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sábado, 11 de setembro de 2021

A História se repete, nem sempre como farsa - Paulo Roberto de Almeida

 A História se repete, nem sempre como farsa

Paulo Roberto de Almeida 

A “grande estratégia” de Bolsonaro: recuar, para melhor saltar. 

Já vimos isso na história, várias vezes. Mussolini (ao preparar 1922); Stalin, na luta contra Trotsky (1927); Hitler no acordo de Munique (1938); Mao, na campanha das “Cem Flores” (1957); Pinochet sob Allende (1972). 

Totalitários são capazes de acenar para aqueles a quem pretende destruir, na primeira oportunidade. O cenário costuma revelar-se trágico para os crédulos.

Os liberais italianos preocupados com o avanço dos socialistas e comunistas, pagaram o preço, a partir de 1924, com o assassinato de vários opositores do fascismo (inclusive em Paris). Bukharin e Preobajenski ao se unirem a Stalin na luta contra a oposição de esquerda. Os “apaziguadores” ingleses e franceses, que acreditaram em Hitler e sacrificaram a Tchecoslováquia. Os intelectuais chineses, que acreditaram na abertura oferecida por Mao e foram todos ceifados em seguida. Allende, que confiava na capacidade de Pinochet em controlar os golpistas nas FFAA chilenas.

São inúmeros os exemplos de candidatos a ditadores que sabem pavimentar seu caminho para o poder. Fulgencio Batista, por exemplo, ainda não era general, quando deu seu primeiro golpe contra a democracia cubana nos anos 1930. Chávez era apenas coronel (e assim permaneceu) quando ensaiou sua primeira tentativa de tomada do poder. Prestes, que não passou de capitão, foi convencido pelos dirigentes do Komintern e do PCUS que poderia tentar um putsch contra o governo (já constitucional) de Vargas em 1935. O mesmo já tinha ocorrido com os comunistas chineses em 1927, e foram massacrados por Chiang Kai-shek, que já os esperava.

A única circunstância atenuante no atual caso brasileiro é que o ex-tenente terrorista (poupado pelos oficiais superiores de uma merecida prisão quando planejou atentados a explosivos) é reconhecidamente inepto, por estúpido confirmado, para conduzir um golpe de Estado na devida forma. Mas tem capacidade e sordidez suficientes para causar muita confusão até as eleições de outubro de 2022.

Com a colaboração conivente de políticos corruptos, que só pretendem extrair mais alguns bilhões de reais do Executivo.

O Brasil encena mais um capítulo da novela “Como morrem as democracias”, já vista em outros deploráveis experimentos, à direita e à esquerda.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/09/2021