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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Lula pretende rever indicações de Bolsonaro para embaixadas e posto na ONU - Felipe Frazão (OESP)

TRANSIÇÃO


Itamaraty
Lula pretende rever indicações de Bolsonaro para embaixadas e posto na ONU

Ministro das Relações Exteriores , Carlos França telefonou para Celso Amorim , um dos articuladores da equipe petista

FELIPE FRAZÃO, BRASÍLIA
O Estado de S. Paulo, 7/11/2022

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja rever as indicações de embaixadores feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Senado. Há pelo menos 15 embaixadores já apresentados formalmente pelo atual chefe do Executivo cujas sabatinas estão travadas desde o início da campanha eleitoral. Com a transição de governo, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, telefonou para o ex-chanceler Celso Amorim, um dos articuladores da equipe petista.

A conversa ocorreu na manhã da sexta-feira passada. Ficou acertado que eles voltarão a discutir detalhes da transição e dos novos representantes do País no exterior a partir da semana que vem, depois que Amorim retomar as atividades - ele passará por uma cirurgia em São Paulo amanhã. Em tom considerado gentil e republicano, França se dispôs inclusive a encontrar o ex-ministro de Lula fora de Brasília.

"É assunto delicado e teremos que analisar enquanto a transição progride", disse Amorim ao Estadão. "São cargos de confiança. Tudo vai se passar de modo civilizado, as providências que tiverem que ser tomadas serão tomadas, sem espírito persecutório."

Além de rever indicações, o novo governo ainda promoverá uma série de mudanças de titulares que estão em atividade em postos estratégicos. O principal deles é Washington, representação chefiada por Nestor Forster, diplomata identificado com Bolsonaro.

Também deverá haver troca em Buenos Aires e na representação da ONU, em Nova York.

CHANCELER. O futuro do atual chanceler e de sua equipe será negociado caso a caso, com o time de Lula, num processo conhecido como "testamento". No fim do mandato, cabe ao titular do Itamaraty conduzir a realocação de embaixadores no rodízio diplomático.

Em reuniões no Itamaraty, França já definiu quem serão os representantes do ministério na transição. O principal nome será o secretário-geral das Relações Exteriores, Fernando Simas Magalhães, o número dois na hierarquia da pasta, auxiliado por seu chefe de gabinete, Gabriel Boff Moreira. O próximo posto de Simas, proposto para a embaixada na Itália, está em jogo.

Em privado, os próprios embaixadores da atual cúpula do Itamaraty reconhecem que as indicações serão revistas. O governo eleito indica que não abrirá mão de ter nomes da estrita confiança de Lula.

Ao Estadão, o Itamaraty disse esperar que as sabatinas ocorram a partir de 21 de novembro. Mas senadores afirmaram que a dança das cadeiras no serviço exterior pode ser postergada. Há cúpulas internacionais que podem atrapalhar as conversas, como a COP-27, no Egito, e o G-20, na Indonésia. O assunto será discutido hoje, em reunião convocada pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

COM ISSÃO. A Comissão de Relações Exteriores do Senado está acéfala. Os últimos embaixadores sabatinados foram aprovados em junho. Nesta quinta-feira, haverá eleição do novo presidente. Por acordo, a vaga ficará com o senador Esperidião Amin (PP-SC).

O receio da bancada do PT e de senadores alinhados a Lula era de que parlamentares ligados ao Palácio do Planalto tentassem impor uma aprovação às pressas de nomes alinhados ao bolsonarismo. Isso faria com que Lula fosse obrigado a reverter as nomeações a partir de janeiro, o que implicaria custo político e despesas.

Mas, até no Itamaraty, a expectativa é de mudanças na lista, ainda que parciais. Um embaixador lembrou que, mesmo se aprovados no fim do ano, os novos chefes de missão só chegariam aos postos a partir de janeiro, tendo as cartas credenciais já assinadas por Lula.

Se não houver acordo para retirada de parte dos nomes até o fim de novembro, a bancada do PT no Senado prepara duas ações. A equipe do senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da comissão, defende que as sabatinas sejam suspensas temporariamente e pretende apelar a Pacheco para que ele retire de tramitação as mensagens enviadas pelo Planalto.

O foco são embaixadas consideradas estratégicas para a política externa. Da lista que chegou ao Senado, devem ser revistos Buenos Aires, Organização Mundial do Comércio (OMC), Haia, Santa Sé e Roma. Para integrantes do PT, esses cargos são sensíveis e os embaixadores devem estar alinhados ao presidente eleito.

ARGENTINA. Das embaixadas mais sensíveis já indicadas, há uma grande preocupação com Buenos Aires, destino de visita de Lula nas próximas semanas. Atualmente na Itália, o indicado de Bolsonaro é o embaixador Hélio Vitor Ramos Filho, ex-assessor do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (PSDB-RJ). Ele substituiria Reinaldo Salgado, indicado para Haia, na Holanda.

"Algumas indicações podem ser revistas, porque são postos estratégicos. É o caso de Buenos Aires, que é eixo estruturante do Mercosul e da integração regional, além da relação bilateral com a Argentina", disse o assessor do PT no Senado e especialista em Relações Internacionais Marcelo Zero, cotado para compor a equipe de transição na política externa.

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Algumas dessas indicações podem ser revistas, porque são postos estratégicos.

"É o caso de Buenos Aires, que é eixo estruturante do Mercosul e da integração regional, além da relação bilateral com a Argentina "

Marcelo Zero

Assessor do PT no Senado e especialista em Relações Internacionais

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Embaixadas retiram diplomatas do Brasil pelo risco Bolsonaro - Miriam Leitão

O Brasil retorna mais de 100 anos atrás, quando os estrangeiros não queriam vir ao Rio de Janeiro por causa da febre amarela. Os diplomatas se refugiavam em Petrópolis, como aliás o próprio chanceler, o Barão do Rio Branco.
Pois é, o Brasil acaba de ser rebaixado a essa condição novamente – "shit-hole countries", como diria Trump –, a de espantalho de diplomatas estrangeiros.
Mais um galardão para Bolsonaro
Paulo Roberto de Almeida 

CRISE NA SAÚDE
Embaixadas recebem pedidos para retirar funcionários do Brasil pelo risco Bolsonaro
Por Míriam Leitão (com Ricardo Loureiro)
O Globo, 15/05/2020 • 17:31

Recebi a informação de que em algumas embaixadas tem chegado circulares de países para que seus diplomatas deixem o Brasil. E que as representações diminuam o número de pessoal dentro das embaixadas, porque o Brasil está sendo considerado um país perigoso, pela condução temerária do presidente Bolsonaro nesta pandemia. A fonte me informa que algumas embaixadas grandes podem reduzir o pessoal, ainda que ninguém vá dizer isso abertamente. 
A saída de Nelson Teich hoje vem confirmar essa ideia de país desgovernado. Ele ficou pouco tempo e agregou pouco. Ao sair, na entrevista coletiva prestou um desserviço ao país, por não explicar exatamente o motivo de sua saída. Esse silêncio dele, quando perguntado por jornalistas após a entrevista, é ruim porque não ajuda nem favorece a transparência. Seria melhor que ele falasse claramente, porque isso ajudaria a ver exatamente o tamanho do problema.
Teich aceitou o cargo já fazendo concessões, e quando isso acontece com um ministro ele já perdeu. O primeiro sinal que deu, de que tinha cedido onde não devia, foi quando, no discurso de posse, nem falou em isolamento social. Ali ele já tinha perdido. Mas parece que ele só entendeu isso hoje, no vigésimo nono dia. Quem começa cedendo, cede até o final.
Nos bastidores, houve três reuniões esta semana entre Teich e o presidente. Na primeira, conversaram sobre a cloroquina, e Bolsonaro mais falou do que ouviu. Na segunda, Teich explicou o plano que vinha conversando com secretários estaduais e municipais, para se ter mais coordenação. O presidente detestou e falou isso para ele. A terceira foi hoje, quando Teich entregou o cargo. Ontem à noite ele ainda pediu à equipe técnica do Ministério que revisasse a literatura médica para ver se havia algo em favor da cloroquina. Não havia. Hoje cedo mandou para um amigo uma mensagem de que não conseguia conciliar sua biografia de médico com a permanência no Ministério.
A verdade é que Bolsonaro quer um ministro da Saúde que seja ele mesmo, seu avatar, para que ele possa mandar completamente. O que o presidente está pedindo é perigoso para a saúde pública. Uma pessoa séria não vai conduzir isso. Além disso, o ministro mostrou desde o começo que estava sendo teleguiado pelos militares. Vários assumiram cargos que antes eram da máquina de servidores do ministério da Saúde. Teich viu que não teria controle de nada. 
Toda pessoa pública tem que ir ver o sofrimento do seu povo no meio de uma tragédia. Em nenhum momento Bolsonaro fez isso. Teich, ao fazer as primeiras viagens, se deu conta da gravidade da crise. Foi a Manaus, por exemplo, que tem passado por um momento trágico. Esses movimentos foram afastando Teich de Bolsonaro, apesar de o ex-ministro ser Bolsonarista desde o período da campanha e ter feito inclusive parte do programa de governo.