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terça-feira, 20 de setembro de 2016

Estudantes Pela Liberdade, BH-MG: o que eu falei hoje no Ibmec-BH - Paulo Roberto de Almeida


Quem mudou, de fato, a humanidade? Uma reflexão contrarianista

Paulo Roberto de Almeida
 [Texto introdutório a palestra, Estudantes Pela Liberdade, BH-MG, 20/09/2016]


Por que estou aqui? Por que fui convidado pelos Estudantes Pela Liberdade para me dirigir a vocês nesta noite?
Suponho que tenha sido porque tenho fama de, ou me consideram, um liberal, o que é errado. Não sou um liberal típico, ainda que eu possa defender soluções liberais para a economia, ou seja, medidas inteiramente pró-mercado, antes que pelo Estado.
Supostamente eu também seria um liberal no terreno político, mas reconheço que o Estado avançou tanto, nas nossas sociedades urbanizadas e altamente complexas, ele cresceu tão desmesuradamente na regulação pública de praticamente todos os aspectos da vida privada, que se me afigura virtualmente impossível, hoje em dia, pretender um retorno ao Estado mínimo que alegadamente existiu em algum momento do passado, e que todos gostaríamos que existisse de fato, antes e em algum futuro indefinido. Sinto dizer, isso não ocorrerá, e é preciso ser realista a esse respeito.
Já coloquei o meu texto, preparado para responder ao tema deste encontro, à disposição de todos os interessados, primeiro na plataforma Academia.edu (neste link: https://www.academia.edu/s/e4d696a571/3039-problemas-publicos-solucoes-privadas-nem-sempre-nao-necessariamente-2016), depois os próprios organizadores do encontro se encarregaram de fazê-lo no site do movimento (link: http://epl.org.br/2016/09/15/professor-e-diplomata-paulo-roberto-almeida-escreve-sobre-problemas-publicos-solucoes-privadas/). Coloquei ali o que penso sobre o slogan algo redutor, “Problemas Públicos, Soluções Privadas”, e até ofereci algumas respostas tentativas a alguns dos principais problemas que atravancam o avanço do Brasil, ou sua simples conversão em um país normal. Não pretendo agora abordar nenhuma de minhas “soluções” para esses problemas, inclusive porque elas são praticamente inexequíveis nas condições atuais de nosso país, mas é isso exatamente o que ocorre quando vocês atribuem a algum acadêmico a apresentação de propostas para problemas complexos: eles costumam construir uma teoria bizarra, e depois oferecem soluções utópicas que não serão implantadas no horizonte previsível.
Mas eu também me deparei, no Facebook do EPL, com uma pergunta formulada em intenção das “almas cândidas” que somos todos nós: “Você já se perguntou quem realmente trouxe mudanças efetivas para a humanidade? Quem realmente resolveu problemas que pareciam sem solução há décadas?” Suponho que as respostas esperadas também sejam pré-determinadas no sentido das soluções privadas, o que até pode ser verdade, e acredito que seja, mas isso não impede o crescimento contínuo, regular e desmesurado do Estado, contra essas tendências às soluções privadas para problemas públicos.
Minha observação, a este propósito, seria esta: por mais liberal que sejamos, não vamos fazer como a esquerda, que sempre apresenta respostas simples, e equivocadas, para problemas complexos, alguns aparentemente insolúveis. Todas as soluções para os problemas humanos são sempre apresentadas pelos seres humanos, quer eles atuem de forma absolutamente individual e solitária, quer estejam inseridos em alguma instituição privada ou pública, ou seja, a empresa ou o governo. Indivíduos são, sempre serão, os únicos responsáveis pelos grandes triunfos da humanidade, mas isso se dá num contexto de acumulação cumulativa, se ouso dizer, de conhecimentos, de um lento processo de formação de capacidades individuais e coletivas, transmitidas continuamente de uma geração a outra, e que acabam fazendo parte de um estoque mundial de saberes e de técnicas que passam a integrar – ainda que após o monopólio temporário das patentes e dos direitos de autor – o patrimônio coletivo da humanidade.
Meu objetivo, como contrarianista inveterado que sou, é um pouco o de me colocar a contrário senso de certas tendências coletivas, de forma a evitar que os liberais reproduzam mimeticamente, ainda que com sinal invertido, o mesmo comportamento das esquerdas, ou seja: apresentar respostas simples para problemas complexos. Minha própria trajetória de vida poderia ser um exemplo de como superar esse dilema.
Como indivíduo pensante, na primeira adolescência e até na vida adulta juvenil, eu me situava no marxismo, e isso era inevitável no ambiente escolar e universitário de minha época – e talvez o seja ainda hoje, com uma diferença: nossos marxistas de então, professores e alunos, liam Marx, Lênin, Gramsci e outros, o que provavelmente não é muito o caso nos dias que correm. No meu caso, eu lia o meu Marx e também Raymond Aron, Lênin, mas também Roberto Campos, e creio que esse marxismo não religioso me ajudou a superar as amarras do credo quando passei da teoria pura à contemplação da realidade dos socialismos reais e surreais que pude conhecer in loco, em estágios naquele mundo socialista que não se caracterizava apenas pela miséria material, mas também, e sobretudo, pela miséria moral: o ambiente policialesco, de repressão, de delação, de controle absoluto sobre a vida dos outros (tem até um filme sobre isso).

De fato, quem mudou a humanidade foram indivíduos, de preferência os mais livres dentre todos, pois só num ambiente de plenas liberdades individuais, econômicas e políticas, é que ideias contestadores do senso comum, das tradições ancestrais, dos usos e hábitos ancorados nos comportamentos de gerações seguidas, podem florescer e prosperar, apontando novos caminhos para velhos problemas humanos. O próprio Marx, quando jovem, tinha alguns insights interessantes a esse respeito, quando disse que a humanidade encontra continuamente novas respostas a problemas que ela própria se coloca de contínuo. Regimes socialistas, especialmente os tirânicos, costumam ser as sociedades mais esclerosadas de todas, a exemplo da finada União Soviética e da infeliz Cuba e da inacreditável Coreia do Norte. Quando as liberdades econômicas são enfim estabelecidas, como ocorreu na China, os lampejos de criatividade individual se tornam capazes de transformar radicalmente a paisagem social e o universo material, mesmo sob condições de severas restrições políticas, como ainda ocorre na mesma China.
Não existe, portanto, uma dicotomia absoluta entre o público e o privado, como não deveria haver, na busca de soluções criativas aos inúmeros problemas coletivos, uma única via que supostamente nos levaria do inferno burocrático do Estado opressor ao nirvana do regime privatista das economias de mercados livres. As teias, as amarras, as imbricações entre um universo e outro são por demais reais, fortes e permanentes, para nos fazer refletir profundamente sobre a inexistência de um mundo em branco e preto, no qual os vícios estariam todos de um lado, e todas as virtudes do outro.
Vamos usar nossa capacidade de raciocínio para pensar cada problema humano, individual ou coletivo, na sua dimensão própria, colocar toda a nossa inteligência na análise e diagnóstico desse problema, sem qualquer a priori dogmático, e adotar soluções que sempre serão parciais, limitadas, temporárias, não ideais ou perfeitas, mas aquelas possíveis num momento dado das nossas experiências de vida. Creio que seria isso recomendariam pensadores tão distintos em suas especializações acadêmicas quanto Raymond Aron ou Karl Popper. A modesta racionalidade dos nossos saberes nos incita a ver cada solução a um problema determinado com o mesmo ceticismo sadio que um sábio em seu laboratório realiza todos os experimentos possíveis antes de formular uma explicação em face de uma hipótese de trabalho. Vamos proceder da mesma forma.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 19 de setembro de 2016

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Complemento, escrito em Belo Horizonte, em 20/09/2016:

Minhas opiniões já foram expostas em dois, ou três, textos que preparei, justamente para atender aos convites e às demandas dos Estudantes Pela Liberdade, dois para este mesmo encontro, já transcritos no site do EPL-MG, e um em Brasília, sobre populismo econômico na América Latina, já publicado no boletim Mundorama. Por isso não vou repetir meus argumentos sobre a temática dos Problemas Coletivos, Soluções Privadas.
Vou apenas acrescentar uma última reflexão, antes de abrir o debate com todos vocês, o que me parece mais interessante do que um monólogo com virtudes dormitivas.
Ideas do matter; ideias contam, e como! As ideias são, e sempre serão, mais poderosas do que canhões, do que tanques, do que todas as tecnologias criativas (ou destruidoras), todas as forças materiais.
Como eu já disse em várias ocasiões, eu venho do marxismo universitário nos meus tempos juvenis (mas acho que melhorei um pouco desde então). Apesar dos argumentos de Marx, sobre as forças produtivas e toda a infraestrutura material serem os determinantes por excelência das relações sociais e da consciência humana – como ele postulou em seus trabalhos de juventude, especialmente na Ideologia Alemã – são as ideias que predominam sempre, em quaisquer circunstâncias. A prova está em que, a despeito dos fracassos rotundos do socialismo, onde quer que ele tenha sido tentado, as ideias socialistas, as ideias de Marx, constituem um sucesso indiscutível, e dominaram poderosamente muitas consciências, desde o final do século XIX, durante quase todo o século XX, e talvez ainda agora, neste início de século XXI. De fato, ainda podemos encontrar muita gente disposta a lutar pela causa socialista, independentemente do fracasso material das propostas econômicas, sociais e políticas do credo marxista. E isso ocorre sobretudo nos ambientes supostamente esclarecidos das academias.
Repito: trata-se de um sucesso estrondoso, em termos de marketing, e de crença religiosa. Ideias contam, portanto, e é preciso refletir sobre isso. Foi o que eu tentei argumentar em meus trabalhos oferecidos à leitura e reflexões de vocês.
Agora estou aberto a ouvir as perguntas, os argumentos, as reflexões de vocês sobre o tema da nossa palestra de hoje, ou sobre quaisquer outras questões.

Belo Horizonte, 20 de setembro de 2016.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Fascismo participatorio: nosso destino comum? - Robert Higgs

Hoje alguém me lembrou desta minha postagem, feita quase um ano atrás.
Acho que tudo está dito: estamos caminhando no Brasil para o mesmo fascismo de que fala o autor, libertário, como eu, mas realista, reconhecendo as dificuldades do libertarianismo nas condições do Estado moderno.
Nem acho que no Brasil ele vai ser muito participatório. Acho que vai ser mais autoritário mesmo, como convém aos companheiros, que sempre falam em inclusão social que é para manter a legitimidade de que estão fazendo algo para os pobres, quando estão no máximo manipulando-os, e usando-os para suas finalidades de monopolização do poder político.
Mas, creio que a tendência é essa mesma.
As pessoas querem mais dessa coisa disforme que se chama Estado, elas não querem sair por aí lutando por direitos e, sobretudo, ter de comprar no mercado tudo o que precisam: elas querem que alguém dê para elas essas coias, e com isso se contentam em entregar parte de sua renda para esse ente ladrão que se chama Estado.
No nosso caso, é quase um Big Brother que nos diz o que podemos ou não podemos fazer.
Ainda temos alguns centímetros quadrados de liberdade, mas é pouco...
Não se desesperem, libertários, o mundo é assim mesmo...
Paulo Roberto de Almeida

Texto de 4 de Abril de 2013: 
Não sou um libertário, no sentido ideológico do termo, quero dizer, ainda que eu possa me dizer um libertário por princípio, individualmente, não me concebo como parte de um movimento. Acredito na plena autonomia do indivíduo, e acho, sim, que a sociedade estaria muito melhor com menos Estado e mais responsabilidade individual, mais mercado, mais competição, mais liberdade, enfim. O Estado é uma máquina que aprisiona, impõe, determina e proíbe, regulando até aspectos mais íntimos da vida cidadã. Por isso sou libertário.
Mas tenho plena consciência que a maioria das pessoas (digamos 95% da população) gostaria de ter um baby-sitter particular, para cuidar das suas coisas, dizer o que fazer, evitar perigos, garantir emprego e lazer, enfim, tomar conta do bebê que todo mundo gostaria de ser (pelo menos para as coisas chatas da vida). Por isso, as pessoas estão dispostas a trocar um pouco (às vezes muito) de sua liberdade, entregar um pouco (em vários casos muito) do seu dinheiro para esse ente que todos consideram imparcial e bondoso que se chama Estado (que via de regra é privatizado pelos mais espertos, e retira dos contribuintes bem mais do que devolve em bens e serviços).
O que mais se aproximou da versão radical do dirigismo estatal foi o marxismo, que falhou, sabemos todos, fez chabu e já não atrai muita gente (com exceção de acadêmicos alucinados e mais da metade dos "clientes" das universidades brasileiras).
O que sobrou então, no seu lugar, mais distributivista do que igualitarista radical, foi o keynesianismo, que comanda nossas vidas e vai continuar comandando por um bocado de tempo mais, enfim, até que suficientes desastres se acumulem para provocar uma mudança, e o surgimento de uma nova teoria estatizante com algumas variantes em relação ao que temos hoje.
Uma coisa é certa: 95% da população vai continuar pedindo um Estado-babá, e os políticos oportunistas vão continuar servindo de intermediários entre a riqueza coletiva e as prebendas que podem ser distribuídas a esses bebês chorões (com uma comissão importante reservada para si mesmos, isto é evidente).
Por isso, mesmo sendo libertário em espírito, não participo de nenhum movimento libertário. Aliás, não faço parte, e nunca farei, de nenhum grupo que me retire um grama, um centímetro de liberdade, e pertencer a um grupo libertário, mesmo de livre afiliação, já me parece uma concessão terrível que teria de fazer no plano de minhas liberdades pessoais.
Por isso concordo com a maior parte dos argumentos desse autor.
Não se desesperem! A maior parte das pessoas gosta desse fascismo participatório do qual ele fala.
Paulo Roberto de Almeida

Libertarian Wishful Thinking


As a rule, libertarians incline toward wishful thinking. They constantly pluck little events, statements, and movies from the flow of life and cry out, “Eureka! Libertarianism is on the march!” With some of my friends, this tendency is so marked that I have become amused by its recurrent expression—well, there he goes again!
Some of this tendency springs, I believe, from their immersion in abstract thought and writing. Many of them have read hundreds of books and articles on libertarianism itself or on closely related ideas and personalities. They love to point out that ideology controls everything and to remark that as soon as we can bring a substantial minority over to our way of thinking, the whole social and political apparatus will tip from tyranny into liberty—rather as the old Eastern European satellites of the USSR (seemingly) abandoned their Communist regimes and substituted much less oppressive regimes almost overnight, in most cases with little bloodshed.
Although I agree that ultimately ideology controls many other elements in social and political affairs, I do not agree that ideology in the Western welfare-warfare states is nearly as fragile as Communist ideology was in the old Soviet satellites. Libertarians rarely invest much time in the detailed study of how the dominant ideology is generated and maintained in the contemporary West. Even fewer of them dig into the detailed composition and operation of the many economic, social, and political institutions that are tied in countless ways into reliance on and support of the politico-economic status quo. Hundreds of thousands of such organized efforts go on day in and day out all over the country at every level. One has only to thumb through the telephone directory for the Washington, D.C., area to gain an impression of the amazing array of well-organized, well-funded, special-interest groups now working ceaselessly, in effect, to keep all attempts to restore liberty at bay and if possible to bind individuals down by additional legal restraints and obligations. Participatory fascism in the contemporary USA and other advanced Western countries is an arrangement so vast and far-reaching that it defies the grasp of any single researcher. Specialists can easily work full-time in simply trying to understand the workings of one tentacle among the thousands that the beast possesses.
To suppose that an overnight ideological conversion or “tipping” can remove all of these organizations from the scene or lead them to alter their objectives and modus operandi is fanciful beyond imagination. To borrow from the vernacular, it just ain’t gonna happen. For it to do so would amount to the most preposterous instance of the tail wagging the dog in human history. Communist regimes could be (seemingly) tipped because Communism was widely recognized as a failure, as a recipe for societal backwardness and a low level of living. After its initial revolutionary surge of support, its ideological underpinnings grew weaker and weaker with each passing year and, by the 1980s, not many true believers remained.
Such is not at all the case in the West today. Here nearly everybody is held tightly in the system by countless seemly beneficial ties that few people can imagine doing without: Who’ll send grandma a monthly check to keep her in groceries? Who’ll provide medical care for the scores of millions of lower-income people whose care now comes via Medicaid? Who’ll cover the huge medical bills the elderly now expect Medicare to pay? Who’ll subsidize the college loans on which millions of students rely? And so on and on. One has only to wade through the Code of Federal Regulations and ask on each page: if this particular regulation were scrapped today, how would its corporate and union beneficiaries react? Can one really imagine that these powerful institutions would simply shrug their shoulders if liberty should break out, after having fought for more than a century to forge the fetters that now bind the populace in the service of almost innumerable special interests?
One who maintains, as I do, that the existing system may crumble little by little, having heedlessly sowed thousands of poisonous seeds of its own destruction, but almost certainly will never just roll over and admit defeat, may seem to be a defeatist. But nothing is gained by entertaining an unrealistic view of what liberty lovers are up against. Even if one believes, as I do, that the existing system is not viable in the very long run, it may last in episodically patched-up forms for a long, long time. There are no magic bullets, such as abolishing the Fed. The state can use other means in the highly unlikely event that it should no longer have the Fed in its arsenal. The same can be said about most of the system’s other key elements.
In truth, the time for liberty lovers to make a stand that had a fighting chance of success was a century ago. But that chance was squandered, if indeed it ever packed much punch. Powerful economic, institutional, and ideological currents were working against it even then, and by now those currents, swelled by the self-interested efforts of several generations of statists in positions of great power and influence, have grown into a mighty river. This fascistic Rome wasn’t built in a day, and it wasn’t built by accident, either. It is not so flimsy that it will collapse because someone gives a libertarian-sounding speech in the Senate, because thousands of powerless college students turn out to hear Ron Paul speak, or because a writer embeds a libertarian sentiment in a film script. These things, however much they may cheer the libertarian heart, are the equivalent of the proverbial sparrow pecking at a pyramid. Wishful thinking about the impending triumph of liberty may be uplifting for libertarians, but it avails neither them nor the world anything of real importance.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Cinco grandes livros que vc nao corre o risco de ouvir falar nauniversidade - Diogo Costa

Devidamente linkados para o deleite dos meus poucos e de todos os leitores, ou simples curiosos...
Grato pelo cuidado e pelas recomendações Diogo. Não tenho o último, vou pegar agora.
Paulo Roberto de Almeida 


5 grandes livros que você não estudou na escola

Publicado em 3 de janeiro de 2014 | por Diogo Costa
Diogo Costa cita e explica quais são os 5 livros que você não estudou na escola, mas que explicam o mundo moderno.
1. Ensaios de Frédéric Bastiat (http://goo.gl/UnmpF2)
2. As Seis Lições (http://goo.gl/gQNxd1)
3. A lógica da ação coletiva (http://goo.gl/yLisSR)
4. Tempos Modernos (http://goo.gl/6kTrNw)
5. O Otimista Racional (http://goo.gl/a780Fl)
Portal Libertarianismo: “Evoluindo Ideias e Indivíduos.”

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

O manifesto libertario de Murray Rothbard - livro no Instituto Mises Brasil

Por uma nova liberdade - o manifesto libertário
por , sexta-feira, 11 de outubro de 2013

 

Manifesto_Livro.jpg
Clique na foto para adquirir o livro
Existem muitas variantes do libertarianismo vivas no mundo atual, porém o rothbardianismo continua a ser seu centro de gravidade intelectual, sua consciência primordial, seu cerne moral e estratégico, e o ponto focal de debate até mesmo quando seu nome não é mencionado.  
O motivo é que Murray Rothbard foi o criador do libertarianismo moderno, um sistema político-ideológico que propõe uma fuga decisiva das armadilhas da esquerda e da direita e de seus planos centrais acerca de como o poder estatal deve ser usado. O libertarianismo é a alternativa radical que afirma que o poder estatal é impraticável e imoral.
"Senhor Libertário" era como Murray N. Rothbard era chamado, e também de "O Maior Inimigo Vivo do Estado". Ele continua a sê-lo.  Sim, ele teve muitos antecessores, pelos quais ele foi influenciado: toda a tradição liberal clássica, os economistas austríacos, a postura anti-belicista da Old Right americana, e a tradição dos direitos naturais.  Porém, foi ele quem juntou todas estas peças em um sistema unificado que a princípio parece implausível, mas que, uma vez definido e defendido por Rothbard, se mostra inevitável.  As peças individuais deste sistema são claras, (autonomia individual, direitos de propriedade indeléveis, mercados livres, e uma postura anti-estado em todos os aspectos concebíveis), porém suas implicações são impactantes.
Após você ser exposto ao panorama completo — e Por uma Nova Liberdade vem sendo o principal meio de exposição por mais de um quarto de século — é impossível esquecê-lo.  Ele se torna a lente indispensável pela qual podemos ver os eventos no mundo real com a maior clareza possível.
Este livro, mais que qualquer outro, explica por que a importância de Rothbard parece aumentar ano após ano (sua influência cresceu enormemente desde sua morte) e por que o rothbardianismo tem tantos inimigos na esquerda, na direita e no centro.  A ciência de liberdade que ele trouxe claramente à tona é, pura e simplesmente, tão eletrizante na esperança que ela cria de um mundo livre quanto é implacável com o erro. Sua consistência lógica e moral, aliada à sua força intelectual, representa uma ameaça a qualquer visão ideológica que procure utilizar o estado para refazer o mundo de acordo com algum plano pré-programado.  E, com a mesma intensidade, ela impressiona o leitor com uma visão auspiciosa do que pode ser realizado.
Rothbard começou a escrever este livro logo após receber uma ligação de Tom Mandel, um editor da Macmillan que havia visto um editorial de Rothbard no The New York Times publicado na primavera de 1971.  Foi a única comissão recebida por Rothbard em toda a sua vida de uma editora comercial.  Quando examinei o manuscrito original, tão consistente em sua tipografia e praticamente finalizado após o seu primeiro rascunho, pareceu-me visível que, para Rothbard, escrevê-lo foi uma alegria quase natural.  Ele é consistente, implacável e enérgico.
O contexto histórico ilustra um ponto que frequentemente é ignorado: o libertarianismo moderno não nasceu em reação ao socialismo ou ao esquerdismo — embora ele seguramente seja anti-esquerda e anti-socialismo.  Para ser mais exato, o libertarianismo, em seu contexto histórico, surgiu como uma resposta ao estatismo do conservadorismo e sua celebração seletiva de um planejamento central de estilo conservador.  Os conservadores podem não adorar o estado de bem-estar social ou as regulamentações econômicas excessivas, porém apreciam o exercício do poder em nome do nacionalismo, do belicismo, de políticas "pró-família" e da invasão da privacidade e da liberdade pessoal.  No período após o governo do democrata Lyndon Johnson, os presidentes republicanos, ainda mais do que os democratas, foram responsáveis pelas mais intensas expansões dos poderes executivo e judiciário.  E foi para defender uma liberdade pura contra as concessões e corrupções do conservadorismo — iniciando-se com o período de Nixon, porém continuando ao longo das presidências de Reagan e Bush — que a economia política rothbardiana foi criada.
Também é notável como Rothbard opta por não usar meias-palavras em seu argumento. Outros intelectuais que tivessem recebido um convite semelhante poderiam ter sucumbido à tentação de diluir seus argumentos, para torná-los mais palatáveis. Por que, por exemplo, defender a ausência do estado quando defender um governo limitado poderia trazer mais pessoas para o movimento?  Por que condenar o imperialismo americano quando fazê-lo apenas acabaria limitando a atração do livro a conservadores anti-soviéticos que, não fosse por este motivo, poderiam apreciar suas inclinações ao livre-mercado?  Por que se aprofundar tanto na privatização dos tribunais, estradas e dos sistemas hídricos e correr o risco de, ao fazê-lo, se indispor com tantas pessoas?  Por que entrar no terreno pantanoso da regulamentação do consumo e da moralidade pessoal — e fazê-lo com uma consistência tão desconcertante — quando seguramente um público maior teria sido atraído caso isto não fosse feito?  E por que entrar em detalhes como questões monetárias, bancos centrais e tópicos semelhantes quando um argumento mais diluído em prol da livre iniciativa teria agradado muito mais em termos gerais?
Porém, enfeitar e ceder para agradar ou ganhar mais público simplesmente não era uma de suas características. Ele sabia que tinha uma oportunidade única na vida de apresentar o pacote completo do libertarianismo, em toda a sua glória, e não estava disposto a abrir mão disto.  E é por isso que lemos neste livro não apenas um argumento para a diminuição do governo, mas também para a sua eliminação pura e simples; não apenas um argumento para a atribuição de direitos de propriedade, mas também para a submissão ao mercado até mesmo em questões relativas a aplicações de contratos; e não apenas um argumento a favor do corte do assistencialismo, mas também para o completo banimento de todo o sistema de bem-estar social.
Enquanto outras tentativas de se defender o libertarianismo, tanto antes quanto depois deste livro, costumam pedir por simples medidas de transição ou estão dispostas a ceder o máximo possível aos estatistas, não é isto que Murray nos oferece.  Não ele, para quem sistemas como vouchers escolares ou a privatização de programas governamentais não deveriam sequer existir.  Em seu lugar, ele apresenta e dá sequência à visão inteiramente completa e totalmente revigorante do que deve ser a liberdade.  É por isto que tantas outras tentativas semelhantes de se escrever o Manifesto Libertário não resistiram ao teste do tempo, enquanto este livro continua a ser tão procurado.
Da mesma maneira, muitos livros foram escritos sobre o libertarianismo durante estes anos, que cobriram apenas a filosofia, a política, a economia ou a história.  Aqueles que reuniram todos estes temas geralmente eram coletâneas de diversos autores.  Apenas Rothbard tinha o domínio em todos os campos, o que lhe permitiu escrever um manifesto integral — um que jamais foi superado.  E ainda assim, sua abordagem é tipicamente modesta: ele constantemente se refere a outros escritores e intelectuais do passado e de sua própria geração.
Ademais, algumas introduções deste tipo são escritas para dar ao leitor uma transição mais facilitada para um livro difícil; este, no entanto, não é o caso aqui.  Ele jamais se refere ao leitor com condescendência, mas sempre com clareza.  Rothbard fala por si mesmo.  Pouparei o leitor de uma lista de minhas partes favoritas, ou de especulações sobre quais passagens Rothbard teria tornado mais claras se ele tivesse tido a chance de lançar uma nova edição.  O leitor perceberá por sua própria conta como cada página exala energia e paixão, como a lógica de seu argumento é incrivelmente persuasiva, e como o fogo intelectual que inspirou esta obra escrita há mais de 40 anos continua a arder hoje com a mesma intensidade.
Este livro é considerado "perigoso" exatamente porque, uma vez ocorrida a exposição ao rothbardianismo, nenhum outro livro sobre política, economia ou sociologia poderá novamente ser lido da mesma maneira.  O que era um fenômeno comercial acabou por se tornar genuinamente um manifesto clássico, o qual, prevejo, será lido por muitas gerações vindouras.

Lew Rockwell é o presidente do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.


Tradução de Leandro Roque

sábado, 3 de agosto de 2013

Cultura e liberdade - uma entrevista com Hans-Hermann Hoppe (Dicta&Contradicta)

Cultura e liberdade - uma entrevista com Hans-Hermann Hoppe
Instituto Mises Brasil, terça-feira, 16 de julho de 2013

 

hoppe2.jpgEntrevista concedida a Joel Pinheiro da Fonseca para a revista Dicta&Contradicta

Um bom termo para descrever o pensamento de Hans-Hermann Hoppe é radical. Um pensamento que afirma, sem medo, todas as consequências a que uma ideia originária leva, e que, para resolver qualquer problema social ou filosófico que se impõe, retorna àraiz das questões discutidas para dela extrair — dedutivamente se possível — uma solução universal.
Passando da forma ao conteúdo, Hoppe se insere, via seu mentor Murray Rothbard, em uma linhagem muito particular da chamada escola austríaca de economia. Essa "escola" (no sentido de uma tradição de pesquisa com certos pressupostos básicos comuns) de pensamento econômico ficou, a partir de meados do século 20, fortemente associada à defesa do liberalismo econômico. Rothbard foi herdeiro da forma austríaca de se entender o funcionamento do mercado e a integrou a uma outra matriz de pensamento: a tradição libertária dos direitos naturais, segundo a qual todo homem tem direito absoluto e irrestrito sobre seu próprio corpo e sua propriedade; qualquer agressão contra ele, vinda de onde vier (inclusive do estado), é ilegítima. Foi ele quem originou, assim, a síntese conhecida como austro-libertarianismo. Hoppe foi ainda mais longe que seu mentor, ao apresentar uma demonstração a priori da existência dos direitos naturais no ensaio "A ética e a economia da propriedade privada", demonstração que — não pela conclusão mas pela forma — remete à ética do discurso proposta por outra influência sua: seu orientador de doutorado, Jürgen Habermas.
Sua contribuição mais notória — e polêmica —, contudo, é outra: Hoppe é um ferrenho oponente daquele sistema político comumente considerado o melhor: a democracia. Em seu livro Democracia - o deus que falhou , ele aplica o princípio da tragédia dos comuns ao próprio estado. Na monarquia absoluta, argumenta, o estado é propriedade privada: tem um dono que, via de regra, zelará por manter seu valor de longo prazo. Já na democracia, o estado torna-se propriedade pública: todos têm acesso a seus (muitos) benefícios e cargos; e então todos quererão para si quantas dessas benesses puderem pegar no menor prazo possível (pois quem não o fizer pagará a conta dos benefícios alheios).
Assim, sob a democracia, o estado sempre tende a crescer, as liberdades individuais a diminuir, e a cultura a refletir a disciplina aprendida pela dinâmica da tragédia dos comuns: o aumento da taxa de desconto intertemporal, isto é, a priorização do curto prazo sobre o longo. Desta forma, a monarquia deveria ser preferida à democracia. Hoppe, no entanto, é o primeiro a lembrar que a monarquia já é, ela própria, pior do que — e historicamente uma degeneração da — anarquia, ou seja, da ausência de estado. Longe de se pautar pelos valores democráticos hoje em voga, a sociedade genuinamente anárquica seria, segundo Hoppe, desigual, elitista e hierárquica. E isso, para ele, é um grande mérito.
Nesta breve entrevista concedida à Dicta&Contradicta, nosso interesse centrou-se em dois temas: (1) a intersecção entre o libertarianismo conservador de Hoppe e a cultura e as artes; e (2) o papel do intelectual e das ideias na sociedade atual.
I. Libertarianismo e Cultura
A mudança de uma sociedade estatista para uma sociedade libertária promoveria ou dificultaria a produção de alta cultura?
Uma sociedade libertária seria significativamente mais próspera e rica e isso certamente ajudaria tanto a alta quanto a baixa cultura. Mas uma sociedade livre — uma sociedade sem impostos e subsídios e sem os assim chamados "direitos de propriedade intelectual" — produziria uma cultura muito diferente, com uma gama também muito diferente de produtos, produtores, estrelas e fracassos.
Em seus escritos, o senhor identifica uma ligação causal entre a forma de governo de uma sociedade e seus valores morais e desenvolvimento social. O senhor vê uma ligação similar entre a forma de governo e os critérios estéticos e a qualidade da arte e do entretenimento?
Sim. O governo de um estado democrático promove sistematicamente o igualitarismo e o relativismo. No campo da interação humana, leva à subversão e, em última análise, ao desaparecimento da ideia de princípios eternos e universais da justiça. A lei é soterrada e submersa pela legislação. No campo das artes e do juízo estético, a democracia leva à subversão e ao desaparecimento da noção de beleza e dos critérios universais de beleza. A beleza é soterrada e submersa pela chamada "arte moderna".
As posições éticas e políticas libertárias têm alguma relação com juízos estéticos e artísticos determinados? Há alguma incoerência em um libertário que seja, digamos, apreciador do realismo soviético?
De um ponto de vista puramente lógico, o libertarianismo é compatível com todo e qualquer juízo ou estilo artístico e estético. Não sou o primeiro a notar, por exemplo, que a obra literária da célebre libertária Ayn Rand tem uma clara semelhança estilística com o realismo soviético socialista. Similarmente, constato que é possível ser um libertário "perfeito", que nunca agride nenhuma pessoa ou propriedade, e ainda assim ser um sujeito plenamente inútil, desagradável ou mesmo podre.
Psicologicamente, contudo, as coisas são diferentes. Aqui, no campo da psicologia, sentimos que o estilo de vida de um vagabundo pacífico ou de um apreciador do realismo soviético é de alguma maneira incompatível e oposta ao estilo de vida de um libertário consciente. Quando vemos tal conduta ou gosto manifestos em alguém que se diz libertário, isso nos causa um desconforto e a sensação de uma dissonância emocional ou estética. E com razão, penso eu. Pois a experiência humana é caracterizada pela integração de três habilidades: a capacidade de se reconhecer a verdade, a justiça e a beleza. Podemos distinguir o verdadeiro do falso, o certo do errado, e podemos distinguir o belo (e o perfeito) do feio (e do imperfeito); podemos refletir e falar sobre as três noções e suas antíteses. Uma vida humana integral e completa deveria, então, ser não apenas veraz e justa; deveria ser também uma vida boa. Talvez não bela e perfeita, mas uma vida que almejasse a beleza e a perfeição. Uma vida exemplar, moral e esteticamente edificante, inspiradora. É nisso que o vagabundo pacífico e o amante do realismo soviético pecam.
Alternativamente, tem a arte um papel a desempenhar na formação de ideias políticas e filosóficas? É possível que isso se dê sem que seja como propaganda para uma dada ideologia?
O propósito das artes visuais e da música é a criação da beleza em todas as suas manifestações. Ainda assim, a beleza visual e musical e o libertarianismo têm algo importante em comum. O libertarianismo também é belo. Não esteticamente, é claro, mas logicamente, por ser uma teoria social simples e elegante.
Quanto às artes total ou parcialmente discursivas — narrativas —, sim, elas podem servir como veículo para a promoção de ideias políticas e filosóficas. Você pode chamar isso de propaganda. Mas essas ideias podem ser verdadeiras e boas ou falsas e más. E embora eu não seja muito chegado em arte, prefiro que haja mais artistas propagandeando as ideias boas e verdadeiras da propriedade privada e do capitalismo, como Ayn Rand, e menos artistas propagandeando as ideias falsas e más da propriedade pública e do socialismo, como, digamos, Bertolt Brecht. Uma agenda filosófica, por sua vez, tampouco é necessária para que haja arte – pode-se contar uma história como um fim em si. Para que haja arte uma narrativa tem de se caracterizar pela veracidade (no sentido mais amplo do termo), pela inteligibilidade, coerência lógica, domínio da língua, expressão e estilo, e por um sentido de humanidade e de justiça humana: de agência, do que há de intencional e não intencional na vida, do certo e do errado, do bom e do mau.
Vale a pena ler literatura? Qual é seu livro literário favorito?
Isso é algo que cada um tem de decidir por si. Pessoalmente, nunca li muita literatura. Se quero uma leitura mais "leve", em geral leio História, incluindo romances históricos, biografias ou crítica literária e cultural à la H. L. Mencken ou Tom Wolfe.
II. Intelectuais
As ideias discutidas pelos intelectuais têm algum efeito prático na história da humanidade?
Não sou fã de John Maynard Keynes. Mas creio que ele estava certo quando disse que "as ideias dos economistas e filósofos políticos, estejam elas certas ou erradas, são mais poderosas do que comumente se percebe. Com efeito, elas governam o mundo quase sozinhas. Homens práticos, que se acreditam isentos de qualquer influências intelectual, costumam ser escravos de algum economista defunto". Ironicamente, ele mesmo, Keynes, é o economista defunto por excelência — emitindo, por sinal, ideias falsas —; aquele por quem os homens práticos de hoje são escravizados intelectualmente.
Dado que comunidades libertárias poderiam banir livremente qualquer um que discordasse de alguma opinião, num mundo libertário haveria mais ou menos liberdade de discussão intelectual em comparação ao nosso? E em comparação a um mundo composto de monarquias tradicionais?
A propriedade privada dá a seu dono o direito de discriminar: de excluir ou incluir outros em sua propriedade e de determinar as condições de entrada e inclusão. Tanto a inclusão quanto a exclusão têm seus custos e benefícios para o proprietário, os quais ele pesa na hora de tomar uma decisão. De qualquer maneira, a decisão do proprietário é motivada por sua razão e pelo seu interesse por sua propriedade. Seu pensamento pode calhar de estar certo, e ele atinge seu objetivo, ou pode calhar de estar errado, mas de qualquer modo, sua decisão é uma decisão pensada.
Assim, alguém que fundasse e desenvolvesse uma comunidade privada, provavelmente não discriminaria e excluiria com base numa mera diferença de opinião. Se o fizesse, provavelmente não atrairia mais inquilinos do que o séquito de um guru. Usualmente, a discriminação é baseada em diferenças de conduta, expressão e aparência, no que as pessoas fazem e como agem em público, na língua, religião, etnia, costumes, classe social etc. O proprietário discrimina para atingir um alto grau de homogeneidade de conduta em sua comunidade e assim evitar ou reduzir tensões e conflitos intracomunitários — no jargão econômico: para reduzir os custos de transação. E ele o faz na expectativa de que sua decisão seja boa para sua propriedade e sua comunidade.
Em todo o caso, num mundo libertário haveria de fato muito mais discriminação do que no atual mundo estatista, que é caracterizado por inúmeras leis antidiscriminação e, consequentemente, por uma integração forçada e onipresente. Em particular, quaisquer que fossem os outros critérios usados para inclusão ou exclusão, em um mundo libertário nenhum dono de comunidade privada iria tolerar – e deixar de discriminar — ativistas comunistas ou socialistas em sua propriedade. Como inimigos da própria instituição em que a comunidade se funda, eles seriam excluídos ou expulsos — mas seriam, é claro, livres para estabelecer sua própria comuna comunista, kibbutzim ou qualquer outro "estilo de vida experimental" que imaginassem.
Em suma, e para responder finalmente à sua pergunta, um mundo libertário seria caracterizado por uma variedade muito maior de comunidades diferentes, mas que, internamente, seriam relativamente homogêneas. Consequentemente, o espectro, a diversidade e o vigor da discussão intelectual provavelmente ultrapassariam de longe qualquer experiência presente ou passada.
A vida acadêmica em seu estado atual é um ambiente saudável para um intelectual? É possível que ele sobreviva em qualquer outro meio?
Depende do intelectual. A vida acadêmica pode ser muito confortável para quem vomita platitudes politicamente corretas de esquerda por anos a fio. Por outro lado, para um austro-libertário — e ainda mais para um austro-libertário que seja culturalmente conservador — a vida acadêmica é difícil e não raro enlouquecedora. Com persistência e alguma sorte você pode sobreviver, mas se você não se vender ou ao menos calar a boca, prepare-se para pagar um preço.
Hoje em dia, no entanto, graças à Internet, você também pode sobreviver como um intelectual fora da academia oficial. Com custos de entrada mínimos, a competição é feroz, mas as oportunidades parecem ilimitadas. Felizmente, há já um bom número de intelectuais austro-libertários que conquistaram preeminência e dinheiro por essa via.
Habermas exerceu influência positiva sobre seu pensamento? Houve também influências negativas?
Habermas foi meu principal professor de filosofia e meu orientador de Ph.D durante meus estudos na Universidade Goethe em Frankfurt, de 68 a 74. Por meio de seus seminários eu travei contato com a filosofia analítica britânica e americana. Li Karl Popper, Paul Feyerabend, Ludwig Wittgenstein, Gilbert Ryle, J. L. Austin, John Searle, W. O. Quine, Hillary Putnam, Noam Chomsky, Jean Piaget. Descobri Paul Lorenzen, a Escola de Erlangen e a obra de Karl-Otto Apel. Ainda acredito que tenha sido um treino intelectual muito bom.
TSC.jpgPessoalmente, portanto, não tenho arrependimentos. Já no tocante à influência de Habermas na Alemanha e sobre a opinião pública alemã, ela tem sido um desastre absoluto, ao menos do ponto de vista libertário. Habermas é hoje o intelectual público mais celebrado da Alemanha e o Sumo Sacerdote do "Politicamente Correto": da social-democracia, do estado de bem-estar social, do multiculturalismo, da antidiscriminação (ação afirmativa) e da centralização política, temperada — especialmente para o consumo alemão — com uma dose pesada de retórica "antifascista" e de "culpa coletiva".
Se o senhor pudesse, magicamente, mudar uma crença nas mentes de todas as pessoas do mundo, qual seria ela?
Nesse ponto, estou com meu principal professor, mentor e mestre, Murray Rothbard. Eu iria querer apenas que as pessoas reconhecessem as coisas como elas são: que elas reconhecessem os impostos como roubo, os políticos como ladrões e todo o aparato e burocracia estatais como uma quadrilha de proteção, uma instituição como a Máfia, só que muito maior e mais perigosa. Em suma, eu desejaria que eles odiassem o estado. Se todo mundo o fizesse, então, como mostrou Étienne de la Boétie, o poder do estado desapareceria quase que instantaneamente.

Hans-Hermann Hoppe é um membro sênior do Ludwig von Mises Institute, fundador e presidente da Property and Freedom Society e co-editor do periódico Review of Austrian Economics. Ele recebeu seu Ph.D e fez seu pós-doutorado na Goethe University em Frankfurt, Alemanha. Ele é o autor, entre outros trabalhos, de Uma Teoria sobre Socialismo e Capitalismo e The Economics and Ethics of Private Property.