Minha introdução ao texto que segue abaixo de Juarez Campos:
Confesso que me surpreendeu — e até fiquei chocado — com a passividade, eu até diria a submissão, não só dos mandarins do Estado, dos servidores públicos em geral, mas dos universitários em particular, dos chamados intelectuais e ditos representantes da sociedade civil supostamente organizada, em face da obra de destruição empreendida pelos novos bárbaros, verdadeiros hunos, do bolsonarismo. Onde estavam a OAB, a ABI, a ABL, as associações profissionais, as ONGs humanitárias e outras entidades? Ficaram todos paralisados?
Devo ter sido o único diplomata que reagiu imediatamente contra a barbárie e escrevi cinco livros contra os hunos, sem qualquer repercussão entre os colegas do Itamaraty ou o público em geral. Ficaram calados, de cabeça baixa?
Lamento sinceramente a passividade demonstrada pelas ditas corporações educadas em face do horror bolsonarista, e confesso não compreender até hoje como tantos se deixaram seduzir pelo psicopata perverso.
Paulo Roberto de Almeida
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Sabe-se que alguns integrantes do Alto Comando foram favoráveis à contestação do resultado das urnas e, dentre aos que se opuseram à agenda golpista, os generais Tomás Ribeiro de Paiva, André Luiz Novaes e Valério Stumpf foram alvos de campanha nas redes que os qualificavam de traidores.
Os idealizadores e organizadores dos eventos do dia 8 são conhecidos: inspiração do Bolsonaro, articulação do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, com a participação do governador do Distrito Federal, apoio da PM do DF e apoio logístico das FA e traição de militares lotados no Planalto. Esses são os fatos.
Pode-se dizer que toda a oposição à insanidade do Bolsonaro nos últimos quatro anos partiu do STF-TSE, Globo, Folha, Estadão e seus jornalistas. Lula e o PT apostaram no "deixar o Bolsonaro se enforcar sozinho" e sumiram do mapa, as centrais sindicais desapareceram e os movimentos sociais submergiram. Palmas para os Gaviões da Fiel.
Tivemos cinco ministros da Educação e uma única agenda: a destruição do ensino público e o sucateamento das universidades, centros de pesquisa e da ciência. Quantas greves tivemos nas universidades nos últimos quatro anos? Zero. E de cientistas que assistiram à criminosa destruição do parque de ciência nacional? Zero.
E do movimento negro que assistiu calado às provocações diárias do presidente da Fundação Palmares? Ocuparam simbolicamente o prédio? Não. E dos artistas? Nada, fora os gritinhos babalus nos shows.
Lula foi eleito pelo andar de baixo que desde o segundo governo da Dilma vem sendo espoliado e barbarizado, e recebeu o apoio de algumas franjas do antibolsonarismo e da Mídia. A esquerda pegou carona nesse bonde e subiu a rampa do Planalto, mas como disse o Romário, entrou por último no ônibus e já quer se sentar na janelinha.
O oito de janeiro já dá uma ideia do que o governo Lula pode esperar, e olha que nem chegou perto da questão econômica, o debate sempre adiado da necessidade de um novo pacto entre o capital e o trabalho. Vai ser o Lula contra o Mercado que no capitalismo canibal brasileiro é muito mais poderoso do que os nossos bravos generais.
Dentro desse cenário escatológico qual foi para a esquerda o inimigo a ser batido ontem? A fotojornalista Gabriela Biló e a capa da Folha de São Paulo que como lembraram alguns cedeu para os militares os seus caminhões em 1964. A mesma Folha que deu o espaço para a Vaza Jato e durante quatro anos foi alvo da fúria bolsonarista e manteve a linha editorial de oposição ao fascismo. Os inimigos dos bolsonaristas eram a Globolixo e o Datafalha que tinham os seus jornalistas e repórteres ofendidos e agredidos frequentemente.
É por isso que a esquerda brasileira não mobiliza ninguém, fechou-se na bolha autorreferente das redes sociais e fossilizada desperta da hibernação letárgico por alguns segundos para aplaudir Bacurau, Marighella e os moinhos de vento de seus pesadelos lisérgicos.
É o que temos.
Juarez Campos
20/01/2023