1825-2025: 200 anos da história do Brasil no mais antigo jornal da América Latina
O ano em que o mais antigo jornal da América latina, o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido.
O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva.
O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes, até que seu primeiro centenário fosse devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa. O grande historiador pernambucano Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo sobre as relações internacionais nos primeiros cem anos cobertos pelo jornal.
Acabo de ser convidado para assinar um artigo sobre os cem anos das relações internacionais do Brasil desde 1925 até este ano. Não sou exatamente um êmulo de Oliveira Lima, o mais importante historiador diplomático do Brasil, mas vou me esforçar para espelhar-me em sua contribuição feita ao livro editado por Gilberto Freyre. O novo Livro do Nordeste, a ser editado, pelo Diário de Pernambuco nos seus 200 anos, por meu amigo e colega André Heráclio do Rego, e pelo jornalista Múcio Aguiar, pretende reproduzir um pouco dessa história bicentenária.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de janeiro de 2025