6 de março de 2014

Economia brasileira: pode-se NAO ser pessimista (tudo politica de governo)

Projeções pessimistas

06 de março de 2014 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
O Brasil continuará com inflação alta, crescimento econômico abaixo de medíocre e contas externas em mau estado, neste e no próximo ano, segundo as projeções coletadas pelo Banco Central (BC) na pesquisa Focus, realizada semanalmente com cerca de uma centena de instituições financeiras e consultorias. A última pesquisa, divulgada nesta quarta-feira, foi conduzida na sexta passada. Na véspera, dia 27, havia sido divulgada a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013. Na antevéspera o BC havia anunciado a alta dos juros básicos de 10,5% para 10,75%. A principal novidade, neste caso, havia sido um aumento menor que os seis anteriores, todos de 0,5 ponto porcentual. As duas notícias, juntas, foram insuficientes para mudar o humor do mercado e afetar seriamente as estimativas formuladas nas semanas anteriores. Os analistas continuam à espera de informações muito mais positivas para abandonar ou pelo menos atenuar o pessimismo. Isso dependerá basicamente do governo.
A pesquisa Focus apresenta projeções sobre preços, juros, dívida pública, crescimento econômico, câmbio e contas externas. As cifras publicadas são as medianas das estimativas. Os economistas do mercado, tudo indica, estão menos otimistas que os dirigentes do BC em relação à alta de preços. Para a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi mantida a projeção de 6%, a mesma coletada nas quatro semanas anteriores. Mas pioraram as estimativas do IGP-DI, do IGP-M e do IPC-Fipe. Só diminuíram as projeções da Selic. A taxa final prevista para o ano foi baixada de 11,25% para 11,13%. A taxa média de 2014 foi diminuída de 10,97% para 10,91%. De toda forma, foi mantida a aposta em novos aumentos de juros, porque a inflação deverá permanecer elevada e resistente.
A decisão do BC pode ter sido baseada em algum otimismo quanto à evolução dos preços. Pode ter sido motivada pela preocupação com o crescimento econômico. Pode ter resultado de uma combinação desses dois fatores. Seja como for, o pessoal das consultorias e das instituições financeiras pouco mudou suas avaliações e manteve as previsões de inflação muito longe da meta de 4,5% e de expansão econômica inferior à do ano passado. No caso do PIB, a melhora da projeção foi muito pequena, de 1,67%, na semana anterior, para 1,70%.
Mas a estimativa da produção industrial piorou, caindo de 1,87% para 1,80%. A expansão econômica mais uma vez dependerá, portanto, dos serviços e da agropecuária - e isso ainda será determinado pelos estragos da estiagem.
O pessimismo ainda se estende ao próximo ano. Para 2015, a inflação projetada continua em 5,70%, a mesma taxa estimada quatro semanas antes. O crescimento econômico deve chegar a 2%, uma taxa extraordinariamente baixa para uma economia emergente. A produção industrial poderá expandir-se 3% - resultado abaixo de pífio, depois de três anos muito ruins.
Os analistas do setor privado continuam, portanto, duvidando amplamente de qualquer melhora significativa das condições de funcionamento da economia nacional. Segundo essa avaliação, o País continuará operando com baixa produtividade e, portanto, com reduzido potencial de crescimento.
Essas dúvidas são perfeitamente compatíveis com as projeções para as contas externas. A projeção para o superávit comercial foi rebaixada de US$ 8,25 bilhões, há quatro semanas, para US$ 7,80 bilhões e, em seguida, para US$ 7 bilhões. Em quatro semanas, a previsão do saldo no próximo ano diminuiu de US$ 13 bilhões para US$ 10 bilhões. O déficit em transações correntes para este ano foi mantido em US$ 75 bilhões na pesquisa Focus da sexta-feira passada - menor que o do ano passado (US$ 81,4 bilhões), mas ainda um forte sintoma de desarranjos internos.
Um surto de investimentos produtivos poderia justificar um déficit em conta corrente dessa magnitude, mas o caso brasileiro é outro. O Brasil continua investindo menos que 20% do PIB tanto em infraestrutura quanto em meios de produção para empresas. Milagre econômico seria crescer mais com investimento tão baixo.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Lingua Sem Fronteiras, ou turistas acidentais, tropecando na lingua...

Se é para fazer um Berlitz federal, acho que teria jeito (ou geito, como diriam os çábios da UFRJ) de fazer mais barato...
Paulo Roberto de Almeida

Artigo de Matias Spektor, Folha de S. Paulo, 19/02/2014
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2014/02/1414331-sem-fronteiras.shtml 

Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br). 
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Crise no Ciência sem Fronteiras

19 de fevereiro de 2014 | 2h 10

Editorial O Estado de S.Paulo, 19/02/2014
Lançado em 2011 pela presidente Dilma Rousseff como uma das mais importantes iniciativas de sua gestão no campo da educação, o programa Ciência sem Fronteiras - que prevê a concessão de 101 mil bolsas a estudantes interessados em fazer iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior - está enfrentando duas grandes dificuldades.
A primeira dificuldade diz respeito ao perfil dos estudantes beneficiados pelo programa. Muitos não atendiam ao requisito de fluência em inglês quando foram escolhidos para estudar na Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália. Por esse motivo, não conseguiram acompanhar os cursos nos quais se matricularam. Como as bolsas estão chegando ao fim, correm o risco de voltar sem ter aprendido inglês e sem ter se qualificado academicamente. Também há alunos que, por terem perdido muito tempo apreendendo inglês, não se prepararam suficientemente e não foram aprovados no processo seletivo das universidades que escolheram.
Para tentar contornar o problema, os órgãos que lideram o programa Ciência sem Fronteiras - o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) - estariam estudando algumas alternativas. Uma delas é determinar o retorno imediato desses bolsistas para o País, o que pode acarretar um desgaste político para o governo num ano eleitoral. Outra saída é conceder financiamento adicional de seis meses para esses bolsistas, a fim de evitar que retornem sem curso acadêmico. Mas, por causa das variações cambiais, do aumento do IOF e das taxas bancárias, essa saída exigiria um gasto de mais de R$ 800 milhões com o Ciência sem Fronteiras, cujas contas já estão desequilibradas.
A segunda dificuldade do programa está no modo como foi concebido. A meta era mandar 101 mil estudantes brasileiros para o exterior no período de quatro anos, mas o governo dispunha de recursos para bancar apenas 75 mil bolsas. Pediu, portanto, a instituições financeiras, conglomerados industriais e entidades empresariais que financiassem as outras 26 mil bolsas. Desse total, até o momento a iniciativa privada teria financiado apenas 3,4 mil bolsas de estudo - cerca de 13% do prometido, segundo a Capes. Esse número é questionado pelas empresas privadas, que alegam já ter concedido 5,3 mil bolsas - ou seja, 20% do previsto.
Apesar de continuar prometendo que cumprirá a meta firmada com o Ciência sem Fronteiras, a iniciativa privada afirma que está enfrentando dificuldades para captar recursos. A entidade que assumiu o maior compromisso com o governo, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), prometeu financiar 6,5 mil bolsas de estudo, mas até agora só pagou 650 bolsas. Em nota, a Associação Brasileira de Indústria de Base, que reúne as maiores empreiteiras do País, afirma que ainda não conseguiu reunir o montante necessário para cumprir o que prometeu.
Evidentemente, essas entidades têm plena condição de bancar as 26 mil bolsas pedidas pelo governo. Na realidade, o problema não é financeiro. O que o setor privado discute é o perfil dos bolsistas do Ciência sem Fronteiras. Informalmente, o setor privado alegou que o governo os selecionou sem critérios precisos, distribuindo bolsas de forma indiscriminada. A iniciativa privada quer definir ela própria os critérios das bolsas que financiará. Entre outras reivindicações, ela deseja financiar pesquisadores que estejam vinculados não a uma universidade, como quer o governo, mas a cursos tecnológicos que atendam às necessidades do setor produtivo. A Confederação Nacional da Indústria pleiteia o direito de financiar mestrados profissionalizantes, mas enfrenta resistências veladas.
Quando lançou o Ciência sem Fronteiras, o governo foi altamente elogiado, dada a contribuição que o programa poderia trazer para ampliar o nível de formação acadêmica e profissional das novas gerações. Quase quatro anos depois, a inépcia do governo compromete o que poderia ter sido a grande realização da presidente Dilma Rousseff.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Governo companheiro afunda a Petrobras, literalmente - Editorial Estadao


Editorial O Estado de S.Paulo, 16.02.2014
Da festa política multipartidária que foi o lançamento da plataforma P-62 para a exploração de petróleo em águas profundas, conduzida pela presidente Dilma Rousseff em dezembro na cidade pernambucana de Ipojuca, talvez reste pouco mais do que a constatação de que, na essência, não passou de uma mistificação. A plataforma, a nona entregue em 2013 à Petrobrás e com operação prevista para o primeiro trimestre de 2014, não estava pronta, teve de ser concluída em alto-mar - a um custo e a um risco maiores, como comprovou a ocorrência de um incêndio a bordo -, mas propiciou ao governo ganhos que se vão esboroando à medida que se desvenda seu caráter político-eleitoral.
São graves os fatos descritos pelo diretor de segurança e saúde do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), Norton Almeida, que, no início deste mês, embarcou na P-62 para conferir os problemas. De acordo com seu relato ao Estado (14/2), o sistema náutico da plataforma saiu do estaleiro sem um cabo de ré, sem uma das amarras do sistema de ancoragem de bombordo e sem a conclusão do sistema elétrico, entre outras falhas. Foi necessário utilizar um gerador, que pegou fogo em janeiro, quando a plataforma navegava em direção ao Campo de Roncador, na Bacia de Campos, onde será utilizada. O incêndio foi controlado em 40 minutos. Mas, por causa das falhas, a P-62 chegou ao Campo de Roncador com duas semanas de atraso.
Se a plataforma tivesse ficado mais tempo no Estaleiro Atlântico Sul - onde os diferentes módulos originários de várias partes do País foram montados sobre o casco de um navio que passou por adaptações em Cingapura -, os problemas poderiam ter sido resolvidos sem os riscos das operações em alto-mar, por um grupo maior de profissionais preparados (há limite para o número de trabalhadores embarcados na plataforma) e, decerto, a um custo menor.
Mas, movido essencialmente pelo calendário eleitoral, o governo Dilma tem pressa em mostrar que, apesar de todas as evidências em contrário, a Petrobrás vai muito bem, ampliando rapidamente sua capacidade de produção e estimulando a indústria naval brasileira. Para isso, era preciso lançar o quanto antes a P-62, ainda que incompleta, como acabou fazendo.
É mais uma interferência política na empresa, que - já utilizada para atender aos interesses políticos do governo anterior, igualmente chefiado pelo PT - foi envolvida num ambicioso programa de investimentos na área do pré-sal que lhe tem causado dificuldades financeiras cada vez maiores. Por não ter recursos para aplicar em outras áreas, a Petrobrás perdeu capacidade de produção e de refino. Submetida a severo controle de preços dos derivados que comercializa e obrigada a importar combustível - para atender a uma demanda que, por não ter ampliado suas refinarias, não consegue mais atender -, vem acumulando prejuízos na sua área de refino e distribuição, o que lhe reduz ainda mais a capacidade de investir, enquanto o governo, para justificar sua obsessão pelo pré-sal, lhe impõe investimentos cada vez maiores.
Há, ainda, outra motivação política na pressa do governo em anunciar como concluídas e entregues as plataformas da Petrobrás. Por meio de um artifício contábil, as plataformas concluídas e entregues são lançadas como exportação. Isso é feito porque, "adquiridas" por uma subsidiária da Petrobrás com endereço no exterior, elas são "exportadas" e, assim, pagam menos imposto. Em seguida, elas são repassadas, por meio de uma operação de leasing, para a própria estatal.
Em momentos de dificuldades econômicas - com baixo crescimento, inflação alta, mau desempenho da balança comercial, entre outras características -, quanto mais o Brasil "exportar" plataformas que não saem do País, melhor tende a ser o saldo comercial. No ano passado, por exemplo, foram "exportadas" sete plataformas, a última das quais justamente a P-62. O resultado foi a contabilização de vendas externas de US$ 7,7 bilhões. Foi o que garantiu contabilmente o pífio superávit comercial de US$ 2,56 bilhões. Na realidade, a balança fechou com déficit. Mas isso o governo não admite.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Heranca maldita dos companheiros: o Brasil recua na industria - Editorial Estadao

O Brasil conheceu vários retrocessos nos últimos dez anos. Este foi um deles.
Paulo Roberto de Almeida

Desastre no emprego industrial

14 de fevereiro de 2014 | 2h 08
O fracasso da política industrial da presidente Dilma Rousseff, uma das marcas de sua administração, pode ser medido pela queda da produção, pela piora das contas externas, pela inflação persistente e também pela redução do emprego setorial. Em 2013 a indústria cortou 1,1% de seus assalariados e o número de horas pagas diminuiu 1,3%, segundo informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar disso, a folha de pagamento real aumentou 1,2%, com a elevação do salário médio, um dos poucos aspectos positivos do balanço dos últimos três anos. A maior parte das informações indica o fiasco da política de incentivos e o erro do diagnóstico formulado e teimosamente mantido pela equipe econômica. Tudo se passa como se os gabinetes federais fossem blindados contra más notícias originadas na economia brasileira. Males autênticos e reconhecidos, só os provenientes do mundo cruel fora das fronteiras nacionais.
Como se ignorasse os números do IBGE e de outras fontes do governo, a presidente chamou de pessimistas e caras de pau os autores de críticas baseadas nesses mesmos dados. Serão pessimistas e caras de pau também os responsáveis pelas estatísticas oficiais?
Segundo o IBGE, os empregados ocupados na indústria aumentaram 1% em 2011, diminuíram 1,4% em 2012 e encolheram mais 1,1% em 2013. No ano passado, o emprego na indústria foi, portanto, cerca de 1,5% inferior ao de 2010. A queda poderia ter sido maior, se a oferta de mão de obra qualificada ou meramente qualificável fosse mais abundante. Nesse caso, as empresas teriam provavelmente dispensado maior número de funcionários, porque a reposição, quando os negócios melhorassem, seria mais fácil.
A moderação nas demissões, apontada pelo governo como um dado positivo da economia brasileira, é de fato um indício de outro desastre, o da política educacional da era petista. Durante os oito anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a prioridade foi facilitar o acesso ao chamado ensino superior. Foi uma decisão obviamente demagógica e eleitoreira. Não se deu a necessária importância aos problemas dos níveis fundamental e médio.
O desempenho dos estudantes brasileiros nos testes internacionais melhorou um pouco, mas continuou muito ruim. O governo preferiu festejar a pequena melhora e negligenciar o problema, apesar dos alertas lançados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em suas pesquisas sobre a qualidade da mão de obra.
Só há pouco tempo o governo federal começou a se ocupar do ensino profissionalizante - uma novidade explorada pela presidente Dilma Rousseff como se fosse uma revolução promovida pelo PT. Por que, afinal, ela deveria reconhecer as ações há muito tempo desenvolvidas por alguns Estados, principalmente o de São Paulo, e por entidades empresariais mantenedoras de instituições como o Senai e o Senac? Esse reconhecimento envolveria algum compromisso com os fatos e destoaria do estilo partidário.
A redução do emprego industrial combina, obviamente, com o enfraquecimento da indústria nos últimos três anos. O setor perdeu eficiência e poder de competição, prejudicado pelo mau ambiente de negócios, pela insegurança resultante da improvisação política e pelo continuado aumento de custos - salariais, por exemplo.
A redução do emprego industrial foi de certa forma disfarçada pela geração de vagas em outros setores. O governo chama a atenção, com frequência, para o nível de emprego no Brasil, comparando-o com números bem menos favoráveis principalmente nos países desenvolvidos. A vantagem brasileira diminui muito quando a comparação é feita com outros países emergentes ou em desenvolvimento. Mas o dado negativo mais importante, e pouco visível nos grandes números, é a queda da qualidade do emprego. A indústria ainda é a principal fonte de empregos decentes e razoavelmente remunerados. Vagas foram abertas, nos últimos anos, principalmente em atividades pouco produtivas e com padrões de contratação menos favoráveis. Mais uma grande realização petista.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

A heranca maldita dos companheiros: keynesianismo de botequim afunda a economia do Brasil

 Apenas um destaque, mas é o suficiente, neste editorial do mais famoso jornal da imprensa golpista no Brasil, certamente empenhado em causar desastres para os companheiros bem intencionados:

Pode-se falar com propriedade sobre dois legados malditos, um do presidente Lula para sua sucessora e outro da presidente Rousseff para quem assumir a chefia de governo em 2015. Os dois legados, complementares, incluem contas públicas em mau estado, inflação muito alta pelos padrões internacionais e economia com baixo nível de competitividade.

Paulo Roberto de Almeida 
O fiasco da política industrial
07 de fevereiro de 2014 | 2h 06
Editorial O Estado de S.Paulo

O fracasso econômico da presidente Dilma Rousseff acaba de ser atestado oficialmente, mais uma vez, com os números do desastroso desempenho da indústria em 2013. A produção industrial cresceu só 1,2% no ano passado. Precisaria ter crescido pouco mais que o dobro disso apenas para compensar a redução de 2,5% em 2012 e retomar o nível de 2011, primeiro ano do atual governo, quando a expansão ficou em 0,4%. De fato, ficou pouco abaixo do nível de 2010. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dirigido por pessoas até agora insuspeitas de envolvimento em guerra psicológica. Depois de três anos de diagnósticos errados e medidas tão inúteis quanto custosas, o balanço é inequívoco: a produção do setor encolheu ao longo de três quartos da atual gestão.
A aritmética é simples: quando o produto cresce 0,4% no primeiro período, encolhe 2,5% no segundo e aumenta 1,2% no terceiro, o valor acumulado é um número negativo (-0,93%). O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, candidato ao governo paulista, deve ter a respeito do assunto informações muito exclusivas e desconhecidas do pessoal do IBGE e de outros analistas da atividade industrial. "Em três anos", disse ele em Brasília, na segunda-feira, em cerimônia no Ministério, "conseguimos reverter legados malditos, fruto da ausência de uma política industrial neste país nos anos 90."
Pode-se falar com propriedade sobre dois legados malditos, um do presidente Lula para sua sucessora e outro da presidente Rousseff para quem assumir a chefia de governo em 2015. Os dois legados, complementares, incluem contas públicas em mau estado, inflação muito alta pelos padrões internacionais e economia com baixo nível de competitividade.
A insuficiente formação de capital fixo - demonstrada novamente pelos dados da indústria - é parte dessa herança dupla. Segundo a presidente e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, a economia brasileira é agora puxada pelo investimento, isto é, pela aplicação de recursos em máquinas, equipamentos, edificações civis e infraestrutura. Os atrasos do programa de infraestrutura são conhecidos. Só dentro de alguns anos as graves deficiências do setor de transportes começarão a diminuir de forma significativa. No setor industrial o investimento continua estagnado e ninguém sabe quando esse quadro começará a mudar.
Autoridades chamaram a atenção mais de uma vez para o crescimento, em 2013, da indústria de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos. Mas os números só impressionam quando examinados em perspectiva muito limitada. No ano passado, o segmento de bens de capital produziu 13,3% mais que no ano anterior, segundo o IBGE. O resultado parece muito promissor e até entusiasmante. Mas a produção havia diminuído 11,8% no ano anterior. Havia caído, portanto, a um nível correspondente a 88,2% do alcançado em 2011.
Um crescimento de 13,3% sobre essa base leva a um patamar ainda equivalente a 99,93% do alcançado dois anos antes. Ou seja, o resultado acumulado em 2012 e 2013 foi um crescimento pouco abaixo de zero. Além disso, o aumento da produção de bens de capital foi altamente concentrado em caminhões e máquinas agrícolas e refletiu, portanto, a evolução do setor mais dinâmico e mais eficiente do Brasil, a agropecuária.
Outros indicadores da indústria completam harmonicamente o quadro sombrio. O crescimento da produção de bens intermediários foi nulo. O segmento de bens de consumo duráveis foi 0,7% maior que em 2012, quando havia diminuído 3,5%. A fabricação de bens de consumo semiduráveis e não duráveis encolheu 0,5%, depois de ter aumentado apenas 0,2% no ano anterior.
Mas o emprego e o consumo ainda cresceram em 2013. De fato, o emprego cresceu, mas principalmente em atividades pouco produtivas. A expansão do consumo refletiu-se em parte no aumento de preços - maior que o do ano anterior - e em parte no aumento das importações e na deterioração do saldo comercial. São tópicos interessantes para os próximos comentários econômicos do candidato Alexandre Padilha. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O modelo desenergetico petista: apagoes garantidos - Editorial Estadao

Início do conteúdo

Modelo elétrico danoso

07 de fevereiro de 2014 | 2h 06

O Estado de S.Paulo
Relatórios do governo sobre o setor elétrico, assim como suas tentativas de justificar apagões como o de terça-feira passada, podem transmitir ao público a falsa sensação de que o sistema nacional de energia elétrica vai bem e continua a se expandir. No caso da rede de transmissão, por exemplo, a expansão tem sido contínua, com aumento de quase 28% entre 2007 e 2013, embora a maioria dos projetos esteja atrasada. O que os frequentes apagões demonstram, porém, é que a expansão da rede, embora necessária, não é suficiente para dar segurança ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
O programa de expansão da capacidade do setor elétrico adotado pelo governo do PT, baseado na construção de grandes unidades geradoras em locais cada vez mais distantes dos principais centros de consumo, tornou essencial o papel da rede de transmissão na preservação da capacidade operacional de todo o sistema. E a rede tem crescido. Apesar de levantamentos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) apontarem que 227 de 448 obras de construção, ampliação e requalificação de linhas e subestações estão atrasadas, números do Ministério de Minas e Energia indicam que a malha vem se expandindo com rapidez. De 2007 a 2013, a rede passou de 91,3 mil quilômetros para 116,8 mil quilômetros, e a previsão é de que, até 2016, entrem em operação mais 26,7 mil quilômetros de linhas.
No entanto, para que a rede de transmissão desempenhe com eficácia e confiabilidade seu papel, não basta apenas expandi-la. É preciso investir também na manutenção e na segurança do sistema já existente, para reduzir os riscos de acidentes que provoquem a interrupção do abastecimento. Mas a imposição, pelo governo, de um novo modelo para o setor vem inibindo os investimentos em manutenção e modernização da rede. O resultado é a perda de eficiência e o aumento do risco de pane do sistema.
O modelo de renovação das concessões nas áreas de geração e transmissão de energia elétrica imposto às empresas do setor pelo governo em 2012, por meio da Medida Provisória 579, paralisou os investimentos das antigas concessionárias. Segundo as empresas, a proposta de renovação das concessões implicava na prática a transferência de todos os seus ativos para a União, e elas passariam a ser remuneradas pela operação e manutenção da rede, não mais pelos ativos, o que desestimulou novos investimentos.
As empresas que não renovaram as concessões, de sua parte, ficaram sem garantias de que os novos investimentos serão contabilizados pela Aneel. Se o investimento não resultar em aumento da capacidade do sistema, a Aneel não o reconhecerá como tal, razão pela qual a empresa ficará sem a remuneração correspondente. Obviamente, nenhum empreendedor investirá se não tiver a expectativa de que seu investimento será remunerado. Assim, obras já previstas atrasaram, outras foram suspensas.
Mesmo no caso de investimentos em expansão da malha, há informações de projetos que ficaram no papel. "Todo mundo está fazendo o básico, não há qualquer estímulo para aprimorar a infraestrutura", disse ao jornal Valor (6/2) o diretor executivo da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate), Cesar de Barros.
Além das falhas do novo modelo imposto ao setor pelo governo Dilma - que, para evitar o aumento das tarifas em ano eleitoral, terá de transferir até R$ 18 bilhões do Tesouro para empresas geradoras, distribuidoras e transmissoras de energia elétrica -, a execução do programa de ampliação do sistema tem enfrentado problemas variados. Entre eles estão as dificuldades para o cumprimento do cronograma das obras por diferentes motivos e a falta de sincronia entre as obras de geração e as de transmissão.
Na prática, por causa dos atrasos, a transmissão está sempre atrás da geração. Cada nova unidade geradora que entra em operação sem a necessária ampliação da malha de transmissão, ou seu reforço para absorver volumes maiores de energia, implica mais carga sobre a rede, o que aumenta a possibilidade de ocorrência de falha.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Brasil-Cuba, companheiros: olhando para o passado, e ficando para tras...

Dilma em Cuba

29 de janeiro de 2014 | 2h 10
Editorial O Estado de S.Paulo
Sem entrar no mérito das negociações diplomáticas e comerciais do governo brasileiro com o de Cuba, que resultam no momento em decisiva contribuição dos cofres públicos nacionais para a implantação da Zona de Desenvolvimento Especial do Porto de Mariel na ilha dos irmãos Castro, este mais recente afago à ditadura cubana reitera o carinho de Dilma Rousseff pelo dogmatismo ideológico que o lulopetismo compartilha com os Castros e só não logrou ainda consagrar plenamente entre nós por duas razões. Primeiro, porque, pragmaticamente, sua prioridade passou a ser manter-se no poder a qualquer custo; depois, pela razão histórica de que a superação de dois regimes discricionários no século passado, o getulista e o militar, teve o dom de fortalecer nossas instituições democráticas e dificultar a escalada de aventuras autoritárias, especialmente a partir da promulgação da Carta Magna de 1988 - a cujo texto, aliás, o PT fez ferrenha oposição.
A conquista do poder e seu exercício por onze anos converteram o lulopetismo, nunca é demais repetir, em um pragmatismo que hoje o identifica com as piores práticas políticas que são, desde sempre, a principal característica do patrimonialismo. Mas, principalmente para efeito externo - mas também para satisfazer a militância que ainda imagina pertencer ao velho PT -, o discurso "libertário" do "socialismo do século 21" mantém-se inalterado e foi para exercitá-lo que Dilma Rousseff decidiu encerrar na ilha dos Castros seu último périplo internacional. Pois precisava de algum modo exorcizar eventuais fluidos negativos remanescentes de sua passagem por Davos, o covil do capitalismo, onde foi praticamente implorar por investimentos estrangeiros no Brasil.
Ao lado de Raúl Castro e no indispensável beija-mão de Fidel, Dilma esteve perfeitamente à vontade. Não se poupou de reafirmar que tem "muito orgulho" da boa relação que mantém com a dupla que há mais de meio século domina a ilha com mão de ferro e nenhum apreço pelas liberdades democráticas. Derreteu-se em agradecimentos ao favor que Cuba presta ao Brasil ao fornecer, para o programa Mais Médicos, a um custo altíssimo só parcialmente repassado aos profissionais, os doutores que aqui desembarcam para suprir a deficiência de atendimento básico nos grotões que a incompetente política nacional de saúde não tem conseguido alcançar. Para conferir maior brilho a esse tópico de sua agenda em Havana, Dilma levou a tiracolo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que brevemente será o candidato do PT ao governo de São Paulo.
Mas foi no Porto de Mariel, no qual o nosso Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já havia investido mais de US$ 800 milhões e agora vai colocar outros US$ 290 milhões - menos mal que com a condição de serem gastos com fornecedores brasileiros de bens e serviços -, que Dilma escancarou sua admiração pela mítica ilha dos sonhos da esquerda inconsequente. Chegou mesmo a enaltecer o fato de que "Cuba gera um dos três maiores volumes de comércio do Caribe", algo assim tão relevante e extraordinário para a economia globalizada quanto, para o futebol mundial, saber que o Confiança Futebol Clube, de Aracaju, é uma das três maiores forças do ludopédio sergipano.
A presidente foi a Havana também para bater ponto na 2.ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos (Celac), preciosa oportunidade para mais uma manifestação de simpatia pela ideologia "libertária" que irmana o lulopetismo aos Castros e a outros aventureiros bolivarianos do continente.
Ao procurar sua turma, Dilma Rousseff deixa no ar uma questão fundamental para o futuro da democracia brasileira, que a tão duras penas tenta se consolidar: o que o PT planeja para o Brasil é o mesmo que, para ficar apenas no continente, os amigos de fé de Lula e Dilma oferecem a cubanos, nicaraguenses, venezuelanos, bolivianos, equatorianos e argentinos? Sonho por sonho, melhor acreditar que tudo é apenas jogo de cena.

domingo, 26 de janeiro de 2014

O Brasil nao tem mao-de-obra para participar da globalizacao - Editorial Estadao

Mão de obra precária

Editorial O Estado de S.Paulo, 26/01/2014

Dois estudos recentes comprovam que já se tornou crônica a escassez de mão de obra qualificada no Brasil, o que pode comprometer ainda mais a capacidade produtiva nos próximos anos. Se nada for feito urgentemente para começar a reverter esse quadro, o País estará condenado a ter por muito tempo ainda o crescimento econômico pífio que apresenta hoje - com efeitos negativos na distribuição de riqueza.
Um dos estudos, elaborado pelo IBGE, indica que as pessoas de 14 anos ou mais que não tinham terminado o ensino fundamental representam 26,9% dos 90,6 milhões de trabalhadores ocupados, segundo dados do segundo trimestre de 2013. Os ocupados com nível superior são apenas 14,9% do total, e os que não dispunham de nenhuma instrução chegam a 5,4%.
Tais números são próximos daqueles que compõem o perfil educacional do País. Dos brasileiros acima dos 14 anos, isto é, em idade de trabalhar, 31,6% não têm o fundamental completo, 10,7% têm o superior completo e 9,4% não têm nenhuma formação.
As informações constam da nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que mostra dados trimestrais sobre emprego. Desde 2012, conforme o levantamento, o número de trabalhadores menos escolarizados diminuiu, mas os indicadores apontam que a escolarização ainda segue sendo muito precária, insuficiente para atender à demanda cada vez maior por parte das indústrias e mesmo dos setores de serviços e da construção civil, que tradicionalmente exigem menos especialistas na hora de contratar.
Outra pesquisa, esta da Fundação Dom Cabral, mostra que 91% das 167 empresas consultadas manifestaram dificuldades para contratar em 2013. Trata-se de uma situação estável em relação aos 92% verificados na primeira pesquisa, em 2010. No entanto, a fundação alerta que cresceu o número de empresas que mencionaram um conjunto maior de profissões com falta de mão de obra. Isso significa que, antes, a escassez de trabalhadores era mais acentuada em apenas alguns setores; hoje, no entanto, a gama de atividades que enfrentam dificuldade para contratação ampliou-se, com a escassez praticamente generalizada.
A pesquisa mostra que a grande maioria das empresas (83,23%) cita a falta de trabalhadores capacitados como a principal dificuldade na hora de contratar, seguida de deficiência na formação básica dos candidatos, com 58,08% das menções. O responsável pelo estudo, Paulo Resende, diz que "os profissionais chegam ao mercado com dificuldades básicas, como fazer contas ou interpretar textos", uma situação que obriga as empresas a "investir cada vez mais em treinamento e capacitação dos seus funcionários, elevando seus custos e, consequentemente, reduzindo a sua competitividade".
O remédio, para as empresas, é reduzir as exigências. A pesquisa indica que 51% das companhias deixam de requerer experiência dos candidatos, enquanto chega a 13% o porcentual de empresas que aceitam empregados até mesmo sem nenhuma habilidade. Mesmo assim, nem todos os cargos são preenchidos, e então é necessário buscar funcionários no exterior. Segundo Resende, o tempo que as empresas levam para contratar e treinar um profissional de nível técnico e superior pode levar até oito meses, algo que também afeta diretamente a produtividade.
A fartura de trabalhadores foi determinante para que, na década passada, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita se expandisse 20%, enquanto a produtividade cresceu apenas 10%. Agora, no entanto, a disponibilidade de mão de obra estreitou-se, e a maior parte dela é despreparada para o necessário salto da capacidade produtiva.
A solução do problema não passa apenas pelo estímulo aos cursos de capacitação técnica - necessários, porém insuficientes, pois seus resultados, em boa parte dos casos, são apenas paliativos. O importante, reitere-se, seria ter investimentos massivos e duradouros em educação básica, cuja precariedade condena o setor produtivo brasileiro à mediocridade.

A baixa participacao do Brasil no comercio internacional - Editorial Estadao

O Brasil fora do jogo comercial

Editorial O Estado de S.Paulo, 26/01/2014

As regras do jogo para os novos acordos internacionais de comércio estão sendo criadas sem a participação do Brasil - e podem ser contrárias às posições defendidas tradicionalmente pela diplomacia brasileira. Falando em Davos, no Fórum Econômico Mundial, o chefe dos negociadores americanos, Michael Froman, deixou clara a intenção de valorizar cláusulas sociais e ambientais nos acordos em discussão neste momento. Ele se referia aos projetos em negociação com a União Europeia, a Parceria Transatlântica, e com países do Pacífico, a Parceria Transpacífica. A ideia é estabelecer novos padrões, mais severos, para os futuros tratados de livre-comércio. "Vamos elevar a barra", disse Froman, usando uma imagem esportiva. A mensagem é inconfundível: a ideia é mudar as condições de competição e tornar o salto mais difícil.
O governo brasileiro se opôs à inclusão de cláusulas sociais e ambientais na Rodada Doha de negociações multilaterais, lançada no fim de 2001. Houve amplo apoio a essa posição e os governos do mundo rico, principais defensores daquelas cláusulas, tiveram de recuar. Mas a rodada empacou e nada importante ocorreu a partir de 2008, apesar das várias tentativas, lideradas pela OMC, de reativar as conversações.
Dezenas de governos continuaram, no entanto, construindo acordos bilaterais e inter-regionais, com isso fragmentando o sistema internacional de regras. Países grandes e pequenos participaram dessas discussões, mas o Brasil permaneceu à margem, por uma decisão política - de fato, ideológica - de dar prioridade à integração com os países do "Sul", uma entidade geopolítica imaginária, moldada segundo os padrões do terceiro-mundismo.
A diplomacia econômica brasileira funcionou basicamente com duas referências nos últimos dez anos. Um dos focos foi o multilateralismo, representado, na prática, pela Rodada Doha. O outro foi a decisão de buscar acordos parciais apenas com países em desenvolvimento e de aprofundar os laços com o "Sul" idealizado.
Esses acordos foram negociados em conjunto com o Mercosul, dominado pelo terceiro-mundismo brasileiro e pelo protecionismo argentino. Essa estratégia também refletiu, em parte, a fantasia do presidente Lula de liderar a região.
Essa liderança ficou na retórica. O sepultamento do projeto da Área de Livre-Comércio das Américas, promovido pelos governos brasileiro e argentino, criou um descompasso entre o Mercosul e os países com ambições mais amplas de integração internacional. Os poucos acordos concretizados pelo Mercosul foram negociados com mercados pouco importantes. Os sul-americanos mais empenhados na inserção internacional buscaram acordos com os EUA e outros países avançados.
Esses países conseguiram boas condições de acesso aos mercados mais desenvolvidos. Ao mesmo tempo, economias altamente competitivas, como China e Coreia, ampliavam sua participação nesses mercados. O Brasil foi um grande perdedor. De fato, perdeu também na América Latina, onde concorrentes de outras regiões conquistaram espaço nos últimos dez anos.
A Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colômbia e México, tornou mais evidente o distanciamento entre as políticas comerciais do Brasil e das economias mais abertas da América Latina. Nesse acordo, o México faz uma ponte entre a América do Norte e a do Sul e assume, naturalmente, uma posição de liderança jamais conseguida pelo Brasil.
O novo governo mexicano mostra boa percepção dessas diferenças. A Aliança do Pacífico, disse o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, é a sua plataforma para acordos com países da América do Sul.
Fora das grandes negociações, o Brasil tem de assistir de longe, sem possibilidade de interferência, à formação de novos critérios para acordos comerciais. Quando a Rodada Doha novamente deslanchar - se deslanchar -, esses novos padrões poderão estar muito mais difundidos do que estiveram até hoje. O terceiro-mundismo requentado poderá ficar ainda mais custoso do que foi até agora.