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domingo, 16 de dezembro de 2018

Leituras leves de um domingo pre-natalino - Paulo Roberto de Almeida

Leituras leves de um domingo pré-natalino

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: notas de leituras; finalidade: prazer intelectual]
  
Domingo pede cachimbo, diz o velho ditado. Eu, que já abandonei o cachimbo há muito tempo, até antes do casamento, que já dura quarenta anos – neste domingo 16 de dezembro, justamente –, prefiro fazer outras coisas, quando não estamos com os netos. Domingos, como quaisquer outros dias da semana, do mês, do ano, das décadas, são dedicados às leituras, à reflexão, à escrita. Passei o sábado na companhia áspera de livros de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, para redigir dois textos que estou devendo há pelo menos três meses, digamos assim. Mas, isso virá, a seu tempo. Como eu digo sempre: o texto está pronto, só me resta escrevê-lo, o que não é o mais difícil. Com efeito, eu costumo ler muito antes de qualquer trabalho, fazer a minha acumulação primitiva, e algum estoque moderno de leituras, pensar um pouco, eventualmente redigir um esquema, e depois, plim!, o texto acaba saindo quase pronto, ainda que naquele estilo prolixo, rebarbativo, que horrorizaria escritores como Graciliano Ramos ou Hemingway, que diziam que escrever é a arte de cortar palavras.
Pois bem, neste domingo de casamento, ainda não escrevi nada de particularmente inteligente, apenas me dediquei aos afazeres domésticos, a comprar vinhos para o fim de ano, e acabei caindo, ou eles caíram sobre mim, em alguns livros daqueles esquecidos, que guardamos um dia para ler, e esse dia nunca chega. Pois bem, chegou hoje, e se lê daqui, percorre de lá, abre ao acaso, folheia um, folheia outro, e, de repente, plim!, se cai numa frase memorável, que nos faz sorrir, e aí dá vontade de compartir com os outros aquilo que de mais agradável se encontrou nessas leituras dominicais, com a peculiaridade, agora, de que se trata de um domingo pré-natalino, com árvore já montada – graças aos cuidados de Carmen Lícia –, presépio instalado – idem –, presentes para os netos já escondidos – ibidem –, tutto a posto– só falta a roupa de Papai Noel e uma barriga apropriada –, e aí finalmente sentamos no computador para transcrever os trechos mais saborosos.
Ei-los aqui, se me permitem a mesóclise, se isto é uma mesóclise.


Primeiro um romance de Jean-Christophe Rufin, de quem, muitos anos atrás resenhei uma obra contestadora da ordem internacional – pois ele foi da organização humanitária Médecins Sans Frontières–, um libelo contra o que se poderia chamar de “negligência malévola”, cujo título era L’Empire et les Nouveaux Barbares(1991; existe edição brasileira). Mas agora é um romance que Carmen Lícia e eu compramos alguns anos atrás em Paris, e que depois ficou na estante, chamado L’Abyssin(Gallimard Folio, 1997, mas o livro é de 1977, prix Goncourt e prix Méditerranée). Carmen Lícia já me tinha dado de presente um outro romance do mesmo autor, chamado Rouge Brésil, que ganhou o prêmio Goncourt (2001), falando sobre os índios do Brasil e seus déboirescom os portugueses, que eu nunca terminei de ler. Prometo fazê-lo num desses domingos com poucos afazeres.
Mas, este romance, histórico, mas baseado num personagem real – o subtítulo é: Relation des extraordinaires voyages de Jean-Baptiste Poncet, ambassadeur du Négus auprès de Sa Majesté Louis XIV–, trata realmente de negociações diplomáticas, e é por isso que eu transcrevo um simples trecho, extraído do capítulo 1 da parte III: “La Lettre de Créance”, ou seja, uma carta de acreditação, como carregam os diplomatas, quando se apresentam a um soberano estrangeiro (neste caso, o da Abissínia, tristemente célebre, bem mais tarde do que o século XVII, pela derrota imposta em Sadowa, em 1895, aos invasores italianos, e depois ao massacre brutal imposto por Mussolini ao único país africano independente e membro da Liga das Nações, que não fez nada, como de hábito). Bem, chega de conversa, vamos à primeira citação:


La diplomatie est un art qui requiert une si constante dignité, tant de majesté dans le maintien, tant de calme, qu’elle est fort peu compatible avec la précipitation, l’effort, bref, avec le travail. M. de Maillet [o personagem principal deste romance, com o já referido Poncet, cônsul francês muito maltratado pelo bey do Cairo, sob dominação otomana], en diplomate avisé, ne remplissait jamais sib bien son rôle que dans ces moments où, n’ayant positivement rien à faire, il pouvait s’y consacrer tout entier. Ce rien, il parvenait alors à l’élever à la dignité d’une grâce d’État, nimbée comme il se doit de secret et parfumée de mépris à l’endroit de tous ceux qui auraient eu l’audace de lui demander des comptes sur l’emploi de son temps. Depuis le départ de la mission en Abyssine et après les fâcheux désagréments que lui avaient causé les intrigues ecclésiastiques, le consul avait enfin repris le cours ordinaire du service de l’État : il lisait les gazettes, qui lui parvenaient avec du retard, tenait un compte précis des avancements et mutations dans la carrière et cherchait à définir la direction dans laquelle il pourrait orienter sa légitime ambition. Enfin, il rendait, selon un ordre prévu de longue date, des visites à un nombre considérable de personnages turcs et arabes à qui il n’avait rien à dire, dont il ne consentait à rien entendre et auprès desquels la conversation atteignait souvent la finesse, le ciselé des bas-reliefs orientaux chargés de mille chantournements, qui attirent l’œil et le charment sans lui laisser cependant distinguer aucune forme particulière, aucun signe, rien. (p. 317-18)

É evidente que Jean-Christophe Rufin, que conviveu bastante com diplomatas franceses, e estrangeiros, modernos, contemporâneos, usa aqui de un recurso literário, as aventuras de um diplomata do Ancien Régime, para dizer que, em todos os tempos, os diplomatas não servem para grandes coisas, que tudo o que lhes ocupa é remoção, promoção, postos agradáveis, se possível sem nada para fazer, e pedindo que, sobretudo, não lhe cheguem instruções para nada, qualquer coisa que lhes perturbe a calma, o savoir-vivre, a non-chalance, a imperturbável placidez dos postos sem problemas, onde se pode ler os jornais tranquilamente, jogar bridge, tomar um cognaccom os amigos, fumar um havana, e fazer plaisanteriessem consequências. Esse Rufin é, decididamente um gozador, e merece os seus Goncourt, porque ele sabe fazer com toda a graça de um espírito cultivé,un homme d’expérience, un grand voyageur.
Enfim, passemos ao segundo livro.

Quando eu morei sete anos na Europa, num autoexílio forçado pelos anos de chumbo em nosso querido país, eu costumava ler o Le Monde todos os dias, senão os que eu comprava, pelo menos os que eu encontrava na biblioteca, ou lia furtivamente no quiosque da universidade de Bruxelas. Pois bem, antes de ler qualquer artigo sério de política internacional – André Fontaine, por exemplo –, eu primeiro dava uma olhada no cartoon do Plantu e depois no box com as pequenas frases de Robert Escarpit, o homem da palavra, o espírito galhofeiro do dia, o gozador impecável, num Francês elegante, algumas vezes erudito, mas sempre com aquela tournure d’espritque me deixava pasmo de admiração. Pois bem, caiu-me também nas mãos, neste domingo dominical, um Livre de Poche de 1973, chamado Les contes de la saint-glinglin(Paris: Magnard).

Hilariante, a maior parte dos contos, inclusive porque ele explica (ou inventa) a origem de famosas frases em Francês – la belle Lurette, la poudre d’Escampette–, algumas até passadas para o Português, e aproveitadas por Monteiro Lobato, por exemplo. Vocês sabiam que o famoso “pó de Pirlimpimpim”, usado para viagens no tempo e no espaço pela Emília e seus colegas do sítio do Pica-pau amarelo, é na verdade, uma artimanha do Père Limpinpin? Pois é! Mas não é disso que eu quero falar. É justamente no conto 8 desse livro, chamado “La poudre du Père Limpinpin”, que eu encontro uma frases memoráveis, não mais contra os diplomatas, mas contra os militares, nossos irmãos de paz e de guerra, nossa corporação-espelho, feita do mesmo patriotismo entranhado, dos mesmos valores e princípios – a ordem, a disciplina, a hierarquia, a marcha unida, a obediência cega, o respeito aos superiores –, enfim, essas coisas que só os servidores do Estado podem exibir orgulhosamente. E o que diz Robert Escarpit desses militares sempre tão rigorosos? Isto (é também uma história do século XVII): 

À cette époque, les Suisses avaient pour coutume de gagner leur vie, et souvent de la perdre, en s’engageant comme mercenaires au service de princes étrangers. L’usage a presque disparu maintenant, et c’est dommage, car les Suisses étaient des beaux soldats qui portaient joliment leur uniforme. Le pape est le dernier client qui leur reste, mais il a rarement l’occasion de faire la guerre. (…)
La vie militaire en temps de paix, cela peut être agréable quand on sait s’y prendre. Mais vienne la guerre, cela peut devenir très dangereux surtout quand elle est longue. (…) Autrefois, on savait faire durer les guerres. On économisait les soldats pour en avoir jusqu’au bout. On faisait des guerres de sept, de trente ou de cent ans, selon les cas. (…)
Or, un beau jour, la guerre était presque terminée et les généraux auraient même immédiatement arrêté le combat s’ils avaient pu se mettre d’accord sur le gagnant. (pp. 104-5, 106-8, 109)



Bem, chega de guerras e de diplomatas, ou pas tout à fait. O terceiro livro que me caiu nas mãos, também em Francês, foi Montaigne: Que Sais-Je?, de Jean-Yves Pouilloux, para a coleção Découvertes Gallimard, pequenos-grandes livros de bolso, mas ricamente ilustrados, da qual temos vários, Carmen Lícia mais do que eu. 
O Montaigne que eu conheço é obviamente o dos Essais, dos quais eu tenho os três livros, de bolso (o primeiro da Gallimard-Folio, com prefácio de André Gide; o terceiro da Gallimard-Classique, com prefácio de Maurice Merleau-Ponty, ambos com edição anotada por Pierre Michel; e o segundo livro que me desapareceu na minha biblioteca escandalosamente desarrumada), e uma seleção anotada dos três livros, que eu vi há poucos dias no emaranhado de outros livros, em cujas estantes eu me perdi, não achando nem um, nem outro, como tampouco agora. O outro Montaigne que eu li, pouco tempo atrás, foi o de Stefan Zweig, terminado em Petrópolis pouco tempo antes de seu suicidar, já na angustia que ele também sentiu – como Montaigne durante as guerras de religião na França – ao contemplar o seu mundo europeu completamente destruído pela loucura genocida daquele austríaco psicopata que se julgava alemão. 

Tive o prazer, há poucos meses de assumir a direção do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI), do Itamaraty, de promover um evento, a propósito do 75o. aniversário da morte de Stefan Zweig, com a participação do ex-chanceler Celso Lafer, como introdutor de uma edição multilínguas – feita pela Casa Stefan Zweig de Petrópolis, dirigida por Kristina Michahelles, e pela Memória Brasil, de Israel Beloch, o tradutor – da conferência feita por Stefan Zweig no Rio de Janeiro, em 1936, na primeira vez em que ele esteve em nosso país, chamada “A Unidade Espiritual do Mundo”, um tema que lhe era muito caro, para quem já tinha feito biografias de Erasmo – lutando contra Lutero – e de Castelio – lutando contra Calvino – e que se angustiava com a dominação da Europa pelos novos bárbaros do totalitarismo. O anúncio desse evento foi feito antecipadamente por mim numa postagem do blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2017/02/stefan-zweig-o-escritor-que-sonhava-de.html), sendo que dois anos antes eu já transcrevia uma matéria do ex-repórter do New York Times no Rio de Janeiro, Larry Rohter (famoso pela sua matéria anterior sobre as bebedeiras de certo presidente brasileiro), sobre a nova mania em torno de Stefan Zweig (vejam aqui: http://www.nytimes.com/2014/05/29/books/stefan-zweig-austrian-novelist-rises-again.html), e também uma outra matéria sobre uma nova biografia do escritor austríaco por Benjamin Moser, antes do filme Adeus Europa(aqui: https://diplomatizzando.blogspot.com/2014/06/stefan-zweig-por-benjamin-moser.html). O relato sobre o evento Stefan Zweig, com a presença de Celso Lafer, e reproduzindo algumas ilustrações, eu coloquei na plataforma Academia.edu em 12/03/2017 (link: http://www.academia.edu/31826161/Stefan_Zweig_e_o_Brasil).
Pois bem, o Montaignede Jean-Yves Pouilloux é primoroso, pelo recorte magnífico que ele faz dos Essais, com trechos destacados e entremeados de ilustrações as mais significativas, mas também pela seleção final de “témoignages et documents” (pp. 129-169), sendo que a última homenagem é justamente retirada do livro de Stefan Zweig sobre Montaigne, em palavras que poderiam ser aplicadas ao próprio escritor austríaco, ou a qualquer homem de consciência, lutando contra os demônios do fanatismo, da intolerância, da prepotência, do furor destruidor, o que ainda encontramos em nossos tempos, infelizmente, mesmo se sob formas mais amenas. Certas formas de fundamentalismo, religioso ou político, pertencem à mesma família dos dogmas, dos verdadeiros crentes, dos ideólogos animados pelas suas verdades exclusivas (e muitas vezes excludentes), que ainda podem ser encontradas por aí, vagando ao sabor das mudanças políticas e dos fervores transformistas. 
Os trechos que Pouilloux selecionou de Zweig sobre Montaigne merecem que os transcrevemos, inclusive porque eu não fiz notas dessa leitura de um livro derradeiro do grande Stefan Zweig, como tampouco fiz do Erasmo, de Castelio, ou do Fernão de Magalhães, essas figuras trágicas das quais Zweig amava retraçar a vida e os pensamentos. Mas fiz, por exemplo, do execrável Fouché, cujas notas eu transcrevi em meu blog: “Zweig sobre Fouché: biografia primorosa de uma figura execrável”, Brasília, 4 junho 2018, 11 p. Leitura e notas do livro de Zweig, Stefan (1881-1942): Joseph Fouché: retrato de um homem político; tradução de Kristina Michahelles; Rio de Janeiro: Record, 1999, 304 p; título original: Joseph Fouché: Bildnis eines politischen Menschen (1929). 

Divulgado no blog Diplomatizzando (5/06/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/fouche-por-stefan-zweig-resenha-artigo.html). 

Vamos, finalmente, ao Montaigne, de Stefan Zweig: 
Seul celui qui, dans le bouleversement de son âme, est contraint de vivre un époque où la guerre, la violence, la tyrannie des idéologies menacent la vie même de chacun et, dans cette vie, sa substance la plus précieuse, la liberté de l’âme, put savoir combien il faut de courage, de droiture, d’énergie, pour rester fidèle à son moi le plus profond, en ce temps où la folie s’empare des masses. Il faut d’abord avoir soi-même douté et désespéré de la raison, de la dignité de l’homme, pour pouvoir louer l’acte exemplaire de celui qui reste debout dans le chaos du monde. (…) On a voulu voir en lui un homme qui se détache de tout, qui n’est lié à rien, qui doute de tout, e vit dans le vide – c’est ainsi que l’a décrit Pascal. Rien n’est plus faux : Montaigne aime démesurément la vie. (…)
Il n’est qu’une erreur et qu’un crime : vouloir enfermer la diversité du monde dans des doctrines et des systèmes. C’est erreur que de détourner d’autres hommes de leur libre jugement, de leur volonté propre, et de leur imposer quelque chose qui n’est pas en eux. Seuls agissent ainsi ceux qui ne respectent pas la liberté, et Montaigne n’a rien haï tant que la « frénesie », le délire furieux des dictateurs de l’esprit qui veulent avec arrogance et vanité imposer au monde leurs « nouveautés » comme la seule et indiscutable vérité, et pour qui le sang de centaines de milliers d’hommes n’est rien, pourvue que leur cause triomphe. 
Ainsi l’attitude de Montaigne face à la vie comme celle de tous les libres penseurs, aboutit à la tolérance. (…)
Il est important de voir cela, parce que c’est une preuve que l’homme peut toujours être libre, à n’importe quelle époque. (…) Même aux temps fanatiques, à l’époque de la chasse aux sorcières, de la « Chambre Ardente » et de l’Inquisition, les hommes humains [sic] ont toujours pu vivre ; pas un seul instant cela n’a pu troubler la clarté d’esprit et l’humanité d’un Erasme, d’un Montaigne, d’un Castellion. (…)
Celui qui pense librement pour lui-même honore toute liberté sur terre. 
(Montaigne : que Sais-Je ?,Gallimard, 1987, pp. 167-169).


Alguns desses pensamentos, curiosamente similares, me vieram outra noite à mente, a partir da leitura (no Kindle), de um livro de Eric Hoffe: True Believer: Thoughts on the Nature of Mass Movements,uma obra publicada pela primeira vez em 1951, que tem a ver justamente com esses fanáticos que infernizaram a vida de Erasmo, de Castélio, de Montaigne, de Stefan Zweig, e que continuam a infernizar as nossas vidas, com esses chamamentos ao “pensamento correto”, à punição dos desviantes, à condenação dos dissidentes, à perseguição dos livre pensadores. 
O livro de Hoffe me remeteu à leitura de um outro livro, de 1941, de um jovem americano graduando em história, que fez sua tese de doutorado sobre os românticos alemães, mas que terminou com sua culminação em Hitler, num momento em que ele se encontrava no ápice do seu poder, já tendo conquistado a França, e se lançado à conquista da União Soviética (mas antes de Pearl Harbor, quando Hitler também declara guerra aos Estados Unidos, três dias depois, num dos maiores erros estratégicos de toda a sua patética, e destrutiva, carreira de genocida psicopata). O livro, de Peter Viereck,se chama, prestem atenção: Metapolitics: From Wagner and German Romantics to Hitler(edição original: New York: Alfred A. Knopf, 1941; edição aumentada: New Brunswick: Transaction Books, 2003; disponível na Amazon). 
O termo metapolítica foi cunhado pelos seguidores de Richard Wagner, um antissemita admirado por Hitler – tanto que suas músicas foram tocadas até depois de seu suicídio, em sua homenagem – e vem associado a uma ideologia da qual Peter Viereck identifica os elementos mais distintivos: romantismo (incorporado sobretudo no ethosWagneriano), a pseudociência racial, o endeusamento de um Fuehrer, um vago socialismo econômico, e a força alegadamente supernatural e inconsciente dessa coletividade chamada de Volk. Juntos, esses elementos engendraram uma ênfase na irracionalidade e na histeria, e a crença de uma missão especial da Alemanha para dirigir a trajetória da história mundial. Digamos que, com exceção da ideologia racial, os demais elementos podem ser sempre encontrados nas mensagens de certos fanáticos religiosos ou políticos. O que é extremamente preocupante.

Prefiro ficar com Montaigne, com Erasmo, com Zweig, com minhas leituras.
Bom domingo a todos...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16 de dezembro de 2018

sábado, 18 de agosto de 2018

Crise no mercado editorial brasileiro: meu comentario - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de receber a seguinte mensagem do organizador de uma obra coletiva, em vários volumes, da qual eu participo com um capítulo, em tema de minha especialidade. Abaixo transcrevo meu comentário a ele e a todos os demais colaboradores:

On 18 Aug 2018, at 15:46, Xxxx Xxxxxxx <xxxxxxxxxxx@gmail.com> wrote:

Prezados colegas,
Esperamos encontrá-los bem.
Escrevemos para todos os que revisaram/atualizaram seus capítulos ou escreveram textos inéditos para os volumes 2, 3 e 4 da coleção X Xxxxx Xxxxxxxxx.
Nós havíamos planejado com a Editora relançar os quatro volumes de X Xxxxx Xxxxxxxxx  revisados e ampliados, com novo ISBN, junto com o novo volume, o 5 (Xxxxxxxxx). O lançamento dos 5 livros estava previsto para setembro próximo.
Os livros, inclusive, estão quase prontos, faltando apenas a última leitura e a impressão. Mas, infelizmente, os planos foram alterados.
Recebemos dos diretores da Editora a notícia de que a crise econômica se abateu, de maneira muito grave, sobre o mercado editorial. Segundo nos informaram, as livrarias não vendem e, devido a isso, não pagam às editoras. As duas maiores redes de livrarias do país vêm renegociando dívidas e isso está impactando a produção e distribuição de todas as editoras do país.
Nesse sentido, todo o planejamento teve de ser revisto. Neste ano, em setembro, serão lançados apenas o livro 5, totalmente inédito, e o volume 1, que introduz o leitor à coleção. Todos os outros volumes – 2, 3 e 4 – serão lançados no início de 2019, em sequência, conforme já acordado com a Editora.
Não escondemos nossa surpresa com a decisão tomada pela diretoria da Editora. E tais decisões independeram de nossa vontade. No entanto, queremos enfatizar que são anos de parceria com a Editora Xxxxxxx Xxxxxxxxx, sempre baseada no diálogo e na confiança. A produção editorial dos livros está praticamente pronta e foi um grande investimento de todos os envolvidos (os volumes sairão com novo projeto gráfico, inclusive as capas, e encartes com novas fotos). Nada será modificado em relação ao conteúdo e tamanho dos textos. Todos os livros têm ISBN e estão paginados, de maneira que poderá constar nos currículos daqueles que precisarem informar às suas instituições, embora com lançamento para 2019.
Lamentamos muito o ocorrido e queremos contar com a compreensão de todos os colegas, reiterando que a decisão foi independente de nossa vontade.
Abraços a todos,
Xxxxx Xxxxxxx

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Minha resposta, imediata;

Plenamente explicado, caro Xxxx Xxxxxxx. Venho acompanhando o cenário editorial desde muito tempo, e as explicações dos editores são inteiramente corroboradas pela realidade atual do mercado de livros, com essas insolvências de livrarias e anúncios de cortes e fechamento de locais físicos. A culpe NÃO é da Amazon, que aliás contribui enormemente para aproximar os leitores potenciais dos livros desejados. A culpa é do quadro macroestrutural e setorial da economia brasileira, com erros enormes acumulados ao longo de mais de dez anos de inepta gestão companheira, e uma incapacidade do governo sucessor – enredado em seu próprio labirinto de denúncias e tentativas de salvação entregando os anéis para um Congresso extremamente corrupto e chantagista – de realizar as reformas que tirariam o Brasil da profunda crise fiscal criada pela Grande Destruição lulopetista da economia.
            A recuperação vai provavelmente durar mais tempo do que o previsto, e eu não estranharia se os editores postergassem novamente a publicação dos demais volumes. Cabe esperar que a situação melhore, mas confesso meu profundo desalento com o atual quadro eleitoral. Qualquer que seja a tendência do presidente eleito em outubro, vai ter de haver-se com um Congresso não muito diferente do atual, e portanto teremos mais quatro anos de travessia dificultosa de um pântano econômico e a continuidade da anomia política que caracteriza o atual sistema, superficialmente reformado até aqui.
            Eu mesmo pertenço a uma “grande” editora de livros, a Funag, possivelmente a maior atualmente na área de relações internacionais, e reduzimos pela metade praticamente a edição de livros impressos, devido a cortes orçamentários, o que parece prolongar-se no futuro previsível. Uma solução parcial parece estar na simples preparação de livros eletrônicos, mas também eles exigem despesas de editoração, embora não de distribuição física. Esse é o quadro.
            Agradeço sua excelente nota explicativa, embora possa compreender a frustração de muitos colaboradores.
            Cordialmente, 
----------------------------
Paulo Roberto de Almeida
Diretor do IPRI-Funag-MRE
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais
www.funag.gov.br/ipri
https://funag.academia.edu/ipri

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Cultura Brasileira: livros, entre eles o do Ricupero de historia diplomatica


Cultura Brasileira

Rubens Nogueira 
https://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/906611/cultura-brasileira


O "Jornal do Brasil" dedicou, uma página inteira ao livro "Cultura Brasileira de hoje", mostrando, graças a Deus, que o mais que centenário veículo de comunicação – impresso e digital – está aí para incentivar os valores eternos da Educação e da Cultura.  

A autora do livro enriquece a reportagem com o artigo: "Diálogos interartísticos". O livro é um projeto da Fundação Casa de Ruy Barboza. Flora Sussekind, do setor de Filologia da (FCRB) e seus parceiros Tânia Dias, Bia Lessa, Ronaldo Brito, Carlito Azevedo, Arjan Martins, José Rezende e Silviano Santiago foram fundo na realização dos depoimentos conjuntos – duplas de intelectuais e artistas de atuação relevante em áreas diversas. "O trabalho tem a intenção de investigar o estado das artes, da literatura e da crítica no país, assim como as formas de interação entre esses campos". Que beleza! A obra – em três volumes – é apenas o começo, de um projeto ambicioso que vai ter continuidade. Algo que precisava ocorrer em nosso Brasil, tal como acontece no exterior há muito tempo. Parêntese: tenho prá mim que, apesar dos pesares, estamos melhorando. Um outro livro: "A diplomacia na construção do Brasil – 1750 – 2016", fantástica realização de um homem extraordinário, o embaixador Rubens Ricupero, "A mais completa e atualizada história das relações do Brasil com o mundo". Comparo seu trabalho com a façanha de nosso conterrâneo Francisco Adolfo de Varnhagen, que inaugurou a história escrita da pátria brasileira com seu livro seminal: "História da Independência do Brasil", no século 19. Uma edição deste monumental registro historiográfico foi publicado pelo Instituto Nacional do Livro e veio à luz em 1972.  

Voltando ao nosso assunto de hoje:  

O cineasta, escritor e professor Sylvio Tendler, consagrado pelos documentários que realiza desde a juventude – entre eles "Os anos JK", é um dos personagens dos livros que compõem os "Diálogos". Ele, porém, não conseguiu participar do lançamento, por que o local escolhido não dispõe de condições para cadeirantes. Vexame! Mas não é novidade, nem aqui, nem alhures.  

Na minha longeva carreira de leitor e escritor tive oportunidade de criar algumas frases. A melhor delas aconteceu durante a ditadura. O Planalto estava incomodado com o fora Temer da época: "Brasil, ame-o ou deixe-o". Aproveitando a maravilhosa atuação da seleção canarinho em Guadalajara, em 1970, em meio à uma reunião, um autêntico "Brain Storm", em uma segunda-feira, após arrasadora vitória do Brasil, a capa da "Veja" mostrava um carro esportivo com a capota arriada. Sentados e em pé, uma galera – moças e rapazes em trajes sumários – agitando a bandeira verde e amarela, na avenida Atlântica, em tarde de sol. A  

reunião já durava uma hora ou mais. De estalo, lembrei-me da foto e soltei: "Ninguém segura o Brasil". Foi um gol de placa. O coronel chefe da comunicação da Presidência gostou e pediu: "para a final, domingo próximo, vamos inundar o Rio com adesivos, cartazes e o que mais pudermos – a bandeira e a frase". Foi assim.  

Em outra ocasião para divulgar uma feira de livros, Josué Montello, então presidente do SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livro, pediu-me para produzir um folheto. Fí-lo, com alegria, sob o tema: "Sem leitura, não há Cultura". Acho que é isso, sempre!  

Serviço: "Jornal do Brasil", caderno B, página 5, 16-04-18; "A diplomacia na Construção do Brasil – 1750-2016 – Rubens Ricupero, Editora Versal Editores, 1a edição, Rio de Janeiro, 2017, páginas 22 e 760 (bibliografia seletiva).  

Reflexão: "Culto – instruído. Cultura: conhecimento, instrução; civilização cultural" – Mini Houaiss – Editora Objetiva, 2001

terça-feira, 17 de julho de 2018

Banco Mundial: publicacao sobre as migrações e os mercados de trabalho

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June 2018. 308 pages.
English Version. Paperback.
ISBN: 978-1-4648-1281-1
Price: $45.00
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Moving for Prosperity
Global Migration and Labor Markets
By the World Bank
Now Available!
Migration presents a stark policy dilemma. Research repeatedly confirms that migrants, their families back home, and the countries that welcome them experience large economic and social gains. Easing immigration restrictions is one of the most effective tools for ending poverty and sharing prosperity across the globe. Yet, we see widespread opposition in destination countries, where migrants are depicted as the primary cause of many of their economic problems, from high unemployment to declining social services.
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Moving for Prosperity: Global Migration and Labor Markets addresses this dilemma. It suggests a labor market–oriented, economically motivated rationale to the political opposition to migration. Global migration patterns lead to high concentrations of immigrants in certain places, industries, and occupations. It is these geographic and labor market concentrations of immigrants that lead to increased anxiety, insecurity, and potentially significant short-term disruptions among native-born workers.
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In addition to providing comprehensive data and empirical analysis of migration patterns and their impact, the report argues for a series of policies that work with, rather than against, labor market forces. Policy makers should aim to ease short-run dislocations and adjustment costs so that the substantial long-term benefits are shared more evenly. Only then can we avoid draconian migration restrictions that will hurt everybody.
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Moving for Prosperity aims to inform and stimulate policy debate, facilitate further research, and identify prominent knowledge gaps. It demonstrates why existing income gaps, demographic differences, and rapidly declining transportation costs mean that global mobility will continue to be a key feature of our lives for generations to come. Its audience includes anyone interested in one of the most controversial policy debates of our time.
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World Bank | 1818 H Street NW, Washington, DC 20433
 
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quinta-feira, 3 de maio de 2018

Brasil: O Futuro que Queremos; Jaime Pinsky (org.) - em breve

 
 
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Brasileiros de diferentes linhas políticas apresentam seus projetos para o Brasil. Não são palpites de leigos, são projetos de governo pensados por especialistas para as áreas de Educação, Saúde, Segurança Pública, Cidades, Habitação, Ciência e Tecnologia, Economia, Agricultura, Meio Ambiente, Política Externa e Esporte. Um livro para qualificar e dar rumo ao debate público no Brasil neste ano decisivo para o país.
 
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Jaime Pinsky, historiador e editor. Tem mais de duas dezenas de livros publicados, principalmente na Contexto, editora que fundou e da qual é diretor editorial.
Claudia Costin - Paulo Saldiva - Jaime Lerner - Nabil Bonduki - Eduardo Muylaert - Glauco Arbix - Luís Eduardo Assis - Antonio Corrêa de Lacerda - Paulo Roberto de Almeida - Roberto Rodrigues - Fabio Feldmann - Milton Leite
 
 
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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Livros adquiridos em viagem, velhos e novos...

Trazidos de viagem, para ler:

1) Um muito antigo, várias vezes referido na literatura, nunca encontrado, agora achado num sebo de Porto Alegre, apropriadamente chamado de "Livraria Erico Verissimo" (sem acentos), em frente ao nosso hotel, na rua Jerônimo Coelho, mantido na saudável bagunça dos sebos por sua dona, a Sra. Denise Filippini.
O livro de Edgard Cavalheiro, Monteiro Lobato, vida e obra (São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955), é infelizmente apenas o primeiro volume de dois, terminando, este, com sua luta em torno da descoberta de petróleo no Brasil, concluindo-se pela sua prisão, sob ordens do ditador do Estado Novo, no início de 1941.

2) O segundo eu já li muitos anos atrás, emprestado de alguma biblioteca, não me lembro agora qual, e nem me recordo se foi no Brasil ou no exterior. O Caráter Nacional Brasileiro (8a edição; São Paulo: Unesp, 2017), de Dante Moreira Leite, originalmente uma tese de doutorado na USP, em 1954, na verdade beneficiou-se de aportes subsequentes, a partir da segunda edição, é um livro quase único, ao analisar criticamente não só os conceitos principais em perspectiva comparada (nacionalismos europeus, universalismo, caráter nacional), mas também os grandes autores brasileiros sobre a formação da nação, ou sua interpretação sociológica (Oliveira Viana, por exemplo), ou antropológica (em Gilberto Freyre, bastante destacado). Uma leitura essencial para conhecer os intérpretes do Brasil, e como foi se constituindo nossa psicologia coletiva.

3) O terceiro livro, finalmente, eu não conhecia, por ter sido publicado quando eu estava fora do país, mas já sabia dos trabalhos do autor em torno de Sérgio Buarque de Holanda e de Oliveira Lima, tendo inclusive participado de um volume especial, que Antonio Arnoni Prado organizou, da revista Remate de Males (UniCamp, onde ele é professor), em torno do historiador e diplomata pernambucano. Dois letrados e o Brasil nação: a obra crítica de Oliveira Lima e Sérgio Buarque de Holanda (São Paulo: Editora 34, 2015) analisa e compara os escritos dos dois grandes historiadores brasileiros.

Vão todos para a minha pilha de leituras de cabeceira, embora eu já tenha folheado os três, e sei o que buscar, ler ou reler em cada um deles.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de janeiro de 2018

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Jose Osvaldo de Meira Penna (1917-2017): um intelectual liberal - livros principais

Faleceu no último dia 29 de julho, aos 100 anos de idade, o embaixador Meira Penna, um dos grandes intelectuais brasileiros de formação liberal.

Ao longo de sua longa carreira, que se estendeu por praticamente meio século, ele não apenas foi testemunha ocular de grandes acontecimentos históricos -- como a invasão japonesa na China e a tomada do poder pelas forças comunistas de Mao Tsé-tung -- como também colaborou intensamente para a literatura liberal no Brasil.
Meus sentimentos mais profundos e a solidariedade para com todos os seus familiares.

Destaco apenas alguns de seus livros mais importantes: 

 Shanghai: aspectos históricos da China moderna (1944)
O Sonho de Sarumoto - O romance da história japonesa )1948)
Quando Mudam as Capitais (1958)
Política Externa, Segurança e Desenvolvimento (1967)
Psicologia do Subdesenvolvimento (1972)

Em Berço Esplêndido (1974; 2a. ed. revista e aumentada: 1999)

Elogio do Burro (1980)
O Brasil na Idade da Razão (1980)
O Evangelho Segundo Marx (1982)
A Utopia Brasileira (1988)

O Dinossauro (1988)

Opção Preferencial pela Riqueza (1991)

Decência Já (1992)
A Ideologia do Século XX (1985, 2a. ed.: 1994)

O Espírito das Revoluções (1997)
Ai que dor de cabeça (2001)
Urânia (2001)
Cândido, Pafúncio (2001)
Da Moral em Economia (2002; este dedicado a Roberto Campos)


O velório do embaixador Meira Penna será na Igreja Luterana de Brasília, EQS 405/406, nesta terça-feira, dia 01/08/2017, das 8h às 12hs. Haverá uma miss-culto às 11hs.



Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1/08/2017