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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Cumprimentos ao Diário de Pernambuco, o mais antigo do Brasil, talvez da América Latina, Livro Nordeste, II - Paulo Roberto de Almeida

Cumprimentos ao Diário de Pernambuco, o mais antigo do Brasil, talvez da América Latina.

O Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal em circulação no Brasil, acaba de completar 200 anos.
No seu primeiro centenário, em 1925, o jovem sociólogo Gilberto Freyre organizou um livro comemorativo, Livro do Nordeste. Nele, o já maduro historiador Oliveira Lima, então já residente em Washington, onde era professor da Catholic University of America, escreveu um artigo sobre as relações internacionais do Brasil de 1825 (um ano após a Confederação do Equador) a 1925, concentrando-se mais no Império e um pouco na gestão Rio Branco, na segunda década da República. Oliveira Lima, que no Império era republicano, e que ingressou na diplomacia no início da República (aliás, até "empurrado" pelo presidente Floriano Peixoto), tinha se tornado monarquista a partir do Marechal Hermes da Fonseca, uma mula fardada, e saiu da carreira diplomática logo em 1913, entregando sua fabulosa biblioteca para a universidade americana.
Fui convidado pelo já maduro sociólogo e historiador André Heráclio do Rego, que organizou um segundo Livro do Nordeste, no segundo centenário de vida do Diário de Pernambuco, a escrever, como Oliveira Lima, um ensaio sobre os cem últimos anos das relações internacionais do Brasil.
Fiz o encomendado em diversas versões.
Apresento aqui o início da primeira versão, depois cortada da versão definitiva (ainda não publicada), que se limita ao estritamente pedido, isto é, as relações internacionais do Brasil de 1925 a 2025.

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.
Organização: André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

Sumário:
1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província
2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática
3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria
4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente
5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la
6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar
7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província
O ano em que o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII, e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido.
O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva.
O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes. Segundo os relatos historiográficos, o Diário relatou os episódios mais salientes da Revolução Praieira de 1848 e, na década seguinte, assumiu uma nítida postura abolicionista, anos à frente da resiliência escravagista em outras províncias: obviamente, se congratulou com a Lei Áurea, assim como se alinhou com o novo regime no ano seguinte à abolição. Seu primeiro centenário foi devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa. Ele tinha começado a colaborar com o Diário desde antes da Grande Guerra, e se manteve como articulista até sua morte, em 1986. Pouco mais de dez anos após estrear como colunista, Freyre foi naturalmente escolhido para coordenar as contribuições preparadas para o Livro do Nordeste, e naturalmente convidou quem já era o principal historiador diplomático do país para relatar os feitos internacionais ocorridos até então.
Manuel de Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo intitulado “Um século de relações internacionais (1825-1925” (p. 9-10), examinando a trajetória exterior do Brasil no decorrer dos primeiros cem anos de vida do jornal. O grande historiador pernambucano destaca os três grandes objetivos do país em sua política externa no século transcorrido desde 1825:
... fixar as fronteiras com as nações herdeiras do domínio espanhol; salvar a economia de um golpe que se julgava de morte, vibrado pela abolição da instituição servil; sustentar a hegemonia no Prata, obstando a formação de outro império na costa oriental da América, para isso zelando um equilíbrio que n’outra face representava um desequilíbrio. (p. 9)

As fronteiras, escreveu ele, foram definitivamente assentadas já na República, “pela erudição e habilidade do Barão do Rio Branco, mas ampararam a sua especial competência a firmeza da diplomacia imperial e a segurança da anterior diplomacia portuguesa” (idem). Ele reconhece a política de intervenção platina – “o que lhe deu uma feição imperialista e provocou as duas guerras externas em que o Brasil se envolveu” –, mas entendia que “o maior erro diplomático do Império foi querer embargar o movimento centrípeto platino”, ou seja, a reconstituição do Vice-Reinado do Rio da Prata, sob o controle de Buenos Aires, ao mesmo tempo em que pretendia exercer sobre a Banda Oriental um “virtual protetorado”. Na questão da escravidão, Oliveira Lima entende que o império não foi muito efetivo na frente externa, “atraindo os raios britânicos do Bill Aberdeen”, mas que soube bem se conduzir na frente interna, levando o doloroso problema “gradualmente a cabo de modo ordeiro, honroso e modelar”, chegando mesmo a afirmar que, na questão abolicionista, “nunca contamos com partidários decididos da escravidão”. Termina por se referir aos principais casos diplomáticos das primeiras três décadas da República, celebrando a cordialidade da relação com os EUA.
(...)
2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática
3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria
4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente
5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la
6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar
7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica
(a ser publicado no segundo Livro do Nordeste)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de novembro de 2025

sexta-feira, 6 de junho de 2025

O Livro do Nordeste II - André Heráclio do Rêgo (Diário de Pernambuco)

 O LIVRO DO NORDESTE II

André Heráclio do Rêgo

Diário de Pernambuco, 6/06/2925

Em 1925, por ocasião do primeiro centenário do Diario de Pernambuco, decidiu-se que as respectivas comemorações não se limitassem a festas, banquetes e exposições, mas que deixassem um legado permanente, um livro que, como notou Edson Nery da Fonseca, foi a primeira obra plurisdisciplinar e transregional publicada no Brasil. Tratava-se do Livro do Nordeste, coletânea de artigos de alguns dos mais representativos intelectuais da época, não somente de Pernambuco, reunidos sob a batuta do jovem Gilberto Freyre. Mauro Mota observou, anos depois, que esse livro teria sido o “manifesto a priori” do Movimento regionalista.

Para Oliveira Lima, um dos seus ilustres colaboradores, era o Livro do Nordeste “um repositório suculento de informações de todo o gênero acerca do século abrangido pela atividade” do Diario de Pernambuco, no qual se encontrava “o perfume da tradição de que soube impregná-lo o seu organizador, o senhor Gilberto Freyre”.

Estas são apreciações relativas ao Livro do Nordestede 1925, mas que se podem aplicar à maravilha à iniciativa que ora empreendemos, com o jornalista Múcio Aguiar, a da edição do Livro do Nordeste II, ou Livro do Bicentenário, neste ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2025.

Livro do Bicentenário será nada mais nada menos do que uma tentativa de reconstituição da trajetória do Diario de Pernambuco nos seus duzentos anos – nos cem anos tratados pelo primeiro Livro do Nordeste, mas sobretudo nos cem anos que vão de 1925 a 2025.

E para tanto buscamos, a exemplo e em emulação do próprio Gilberto Freyre, textos de intelectuais renomados e representativos, não somente de Pernambuco, mas também do Brasil e inclusive de Portugal, que propiciassem o aggionarmento daquela edição histórica de 1925.

Mas não só isso. Trata-se também este Livro do Bicentenárioou Livro do Nordeste II, de uma homenagem ao Livro do Centenário, ao seu organizador e aos seus autores. Neste sentido, o livro de 2025 gira em torno de três “entidades, que o perpassam em quase todos os seus textos, e a quem ele é dedicado. Em primeiro lugar o Diario de Pernambuco, órgão de imprensa mais antigo em circulação no hemisfério sul e nos países de língua portuguesa, que este ano comemora o seu bicentenário. Em segundo lugar, Gilberto Freyre, o mestre de Apipucos, que dispensa apresentações, e que comemora os seus 125 anos. E em terceirolast but not least, o Nordeste, conceito cuja primeira consagração talvez tenha sido a provocada pelo livro que leva seu nome, e que hoje em dia é a expressão dos anseios de uma das regiões mais essencialmente brasileiras, aquela na qual a própria brasilidade nasceu.

É em torno dessas três entidades, e desses três eixos, que o Livro do Nordeste II, ou Livro do Bicentenáriogirará, com umas poucas incursões internacionalistas, ao longo de vinte ensaios – um para cada dez anos da trajetória do Diario – escritos por gente que entende dos respectivos temas.

O livro está em elaboração, e deverá ser lançado ainda este ano. Parafraseando aquele reclame das antigas novelas, que o mestre de Apipucos também apreciava, “aguardem as cenas dos próximos capítulos”.



PS PRA: André Heráclio me fez a honra de convidar para escrever o capítulos sobre relações internacionais do Brasil, 1925-2025, na sucessão de Manuel de Oliveira Lina, que tinha escrito sobre o período 1825-1925. Confesso que tive dificuldades em finalizar, dadas as incertezas criadas por alguns contraventores do Direito Internacional na atualidade.







quinta-feira, 5 de junho de 2025

Gilberto Freyre, um intelectual na longa duração - Paulo Roberto de Almeida - Prefácio ao livro de André Heráclio do Rêgo: Entre a Independência e a República: o século XIX na obra de Gilberto Freyre

Gilberto Freyre, um intelectual na longa duração
Paulo Roberto de Almeida
Prefácio ao livro de André Heráclio do Rêgo:
Entre a Independência e a República: o século XIX na obra de Gilberto Freyre
(Brasília: Senado Federal, 2025).
        O presente livro de André Heráclio do Riego constitui um notável esforço de síntese interpretativa sobre um dos autores mais fecundos do pensamento social brasileiro. Junto com Manoel de Oliveira Lima e Manoel Bomfim, Gilberto Freyre foi um dos primeiros historiadores sociais do Brasil. Na verdade, ele foi bem mais do que isso: um antropólogo de formação, tendo estudado com Franz Boas, na Columbia (NY), veio a empreender um levantamento da cultura material e humana do Brasil colonial e imperial, compreendendo não apenas a sua análise da Casa Grande e [da] Senzala, o título de sua primeira grande obra (1933), como também a miscigenação geral do povo brasileiro a partir de suas fontes étnicas, os aportes estrangeiros à cultura material e espiritual, assim como a lenta emergência, a partir da sociedade patriarcal, de formações urbanas ao longo da costa atlântica e no interior próximo, tal como refletida em Sobrados e Mucambos (3 volumes, 1936) e no seu outro clássico, Ordem e Progresso. O extenso subtítulo dessa terceira grande obra, em 2 volumes (1959), revela, aliás, a extensão de seu trabalho analítico: “Processo de desintegração da sociedade patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o regime de trabalho livre: aspectos de um quase meio século de transição do trabalho escravo para o trabalho livre; e da Monarquia para a República”.
        Gilberto Freyre antecipou, de certa forma, a famosa escola francesa dos Annales, com sua forte ênfase no cotidiano das famílias, nos costumes do povinho miúdo, na alimentação e nas técnicas do trabalho humano; mais de um acadêmico francês em estágio universitário no Brasil dos anos 1930 e 40, na recém fundada Universidade de São Paulo por exemplo, se declarou pronto a reconhecer certa dívida interpretativa em relação ao “mestre de Apipucos”, sua residência e escritório de trabalho no Recife senhorial. Bem antes que entrassem na moda, justamente a partir da USP, críticas à sua visão do mundo patriarcal, supostamente na origem do mito da “democracia racial” no Brasil, muitos acadêmicos brasileiros reconheciam em Gilberto um dos intelectuais que mais se destacaram na tentativa de substituir o “olhar estrangeiro” por um olhar nacional na compreensão do Brasil, inclusive por conta da vastidão de sua obra. Para o historiador Evaldo Cabral de Mello, talvez por uma não secreta simpatia para com o colega pernambucano, a riqueza e a variedade da obra de Gilberto de Mello Freyre exigiriam o “trabalho aturado” de muitos especialistas para ser bem compreendida.
        É um fato que, até Freyre, a historiografia brasileira conhecia muito pouco em matéria de história social. Só Capistrano de Abreu se havia aventurado por este caminho, e ainda assim de forma esparsa e sem continuidade. “Os historiadores desconheciam o povo, como continuam a desconhecê-lo”, acusou José Honório Rodrigues numa de suas obras historiográficas mais marcadas por seu tradicional antielitismo. A história social brasileira teve, assim, seu iniciador em Capistrano de Abreu e seu continuador no antropólogo e sociólogo pernambucano, “pela maior atenção ao povo, às frustrações psicológicas, às alterações nas relações de família, às atitudes e ajustamentos sociais, às crenças fundamentais”. O mestre de Apipucos sugeriu que sua própria ambição seria a de ser o Ticiano ou o El Greco da história brasileira. Estes dois pintores, bem como Rembrandt, valeriam mais, para tais propósitos, por sua habilidade de evocação da vida e da atmosfera que circundava seus modelos do que pela beleza estrita de suas obras, como o autor escreve na Introdução.
Ganha corpo nesse sentido a interpretação de Evaldo Cabral de Mello da obra de Gilberto Freyre. Para este seu primo, a novidade da sua abordagem consistia na transposição para uma sociedade de tipo histórico, como a brasileira, até então examinada exclusivamente a partir dos métodos diacrônicos da História, da visão sincrônica desenvolvida pela antropologia para a descrição das sociedades primitivas. “O que era então uma ousadia teórica habilitou o mestre de Apipucos a dar uma das contribuições mais originais à cultura ocidental do século XX”, concluiu Evaldo Cabral de Mello.
        Oliveira Lima, por quem Gilberto Freyre nutria uma grande admiração, que aliás era recíproca da parte do historiador e diplomata pernambucano, parece ser o sujeito oculto das influências freyreanas, pelo menos durante um certo período. Assim, conquanto o mestre de Apipucos tenha sido um grande divulgador da obra do dom Quixote Gordo, o reconhecimento de sua influência sobre a própria, ademais de escasso, é esporádico. Com a crítica é pior aindaː escreveu-se muito sobre Franz Boas e Gilberto Freyre, sobre o pensamento hispânico na obra freyreana, sobre Gilberto Freyre vitoriano nos trópicos, mas pouquíssimo sobre a influência de Oliveira Lima, o maior historiador diplomático, mas também da história social do Brasil imperial. A obra de Gilberto Freyre influenciou fortemente a maneira como o brasileiro de hoje vê o seu passado, tendo contribuído, com sua obra de hermenêutica da sociedade nacional, para a valorização do mesmo passado e para a identificação de ligações que a sociedade transpõe do passado para a formação das imagens que, em cada presente, se desenham do próprio presente, e também do futuro do país.
        Mas sua obra não influenciou apenas a visão dos brasileiros sobre o seu próprio passado, assim como a dos estrangeiros sobre o Brasil – pois que ela foi amplamente traduzida no exterior, inclusive em japonês –, mas igualmente a política externa oficial do Brasil, praticamente dominada, dos anos 1930 aos 60, por uma espécie de “lusotropicalismo binacional”, já que servindo a duas ditaduras unidas pelo conceito de Estado Novo, o de Salazar, em Portugal, e o de Getúlio Vargas, no Brasil, e até mais além, marcando a complacência diplomática brasileira com o ultracolonialismo português na África. Gilberto Freyre também foi o primeiro a destacar as conexões entre o Oriente e o Ocidente nesse mundo lusotropical, destacando os valores asiáticos absorvidos pela cultura lusobrasileira, chegando inclusive a falar, no caso do Brasil, de uma “China tropical”, tal como expresso em capítulo final ao seu livro dedicado ao público estrangeiro, New World in the Tropics.
        Com sua visão originalíssima sobre essa imbricação de culturas, Gilberto Freyre padeceu, provavelmente, de uma ênfase analítica excessiva sobre seu primeiro grande clássico, causando uma distorção crítica quando da revisão historiográfica e sociológica sobre o regime escravocrata patriarcal da sociedade tradicional, considerada muito “nordestina”. De fato, é uma evidência acadêmica que grande parte dos estudiosos da obra de Freyre verteram um interesse desproporcionado por Casa Grande & Senzala. Como observou Peter Burke, “mesmo tendo sido prolífico em seus escritos e amplo em seus interesses, Gilberto Freyre é mais lembrado por um só livro, publicado em 1933, quando o autor tinha 33 anos”.
        O leitor poderá observar no decorrer desta obra do também pernambucano André Heráclio do Rego, diplomata e historiador como Evaldo Cabral de Melo, que a análise de Gilberto Freyre sobre o século XIX não se limitou, de forma alguma, a Pernambuco e ao Nordeste. Ao contrário, sua abrangência é nacionalː o mestre de Apipucos tratou repetidamente de personagens como José Bonifácio e dom Pedro II, e de temas como a unidade nacional e a integridade territorial, ademais do movimento da Independência. O que ocorre é que fez isso em obras esparsas, publicadas em coletâneas, em plaquetes e em artigos de jornal, que na sua maior parte não tiveram a boa sorte de ser reunidas em volume mais vistoso. Esta é a matéria do livro que o leitor tem em mãos, graças à garimpagem muito bem conduzida por André Heráclio.
Ele se baseia num conhecimento profundo dessa obra esparsa de Gilberto Freyre e complementarmente naquelas obras “maiores” mencionadas por Peter Burke e Evaldo Cabral de Mello, ademais de trechos de várias outras em que se fazem referências e considerações sobre o século XIX no Brasil, seus personagens e seus temas. O resultado é um livro que passa a integrar o universo já bastante amplo dos estudos gilbertianos, mas de uma maneira original e inovadora, pois que chamando justamente a atenção para uma série de textos normalmente descurados na literatura interpretativa. Já sua introdução oferece uma revisão atualizada de uma vastíssima bibliografia centrada no mestre pernambucano, à qual se seguem sete capítulos sobre o longo século XIX, explorando as ricas minas deixadas esparsas na obra multifacetada de Gilberto Freyre.
Destaco em particular a abordagem original do período monárquico, absolutamente fundamental para a preservação da unidade nacional, pois que as tentativas republicanas, no Nordeste e no Sul, poderiam ter levado à fragmentação da nação. Comparece, igualmente, na análise de André Heráclio, a importância da influência oriental na formação da cultura luso-brasileira, normalmente descurada na historiografia e na sociologia tradicionais. O capítulo final, “Considerações e sugestões”, é praticamente uma nova introdução e um convite ao aprofundamento continuado de novas interpretações sobre a densa produção intelectual do mestre pernambucano. No conjunto, a pequena, mas riquíssima, “freyreana” de André Heráclio já constitui um dos mais valiosos aportes ao estudo e ao conhecimento integral da obra de Gilberto Freyre no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida, diplomata e professor.
Brasília, 4436, 16 de julho de 2023
Prefácio à obra de André Heráclio do Rêgo: Entre a Independência e a República: o século XIX na obra de Gilberto Freyre (Brasília: Senado Federal, 2025). Relação de Publicados n. 1577.

sábado, 3 de maio de 2025

Gilberto Freyre, um escritor; Paulo Roberto de Almeida, um escrevinhador

Gilberto Freyre, sobre ele mesmo: um escritor, certamente, mas extremamente vaidoso; sou apenas um escrevinhador

Paulo Roberto de Almeida

Gilberto Freyre era um polimata, interessado em matérias e assuntos diversos, da antropologia à história, da sociologia à literatura, mas ele mesmo respondeu à questão de saber o que ele era, no seu livro Como e por que sou e não sou sociólogo (Brasília: Editora da UnB, 1968).

Já escrevi sobre isso num prefácio a um dos meus livros (do qual reproduzo um trecho mais abaixo).

Mas o que escreveu Gilberto Freyre? Isto: 

O que principalmente sou? Creio que escritor. Escritor literário. O sociólogo, o antropólogo, o historiador, o cientista social, o possível pensador são em mim ancilares de escritor. Se bom ou mau escritor é outra coisa.

Como sempre, Gilberto Freyre falava muito de si próprio, com legítimo orgulho por sinal, pois sua obra é realmente admirável. 

Mas, ao contrário dele, eu não me considero um escritor, apenas um escrevinhador, como explico abaixo.


Prefácio ao meu livro:

A Grande Mudança: Consequências econômicas da transição política no Brasil
(São Paulo: Editora Códex, 2003)

PREFÁCIO
Como e por que sou e não sou diplomata (à maneira de Gilberto Freyre) (p. 11-15)

        Não sou nem pretendo ser diplomata puro. Mais do que diplomata, creio ser cientista social. Também me considero um tanto historiador e, até, um pouco, pensador.
        Mas o que principalmente sou creio que é escrevinhador. Escrevinhador – que me perdoem os demais cientistas sociais a pretensão e os políticos profissionais a audácia – político. E, ao lado do diplomata, reconheço haver em mim um antidiplomata.
        Se aqui destaco minha condição de diplomata – diplomata, é certo, impuro e nada ortodoxo –, é que essa condição é, em mim, irredutível. Só sendo um tanto diplomata eu me poderia dar o luxo de ser também antidiplomata em várias das minhas tendências.
        São essas contradições que sempre procurei expor e, por vezes, comentar em meus trabalhos de diplomacia e de sociologia política. Quase despretensioso e nada apologético – o que seria uma apologia pro "diplomacia sua" –, quase sempre chego à autocrítica, contra minha profissão de sociólogo e por vezes contra minha própria condição profissional.
        Reúnem-se aqui trabalhos que, aliás, podem ser considerados como pouco conectados à minha incerta condição de diplomata: tão incerta, para uns tantos diplomatas, como, para outros, críticos da vida cotidiana, a de escrevinhador político – condição que também procuro considerar. Mais do que diplomata ou sociólogo, sou antes de tudo cidadão brasileiro, que foi o que de fato me motivou a escrever os ensaios coletados neste volume.
        Ao tentar explicar-me como possível diplomata, não poderei deixar de referir-me ao que, ao lado dessa minha discutida condição, há em mim, bem ou mal, de cientista social, de historiador e, talvez, de pensador, tornando ainda mais difícil a classificação que se pretenda fazer de homem tão desajeitadamente multidisciplinar, tão diverso sem que tal multiplicidade de interesses signifique mérito ou virtude superior.
        O possível diplomata – como o cientista social, o historiador, o pensador também possíveis – só existe, no meu caso, ligado ao escrevinhador político. Quase nunca como didata, quase sempre como autodidata. Nem como pesquisador profissional, pois que não tenho meu ganha-pão nessas demais orientações e sim na condição primeira de diplomata. Nem efetivamente burocratizado nisto ou naquilo: consultor, assessor, perito, acadêmico, funcionário, sem pertencer a qualquer instituto ou agremiação política ou social. Sou um ser livre, tanto quanto me permite o pertencimento a uma instituição bissecular, altamente burocratizada, hierarquizada e disciplinada a ponto de enquadrar seus membros numa teia de comprometimentos diretos e indiretos com o chamado esprit de corps, que possuo no grau mais tênue possível.

        Os parágrafos acima foram inteiramente calcados em peça similar elaborada pela pluma do escritor Gilberto Freyre – extraída do prefácio de seu livro Como e por que sou e não sou sociólogo (Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1968) –, que detém, portanto, todos os direitos autorais, intelectuais e morais sobre a forma, o conteúdo e a disposição desse texto precedente, que pretende justamente homenageá-lo enquanto pensador brasileiro, original e iconoclasta. Da mesma forma, os ensaios que seguem são devidos inteiramente à minha própria pluma (no caso, computador), também iconoclasta, e respondo integralmente pela forma, conteúdo e disposição, bem como pela paternidade moral das poucas ideias originais que eles possam conter.


(...)


Paulo Roberto de Almeida
Washington, 2 de novembro de 2002

Ficha e links para o livro:

A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8).

Nova disponibilidade de livro fora do comércio. Divulgado, com o arquivo original em pdf da editora, e as orelhas, o prefácio e o índice, transcritos, no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/um-livro-contrarianista-grande-mudanca.html) e na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42309421/A_Grande_Mudanca_consequências_econômicas_da_transição_politica_no_Brasil_2003_ e https://www.academia.edu/42309422/Capa_e_Contra_Capa_A_Grande_Mudanca_2003_) e Research Gate (link: https://www.researchgate.net/publication/342094857_A_GRANDE_MUDANCA_CONSEQUENCIAS_ECONOMICAS_DA_TRANSICAO_POLITICA_NO_BRASIL).





segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

1825: janeiro: fuzilamento de Frei Caneca; agosto: tratado Império do Brasil-Reino de Portugal: novembro: Diário de Pernambuco

1825-2025: 200 anos da história do Brasil no mais antigo jornal da América Latina

 

         O ano em que o mais antigo jornal da América latina, o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido. 

        O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva. 

        O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes, até que seu primeiro centenário fosse devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa. O grande historiador pernambucano Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo sobre as relações internacionais nos primeiros cem anos cobertos pelo jornal. 

        Acabo de ser convidado para assinar um artigo sobre os cem anos das relações internacionais do Brasil desde 1925 até este ano. Não sou exatamente um êmulo de Oliveira Lima, o mais importante historiador diplomático do Brasil, mas vou me esforçar para espelhar-me em sua contribuição feita ao livro editado por Gilberto Freyre. O novo Livro do Nordeste, a ser editado, pelo Diário de Pernambuco nos seus 200 anos, por meu amigo e colega André Heráclio do Rego, e pelo jornalista Múcio Aguiar, pretende reproduzir um pouco dessa história bicentenária.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13 de janeiro de 2025

 

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Diário de Pernambuco (1825): o jornal mais antigo da AL - Gilberto Freyre

Encontrei este anúncio (abaixo reproduzido) do leilão, em 2023, de uma edição fac-similar do livro do primeiro centenário do Diário de Pernambuco (1925), quase às vésperas do seu segundo centenário, de cuja comemoração se ocupará meu colega diplomata, o historiador André Heráclio do Rego, do IHGB, do IAHG-PE e do IHG-DF, do qual também sou membro. Aguardo instruções para também oferecer minhas homenagens a esse valoroso periódico. 

Em 1925, Gilberto Freyre já estava de volta ao Brasil, depois de ter desfrutado da amizade e dos conhecimentos de seu amigo e conterrâneo, o historiador-diplomata Oliveira Lima, lecionando então na Catholic University of America (Washington, tendo doado sua imensa biblioteca para a CUA), e que colaborou nessa edição do Centenário. Agora cabe retomar o bastão, rumo ao terceiro centenário…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 13/12/2024

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Livro do Nordeste commemorativo do primeiro centenário do Diário de Pernambuco 1825-1925. Introdução de Mauro Motta, prefácio de Gilberto Freyre. 2ª Edição facssimilar do Arquivo Público Estadual do Recife, 1979. Aborda um grupo de estudos e de opiniões autorizadas, fixando ou comentando aspectos e tendencis da vida brasileira, em geral e da nordestina, em particular, durante o seculo vencido este anno pelo Diario de Pernambuco. Com relação ao Nordeste, constitue pequeno esforço de estimativa em torno de alguns dos valores mais característicos da região; pequeno inquérito às tendencias da vida nordestina - a ida de cinco ou seis estados cujos destinos se confundem nun só e cujas raizes se entrelaçam - durante os últimos cem anos, espécie de balanço das nossas perdas e ganhos nesse periodo. Dentre os diversos caboradores representando várias especialidades, estão Manuel Bandeira e Gilberto Freyre. Grande parte das ilustrações são de M. Bandeira, pintor e ilustrador pernambucano. Sumário completo, com autoria de cada artigo, via foto. Exemplar em grande formato; profusamente ilustrado. Brochura com 192p + LXXIII folhas de propagandas ao final do livro. Exemplar firme, com carimbo "com os cumprimetos do Arquivo Público Estadual" em duas folhas; Lombada com perdas da parte inferior e superior, a mesma área que recebeu auxílio de fita durex.

INFORMAÇÕES

sábado, 18 de julho de 2020

Baixe gratuitamente 8 livros de História para entender o Brasil

Baixe gratuitamente 8 livros de História para entender o Brasil 


Foto: Pixabay
RAÍZES DO BRASIL - SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA  
Publicada em 1936, "Raízes do Brasil" aborda aspectos centrais da história da cultura brasileira. O texto consiste de uma macrointerpretação do processo de formação da sociedade brasileira. 
A tese central é a de que o legado personalista da experiência colonial constituía um obstáculo a ser vencido para o estabelecimento da democracia política no Brasil. Destaca, nesse sentido, a importância do legado cultural da colonização portuguesa do Brasil e a dinâmica dos arranjos e adaptações que marcaram as transferências culturais de Portugal para a sua colônia americana.
Vale notar as atuais críticas à obra, a mais recente por Jessé Souza, em A elite do Atraso, dado que Sérgio Buarque constrói, em essência, uma visão culturalista, numa tentativa de substituir o racismo vigente à época, do contexto sociocultural brasileiro. 
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O ABOLICIONISMO - JOAQUIM NABUCO 
Através da análise do livro de Joaquim Nabuco, intenso defensor do abolicionismo, percebem-se argumentos sólidos e, sem dúvida, ainda vivos no pensamento concernente à realidade nacional. 
O abolicionismo foi visto por Nabuco de forma a transcender o aspecto humanitário da exploração da raça negra e também como uma necessidade de desenvolvimento moral e econômico para o país. 
Pensar a relevância de tais argumentos torna-se o centro do trabalho proposto e nos abre a uma frutífera reflexão sobre a modernidade brasileira.
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SER ESCRAVO NO BRASIL - KÁTIA DE QUEIRÓS MATTOSO 
Publicada inicialmente na França em 1979, "Ser escravo no Brasil" teve quatro edições em português e uma em inglês antes de ter sua segunda edição em francês. 
Tornou-se, de fato, uma obra de referência indispensável para quem deseja compreender o Brasil e a escravidão na América. 
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A INTEGRAÇÃO DO NEGRO NA SOCIEDADE DE CLASSES - FLORESTAN FERNANDES 
Um dos objetivos de "A integração do negro na sociedade de classes" é o de demolir o mito da “democracia racial” brasileira e o autor, Florestan Fernandes, analisou diversos dados referentes à população negra em São Paulo, especialmente na primeira metade do século XX. 
O que fica bem claro é que a abolição da escravatura libertou os negros “oficialmente”, mas que na prática a discriminação e a submissão da população negra aos brancos continuaram na vida cotidiana. 
Ignorados pela República, que se preocupou mais em trazer milhares de imigrantes europeus com o indisfarçável objetivo de promover o branqueamento da população brasileira, os negros acabaram por ser preteridos pelos imigrantes no mercado de trabalho. 
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CASA GRANDE E SENZALA - GILBERTO FREYRE 
"Casa-Grande & Senzala" é um livro do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre publicado em 1933. Freyre apresenta a importância da casa-grande na formação sociocultural brasileira, assim como a da senzala na complementação da primeira.
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FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO, COLÔNIA - CAIO PRADO JUNIOR 
Em sua obra, Caio Prado busca salientar a formação econômica do povo brasileiro, bem como o desenvolvimento do capitalismo. 
No seu conjunto, a colonização toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. 
Este é o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no plano econômico como no social, da formação e evolução da formação da história dos trópicos americanos. 
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AMERICA LATINA, MALES DA ORIGEM - MANOEL BOMFIM 
Livro publicado em 1905, é referência para os estudiosos das ciências sociais brasileiras. Embora Sergio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Gilberto Freyre tenham se tornado mais populares entre os leitores por suas obras da década de 1930, Bomfim foi pioneiro em criticar o “parasitismo social” no Brasil. 
A diferença de Bomfim para os demais é que ele não foca seu estudo apenas na realidade brasileira, mas analisa a América Latina em geral. 
Para ele, “da civilização, os latino-americanos só possuem os encargos”, chegando ao extremo de dizer que “nem paz, nem ordem, nem higiene, nem cultura, nem instituições, nem gozos estéticos, nem riqueza, nem trabalho livre, muitas vezes nem possibilidade de trabalhar, nem atividade social, nem instituições de verdadeira solidariedade e cooperação; nem ideias, nem glórias, nem beleza (…) Sociedades novas, inegavelmente vigorosas, prontas a agir, mas, nas quais, toda a ação se resume na luta terra a terra pelo poder, no que ela tem de mais mesquinho e torpe. Fora daí, a estagnação: miséria, dores, ignorância, tirania, pobreza.” 
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