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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Cumprimentos ao Diário de Pernambuco, o mais antigo do Brasil, talvez da América Latina, Livro Nordeste, II - Paulo Roberto de Almeida

Cumprimentos ao Diário de Pernambuco, o mais antigo do Brasil, talvez da América Latina.

O Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal em circulação no Brasil, acaba de completar 200 anos.
No seu primeiro centenário, em 1925, o jovem sociólogo Gilberto Freyre organizou um livro comemorativo, Livro do Nordeste. Nele, o já maduro historiador Oliveira Lima, então já residente em Washington, onde era professor da Catholic University of America, escreveu um artigo sobre as relações internacionais do Brasil de 1825 (um ano após a Confederação do Equador) a 1925, concentrando-se mais no Império e um pouco na gestão Rio Branco, na segunda década da República. Oliveira Lima, que no Império era republicano, e que ingressou na diplomacia no início da República (aliás, até "empurrado" pelo presidente Floriano Peixoto), tinha se tornado monarquista a partir do Marechal Hermes da Fonseca, uma mula fardada, e saiu da carreira diplomática logo em 1913, entregando sua fabulosa biblioteca para a universidade americana.
Fui convidado pelo já maduro sociólogo e historiador André Heráclio do Rego, que organizou um segundo Livro do Nordeste, no segundo centenário de vida do Diário de Pernambuco, a escrever, como Oliveira Lima, um ensaio sobre os cem últimos anos das relações internacionais do Brasil.
Fiz o encomendado em diversas versões.
Apresento aqui o início da primeira versão, depois cortada da versão definitiva (ainda não publicada), que se limita ao estritamente pedido, isto é, as relações internacionais do Brasil de 1925 a 2025.

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.
Organização: André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

Sumário:
1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província
2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática
3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria
4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente
5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la
6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar
7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província
O ano em que o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII, e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido.
O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva.
O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes. Segundo os relatos historiográficos, o Diário relatou os episódios mais salientes da Revolução Praieira de 1848 e, na década seguinte, assumiu uma nítida postura abolicionista, anos à frente da resiliência escravagista em outras províncias: obviamente, se congratulou com a Lei Áurea, assim como se alinhou com o novo regime no ano seguinte à abolição. Seu primeiro centenário foi devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa. Ele tinha começado a colaborar com o Diário desde antes da Grande Guerra, e se manteve como articulista até sua morte, em 1986. Pouco mais de dez anos após estrear como colunista, Freyre foi naturalmente escolhido para coordenar as contribuições preparadas para o Livro do Nordeste, e naturalmente convidou quem já era o principal historiador diplomático do país para relatar os feitos internacionais ocorridos até então.
Manuel de Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo intitulado “Um século de relações internacionais (1825-1925” (p. 9-10), examinando a trajetória exterior do Brasil no decorrer dos primeiros cem anos de vida do jornal. O grande historiador pernambucano destaca os três grandes objetivos do país em sua política externa no século transcorrido desde 1825:
... fixar as fronteiras com as nações herdeiras do domínio espanhol; salvar a economia de um golpe que se julgava de morte, vibrado pela abolição da instituição servil; sustentar a hegemonia no Prata, obstando a formação de outro império na costa oriental da América, para isso zelando um equilíbrio que n’outra face representava um desequilíbrio. (p. 9)

As fronteiras, escreveu ele, foram definitivamente assentadas já na República, “pela erudição e habilidade do Barão do Rio Branco, mas ampararam a sua especial competência a firmeza da diplomacia imperial e a segurança da anterior diplomacia portuguesa” (idem). Ele reconhece a política de intervenção platina – “o que lhe deu uma feição imperialista e provocou as duas guerras externas em que o Brasil se envolveu” –, mas entendia que “o maior erro diplomático do Império foi querer embargar o movimento centrípeto platino”, ou seja, a reconstituição do Vice-Reinado do Rio da Prata, sob o controle de Buenos Aires, ao mesmo tempo em que pretendia exercer sobre a Banda Oriental um “virtual protetorado”. Na questão da escravidão, Oliveira Lima entende que o império não foi muito efetivo na frente externa, “atraindo os raios britânicos do Bill Aberdeen”, mas que soube bem se conduzir na frente interna, levando o doloroso problema “gradualmente a cabo de modo ordeiro, honroso e modelar”, chegando mesmo a afirmar que, na questão abolicionista, “nunca contamos com partidários decididos da escravidão”. Termina por se referir aos principais casos diplomáticos das primeiras três décadas da República, celebrando a cordialidade da relação com os EUA.
(...)
2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática
3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria
4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente
5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la
6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar
7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica
(a ser publicado no segundo Livro do Nordeste)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de novembro de 2025

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Paulo Roberto de Almeida: Relações Internacionais do Brasil, séculos XVI-XIX: ensaios historiográficos (novo livro em preparação)

 No momento em que estão sendo ultimados dois livros sobre os quais trabalhei cuidadosamente nos dois anos até aqui – Intelectuais na Diplomacia Brasileira: a cultura a serviço da nação (Francisco Alves-Unifesp) e Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil (Ateliê de Humanidades) – tenho o prazer de informar sobre mais um sendo ultimado:


Paulo Roberto de Almeida
Relações Internacionais do Brasil, séculos XVI-XIX: ensaios historiográficos
(15 de agosto de 2025)

Índice

Prefácio, 7
Apresentação, 9


        Parte I:
        Da Colônia à Independência

1. Quatro séculos de relações internacionais do Brasil, 15
1.1. Uma periodização tentativa da história brasileira, 15
1.2. A construção do Estado independente e sua diplomacia, 16
1.3. Um lento crescimento econômico no século XIX, 18
1.4. A divergência econômica mundial se acentua, 20
1.5. A diplomacia brasileira, do Império à República, 22

2. A diplomacia dos descobrimentos: de Colombo a Tordesilhas, 25
2.1. O ato fundador da história moderna, 25
2.2. O monopólio pontifício das relações internacionais, 27
2.3. Da arbitragem papal à negociação direta, 30
2.4. Tordesilhas: a primeira partilha do mundo, 33
2.5. Do condomínio ibérico à balança de poderes, 36
2.6. O nascimento da diplomacia permanente, 39
2.7. A formação territorial do Brasil, 40

3. Formação econômica do Brasil antes da autonomia política, 45
3.1. Napoleão provoca a emergência do Brasil no cenário mundial, 45
3.2. Situação econômica do Brasil colonial até 1808, 46
3.3. Transformações econômicas a partir da abertura dos portos, 50
3.4. Efeitos do tratado de comércio de 1810, 52
3.5. Mudanças econômicas a caminho da independência, 57
3.6. O contexto econômico das independências ibero-americanas, 61
Quadros e tabelas, 67

4. O nascimento do pensamento econômico no Brasil: Hipólito da Costa, 71
4.1. A economia pelo método empírico: Hipólito nos Estados Unidos, 71
4.2. A economia pelo método teórico: leituras de Hipólito, 74
4.3. A abertura dos portos e as indústrias: Hipólito olha o futuro, 76
4.4. O comércio com a Grã-Bretanha: Hipólito antecipa o prejuízo, 80
4.5. O tratado de 1810 e o interesse nacional: Hipólito pauta o debate, 83
4.6. Hipólito finaliza sua missão: a autonomia e a questão da mão-de-obra, 84
4.7. Influência de Hipólito no debate econômico do século XIX, 87
4.8. O legado de Hipólito para o pensamento econômico brasileiro, 90

5. As revoluções ibero-americanas e o constitucionalismo luso-brasileiro, 93
5.1. A evolução constitucional na Europa e nas Américas, 93
5.2. Da Constituição de Cádiz (1812) à Revolução do Porto (1820), 94
5.3. O mundo restaurado e novamente turbulento: ascensão do liberalismo, 100
5.4. O constitucionalismo português e a recolonização do Brasil, 104
5.5. A constituição portuguesa de 1822 e seus efeitos no Brasil, 108

6. O Correio Braziliense e a revolução do Porto: o caminho da independência, 113
6.1. Primeiras notícias: do lado dos constitucionalistas, 113
6.2. A preocupação com as “coisas” do Brasil, 115
6.3. As Cortes se “esquecem” do Reino Unido do Brasil, 116
6.4. Começam as divergências constitucionais entre os dois reinos, 117
6.5. A revolução do Porto finalmente chega ao Brasil, 118
6.6. O Brasil constrói sua própria estrutura constitucional, 120
6.7. A separação refletida nas páginas do Correio Braziliense, 121

7. A censura ao Correio Braziliense e a independência do Brasil, 125
7.1. Censura, uma prática estatal, desde a mais remota antiguidade, 125
7.2. A censura política contra o “armazém literário” de Hipólito, 128
7.3. O Correio Braziliense como bastião da liberdade de imprensa, 132

8. A hipótese de um império luso-brasileiro: um ‘imenso Portugal’?, 141
8.1. Poderia o Brasil ter sido o centro de um império luso-brasileiro?, 141
8.2. A importância do Brasil para a economia da metrópole, 143
8.3. Situação de Portugal e Brasil na fase anterior à independência, 146
8.4. A hipótese da união imperial no período joanino e na independência, 148
8.5. Hipólito da Costa e a manutenção da unidade luso-brasileira 155
8.6. Um império luso-brasileiro a partir de uma unidade americana?, 162
8.7. O Brasil poderia assumir o comando de um império multinacional?, 164

        Parte II:
        Os grandes desafios da diplomacia imperial

9. A diplomacia brasileira da independência: heranças e permanências, 175
9.1. A diplomacia e a política externa na independência do Brasil, 179
9.2. A conquista da autonomia no Arquivo Diplomático da Independência, 178
9.3. A outra independência: uma construção alternativa do Estado, 182
9.4. A Bacia do Prata e a Cisplatina: a primeira guerra do Brasil, 186
9.5. A diplomacia do tráfico escravo: defendendo o indefensável, 190
9.6. A lenta conformação de uma diplomacia profissional, 198

10. O reconhecimento internacional da independência do Brasil, 201
10.1. Antes da Independência, o manifesto às “nações amigas”, 201
10.2 Finalmente o Império do Brasil: as primeiras missões, 202
10.3. A defesa do país exigia uma monarquia unitária, 204
10.4. Sem concessões aos imperialismos europeus, 206
10.5. Estabelecimento de relações com as principais potências, 208
10.6. A primeira diplomacia americanista do Brasil, 209
10.7. Os retardatários da Santa Aliança: Áustria e Espanha, 211
10.8. A diplomacia brasileira na construção do Estado, 213

11. A construção da diplomacia imperial por seus “pais fundadores”, 216
11.1. Um Estado com política externa, mas sem diplomacia, 217
11.2. Construindo a instituição: caminhos da profissionalização, 220
11.3. O papel do Parlamento na condução da diplomacia, 224
11.4. As bases intelectuais dos diplomatas imperiais: Paulino, 226
11.5. A burocratização da diplomacia imperial: Visconde do Rio Branco, 229

12. A diplomacia da imigração: contornando o escravismo 233
12.1. A diplomacia da imigração e a competição estrangeira, 233
12.2. A Lei de Terras: uma contrarreforma agrária, 236
12.3. Os diplomatas à cata de imigrantes europeus, 238
12.4. Argentina e Estados Unidos ganham no recrutamento, 239
12.5. A escravidão forçada contra a imigração espontânea, 241
12.6. Os diplomatas e a abolição, 242
Tabela estatística, 245

13. Uma geopolítica avant la lettre: Varnhagen e a reforma do Império, 247
13.1. Um historiador que também foi um pensador geopolítico, 247
13.2. Varnhagen possuía um pensamento estratégico?, 250
13.3. O pensamento estratégico na época de Varnhagen, 255
13.4. Qual era o pensamento estratégico de Varnhagen?, 258
13.5. As propostas de Varnhagen se refletiram no Estado imperial?, 267
13.6. O legado desse pensamento na construção do Estado brasileiro 272
13.7. Existe uma modernidade em Varnhagen?, 281

        Parte III:
        Historiografia das relações internacionais do Brasil

14. A historiografia da independência: uma revisão da literatura, 289
14.1. Os principais trabalhos sobre a história da independência, 289
14.2. Qual historiografia, qual independência?, 293
14.3. A historiografia da independência: seus principais historiadores, 295
14.4. As fontes, os fatos e a historiografia da Independência, 297
14.5. Historiadores estrangeiros dos “sucessos” da independência, 300
14.6. O patrono da historiografia, Varnhagen, e seu crítico, Oliveira Lima, 303
14.7. O Arquivo Diplomático da Independência e o Projeto Resgate, 306

15. A historiografia diplomática até a primeira metade do século XX, 313
15.1. A historiografia: uma quase esquecida na história das ideias, 313
15.2. A historiografia das relações exteriores: principais representantes, 315
15.3. Varnhagen, o pai da historiografia, o legitimista da corte, 317
15.4. João Ribeiro inaugura a era dos manuais de história do Brasil, 322
15.5. Oliveira Lima: o maior dos historiadores diplomatas, 324
15.6. Pandiá Calógeras: a sistematização da história diplomática, 330
15.7. Interregno diversificado: trabalhos até o início do século XX, 334
15.8. Os manuais de história diplomática: Vianna, Delgado e Rodrigues, 340

16. A historiografia econômica do Brasil, 347
16.1. Temas, agendas, historiadores, 347
16.2. Da reconstituição do passado colonial às crises financeiras, 348
16.3. O nascimento de uma história econômica nacional, 350
16.4. O nacionalismo e o papel econômico do Estado, 353
16.5. O grande esforço da industrialização: Celso Furtado, 354
16.6. Os desequilíbrios do crescimento: os novos historiadores, 356
16.7. Progressos na pesquisa em história econômica, 357


Anexos: cronologia e documentos históricos
1. Cronologia histórica até a independência do Brasil, 363
2. Documentos fundadores do território a brasileiro, 377
a) Tratado de Tordesilhas, 1494, 377
b) Carta de El-Rei de Portugal, D. Manuel, aos Reis Católicos, 1501, 379
c) Tratado de Madri, 1750, 381
d) Manifesto às nações amigas, 1822, 385

Referências bibliográficas, 397
Notas sobre os trabalhos, 419
Nota sobre o autor, 433



quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil - novo livro de Paulo Roberto de Almeida (Ateliê de Humanidades)

 Oyez, oyez, citoyens, enfin prêt:


Meu livro "Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil", cuidadosamente revisto e editado pelo André Magnelli, da Editora Ateliê de Humanidades, ficou pronto e já está rodando nesse instante. Encomendas já podem ser feitas neste link:

https://ateliedehumanidades.com/produto/vidas-paralelas-rubens-ricupero-e-celso-lafer-nas-relacoes-internacionais-do-brasil-paulo-roberto-de-almeida/

Apresentação do Ateliê de Humanidades:

O diplomata Paulo Roberto de Almeida faz uma reconstrução das "vidas paralelas" de Rubens Ricupero e Celso Lafer, enquanto protagonistas da construção das relações internacionais do Brasil. Ao apresentar esses dois "diplomatas da inteligência", este livro nos fornece uma generosa fonte de formação intelectual, que trabalha, com competência, questões de direito, filosofia, história, ciência política, economia, comércio internacional, política exterior e relações internacionais. O leitor encontrará aqui não apenas um exposição detalhada das obras e ações de Ricupero e Lafer, como também uma visão acurada da história do Brasil contemporâneo, sobretudo no que diz respeito aos desafios que, ainda e sempre, enfrentamos na busca por uma inserção internacional autônoma.



Adquira já em pré-lançamento: 

Site: https://ateliedehumanidades.com/atelie-de-humanidades-editorial/ (frete frátis para compras a partir de 200,00)

Já disponível na Amazon:

Outros livros do Ateliê de Humanidades:

*

Autor: Paulo Roberto de Almeida
Formato: Brochura comum
ISBN: 978-65-86972-43-6
Prefácio: Fernando de Mello Barreto
Orelha: Gelson Fonseca Jr.
Coleção: Biblioteca do Pensamento Político
Páginas: 364 p.
Ano: 2025

Apresentação geral do livro neste link.

Artigo PRA no portal Interesse Nacional sobre o livro.



quinta-feira, 24 de julho de 2025

Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil - livro de Paulo Roberto de Almeida (Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades, 2025)

Próximo livro: quase pronto para impressão:


Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil
(Rio de Janeiro: Ateliê de Humanidades, 2025)
Sumário
PREFÁCIO – Fernando de Mello Barreto
A TÍTULO DE APRESENTAÇÃO: UMA NOTA PESSOAL SOBRE MINHAS AFINIDADES ELETIVAS
1. UMA HISTÓRIA INTELECTUAL: PARALELAS QUE SE CRUZAM
Por que uma história intelectual paralela?
Por que vidas paralelas numa história intelectual?
Quão “paralelos” são Rubens Ricupero e Celso Lafer?
A importância de Ricupero e de Lafer nas relações
internacionais do Brasil
O sentido ético de uma vida dedicada à construção do Brasil
2. RUBENS RICUPERO: UM PROJETO PARA O BRASIL NO MUNDO
Do Brás italiano para o Rio de Janeiro cosmopolita
Um começo desconcertante na vida diplomática
Uma carreira progressivamente ascendente, pela via amazônica
Afinidades eletivas com base no estudo do Brasil e no conhecimento do mundo
Professor de diplomatas e de universitários, no Instituto Rio Branco e na UnB
O assessor internacional e o Diário de Bordo da viagem de Tancredo Neves
O Brasil no sistema multilateral de comércio
O mais importante plano de estabilização da história econômica brasileira
UNCTAD: a batalha pela redução das desigualdades globais
Um pensador internacionalista, o George Kennan brasileiro
A figura incontornável de Rio Branco, o paradigma da ação diplomática
Brasil: um futuro pior que o passado?
O Brasil foi construído pela sua diplomacia? De certo modo, sim
Quais as grandes leituras de Rubens Ricupero?
3. CELSO LAFER: UM DOS PAIS FUNDADORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL
A abertura de asas de um intelectual promissor
A tese de Cornell sobre o Plano de Metas de JK
Irredutível liberal: ensaios e desafios
As relações econômicas internacionais: reciprocidade de interesses
A trajetória de Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil
Direitos humanos: a dimensão moral do trabalho intelectual
Um diálogo permanente com Hannah Arendt
Norberto Bobbio: afinidades eletivas com o sábio italiano
A aventura da revista Política Externa e seu papel no cenário editorial
A diplomacia na prática: a primeira experiência na chancelaria, 1992
A diplomacia na prática: a segunda experiência na chancelaria, 2001-2002
No templo dos imortais: “intelectual militante” e “observador participante”
O judaísmo laico de Lafer e a unidade espiritual do mundo de Zweig
Uma coletânea dos mais importantes artigos num amplo espectro intelectual
4. PARALELAS CONVERGENTES: CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bildung pessoal nas relações internacionais do Brasil
A dupla dimensão das vidas paralelas
Dois “professores” e não só de política externa
A République des Lettres do Itamaraty e dois dos seus representantes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Relações internacionais do Brasil: 1825-1925, Oliveira Lima; 1925-2025, Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco, 1825-2025)

Relações internacionais do Brasil: 1825-1925, Oliveira Lima; 1925-2025, Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco, 1825-2025)


         Acima a primeira página da colaboracão do historiador, acadêmico, professor na Catholic University of America, Oliveira Lima, sobre um século de relações internacionais do Brasil, no Livro do Nordeste, organizado pelo jovem sociólogo Gilberto Freyre para o Diário de Pernambuco, em comemoração dos primeiros cem anos de existência (e resistência) desse valente jornal pernambucano, de alcance regional.
        Fui encarregado, pelo meu amigo, colega diplomata e historiador André Heráclio do Rego de redigir a continuidade dessa colaboração, cobrindo os 100 anos seguintes, ou seja, as relações internacionais do Brasil entre 1925 e 2025, para comemorar o segundo centenário do Diário de Pernambuco.
        Já comecei a trabalhar, e a primeira coisa que fiz, foi conferir, na publicação original, como tinha sido a colaboração de meu ilustre colega do Itamaraty, já entrado no MRE, mas que tratou em grande medida da diplomacia da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Meu esquema e o início do trabalho seguem abaixo.

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.

Org. André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

  

Sumário: 

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria

4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente

5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la

6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar

7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica

 

 

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

        O ano em que o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII, e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido. 

        O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva. 

        O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes. Segundo os relatos historiográficos, o Diário relatou os episódios mais salientes da Revolução Praieira de 1848 e, na década seguinte, assumiu uma nítida postura abolicionista, anos à frente da resiliência escravagista em outras províncias: obviamente, se congratulou com a Lei Áurea, assim como se alinhou com o novo regime no ano seguinte à abolição. Seu primeiro centenário foi devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa.         Ele tinha começado a colaborar com o Diário desde antes da Grande Guerra, e se manteve como articulista até sua morte, em 1986. Pouco mais de dez anos após estrear como colunista, Freyre foi naturalmente escolhido para coordenar as contribuições preparadas para o Livro do Nordeste, e naturalmente convidou quem já era o principal historiador diplomático do país para relatar os feitos internacionais ocorridos até então.

        Manuel de Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo intitulado “Um século de relações internacionais (1825-1925” (p. 9-10), examinando a trajetória exterior do Brasil no decorrer dos primeiros cem anos de vida do jornal. O grande historiador pernambucano destaca os três grandes objetivos do país em sua política externa no século transcorrido desde 1825:

        ... fixar as fronteiras com as nações herdeiras do domínio espanhol; salvar a economia de um golpe que se julgava de morte, vibrado pela abolição da instituição servil; sustentar a hegemonia no Prata, obstando a formação de outro império na costa oriental da América, para isso zelando um equilíbrio que n’outra face representava um desequilíbrio. (p. 9)

 

        As fronteiras, escreveu ele, foram definitivamente assentadas já na República, “pela erudição e habilidade do Barão do Rio Branco, mas ampararam a sua especial competência a firmeza da diplomacia imperial e a segurança da anterior diplomacia portuguesa” (idem). Ele reconhece a política de intervenção platina – “o que lhe deu uma feição imperialista e provocou as duas guerras externas em que o Brasil se envolveu” –, mas entendia que “o maior erro diplomático do Império foi querer embargar o movimento centrípeto platino”, ou seja, a reconstituição do Vice-Reinado do Rio da Prata, sob o controle de Buenos Aires, ao mesmo tempo em que pretendia exercer sobre a Banda Oriental um “virtual protetorado”. Na questão da escravidão, Oliveira Lima entende que o império não foi muito efetivo na frente externa, “atraindo os raios britânicos do Bill Aberdeen”, mas que soube bem se conduzir na frente interna, levando o doloroso problema “gradualmente a cabo de modo ordeiro, honroso e modelar”, chegando mesmo a afirmar que, na questão abolicionista, “nunca contamos com partidários decididos da escravidão”. Termina por se referir aos principais casos diplomáticos das primeiras três décadas da República, celebrando a cordialidade da relação com os EUA.

 

2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

(...)



quarta-feira, 27 de março de 2024

Paulo Roberto de Almeida: Vidas Paralelas – Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil - Portal da revista Interesse Nacional

Paulo Roberto de Almeida: Vidas Paralelas:

Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil 

Portal da revista Interesse Nacional 



https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/paulo-roberto-de-almeida-vidas-paralelas-rubens-ricupero-e-celso-lafer-nas-relacoes-internacionais-do-brasil/


Trajetórias dos dois personagens fundamentais da política externa brasileira são o foco de livro sobre sua marca indelével no cenário cultural e intelectual do país. Para diplomata, os dois contribuíram para a imagem e o papel que o Brasil conseguiu forjar para si no cenário mundial

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer participa na Comissão Relações Exteriores do Senado do segundo painel do ciclo de debates Brasil e a Ordem Internacional (Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)

Por Paulo Roberto de Almeida*

O embaixador Rubens Ricupero e o ex-chanceler Celso Lafer são duas das personalidades mais conhecidas e respeitadas no panorama cultural e no cenário brasileiro de conhecimento, produção e atuação nas relações internacionais do Brasil. Eles apresentam certa similaridade de pensamento e de realizações, segundo trajetórias que se cruzaram, que se entrelaçaram e que se uniram num mesmo propósito: elevar o status do Brasil no mundo, melhorar a cultura da nação, a política do país, a vida diária dos brasileiros e dos imigrantes que para aqui vieram e que aqui construíram uma sociedade vibrante, diversificada, como foram, aliás, os seus bisavôs, chegados ao Brasil no final do século XIX, e que aqui empreenderam uma vida de trabalho e de construção do próprio país.

Eles possuem muitas “afinidades eletivas”, construídas tanto no labor acadêmico, quanto no trabalho diplomático, assim como exibem dois percursos paralelos, merecendo, portanto, apresentação e avaliação conjunta, o que pode ser feito por meio de um percurso bibliográfico e de um relato mais ou menos linear sobre seus desempenhos notáveis na vida pública e nas relações exteriores do Brasil. 

‘Pode-se abordar a produção literária e as atividades públicas de Ricupero e de Lafer pela via de uma história intelectual, capaz de segui-los no desempenho de suas funções respectivas, como professores e como diplomatas’

Mais exatamente: pode-se abordar a produção literária e as atividades públicas de Rubens Ricupero e de Celso Lafer pela via de uma história intelectual, capaz de segui-los no desempenho de suas funções respectivas, como professores e como diplomatas, assim como pelo relato da contribuição de ambos para as relações internacionais do Brasil, tanto no plano da produção intelectual propriamente dita, quanto no terreno das atividades públicas nas quais estiveram engajados, como pensadores, como tribunos de ideias e propositores de políticas, como burocratas de alto escalão, no campo da política externa e da diplomacia. 

O volume total da produção de cada um deles é absolutamente assustador, não apenas pela variedade das abordagens nas diversas vertentes de que se ocuparam, mas também pela qualidade do que escreveram ou disseram. Muitos dos atuais diplomatas, assim como grande parte dos pesquisadores e professores da área de relações internacionais se beneficiaram da produção publicada pelos dois ao longo das últimas quatro ou cinco décadas, ou se inspiraram nos exemplos que ambos prodigaram em suas atividades práticas nos encargos que assumiram nos últimos sessenta anos da vida nacional. 

O embaixador Rubens Ricupero durante comemoração dos 45 anos da assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica (Foto: José Cruz/ Agência Brasil

As trajetórias de vida de Rubens Ricupero e de Celso Lafer evidenciam uma motivação comum, profundamente engajada no estudo dos problemas internacionais do Brasil, desde os primeiros trabalhos conhecidos, e uma constância nesse tipo de produção – em direitos humanos, na história diplomática, nas relações econômicas internacionais, na integração, no direito internacional – que resulta, em sua essência e centralidade analítica, numa grande coerência e honestidade intelectual. 

Ambas as trajetórias podem ser vistas sob o conceito de “vidas paralelas”. Elas o são a mais de um título, independentemente da diferença de origens sociais, que marcaram as primeiras fases da vida acadêmica e profissional de cada um deles. A partir de certo momento, as paralelas se cruzaram, se imbricaram e não mais se desligaram, nem se desfizeram. 

Cada um, separadamente, mereceria várias biografias, mas não parece existir, até aqui, um estudo conjunto, sobre esses dois amigos de coração, duas almas gêmeas na vocação de servir o Brasil em sua vertente internacional’

O que há de peculiar, ou de exclusivo, a cada um? O que os distingue entre si, e o que os une, fundamentalmente? Cada um, separadamente, mereceria várias biografias, suas obras publicadas oferecem matérias para dezenas de dissertações, muitas teses de doutorado, centenas de artigos analíticos, mas não parece existir, até aqui, um estudo conjunto, sobre esses dois amigos de coração, duas almas gêmeas na vocação de servir o Brasil em sua vertente internacional. 

Foi o que eu decidi fazer, e o que agora estou concluindo, depois de um ano inteiro de leituras, anotações, visitas a bibliotecas, intercâmbio de mensagens e algumas conversas com os dois, sob o formato de um livro, dotado dessa perspectiva unificadora das Vidas Paralelas

Algum motivo especial para esta iniciativa agregadora de caráter intelectual? O que une, essencialmente, Ricupero e Lafer? O que deu origem e o que, de certa forma, legitima e justifica este meu empreendimento, de estudar a trajetória de ambos? Uma mesma origem na imigração, ainda que diferente em suas raízes, uma trajetória similar de construção de vida pelo trabalho, o mesmo esforço nos estudos, uma absoluta identidade de propósitos quanto a objetivos maiores. 

Origens divergentes, no passado, mas lançadas no cadinho convergente dos grandes fluxos imigratórios no Brasil do final do século XIX e do início do século XX; trajetórias não exatamente paralelas na juventude de estudos, mas confluindo no mesmo universo do direito, das humanidades, do interesse comum por assuntos internacionais na primeira fase da vida madura. 

Dois meios sociais diferentes, tradições familiares separadas, mas alguns traços similares entre eles, o que me motivou a juntá-los nesse paralelismo de realizações, no campo das reflexões sobre as relações internacionais do Brasil e no terreno prático das atividades diplomáticas. Provavelmente também uma identificação pessoal com a trajetória e o trabalho acumulado ao longo de várias décadas de estudos, de escritos, de propósitos.

Mais do que as reflexões e escritos, ou o desempenho de cada um a serviço da diplomacia brasileira, o que os une, basicamente, são dois elementos intangíveis, que foi o que me lançou na concepção desta obra de história intelectual: cultura e inteligência’

Mais do que as reflexões e escritos, ou o desempenho de cada um a serviço da diplomacia brasileira, o que os une, basicamente, são dois elementos intangíveis, que foi o que me lançou na concepção desta obra de história intelectual: cultura e inteligência. Independentemente de todos os artigos, ensaios, livros e entrevistas – dezenas de quilos de material impresso, de cada um dos lados – e do ativismo exemplar nas relações internacionais do Brasil, no exercício prático de sua diplomacia, o que distingue, mais do que qualquer outra coisa, os dois personagens, por mim escolhidos para uma espécie de bisturi analítico sobre seus escritos e realizações, foi justamente estes traços do caráter de cada um, em relação aos quais eu tenho profunda devoção, um duplo Graal sempre perseguido: cultura e inteligência.

Quando apresentei a eles, em julho de 2023, o meu projeto de elaborar uma história intelectual comum, o próprio Ricupero me escreveu estas palavras, a respeito dos paralelismos entre ambos: 

‘Um aspecto óbvio é que, apesar das diferenças, Celso e eu pertencemos a uma mesma família de orientação política e filosófica: somos ambos liberais com consciência social. Embora com muito menor base filosófica, admiro as mesmas personalidades que Celso: Isaiah Berlin, Norberto Bobbio, Hannah Arendt, Raymond Aron. Tanto na política interna brasileira como em relação à política externa, a real e a ideal, não creio que existam entre nós diferenças fortes…’

O resultado, portanto, foi um livro de história intelectual, no sentido mais direto da expressão. Ele trata de duas personalidades influentes no pensamento e na atuação prática das relações internacionais do Brasil. Eles são influentes pelas obras produzidas, pelas ideias defendidas, pelas ações conduzidas em diferentes vertentes de suas respectivas vidas: como professores, pensadores e autores de obras relevantes num vasto leque das ciências sociais e humanas, como ativistas civis e propositores de medidas para a condução política do país, em especial na vertente externa, bem como, last but not the least, como decisores setoriais quando assumiram responsabilidade por cargos de relevo em governos do passado: ambos como ministros de Estado, Celso Lafer duas vezes na chefia do Itamaraty (1992 e 2001-2002), Ricupero como ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, logo em seguida como ministro da Fazenda no lançamento do Plano Real. 

Os dois personagens destas Vidas Paralelas deixam uma marca indelével no cenário cultural e intelectual do Brasil, o que emerge naturalmente a partir de seus respectivos desempenhos no plano da elaboração e transmissão de ideias, da produção de conhecimento nos campos da ciência política, da história, do direito, das relações internacionais, entre várias outras das humanidades e das ciências sociais. Eles também contribuíram, com o melhor de cada um deles, no universo geral da cultura, e no mais especializado da diplomacia, para a imagem e o papel que o Brasil conseguiu forjar para si no cenário mundial, ambiente no qual atuaram, de forma muito intensa, juntos ou separadamente, e no qual eles constituem, justamente, dois dos mais distinguidos representantes da inteligência nacional.


* Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira, doutor em ciências sociais pela Université Libre de Bruxelles, mestre em Planejamento Econômico pela Universidade de Antuérpia, licenciado em ciências sociais pela Université Libre de Bruxelles, 1975). Atua como professor de economia política no Programa de Pós-Graduação em direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). É editor adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional.

Sumário da obra Vidas Paralelas, em publicação


Artigos e comentários de autores convidados não refletem, necessariamente, a opinião da revista Interesse Nacional.


Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil: livro em preparação - Paulo Roberto de Almeida

 Vidas Paralelas: Rubens Ricupero e Celso Lafer nas relações internacionais do Brasil

Paulo Roberto de Almeida


O embaixador Rubens Ricupero e o ex-chanceler Celso Lafer são duas das personalidades mais conhecidas e respeitadas no panorama cultural e no cenário brasileiro de conhecimento, produção e atuação nas relações internacionais do Brasil. Eles apresentam certa similaridade de pensamento e de realizações, segundo trajetórias que se cruzaram, que se entrelaçaram e que se uniram num mesmo propósito: elevar o status do Brasil no mundo, melhorar a cultura da nação, a política do país, a vida diária dos brasileiros e dos imigrantes que para aqui vieram e que aqui construíram uma sociedade vibrante, diversificada, como foram, aliás, os seus bisavôs, chegados ao Brasil no final do século XIX, e que aqui empreenderam uma vida de trabalho e de construção do próprio país.

Eles possuem muitas “afinidades eletivas”, construídas tanto no labor acadêmico, quanto no trabalho diplomático, assim como exibem dois percursos paralelos, merecendo, portanto, apresentação e avaliação conjunta, o que pode ser feito por meio de um percurso bibliográfico e de um relato mais ou menos linear sobre seus desempenhos notáveis na vida pública e nas relações exteriores do Brasil. Mais exatamente: pode-se abordar a produção literária e as atividades públicas de Rubens Ricupero e de Celso Lafer pela via de uma história intelectual, capaz de segui-los no desempenho de suas funções respectivas, como professores e como diplomatas, assim como pelo relato da contribuição de ambos para as relações internacionais do Brasil, tanto no plano da produção intelectual propriamente dita, quanto no terreno das atividades públicas nas quais estiveram engajados, como pensadores, como tribunos de ideias e propositores de políticas, como burocratas de alto escalão, no campo da política externa e da diplomacia. 

O volume total da produção de cada um deles é absolutamente assustador, não apenas pela variedade das abordagens nas diversas vertentes de que se ocuparam, mas também pela qualidade do que escreveram ou disseram. Muitos dos atuais diplomatas, assim como grande parte dos pesquisadores e professores da área de relações internacionais se beneficiaram da produção publicada pelos dois ao longo das últimas quatro ou cinco décadas, ou se inspiraram nos exemplos que ambos prodigaram em suas atividades práticas nos encargos que assumiram nos últimos sessenta anos da vida nacional. 

As trajetórias de vida de Rubens Ricupero e de Celso Lafer evidenciam uma motivação comum, profundamente engajada no estudo dos problemas internacionais do Brasil, desde os primeiros trabalhos conhecidos, e uma constância nesse tipo de produção – em direitos humanos, na história diplomática, nas relações econômicas internacionais, na integração, no direito internacional – que resulta, em sua essência e centralidade analítica, numa grande coerência e honestidade intelectual. Ambas as trajetórias podem ser vistas sob o conceito de “vidas paralelas”. Elas o são a mais de um título, independentemente da diferença de origens sociais, que marcaram as primeiras fases da vida acadêmica e profissional de cada um deles. A partir de certo momento, as paralelas se cruzaram, se imbricaram e não mais se desligaram, nem se desfizeram. 

O que há de peculiar, ou de exclusivo, a cada um? O que os distingue entre si, e o que os une, fundamentalmente? Cada um, separadamente, mereceria várias biografias, suas obras publicadas oferecem matérias para dezenas de dissertações, muitas teses de doutorado, centenas de artigos analíticos, mas não parece existir, até aqui, um estudo conjunto, sobre esses dois amigos de coração, duas almas gêmeas na vocação de servir o Brasil em sua vertente internacional. Foi o que eu decidi fazer, e o que agora estou concluindo, depois de um ano inteiro de leituras, anotações, visitas a bibliotecas, intercâmbio de mensagens e algumas conversas com os dois, sob o formato de um livro, dotado dessa perspectiva unificadora das Vidas Paralelas

Algum motivo especial para esta iniciativa agregadora de caráter intelectual? O que une, essencialmente, Ricupero e Lafer? O que deu origem e o que, de certa forma, legitima e justifica este meu empreendimento, de estudar a trajetória de ambos? Uma mesma origem na imigração, ainda que diferente em suas raízes, uma trajetória similar de construção de vida pelo trabalho, o mesmo esforço nos estudos, uma absoluta identidade de propósitos quanto a objetivos maiores. Origens divergentes, no passado, mas lançadas no cadinho convergente dos grandes fluxos imigratórios no Brasil do final do século XIX e do início do século XX; trajetórias não exatamente paralelas na juventude de estudos, mas confluindo no mesmo universo do Direito, das Humanidades, do interesse comum por assuntos internacionais na primeira fase da vida madura. Dois meios sociais diferentes, tradições familiares separadas, mas alguns traços similares entre eles, o que me motivou a juntá-los nesse paralelismo de realizações, no campo das reflexões sobre as relações internacionais do Brasil e no terreno prático das atividades diplomáticas. Provavelmente também uma identificação pessoal com a trajetória e o trabalho acumulado ao longo de várias décadas de estudos, de escritos, de propósitos.

Mais do que as reflexões e escritos, ou o desempenho de cada um a serviço da diplomacia brasileira, o que os une, basicamente, são dois elementos intangíveis, que foi o que me lançou na concepção desta obra de história intelectual: cultura e inteligência. Independentemente de todos os artigos, ensaios, livros e entrevistas – dezenas de quilos de material impresso, de cada um dos lados – e do ativismo exemplar nas relações internacionais do Brasil, no exercício prático de sua diplomacia, o que distingue, mais do que qualquer outra coisa, os dois personagens, por mim escolhidos para uma espécie de bisturi analítico sobre seus escritos e realizações, foi justamente estes traços do caráter de cada um, em relação aos quais eu tenho profunda devoção, um duplo Graal sempre perseguido: cultura e inteligência.

Quando apresentei a eles, em julho de 2023, o meu projeto de elaborar uma história intelectual comum, o próprio Ricupero me escreveu estas palavras, a respeito dos paralelismos entre ambos: 

Um aspecto óbvio é que, apesar das diferenças, Celso e eu pertencemos a uma mesma família de orientação política e filosófica: somos ambos liberais com consciência social. Embora com muito menor base filosófica, admiro as mesmas personalidades que Celso: Isaiah Berlin, Norberto Bobbio, Hannah Arendt, Raymond Aron. Tanto na política interna brasileira como em relação à política externa, a real e a ideal, não creio que existam entre nós diferenças fortes...

 

O resultado, portanto, foi um livro de história intelectual, no sentido mais direto da expressão. Ele trata de duas personalidades influentes no pensamento e na atuação prática das relações internacionais do Brasil. Eles são influentes pelas obras produzidas, pelas ideias defendidas, pelas ações conduzidas em diferentes vertentes de suas respectivas vidas: como professores, pensadores e autores de obras relevantes num vasto leque das ciências sociais e humanas, como ativistas civis e propositores de medidas para a condução política do país, em especial na vertente externa, bem como, last but not the least, como decisores setoriais quando assumiram responsabilidade por cargos de relevo em governos do passado: ambos como ministros de Estado, Celso Lafer duas vezes na chefia do Itamaraty (1992 e 2001-2002), Ricupero como ministro do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, logo em seguida como ministro da Fazenda no lançamento do Plano Real. 

Os dois personagens destas Vidas Paralelas deixam uma marca indelével no cenário cultural e intelectual do Brasil, o que emerge naturalmente a partir de seus respectivos desempenhos no plano da elaboração e transmissão de ideias, da produção de conhecimento nos campos da ciência política, da história, do direito, das relações internacionais, entre várias outras das humanidades e das ciências sociais. Eles também contribuíram, com o melhor de cada um deles, no universo geral da cultura, e no mais especializado da diplomacia, para a imagem e o papel que o Brasil conseguiu forjar para si no cenário mundial, ambiente no qual atuaram, de forma muito intensa, juntos ou separadamente, e no qual eles constituem, justamente, dois dos mais distinguidos representantes da inteligência nacional.

 

Obras relevantes: 

 

Celso Lafer:

Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira: pensamento e ação. Brasília: Funag, 2018, 2 vols.

Hannah Arendt: Pensamento, persuasão e poder. 3ª ed.; Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2018.

Um percurso no Direito do Século XXI. São Paulo: Atlas, 2015, 3 vols. 

Norberto Bobbio: trajetória e obra. São Paulo: Perspectiva, 2013.

A internacionalização dos direitos humanos: Constituição, racismo e relações internacionais. Barueri, SP: Manole, 2005.

A Identidade Internacional do Brasil e a Política Externa Brasileira: passado, presente e futuro. 2a. ed., revista e ampliada; São Paulo: Perspectiva, 2004. 

Comércio, desarmamento, direitos humanos: reflexões sobre uma experiência diplomática. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

A OMC e a regulamentação do comércio internacional: uma visão brasileira. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998.

Política externa brasileira: três momentos. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 1993.

A reconstrução dos direitos humanos, um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

O Brasil e a crise mundial: paz, poder e política externa. São Paulo: Perspectiva, 1984.

Paradoxos e possibilidades: Estudos sobre a Ordem Mundial e sobre a Política Exterior do Brasil num Sistema Internacional em Transformação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

 

Rubens Ricupero: 

A Diplomacia na Construção da Nação, 1750-2016. Rio de Janeiro: Versal, 2017.

“O Brasil no mundo”, In: Costa e Silva, Alberto (org.). Crise Colonial e Independência, 1808-1830. Madri-Rio de Janeiro: Fundación Mapfre-Objetiva, 2011, p. 115-159.

- “A inserção do Brasil no mundo”, in: Botelho, André; Schwarcz, Lilia Moritz (orgs.). Agenda Brasileira: temas de uma sociedade em mudança. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, p. 458-469.

Diário de Bordo: a viagem presidencial de Tancredo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.

Esperança e Ação: a ONU e a busca de desenvolvimento mais justo. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 

O Brasil e o dilema da globalização. 2ª ed.; São Paulo: Senac-SP, 2001.

Rio Branco: o Brasil no Mundo. Rio de Janeiro. Ed. Contraponto, 2000. 

O ponto ótimo da crise. Rio de Janeiro: Revan, 1998.

Visões do Brasil: ensaios sobre a história e a inserção internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1995.

- “A diplomacia do desenvolvimento”. In: Pereira de Araujo, João Hermes; Azambuja, Marcos; Ricupero, Rubens. Três Ensaios sobre diplomacia brasileira. Brasília: Ministério das Relações Exteriores, 1989, p. 193-209. 

A Abertura dos Portos. São Paulo: Senac-SP, 2007 (co-organização com Luis Valente de Oliveira). 

- Rio Branco”, in: João Hermes Pereira de Araujo. José Maria da Silva Paranhos, Barão do Rio Branco: Uma Biografia Fotográfica,1845-1995. Brasília: Funag, 1995.

 

Sumário da obra em publicação: 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2024/03/um-novo-livro-terminado-vidas-paralelas.html

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4610: 18 março 2024, 5 p.

Publicado no portal da revista Interesse Nacional (27/03/2023; link: https://interessenacional.com.br/edicoes-posts/paulo-roberto-de-almeida-vidas-paralelas-rubens-ricupero-e-celso-lafer-nas-relacoes-internacionais-do-brasil/)