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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 13 de outubro de 2013

Retrocessos no ensino superior patrocinados pelo governo com o nosso dinheiro - Augusto Nunes

As universidades do Brasil Maravilha são fábricas de luta com diploma

Em agosto de 2010, no comício de inauguração de quatro prédios da Universidade Federal de Dourados, em Mato Grosso do Sul, Lula também reinaugurou a bazófia que se transformaria, de lá para cá, num dos seus mantras prediletos: “No meu último dia de presidente, eu vou olhar para mim e dizer que não tenho curso superior, mas fui o presidente que mais abriu universidade no Brasil”. Depende do critério utilizado.
Se o que vale é quantidade, o palanque ambulante tem razão. Na última década, o número de matrículas em cursos superiores dobrou. Entre 2011 e 2012, 867 mil brasileiros se formaram por alguma faculdade, pública ou privada.
Baseada no critério da qualidade, adotado por quem tem mais de cinco neurônios, uma reportagem publicada pelo site da BBC acaba de implodir a gabolice do maior dos governantes desde Tomé de Souza.
Sob o título "‘Geração do diploma’ lota faculdades, mas decepciona empresários", o texto enfileira informações estarrecedoras. Uma delas: segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope, o índice de analfabetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 38%. "Isso significa que quatro em cada dez universitários até sabem ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações", espanta-se o redator da BBC.
“Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas”, prossegue o desfile de assombros.
“De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu de 76% para 62%. E os resultados das próximas pesquisas devem confirmar essa tendência de queda, prevê Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do IPM”.
O desastre é ampliado a cada ano pela parceria entre faculdades federais de quinta categoria e cursos particulares criados pela indústria do ensino, com vagas de sobra para premiar com canudos inúteis a procissão de bolsistas que o governo financia com o dinheiro dos pagadores de impostos. O número de acadêmicos não para de aumentar. A taxa de ignorância no campus também.
Vista de perto, o que o pai do Brasil Maravilha chama de universidade é só uma fábrica de lulas com diploma de doutor.

domingo, 16 de junho de 2013

Juizes "progressistas" ajudam companheiros a controlar a imprensa: Veja vs professor gaucho

Estou agora tomando conhecimento deste caso, sobre o qual vou me informar melhor, mas ele me parece indicativo, e representativo, das tendências atuais da mentalidade de certas autoridades brasileiras. Depois de anos de doutrinação anticapitalista, elas começam a colocar em prática seus ensinamentos distorcidos.
Paulo Roberto de Almeida

Posted: 16 Jun 2013 11:52 AM PDT
JOSÉ MARIA E SILVA

A condenação da revista “Veja”, em uma ação por danos morais movida por um professor gaúcho, pode significar uma espécie de “controle social” da imprensa por parte do próprio Judiciário

EPÍGRAFE

“O genuíno docente coibir-se-á de forçar, do alto da cátedra, a qualquer tomada de posição, quer de modo expresso, quer por sugestão – pois esta seria, sem dúvida, a forma mais desleal.”
Max Weber, “A Ciência como Vocação”

Era uma vez um humilde professor que sonhava com um mundo melhor e dividia esse sonho com todos os seus alunos. Quando entrava na sala de aula, ele se transformava inteiramente e, brandindo o giz diante da lousa, punha-se a descrever o trágico painel da história humana, mostrando que, ao longo dos séculos, os humildes nem sempre tiveram consolo, os mansos foram massacrados nas guerras e os muitos que têm fome e sede de justiça tornaram-se ainda mais sedentos e esfomeados devido à ganância e à crueldade de uns poucos.
Mas eis que um poderoso veículo de comunicação, talvez temendo o fim desse mundo desigual, mandou um repórter assistir à aula do visionário professor e, valendo-se de seu enorme poder, atacou, sem piedade, o docente indefeso. Distorcendo seus ensinamentos, sem levar em conta o contexto histórico, a grande revista, uma das maiores do mundo, tentou assassinar a reputação do mestre. Ela o acusou de doutrinar em vez de educar seus alunos, difamando-o diante de todo o País. Felizmente, a Justiça ouviu a súplica do humilde professor e, compadecendo-se dele, condenou a poderosa revista a indenizá-lo. E o visionário mestre lecionou feliz para sempre, dividindo com seus alunos o sonho de um mundo melhor.
Esse conto de fadas – relatado com deleite nas redes sociais de esquerda – inspira-se num fato real. A Editora Abril, que publica a revista “Veja”, e as jornalistas Mônica Weinberg e Camila Pereira foram condenadas pela 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul a pagar uma indenização de R$ 80 mil – com juros e correção – ao professor Paulo Sérgio Fioravanti Jardim, que leciona história no Colégio Anchieta, um dos mais tradicionais de Porto Alegre. Para a Justiça, a reportagem “Prontos para o século XIX”, publicada por “Veja” em 20 de agosto de 2008, apresentou fatos “descontextualizados e distorcidos” ao mostrar o professor gaúcho como um exemplo de professor que quer “esquerdizar a cabeça das crianças”.
A condenação de “Veja” em primeira instância se deu em 31 de outubro do ano passado, em decisão da juíza Laura de Borba Maciel Fleck, da 13ª Vara Cível do Fórum Central de Porto Alegre. Além de ter que indenizar o professor, a revista também foi condenada a publicar a sentença. Mas não só a Editora Abril recorreu da decisão – também o professor Paulo Fioravanti não ficou satisfeito com a vitória obtida e bateu às portas do tribunal na tentativa de aumentar o valor de sua indenização, alegando que “Veja” é lida por cerca de 1 milhão de pessoas, o que justificaria o aumento. A corte gaúcha, em decisão publicada no início deste mês, manteve a mesma decisão de primeira instância.
Resposta do professor
A condenação da Editora Abril se sustenta no entendimento da juíza de que a inserção do professor na reportagem de “Veja” ocorreu sem levar em conta o contexto. Eis o que afirma a magistrada: “A informação buscada foi distorcida e manipulada, sendo colocada na reportagem de forma descontextualizada, objetivando unicamente corroborar a ideia lançada da ‘esquerdização do ensino’ que também seria praticada pelo demandante. A revista está pressupondo que os pais são omissos e não sabem o que os filhos estão aprendendo na escola. Da mesma forma, a publicação é agressiva ao afirmar que os professores levam mais a sério a doutrinação esquerdista do que o ensino das matérias em classe, induzindo o leitor a entender que o autor deve ser incluído como este tipo de profissional”.
Entretanto, o próprio professor, numa carta publicada na revista “Veja”, em 27 de agosto de 2008, faz críticas à revista e afirma: “A reportagem apresentou uma situação de uma aula minha no mínimo duvidosa. Um debate em uma turma de 5ª série foi descrito pela revista como um ‘jogral’, o que é bastante depreciativo, para não dizer outra coisa. Ora, a discussão era sobre o aumento da violência e sua relação com o desemprego. Nesse sentido, parece-me óbvio que a modernidade tecnológica colocou à margem do mundo do trabalho um grande número de pessoas que não estavam preparadas para enfrentar essa nova realidade. O que foi colocado aos alunos por mim tinha o objetivo de fazê-los questionar, caso fossem filhos de pais empresários, qual a contribuição desses pais no sentido de qualificar seus empregados para enfrentar essa nova realidade. Os alunos não levaram essa pergunta como tema de casa, obrigatoriamente. Foi apenas um debate em sala de aula”.
Releiam, por favor, o último trecho da carta do mestre. É quase uma confissão de culpa. Alunos de 5ª série têm 11 anos. Numa escola privada de elite podem ter até menos. É correto uma criança nessa idade ser desafiada a questionar a conduta profissional ou empresarial de seus pais? Os livros didáticos costumam ser cruéis com os patrões da Revolução Industrial. Inclusive em charges, que ressaltam sua maldade monstruosa oprimindo miseráveis trabalhadores. Desafiar uma criança a inserir nesse contexto o pai empresário é uma roleta russa ética. Um professor, na reunião de pais e mestres, pode e até deve (se for possível) dizer verdades indesejáveis à família do aluno, mas jamais deve terceirizar essa missão para a própria criança. Os advogados de “Veja” deviam ter evocado o Estatuto da Criança e do Adolescente em defesa da revista.
Ídolos de esquerda
Será que “Veja” foi mesmo agressiva ao afirmar que os professores priorizam a pregação de esquerda em detrimento do ensino? Os fatos arrolados por aquela histórica reportagem de 12 páginas – corroborada por uma pesquisa da CNT/Sensus, encomendada pela revista – comprovam que não. Para 50% dos próprios docentes ouvidos na pesquisa, o discurso do professor em sala de aula é “politicamente engajado”. Para 30% é “às vezes engajado”. Apenas 20% responderam que é neutro. Também pudera: perguntados sobre qual a missão da escola, 78% dos docentes responderam “formar cidadãos” contra apenas 8% que disseram “ensinar matérias”. E os dois principais ídolos dos professores são Paulo Freire (29%) e seu mestre Marx (10%), este último empatado com Gandhi.
A pesquisa também ouviu os estudantes sobre figuras históricas e atuais mais citadas nas aulas e qual o contexto (positivo, negativo ou neutro) em que ocorreu a citação. Che Guevara é o campeão de citações: 86% positivas, 14% neutras – nenhuma negativa. Um santo! Lênin não chega à santidade, mas goza de uma tranquila beatitude em sala de aula, com 65% de citações positivas, 26% neutras e apenas 9% negativas. É como se Lênin não tivesse no currículo a invenção dos campos de concentração (copiados posteriormente por Hitler) e o terror em massa, com mortes estabelecidas por cotas para cada região da União Soviética. Se os fatos cruéis perpetrados por Che e Lênin fossem relatados nos livros didáticos e comentados nas salas de aula, os dois estariam com Hitler dividindo o inferno no imaginário dos alunos.
 “Veja” também analisou os 130 livros e apostilas de história, geografia e português mais adotados em 2 mil escolas privadas do país. E constatou que cerca de 75% desse material didático trazia informações distorcidas por “miopias ideológicas” ou erros factuais, isso quando os dois tipos de problema não se acumulavam numa mesma obra. “Essas falhas atrapalham a compreensão lógica do mundo real e inculcam nos alunos uma visão hostil à economia de mercado e simpática ao comunismo, ideologia do século XIX, testada e reprovada na prática no século XX, e que no século XXI sobrevive apenas na Coreia do Norte, em Cuba e em salas de aula de escolas brasileiras” – sustenta a reportagem, antes de mostrar e criticar dezenas de trechos das obras em que fica evidente a doutrinação esquerdista.
Hegemonia de Foucault
Não me lembro de nenhuma publicação, nem mesmo acadêmica, que tenha feito um rastreamento ideológico de obras didáticas com a abrangência com que “Veja” fez naquela histórica reportagem publicada há quase cinco anos. Estudos acadêmicos do gênero jamais se voltam para a análise da ideologia esquerdista embutida no material escolar – sua obsessão é denunciar os demônios da imaginação politicamente correta de sempre, como homofobia, racismo e neoliberalismo. Talvez o único erro da reportagem de “Veja” tenha sido “fulanizar” esse excelente trabalho de investigação pondo a foto dos dois professores que tiveram suas aulas analisadas: o gaúcho Paulo Sérgio Fioravanti Jardim, do Colégio Anchieta, e o goiano Marcio Santos, do Colégio Ateneu Dom Bosco.
Os docentes da escola básica costumam ser apenas aviõezinhos do tráfico ideológico – os laboratórios da droga comunista são as universidades. Para se ter uma ideia do comprometimento ideológico do ensino superior no Brasil, basta uma ligeira análise da base de dados oficial que reúne as teses e dissertações defendidas nas universidades brasileiras. Nesse acervo, é possível comparar a influência dos três grandes clássicos da sociologia nas pesquisas acadêmicas atuais: Marx desponta em primeiro lugar, com 649 referências; Max Weber vem muito atrás com 109; e o grande Émile Durkheim, fundador da sociológica acadêmica, aparece com apenas 66 referências. Para efeito de comparação, o filósofo liberal Adam Smith, autor do clássico “A Riqueza das Nações”, tem apenas 24 referências nessa base de dados.
Mas a influência da ideologia de esquerda na educação brasileira vai muito além. Com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, muitos acadêmicos marxistas passaram a disfarçar sua ideologia de esquerda por meio de substitutivos. Por isso, se forem contabilizados os muitos discípulos modernos de Marx presentes nas teses e dissertações defendidas nas universidades brasileiras, o esquerdismo há de se revelar praticamente totalitário. Apenas como amostragem, basta observar a influência nos mestrados e doutorados de três pensadores contemporâneos que têm como matriz a obra marxista: Michel Foucault – hoje hegemônico na educação, na psicologia e no direito – aparece com 839 referências no banco nacional de teses e dissertações; o pedagogo Paulo Freire, comparece com 676; e o sociólogo Pierre Bourdieu, com 437.
Uma tese sobre Vargas
Mas caso se contextualize ainda mais a reportagem de “Veja”, como quer a Justiça que a condenou, o que salta aos olhos é que o próprio professor Paulo Fioravanti não escapou à doutrinação marxista que grassa no ensino superior. É o que fica claro em sua dissertação de mestrado “Vozes e Notícias da Rua de Porto Alegre do Início dos Anos 50”, defendida em 2005 – três anos antes da reportagem – na PUC do Rio Grande do Sul. Nesse trabalho, ele conta que decidiu estudar a Era Vargas como forma de entender as privatizações das empresas estatais no governo Fernando Henrique Cardoso. “Aquelas empresas que, habitualmente, pronuncio em sala de aula – sou professor de História –, agora voltavam à tona em notícias e debates de jornais, na televisão e no rádio”, diz.
Como se vê, Fioravanti considera natural um professor de história falar “habitualmente” de empresas em sala de aula, como se esse presente efêmero, cambiante, do qual só se conhece a superfície que sai na imprensa, pudesse ser mais crucial para o aluno em formação do que a compreensão dos grandes eventos históricos do passado. É certo que o presente de todo historiador influencia o seu olhar sobre o passado que estuda, mas fazer disso uma profissão de fé é render-se à própria subjetividade, sacrificando o necessário distanciamento do objeto de pesquisa e fazendo justamente o contrário do que deve fazer um cientista. É essa falta de distanciamento crítico que faz o professor, em sua dissertação de mestrado, chamar as privatizações de “perda de soberania” e “desmonte da res publica”, indagando se não seria preciso convocar plebiscitos para decidir sobre a privatização das estatais.
Mas se essa linguagem ainda é insuficiente para caracterizar o professor Paulo Fioravanti como “esquerdista”, como afirmou “Veja”, o mesmo não se pode dizer deste trecho de sua tese, em que ele cita a crítica de um acadêmico às privatizações: “Conforme o sociólogo Ricardo Antunes, ‘aí estamos nós com um país sem telefonia, sem energia, sem siderurgia, sem telecomunicações próprias, completamente dependente de tecnologia e de capital forâneos’”. Pasmem: essa afirmação do notório marxista Ricardo Antunes, professor da Unicamp e militante do PSOL, foi dada à revista de esquerda “Caros Amigos”, em agosto de 2004, quando a plena democratização da telefonia no País já era um fato incontestável, impossível de obscurecer, salvo pela mais completa cegueira ideológica. Alguém que cita como autoridade intelectual um militante do PSOL não pode se queixar se alguém o chama de esquerdista.
Livre expressão em risco
Para a Justiça, “Veja” errou ao caracterizar o professor como esquerdista. Em sua decisão, a juíza afirmou: “Tenho que o conteúdo da matéria jornalística, além de ácido, áspero e duro, evidencia a prática ilícita contra a honra subjetiva do ofendido”. Notem que ela classifica o próprio conteúdo e não somente o tom como “ácido, áspero e duro”, o que revela, mais do que uma análise jurídica, uma discordância ideológica. E a magistrada vai além, afirmando, textualmente o que se segue, no trecho mais infeliz da sentença: “A reportagem, a partir do momento que qualifica o autor como esquerdista, com viés, de resto, pejorativo, sem a autorização do demandante, extrapola os limites da liberdade de imprensa” (grifo meu).
Observem que a juíza condena veementemente o fato de que “Veja” chamou o professor de “esquerdista” sem a sua autorização. Se esse entendimento se tornar jurisprudência (e corre-se esse risco, uma vez que foi referendado pela Corte), será a morte definitiva da liberdade de expressão no País. Não mais será possível a crítica intelectual, o confronto de ideias, nada. Toda vez que um articulista resolver chamar a filósofa Marilena Chauí de “esquerdista” terá antes de ligar para a USP e pedir autorização para ela própria, sob pena de ser condenado pela Justiça. Se o Judiciário brasileiro, cada vez mais canhoto, adotar mesmo essa jurisprudência, espero que ela não seja de mão única e quando um Olavo de Carvalho, um Reinaldo Azevedo, um Silas Malafaia ou eu mesmo formos chamados de “direitistas” e “homofóbicos”, sem nossa prévia autorização, que também sejamos indenizados.
Infelizmente, o momento não é de se fazer graça. Há um cerco à liberdade de expressão no Brasil. Talvez seja preciso contextualizar não só a aula do professor gaúcho (como já fiz, citando seu mestrado), mas também a própria decisão que lhe foi favorável. A juíza abre sua sentença de dez páginas com a seguinte epígrafe: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. E quem é o autor dessa frase que realça o argumento central da sentença a ponto de lhe servir de epígrafe? Pasmem: ninguém menos do que Paulo Freire, um pedagogo assumidamente marxista, citado na própria reportagem que critica a esquerdização do ensino e que estava sendo objeto do julgamento. É como se um magistrado, ao julgar uma ação civil pública em defesa do Estado laico, negasse a retirada dos crucifixos das repartições citando em epígrafe uma encíclica papal.
Controle social da mídia
Em sua sentença, a juíza começa fazendo uma douta reflexão sobre os possíveis conflitos entre os direitos fundamentais previstos na Constituição de 88 e observa que, o artigo 5º da Carta, em seu inciso XIV, assegura o direito à informação. Também reconhece que, para materializar esse direito, “é necessário que exista quem preste a informação”, no caso as empresas jornalísticas, que “possuem um papel fundamental no estado democrático de direito”. Mas a juíza ressalva que, no mesmo artigo 5º, inciso X, também está assegurado o direito à inviolabilidade da intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das pessoas. “Como se vê, estamos diante de aparente colisão de direitos fundamentais, sendo necessária a delimitação entre a liberdade de imprensa conjugada ao direito à informação e o direito à privacidade e à imagem”, sustenta.
Até aí, tudo bem. O problema é que a magistrada acrescenta: “A ilicitude somente está configurada quando há abuso no exercício do direito à liberdade de imprensa e quando a divulgação desborda das finalidades sociais a que se deve destinar”. Nesse ponto, sua afirmação entra no campo da subjetividade. Quem vai definir qual deve ser a finalidade social de cada artigo, cada reportagem, cada nota publicada na imprensa? Nas democracias, esse é um assunto que cabe exclusivamente ao tribunal do leitor – cabe somente a ele julgar e punir a publicação, exercendo o seu inalienável direito de não comprá-la nem lê-la, caso venha a discordar de sua linha editorial. Eu mesmo já fui assinante da “Caros Amigos”. Quando não mais suportei seu esquerdismo, exerci o meu direito de não renovar a assinatura. Ir além disso é flertar com a perigosa tese do “controle social” dos meios de comunicação, que não passa de censura disfarçada de democracia

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Estudantes do Brasil: eles fazem a metade da miseria educacional brasileira...

Claro, não se pode culpar apenas os professores pela miséria educacional: eles são parte do problema, talvez 2/5 do problema. Uma outra boa parte, também, é ocupada pelo MEC. Acho mesmo, não querendo exagerar, que esses três fatores são responsáveis pelos problemas educacionais brasileiros à razão de 150%, se tal fosse possível, mas deve ser, no caso brasileiro, tudo é possível.

Assim que postei minha "informação" sobre a venda (ou a compra) de diplomas falsos, recebi novamente uma explicação do comprador potencial. 
Não tenho uma fábrica de diplomas, mas o interessado sequer leu meu post (de 2012) por inteiro, para se movimentar rapidinho e encomendar o seu diploma sob medida, em comunicação que transcrevo logo abaixo (mas preservando nome, local e situação, pois não tenho vocação para denunciante de candidato a fraudador).
Antes, porém, uma mensagem que me chegou nesse instante, transcrita integralmente, para que se tenha uma ideia da situação do nosso ensino, do sistema, da moral reinante (ou falta de), das mentalidades, enfim.
Qualquer que seja o julgamento que vocês façam sobre o nosso sistema de ensino, se vocês partilharem de minhas apreensões, a conclusão que se pode tirar é catastrófica. Mas por mais catastrófica que seja a situação, na imaginação de vocês, tenham certeza, e eu tenho certeza absoluta, que a situação é ainda "muito mais pior", como diria o responsável por esta situação, do que vocês jamais poderiam imaginar. É terrível pensar que teremos uma geração ou duas, para a frente, completamente perdidas em termos de educação, de atitude frente ao ensino, tudo de pior que vocês puderem imaginar.
Transcrevo primeiro a mensagem recebida de uma aluna desesperada, que me trata apenas de "Oi professor", assim como se eu fosse da família, e devesse ajudá-la por caridade: 

Oi professor!
Gostaria de saber se vc pode olhar meu projeto de conclusão de curso? pois a minha orientadora não está na cidade,ela não está dando muita atenção aos orientandos, tô meio sem direção, só tem um problema, o meu projeto é na area de RH,acho que não é da sua area. (aluna do 8° período).
Obrigada!

Agora, um desdobramento de mensagem anterior (colocada no post abaixo, sobre fraudes com diplomas), na qual o candidato a fraudador explicita suas demandas, bem específicas, continuando sem ler o que eu tinha escrito -- justamente como denúncia de venda de diplomas -- e achando que eu posso resolver o problema dele. Inacreditável...

Realmente, tenho pena deste país, onde coisas assim se tornaram, aparentemente, moeda corrente (sem trocadilhos). 
Como já disse várias vezes, sou moderadamente pessimista em economia -- pois acho que vamos continuar nessa trajetória medíocre de crescimento, graças a um governo medíocre, com políticas medíocres, que não consegue fazer reformas e só consegue extrair cada vez mais recursos da sociedade -- mas sou ABSOLUTAMENTE pessimista em matéria de educação, pois acho que vamos continuar afundando cada vez mais fundo no pântano, graças às políticas totalmente equivocadas do MECsauro, do Parlamento, da presidência, de todos os lados. Infelizmente é isso que consigo prever.
Mas vamos à mensagem recebida: 

Boa noite!
Vi seu anuncio na internet procurando no google por venda de diploma em [capital]. Tenho total interesse na compra e vou ter o dinheiro em no máximo 30 dias. A vida está dfícil e sem trabalhar para conseguir é complicado. Quero, preciso e gostaria de, se puder, que me ligue de numero oculto o que for para tratarmos melhor sobre ou envie telefone de contato.
Qualquer um pode criar um e-mail e sair vendendo o que não existe apesar que acreditei no seu enuncio e pretendo pagar por isso.
Quero só que me dê certeza de que vou pagar e vou receber algo real, verídico sem surpresas(MEC/DIÁRIO OFICIAL ETC).
Sou pai de familia e estudante de direito mas ta complicado.
Pode ver que sou aluno da [Faculdade] [(local)] matriculado, pagando mensalidade de R$ 728,00 mas preciso este emprego na [nome da empresa] o quanto antes e claro ser diplomado(graduado) em ADM para o tal.
Aguardo e agradeço.
Att. Dxxxxx
xx-8xxx-6xxx

Bem, acho que não preciso me alongar, não é mesmo?
Só desejo boa decadência educacional a todos vocês, e que ela venha logo, para que se possa começar a reconstrução. Apenas acredito que isto não será possível nesta geração, ou seja, nos próximos 25 anos... 
OK, então, até 2030, mais ou menos, quando se poderá começar a reconstruir esse cenário bárbaro...
Paulo Roberto de Almeida 

terça-feira, 31 de julho de 2012

Ensino Medio no Brasil: a situacao mais dramatica

O verdadeiro estrangulamento da educação brasileira -- não considerando o fato de que os alunos saem do fundamental sem serem alfabetizados -- encontra-se no ensino médio, que simplesmente não prepara os alunos para nada, nem para uma profissão, nem para a universidade.
E a situação piorou muito com os companheiros, que ficaram inventando bobagens ideológicas nos últimos dez anos. Esperemos que comece a melhorar, mas eu não conto com isso, não pelo menos enquanto as saúvas freireanas e os companheiros ideológicos continuarem dominando aquele dinossauro que é o MEC.
Paulo Roberto de Almeida 



Comissão especial vai propor um novo modelo para o ensino médio no País
Agência Câmara, 31/07/2012

Para deputado, sistema atual não atende às demandas da economia nem às expectativas dos jovens.
A cada 100 alunos que entram no ensino fundamental, apenas 44 continuam nos bancos escolares até o ensino médio. Desses 44, metade abandona as salas de aula e somente 12 chegam à universidade, conforme dados coletados no ano passado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Um dos principais motivos para esses índices, segundo o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), é a inadequação do ensino médio à realidade dos jovens. Uma comissão especial da Câmara pretende ajudar a resolver o problema.

Instalada no dia 23 de maio, a Comissão Especial da Reformulação do Ensino Médio reúne até o momento 24 deputados de 13 partidos para encontrar um modelo melhor para a última fase da educação básica no País. "O problema é que o modelo atual é uma etapa meramente intermediária para que aluno possa chegar à universidade. Por isso, não responde às demandas da economia brasileira nem às expectativas de nossos jovens", argumenta Lopes, que preside o grupo.

O relator, deputado Wilson Filho (PMDB-PB), explica que o colegiado deve realizar, a partir de agosto, reuniões com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, com técnicos da pasta, secretários de educação, gestores de centros de ensino, pesquisadores nacionais e estrangeiros, além de representantes de entidades que atuam na área. Um relatório preliminar, a ser elaborado até novembro, deverá nortear discussões a respeito do tema em diversos estados. A ideia é que o grupo chegue a uma proposta de alteração da legislação atual sobre o ensino médio até o final do próximo ano.

Conteúdos obrigatórios - Amanda Feitoza é aluna de uma grande escola em Brasília, o Setor Leste. A menina, que pretende estudar medicina, reclama das aulas de física: "Não vou usar essa disciplina para nada, tenho certeza de que isso não fará parte do meu futuro profissional". Para Roger Vila Nova, colega de Amanda, o problema está nas aulas de química: "Além de não entender todo o conteúdo, sei que nunca irei usá-lo".

As queixas não são isoladas e boa parte dos estudantes não entende o porquê de determinados conteúdos escolares serem obrigatórios. O problema é que nem todos os alunos pretendem frequentar um curso superior e, além disso, muitas matérias são imediatamente esquecidas após a entrada na universidade. "O conflito aumenta a cada dia: a carga horária é intensa e a maior parte do conteúdo vira uma grande decoreba. Consequência disso é o desinteresse cada vez maior pelo ensino médio", avalia o doutor em Educação e professor da Universidade de Brasília (UnB) Remi Castioni.

Uma saída possível é a estruturação das aulas a partir de áreas de conhecimento, como ciências, cultura, tecnologia e esporte. Cada estudante deveria, portanto, escolher a sua área de interesse, que seria priorizada na grade horária, sem deixar de lado os outros conteúdos. A medida já é implementada, com particularidades, em outros países, como a França, e recebe elogios de alguns alunos, como a Amanda: "A partir do momento em que escolhemos o que vamos estudar, damos valor para aquilo".

A opção, no entanto, não é unânime. O professor de história Luiz Guilherme Batista acredita que a segmentação do ensino médio pode diminuir a qualidade do aprendizado e, pior, limitar as escolhas profissionais dos estudantes. "Um adolescente não pode definir com 15 anos o que será para o resto da vida. O atual ensino, apesar de seus defeitos, permite que o aluno tenha a chance de fazer uma opção mais ampla. Se ele não tiver acesso a informações gerais em boas aulas, que chance terá de gostar de filosofia, por exemplo?", questiona.

Ensino profissionalizante - O trabalho da comissão especial que discute o futuro do ensino médio no Brasil passa também pela educação profissionalizante. Exemplo de sucesso entre as políticas do setor, a rede federal de ensino técnico atende hoje a 400 mil alunos, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). São oferecidos cursos de agronomia, mecânica, secretariado, entre outros, em conjunto com o currículo básico da etapa.

Reginaldo Lopes (PT-MG) acredita que o número deveria ser maior. "Ainda há 8,4 milhões de alunos fora desse sistema. A meta do Executivo deveria ser de pelo menos 2,5 milhões de alunos atendidos", afirma o presidente do colegiado da Câmara.

A vantagem do ensino profissional ou técnico é que os jovens já saem dos bancos das classes, em sua maioria, empregados. Esse modelo interessa ao indivíduo que precisa logo entrar no mercado de trabalho e, portanto, os índices de abandono são menores do que no ensino médio convencional.

Apesar de elogiado, o ensino técnico tem seus limites. É o que avalia o doutor em Educação e professor da Universidade de Brasília (UnB) Remi Castioni. "A educação profissionalizante é uma possibilidade, mas não deve ser a única. As escolas devem estar preparadas para diversas realidades. Por esse motivo, devem ser desenvolvidas as redes profissional e propedêutica [preparatória para o ensino superior]", argumenta.

Outros temas - O debate sobre o melhor modelo para o ensino médio no Brasil ainda deverá passar por temas como sistema de ensino, formação dos professores, grade curricular, carga horária em sala de aula, infraestrutura das escolas e até verbas necessárias para o setor.
Segundo o relator da comissão especial, deputado Wilson Filho (PMDB-PB), a discussão promete ser longa. "Analisaremos os melhores exemplos do Brasil, de outros países e os maus exemplos também. A ideia é garantir que os alunos saiam do ensino médio sabendo o que fazer com o conteúdo aprendido, seja no mercado de trabalho ou na universidade", diz.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

O grau de (an)alfabetizacao do Brasil: retrato sem retoques - Antonio Matias

O desafio da alfabetização plena
Antonio Matias

O Estado de S.Paulo, 26 de julho de 2012
A publicação do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope e pela Ação Educativa, evidencia um triste diagnóstico cujo conhecimento é de fundamental importância para mobilizar a sociedade a desenvolver estratégias que superem esse grave problema: o aumento de escolarização, embora tenha sido essencial nas últimas décadas, não foi suficiente para assegurar a alfabetização plena.
A análise da série histórica do estudo, que vem sendo realizado periodicamente nos últimos dez anos, mostra que apenas um em quatro brasileiros atinge nível pleno nas habilidades de leitura, escrita e Matemática. Ou seja, é capaz de ler e interpretar textos mais longos, analisar e relacionar suas partes, realizar inferências e sínteses, além de resolver problemas que exigem maior planejamento e controle.
Além disso, apesar de ter ocorrido uma redução do analfabetismo absoluto e da alfabetização rudimentar, só 62% dos que têm curso superior e 35% dos que têm ensino médio completo estão no patamar dos plenamente alfabetizados. Em ambos os casos, essa proporção é inferior à observada no início da década.
O Inaf também revela que um em cada quatro brasileiros que cursam ou cursaram até o Ensino Fundamental II ainda está classificado no nível rudimentar, sem avanços em todo o período, ou seja, consegue ler apenas textos curtos e fazer operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias.
Olhar a estagnação dos dados de plena alfabetização entre 2001 e 2011 nos permite vislumbrar a situação de uma geração: são poucas as chances de um jovem que concluiu o ensino médio ter alterado na última década sua proficiência linguística, adquirindo, assim, condições para se desenvolver no mundo profissional e social e desfrutar todas as possibilidades de uma sociedade que exige cada vez mais capacidade de expressão e de absorção de conhecimento.
Importante valorizar a mobilização crescente que envolve os setores público, privado e as organizações sociais para que a educação pública se torne prioridade nacional, o que já está dando frutos. A ampliação do acesso ao ensino fundamental, a crescente inserção de programas de educação integral nas escolas públicas e a utilização de sistemas de avaliação que ajudam a estabelecer metas e a mensurar resultados de aprendizado foram pontos essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes na educação.
Divulgado na semana passada, o National Assessment of Educational Progress , estudo do Programa de Política de Educação e Governança da Universidade Harvard que analisa 49 países, mostrou que o Brasil ocupa a terceira posição no ranking daqueles em que a qualidade do ensino mais avançou entre 1995 e 2009 (de 2000 a 2009 no caso brasileiro). Contudo os brasileiros continuam com desempenho inferior ao de países que tiveram até retrocesso na qualidade do ensino.
Os dados resultantes dessa pesquisa convergem com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) em 2010, em que o Brasil ocupou o terceiro lugar em crescimento entre todos os participantes. Mas não se pode esquecer que saímos do penúltimo lugar, portanto, todos os esforços ainda não podem ser considerados suficientes para oferecer a crianças e jovens brasileiros educação pública de qualidade.
Não há dúvida de que a reversão desse quadro demanda dos investidores sociais privados sensibilidade para essa questão, tão essencial ao desenvolvimento humano. Exige ainda um olhar atento para aprofundar o entendimento dessas informações como ponto de partida para escolhas estratégicas de atuação, buscando sinergia e potencializando as intervenções, para evitar sobreposições e fortalecer áreas de ação conjunta.
A constatação de que o grande avanço na cobertura da educação nesta década não tem representado maior aprendizado nas competências de alfabetização plena aponta a necessidade de repensar formas de ensino para os que frequentam hoje as escolas públicas. Nesse ponto, institutos e fundações empresariais podem ser parceiros importantes do poder público, contribuindo com o desenvolvimento de metodologias inovadoras, aproveitando sua possibilidade de trabalhar com pequenos grupos, sem o compromisso inicial de ganho de escala.
É necessário ainda estruturar estratégias de mobilização social em favor do tema e fortalecer ações de advocacy junto ao poder público, com o intuito de contribuir para dar suporte a boas iniciativas políticas, que passam a ser respaldadas pela demanda qualificada da sociedade. Torna-se cada vez mais necessário, tendo em vista a busca por bons resultados educacionais, que os projetos sejam realizados em estreita parceria com os desenvolvedores e implantadores das políticas dessa área. Para isso é preciso repensar a forma de atuação, fortalecendo o trabalho junto às equipes técnicas das secretarias e deixando o protagonismo para as equipes responsáveis pelas escolas públicas. Vínculo e aproximação são palavras-chave para que a iniciativa privada realmente possa contribuir para os avanços necessários.
O conhecimento dos dados do Inaf aponta para uma reorientação importante na forma de atuação do investimento social na educação. Sendo essa a área de maior investimento privado no Brasil, a expectativa de resultados também deve ser grande. Para isso há que investir com foco em resultados, com a expectativa de gerar retorno. E o retorno social esperado do investimento na área educacional é, em primeiro lugar, a boa formação humana das novas gerações, garantido suas condições de desenvolvimento pleno. E nosso país só será plenamente desenvolvido se enfrentar seu mais importante desafio, fazendo da educação a grande prioridade nacional.
* VICE-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, É MEMBRO DO CONSELHO DE GOVERNANÇA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO