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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Cumprimentos ao Diário de Pernambuco, o mais antigo do Brasil, talvez da América Latina, Livro Nordeste, II - Paulo Roberto de Almeida

Cumprimentos ao Diário de Pernambuco, o mais antigo do Brasil, talvez da América Latina.

O Diário de Pernambuco, o mais antigo jornal em circulação no Brasil, acaba de completar 200 anos.
No seu primeiro centenário, em 1925, o jovem sociólogo Gilberto Freyre organizou um livro comemorativo, Livro do Nordeste. Nele, o já maduro historiador Oliveira Lima, então já residente em Washington, onde era professor da Catholic University of America, escreveu um artigo sobre as relações internacionais do Brasil de 1825 (um ano após a Confederação do Equador) a 1925, concentrando-se mais no Império e um pouco na gestão Rio Branco, na segunda década da República. Oliveira Lima, que no Império era republicano, e que ingressou na diplomacia no início da República (aliás, até "empurrado" pelo presidente Floriano Peixoto), tinha se tornado monarquista a partir do Marechal Hermes da Fonseca, uma mula fardada, e saiu da carreira diplomática logo em 1913, entregando sua fabulosa biblioteca para a universidade americana.
Fui convidado pelo já maduro sociólogo e historiador André Heráclio do Rego, que organizou um segundo Livro do Nordeste, no segundo centenário de vida do Diário de Pernambuco, a escrever, como Oliveira Lima, um ensaio sobre os cem últimos anos das relações internacionais do Brasil.
Fiz o encomendado em diversas versões.
Apresento aqui o início da primeira versão, depois cortada da versão definitiva (ainda não publicada), que se limita ao estritamente pedido, isto é, as relações internacionais do Brasil de 1925 a 2025.

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025
Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.
Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.
Organização: André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

Sumário:
1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província
2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática
3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria
4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente
5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la
6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar
7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província
O ano em que o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII, e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido.
O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva.
O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes. Segundo os relatos historiográficos, o Diário relatou os episódios mais salientes da Revolução Praieira de 1848 e, na década seguinte, assumiu uma nítida postura abolicionista, anos à frente da resiliência escravagista em outras províncias: obviamente, se congratulou com a Lei Áurea, assim como se alinhou com o novo regime no ano seguinte à abolição. Seu primeiro centenário foi devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa. Ele tinha começado a colaborar com o Diário desde antes da Grande Guerra, e se manteve como articulista até sua morte, em 1986. Pouco mais de dez anos após estrear como colunista, Freyre foi naturalmente escolhido para coordenar as contribuições preparadas para o Livro do Nordeste, e naturalmente convidou quem já era o principal historiador diplomático do país para relatar os feitos internacionais ocorridos até então.
Manuel de Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo intitulado “Um século de relações internacionais (1825-1925” (p. 9-10), examinando a trajetória exterior do Brasil no decorrer dos primeiros cem anos de vida do jornal. O grande historiador pernambucano destaca os três grandes objetivos do país em sua política externa no século transcorrido desde 1825:
... fixar as fronteiras com as nações herdeiras do domínio espanhol; salvar a economia de um golpe que se julgava de morte, vibrado pela abolição da instituição servil; sustentar a hegemonia no Prata, obstando a formação de outro império na costa oriental da América, para isso zelando um equilíbrio que n’outra face representava um desequilíbrio. (p. 9)

As fronteiras, escreveu ele, foram definitivamente assentadas já na República, “pela erudição e habilidade do Barão do Rio Branco, mas ampararam a sua especial competência a firmeza da diplomacia imperial e a segurança da anterior diplomacia portuguesa” (idem). Ele reconhece a política de intervenção platina – “o que lhe deu uma feição imperialista e provocou as duas guerras externas em que o Brasil se envolveu” –, mas entendia que “o maior erro diplomático do Império foi querer embargar o movimento centrípeto platino”, ou seja, a reconstituição do Vice-Reinado do Rio da Prata, sob o controle de Buenos Aires, ao mesmo tempo em que pretendia exercer sobre a Banda Oriental um “virtual protetorado”. Na questão da escravidão, Oliveira Lima entende que o império não foi muito efetivo na frente externa, “atraindo os raios britânicos do Bill Aberdeen”, mas que soube bem se conduzir na frente interna, levando o doloroso problema “gradualmente a cabo de modo ordeiro, honroso e modelar”, chegando mesmo a afirmar que, na questão abolicionista, “nunca contamos com partidários decididos da escravidão”. Termina por se referir aos principais casos diplomáticos das primeiras três décadas da República, celebrando a cordialidade da relação com os EUA.
(...)
2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática
3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria
4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente
5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la
6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar
7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica
(a ser publicado no segundo Livro do Nordeste)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de novembro de 2025

sexta-feira, 6 de junho de 2025

O Livro do Nordeste II - André Heráclio do Rêgo (Diário de Pernambuco)

 O LIVRO DO NORDESTE II

André Heráclio do Rêgo

Diário de Pernambuco, 6/06/2925

Em 1925, por ocasião do primeiro centenário do Diario de Pernambuco, decidiu-se que as respectivas comemorações não se limitassem a festas, banquetes e exposições, mas que deixassem um legado permanente, um livro que, como notou Edson Nery da Fonseca, foi a primeira obra plurisdisciplinar e transregional publicada no Brasil. Tratava-se do Livro do Nordeste, coletânea de artigos de alguns dos mais representativos intelectuais da época, não somente de Pernambuco, reunidos sob a batuta do jovem Gilberto Freyre. Mauro Mota observou, anos depois, que esse livro teria sido o “manifesto a priori” do Movimento regionalista.

Para Oliveira Lima, um dos seus ilustres colaboradores, era o Livro do Nordeste “um repositório suculento de informações de todo o gênero acerca do século abrangido pela atividade” do Diario de Pernambuco, no qual se encontrava “o perfume da tradição de que soube impregná-lo o seu organizador, o senhor Gilberto Freyre”.

Estas são apreciações relativas ao Livro do Nordestede 1925, mas que se podem aplicar à maravilha à iniciativa que ora empreendemos, com o jornalista Múcio Aguiar, a da edição do Livro do Nordeste II, ou Livro do Bicentenário, neste ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2025.

Livro do Bicentenário será nada mais nada menos do que uma tentativa de reconstituição da trajetória do Diario de Pernambuco nos seus duzentos anos – nos cem anos tratados pelo primeiro Livro do Nordeste, mas sobretudo nos cem anos que vão de 1925 a 2025.

E para tanto buscamos, a exemplo e em emulação do próprio Gilberto Freyre, textos de intelectuais renomados e representativos, não somente de Pernambuco, mas também do Brasil e inclusive de Portugal, que propiciassem o aggionarmento daquela edição histórica de 1925.

Mas não só isso. Trata-se também este Livro do Bicentenárioou Livro do Nordeste II, de uma homenagem ao Livro do Centenário, ao seu organizador e aos seus autores. Neste sentido, o livro de 2025 gira em torno de três “entidades, que o perpassam em quase todos os seus textos, e a quem ele é dedicado. Em primeiro lugar o Diario de Pernambuco, órgão de imprensa mais antigo em circulação no hemisfério sul e nos países de língua portuguesa, que este ano comemora o seu bicentenário. Em segundo lugar, Gilberto Freyre, o mestre de Apipucos, que dispensa apresentações, e que comemora os seus 125 anos. E em terceirolast but not least, o Nordeste, conceito cuja primeira consagração talvez tenha sido a provocada pelo livro que leva seu nome, e que hoje em dia é a expressão dos anseios de uma das regiões mais essencialmente brasileiras, aquela na qual a própria brasilidade nasceu.

É em torno dessas três entidades, e desses três eixos, que o Livro do Nordeste II, ou Livro do Bicentenáriogirará, com umas poucas incursões internacionalistas, ao longo de vinte ensaios – um para cada dez anos da trajetória do Diario – escritos por gente que entende dos respectivos temas.

O livro está em elaboração, e deverá ser lançado ainda este ano. Parafraseando aquele reclame das antigas novelas, que o mestre de Apipucos também apreciava, “aguardem as cenas dos próximos capítulos”.



PS PRA: André Heráclio me fez a honra de convidar para escrever o capítulos sobre relações internacionais do Brasil, 1925-2025, na sucessão de Manuel de Oliveira Lina, que tinha escrito sobre o período 1825-1925. Confesso que tive dificuldades em finalizar, dadas as incertezas criadas por alguns contraventores do Direito Internacional na atualidade.







terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Relações internacionais do Brasil: 1825-1925, Oliveira Lima; 1925-2025, Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco, 1825-2025)

Relações internacionais do Brasil: 1825-1925, Oliveira Lima; 1925-2025, Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco, 1825-2025)


         Acima a primeira página da colaboracão do historiador, acadêmico, professor na Catholic University of America, Oliveira Lima, sobre um século de relações internacionais do Brasil, no Livro do Nordeste, organizado pelo jovem sociólogo Gilberto Freyre para o Diário de Pernambuco, em comemoração dos primeiros cem anos de existência (e resistência) desse valente jornal pernambucano, de alcance regional.
        Fui encarregado, pelo meu amigo, colega diplomata e historiador André Heráclio do Rego de redigir a continuidade dessa colaboração, cobrindo os 100 anos seguintes, ou seja, as relações internacionais do Brasil entre 1925 e 2025, para comemorar o segundo centenário do Diário de Pernambuco.
        Já comecei a trabalhar, e a primeira coisa que fiz, foi conferir, na publicação original, como tinha sido a colaboração de meu ilustre colega do Itamaraty, já entrado no MRE, mas que tratou em grande medida da diplomacia da Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros. Meu esquema e o início do trabalho seguem abaixo.

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.

Org. André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

  

Sumário: 

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

3. A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria

4. O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente

5. O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la

6. A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar

7. As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica

 

 

1. Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

        O ano em que o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII, e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido. 

        O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva. 

        O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes. Segundo os relatos historiográficos, o Diário relatou os episódios mais salientes da Revolução Praieira de 1848 e, na década seguinte, assumiu uma nítida postura abolicionista, anos à frente da resiliência escravagista em outras províncias: obviamente, se congratulou com a Lei Áurea, assim como se alinhou com o novo regime no ano seguinte à abolição. Seu primeiro centenário foi devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa.         Ele tinha começado a colaborar com o Diário desde antes da Grande Guerra, e se manteve como articulista até sua morte, em 1986. Pouco mais de dez anos após estrear como colunista, Freyre foi naturalmente escolhido para coordenar as contribuições preparadas para o Livro do Nordeste, e naturalmente convidou quem já era o principal historiador diplomático do país para relatar os feitos internacionais ocorridos até então.

        Manuel de Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo intitulado “Um século de relações internacionais (1825-1925” (p. 9-10), examinando a trajetória exterior do Brasil no decorrer dos primeiros cem anos de vida do jornal. O grande historiador pernambucano destaca os três grandes objetivos do país em sua política externa no século transcorrido desde 1825:

        ... fixar as fronteiras com as nações herdeiras do domínio espanhol; salvar a economia de um golpe que se julgava de morte, vibrado pela abolição da instituição servil; sustentar a hegemonia no Prata, obstando a formação de outro império na costa oriental da América, para isso zelando um equilíbrio que n’outra face representava um desequilíbrio. (p. 9)

 

        As fronteiras, escreveu ele, foram definitivamente assentadas já na República, “pela erudição e habilidade do Barão do Rio Branco, mas ampararam a sua especial competência a firmeza da diplomacia imperial e a segurança da anterior diplomacia portuguesa” (idem). Ele reconhece a política de intervenção platina – “o que lhe deu uma feição imperialista e provocou as duas guerras externas em que o Brasil se envolveu” –, mas entendia que “o maior erro diplomático do Império foi querer embargar o movimento centrípeto platino”, ou seja, a reconstituição do Vice-Reinado do Rio da Prata, sob o controle de Buenos Aires, ao mesmo tempo em que pretendia exercer sobre a Banda Oriental um “virtual protetorado”. Na questão da escravidão, Oliveira Lima entende que o império não foi muito efetivo na frente externa, “atraindo os raios britânicos do Bill Aberdeen”, mas que soube bem se conduzir na frente interna, levando o doloroso problema “gradualmente a cabo de modo ordeiro, honroso e modelar”, chegando mesmo a afirmar que, na questão abolicionista, “nunca contamos com partidários decididos da escravidão”. Termina por se referir aos principais casos diplomáticos das primeiras três décadas da República, celebrando a cordialidade da relação com os EUA.

 

2. A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

(...)



sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Diário de Pernambuco (1825): o jornal mais antigo da AL - Gilberto Freyre

Encontrei este anúncio (abaixo reproduzido) do leilão, em 2023, de uma edição fac-similar do livro do primeiro centenário do Diário de Pernambuco (1925), quase às vésperas do seu segundo centenário, de cuja comemoração se ocupará meu colega diplomata, o historiador André Heráclio do Rego, do IHGB, do IAHG-PE e do IHG-DF, do qual também sou membro. Aguardo instruções para também oferecer minhas homenagens a esse valoroso periódico. 

Em 1925, Gilberto Freyre já estava de volta ao Brasil, depois de ter desfrutado da amizade e dos conhecimentos de seu amigo e conterrâneo, o historiador-diplomata Oliveira Lima, lecionando então na Catholic University of America (Washington, tendo doado sua imensa biblioteca para a CUA), e que colaborou nessa edição do Centenário. Agora cabe retomar o bastão, rumo ao terceiro centenário…

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 13/12/2024

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Livro do Nordeste commemorativo do primeiro centenário do Diário de Pernambuco 1825-1925. Introdução de Mauro Motta, prefácio de Gilberto Freyre. 2ª Edição facssimilar do Arquivo Público Estadual do Recife, 1979. Aborda um grupo de estudos e de opiniões autorizadas, fixando ou comentando aspectos e tendencis da vida brasileira, em geral e da nordestina, em particular, durante o seculo vencido este anno pelo Diario de Pernambuco. Com relação ao Nordeste, constitue pequeno esforço de estimativa em torno de alguns dos valores mais característicos da região; pequeno inquérito às tendencias da vida nordestina - a ida de cinco ou seis estados cujos destinos se confundem nun só e cujas raizes se entrelaçam - durante os últimos cem anos, espécie de balanço das nossas perdas e ganhos nesse periodo. Dentre os diversos caboradores representando várias especialidades, estão Manuel Bandeira e Gilberto Freyre. Grande parte das ilustrações são de M. Bandeira, pintor e ilustrador pernambucano. Sumário completo, com autoria de cada artigo, via foto. Exemplar em grande formato; profusamente ilustrado. Brochura com 192p + LXXIII folhas de propagandas ao final do livro. Exemplar firme, com carimbo "com os cumprimetos do Arquivo Público Estadual" em duas folhas; Lombada com perdas da parte inferior e superior, a mesma área que recebeu auxílio de fita durex.

INFORMAÇÕES

sábado, 10 de junho de 2023

A construção do Brasil pelo seu maior historiador diplomático, em francês: Oliveira Lima - livro organizado por André Heráclio do Rêgo; resenha de Paulo Roberto de Almeida (Diário de Pernambuco)

 Meu trabalho mais recente, imediatamente publicado, mas de forma parcial. Transcrevo abaixo o texto completo da resenha, seguida pela imagem da resenha parcialmente publicada no Diário de Pernambuco


4410. “A construção do Brasil pelo seu maior historiador diplomático, em francês”, Brasília, 6 junho 2023, 2 p. (520 palavras). Resenha sintética do livro de André Heráclio do Rego, para o Diário de Pernambuco: Manuel de Oliveira Lima, La construction du Brésil: Essais sur l’histoire et l’identité du BrésilPrésentation et choix de textes André Heráclio do Rêgo; Préface de Denis Rolland (Paris : L’Harmattan, 2023, Collection Mondes Lusophones, 297 p.; ISBN: 978-2-14-032568-7; EAN: 9782140325687). Publicada no Diário de Pernambuco (Recife, n. 161, 10-11 de junho de 2023, p. 10). Relação de Publicados n. 1512.



A construção do Brasil pelo seu maior historiador diplomático, em francês

 

Manuel de Oliveira Lima, La construction du Brésil : Essais sur l’histoire et l’identité du Brésil (Paris: L’Harmattan, 2023, 297 p.). Présentation et choix de textes André Heráclio do Rêgo; Préface de Denis Rolland (Paris : L’Harmattan, 2023, Collection Mondes Lusophones, 297 p.; ISBN: 978-2-14-032568-7; EAN: 9782140325687).

 

Oliveira Lima, um pernambucano de origem portuguesa, mudou criança ainda para a terra do seu pai e fez sua formação universitária em Portugal; sempre se sentiu brasileiro de coração e pernambucano de devoção: sua primeira obra foi uma história social de Pernambuco. Era republicano na monarquia e virou monarquista na República, razão, aliás, de sua precoce aposentadoria na carreira diplomática, na qual adentrou no começo do regime republicano, pouco depois acolhido na Academia Brasileira de Letras (tendo ocupado uma cadeira que poderia ter ido para o Barão do Rio Branco, razão, talvez, de um afastamento que também não o ajudou nos anos de apogeu do Barão como chanceler). Construiu uma brilhante carreira de historiador diplomático, podendo serem destacados os clássicos sobre D. João VI no Brasil (1908) e o Movimento da Independência (1922), ademais do Formação Histórica da Nacionalidade Brasileira (conferências na Sorbonne em 1911, depois publicadas em francês, português e espanhol, mais tarde aumentadas, em inglês, em 1914). 

Mas ele fez muito mais, sob a forma de artigos, palestras, conferências e notas de pesquisa sobre diferentes aspectos da história do Brasil ao longo de sua atribulada carreira diplomática, sempre combinada a conexões acadêmicas, redigindo textos diretamente em inglês, em francês, ou até em espanhol. como estes textos francófonos, reunidos e apresentados pelo pernambucano, diplomata e historiador, André Heráclio do Rego, admitido em dois institutos históricos regionais, o de seu estado e o do Distrito Federal, ademais do velho IHGB nacional, do Rio de Janeiro. La construction du Brésil são ensaios que Oliveira Lima foi redigindo ao longo de suas interações acadêmicas e jornalísticas, mas a organização do livro não é cronológica serial – ou seja, não seguem a data de sua redação – e sim cronológica linear, ou seja, seguem o processo de construção da identidade nacional.

André, em sua introdução, descreveu a vida de Oliveira Lima em 5 páginas, sua obra geral em mais oito, mas dedicou trinta páginas para tratar dos treze textos que ele escreveu, entre 1908 e 1914, diretamente em francês, indo da viagem de Cabral a Machado de Assis e Joaquim Nabuco e a um denso ensaio sobre a formação da América Latina e a concepção internacional de seus fundadores (com uma única exceção, um artigo de 1896, sobre os primeiros anos da República). 

O principal mérito do intelectual diplomático pernambucano dos séculos XX e XXI está, precisamente, em reunir textos do intelectual diplomático pernambucano dos séculos XIX e XX que estavam dispersos em várias fontes, e que confirmam a excelência do “Dom Quixote Gordo”, como o caracterizou Gilberto Freyre. André não é exatamente um Quixote, e sim um diplomata intelectual, sendo tão magro quanto o cavaleiro e seu Rocinante, mas sua bagagem intelectual acumulada em livros, artigos e seminários não seriam suportáveis por uma mula como a do Sancho Pança. Sua seleção de textos e a introdução a cada um dele, confirmam solidamente tal argumento.  

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Brasília, 4410, 7/06/2023, 2 p.]