O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador 200 anos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 200 anos. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Diario de Pernambuco, 200 anos: 1825-2025 - Livro do Nordeste II, André Heráclio do Rego, Mucio Aguiar (orgs.) - Paulo Roberto de Almeida

 Recebi o honroso convite que agora reproduzo, para minha participação no Livro do Nordeste II, comemorativo dos 200 anos do mais antigo jornal da América Latina, o glorioso Diário de Pernambuco, cujo primeiro centenário foi comemorado cem anos atrás, em 1925, com o Livro do Nordeste, coordenado pelo então jovem sociólogo Gilberto Freyre, colaborador do jornal desde 1913 até sua morte, em 1987.



Minha colaboração já está escrita, mas estou revisando o texto, do qual reproduzo apenas o esquema das seções: 

Um século de relações internacionais do Brasil, 1925-2025

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Colaboração a livro comemorativo do Bicentenário do Diário de Pernambuco.

Organização: André Heráclio do Rego e Múcio Aguiar.

 

Sumário: 

Prolegômeno: a persistência de uma folha de província

A primeira política externa republicana: fundamentos da doutrina diplomática

A diplomacia da República de 1946: o alinhamento pragmático da Guerra Fria

O primeiro exercício de política externa independente: um padrão consistente

O ecumenismo responsável da política externa autônoma e orgulhosa de sê-la

A diplomacia da redemocratização: sem os tabus do regime militar

As relações internacionais do Brasil numa era de fragmentação geopolítica




segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

1825: janeiro: fuzilamento de Frei Caneca; agosto: tratado Império do Brasil-Reino de Portugal: novembro: Diário de Pernambuco

1825-2025: 200 anos da história do Brasil no mais antigo jornal da América Latina

 

         O ano em que o mais antigo jornal da América latina, o Diário de Pernambuco foi fundado, 1825, começou com o fuzilamento – à falta de verdugos que se dispusessem a enforcá-lo – do mais importante revolucionário da Confederação do Equador, Frei Caneca, o autor intelectual das posições ilustradas defendidas por um movimento que já vinha da insurreição independentista de 1817 e que se prolongou na mais consistente tentativa, em 1824, de fundar o novo Estado brasileiro em bases institucionais mais amplamente democráticas, federais, do que a monarquia unitária que se instalou sob a mesma dinastia que vinha explorando a maior colônia portuguesa desde a Restauração do Reino, no século XVII e que continuava controlando-a desde a instalação da corte no Rio de Janeiro e sob o Reino Unido. 

        O ano também contemplou, em agosto, o tratado bilateral entre o Império do Brasil e o Reino de Portugal, que consolidou, não exatamente a independência, que já estava assegurada formalmente desde 1822 – na prática desde muito antes, como sugere Barbosa Lima Sobrinho, ao examinar a trajetória do Correio Braziliense, de Hipólito da Costa –, mas o reconhecimento do novo Estado pelas demais monarquias europeias, um processo que já tinha começado nas Américas dois anos antes, e até mesmo por um reino africano, como relatou o embaixador Alberto da Costa e Silva. 

        O ano também assistiu, em novembro, à fundação do Diário de Pernambuco, que passaria a seguir, a partir de então, os assuntos relevantes da província, do Brasil e do mundo no decorrer dos cem anos seguintes, até que seu primeiro centenário fosse devidamente comemorado com a publicação do Livro do Nordeste, coordenado por um jovem sociólogo pernambucano, Gilberto Freyre, recém retornado ao Brasil depois de vários anos de estudos nos Estados Unidos e na Europa. O grande historiador pernambucano Oliveira Lima, então professor na Catholic University of America, em Washington, assinou o capítulo sobre as relações internacionais nos primeiros cem anos cobertos pelo jornal. 

        Acabo de ser convidado para assinar um artigo sobre os cem anos das relações internacionais do Brasil desde 1925 até este ano. Não sou exatamente um êmulo de Oliveira Lima, o mais importante historiador diplomático do Brasil, mas vou me esforçar para espelhar-me em sua contribuição feita ao livro editado por Gilberto Freyre. O novo Livro do Nordeste, a ser editado, pelo Diário de Pernambuco nos seus 200 anos, por meu amigo e colega André Heráclio do Rego, e pelo jornalista Múcio Aguiar, pretende reproduzir um pouco dessa história bicentenária.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13 de janeiro de 2025

 

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Confederação do Equador: 200 anos; seminário comemorativo

O seminário terá transmissão dias 2 e 3/07, pelo IAHG-PE neste link: 

https://youtube.com/live/PHdpFctXyrI?feature=share



Aqui a informação do Senado: 

Confederação do Equador: há 200 anos, Pernambuco criou 'Brasil alternativo' ao Império de Pedro I

Ricardo Westin
Publicado em 21/6/2024

Em 1822, quando o Brasil estava à beira da separação de Portugal, diferentes projetos políticos para a nova nação entraram em disputa.

Um dos projetos previa que a antiga Colônia portuguesa pouco mudaria: a nova nação seria monárquica, o território ficaria intacto, a escravidão permaneceria como a base da economia e o poder não seria repartido entre as províncias, mas concentrado nas mãos do governo central, no Rio de Janeiro.

Os brasileiros conhecem bem a história. No fim das contas, foi justamente esse o projeto político vencedor, idealizado pela elite do eixo Rio-Minas-São Paulo e executado pelo imperador D. Pedro I a partir do grito do Ipiranga.

O que os brasileiros não conhecem são os projetos perdedores, aqueles “Brasis alternativos” que, apesar de possíveis, o curso da história não permitiu que se tornassem realidade.

Tais projetos podem ser pelo menos vislumbrados quando se olham as outras histórias do continente. A Colômbia, a Argentina e outros vizinhos se fragmentaram em diferentes repúblicas. O Haiti foi palco de uma rebelião negra que massacrou os brancos, declarou o país independente e aboliu a escravidão. Cuba se manteve escravista e unida à Espanha. Os Estados Unidos entregaram o poder de mando aos estados, não ao governo nacional.

A verdade é que houve, sim, um “Brasil alternativo” que conseguiu sair do papel. Foi a Confederação do Equador, que costuma aparecer nos livros didáticos de história como um episódio menor dentro do Primeiro Reinado (1822-1831).

Fonte: Agência Senado 


terça-feira, 25 de junho de 2024

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

200 Anos da primeira Assembleia Constituinte - seminário na CD, 7-9 novembro 2023

 

 

 

 

 

Seminário comemorativo dos 200 anos da Assembleia Constituinte de 1823


Antecedentes e Consequências 


Câmara dos Deputados e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro 

Brasília, 7 a 9 de novembro de 2023

 

 

MINUTA DA PROGRAMAÇÃO

1º dia – de novembro (terça-feira)

11

Sessão Solene – Plenário Ulysses Guimarães

• Obliteração do selo comemorativo
• Lançamento da medalha
• Lançamento dos livros 

Abertura e visita à exposição no Corredor Tereza de Benguela  

18h30

Palestra de abertura do seminário – Salão Negro

• Arno Wehling – Professor, acadêmico, advogado e historiador brasileiro
• Malcom Forest  Músico, ator, compositor, cantor, diretor de cinema e tradutor

19h30

Apresentação da Orquestra Sinfônica da Aeronáutica

21h

Coquetel de Congraçamento 

 

2º dia – de novembro (quarta-feira) - Auditório Nereu Ramos

9h às 11h30

Mesa 1 – O Movimento Constitucional em Portugal e no Brasil 

 

Rafael Nogueira – Jornalista, autor de diversos livros de divulgação sobre temas históricos e presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC)

Jorge Caldeira - Historiador, editor, autor de livros de grande sucesso sobre a História do Brasil

Rui de Figueiredo Marcos – Professor da Universidade de Coimbra

José Theodoro Mascarenhas Menck – Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados

Presidência da mesa: Dep. Lafayette de Andrada 

12h às 14h

ALMOÇO 

14h às 16h30

Mesa 2 – Os desafios da Assembleia Constituinte de 1823

 

Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves – Professora universitária e historiadora brasileira

Alexandre Mansur Barata Professor titular do Departamento de História da Universidade Federal de Juiz de Fora e colaborador do Programa de Pós-Graduação em História

Cecília de Salles Oliveira - Pesquisadora e historiadora do Departamento de História da Universidade de São Paulo

José Oliveira Anunciação - Taquígrafo, supervisor de pronunciamentos aposentado da Câmara dos Deputados e ex-Diretor do Departamento de Taquigrafia, Revisão e Redação de 2001 a 2011.

Presidência da mesaDep. Patrus Ananias 

16h30 às 17h

INTERVALO PARA CAFÉ 

17h às 19

Mesa 3 – O legado da Constituinte de 1823

 

Fábio Siebeneichler de Andrade – Professor do programa de pós-graduação da PUC/RS.

Marcelo Casseb Continentino – Professor Adjunto da Faculdade de Direito da Universidade de Pernambuco (FCAP-UPE). Professor do Programa de Pós-Graduação em Direito (Mestrado), da Universidade Federal Rural do Semiárido UFERSA

Pablo Antônio Iglesias Magalhães - Professor associado à Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB). 

Presidente da mesa: Dep. Soraya Santos 

 

3º dia  9 de novembro (quinta-feira) - Auditório Nereu Ramos

9h às 11h30

Mesa 4 –O ideário Jurídico da Constituinte de 1823

 

Joaquim Levi – Procurador da Fazenda 

José Bonifácio de Andrada – Subprocurador-Geral do Ministério Público Federal (MPF) e Vice-Presidente do Conselho do MPF. 

Paulo Roberto de Almeida – Diplomata e escritor

Gilmar Mendes – Ministro do Supremo Tribunal Federal 

Presidente da mesa: Dep. Arlindo Chinaglia

12h às 14h

ALMOÇO

14h às 16h30

Mesa 5 – Os atores e os personagens da Assembleia Constituinte de 1823

 

Cecília Cordeiro – Possui Bacharelado e Licenciatura em História pela Universidade de Brasília, Mestrado e Doutorado em História

André Heráclio do Rêgo – Diplomata e historiador, autor de livros sobre família e coronelismo, representEntãoação dos sertões e sobre o historiador Manuel de Oliveira Lima. 

Miriam Dolnikoff - professora de história da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Cebrap. Especialista no período imperial brasileiro.

Bernardo Felipe Estellita Lins Consultor legislativo da Câmara dos Deputados.

Presidente da mesa: Dep. Luiz Philippe de Orleans e Bragança

16h30 às 17h

INTERVALO PARA CAFÉ 

17h às 18h30

Mesa 6 -  A Dissolução da Constituinte 

 

Júlio Cezar Vellozo – Historiador do Direito, mestre e doutor pela USP. Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e dos cursos de graduação e pós-graduação da FADISP

Christian Lynch – bacharel em direito pela UNIRIO, mestre em direito pela PUC-RJ e doutor em ciência política pelo IESP-UERJ.

João Paulo Pimenta – Professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo desde 2004. 

Antônio José Barbosa - Consultor Legislativo aposentado do Senado Federal e professor do Departamento de História da Universidade de Brasília desde 1987

Presidente da mesaDep. Orlando Silva 

19h 

ENCERRAMENTO

 

 

 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Pedro e Bonifácio, às vésperas dos 200 anos - Luiz Henrique de F. Carneiro (Diário do Poder)

Pedro e Bonifácio, às vésperas dos 200 anos

Luiz Henrique de F. Carneiro

Diário do Poder, 15/02/2022 23:09

 

Numa noite dessas, José Bonifácio desceu de seu pedestal de estátua, no Largo de São Francisco de Paula, e foi visitar o imperial e real Pedro I, na Praça Tiradentes.  Este desceu do cavalo, olhou ao redor com muita saudade, e foi logo perguntando ao seu antigo ministro notícias sobre as festas que tanto admiravam. 

– Qual o que, Majestade! Nem o Barão do Rio Branco, o Juca, consegue!  Atualmente só temos notícias da tal pandemia e da confusão instalada no país e tem mais, coisa alguma encontro em que se fale de nós, da Independência ou do Projeto de Nação. 

Pedro I retrucou: 

– Bonifácio, este país nasceu envolto em complicações diplomáticas. A esta nossa terra privilegiada da natureza pode ser aplicado o conto onde a despeito de não haver sido convidada para o batizado de uma criança, uma Fada raivosa propõe-se frustar todos os mimos que lhe fizeram as boas fadas. Terás grandeza, formosura opulência, glória mesmo –  exclamaria ela – mas não terás descanso, porque serás alvo de constantes ambições territoriais e o pasto de contínuos conflitos militares, roubos, fraudes, maracutaias e gigantescas trapalhadas políticas. 

A esta altura, Bonifácio interrompeu Pedro I e falou: 

– Majestade, peço perdão, olha quem vem por ali na Rua 7 de setembro.  É o Lima Barreto e o Machado, vou chamá-los. 

– E aí Lima, quais são as novidades? E você Machado, qual a pressa?, perguntou Pedro I. 

– Pedrinho, o Maneco perdeu o vapor Hermes para Campos e vai nos encontrar para um papo com paraty na Ouvidor, vamos?, falou Lima. 

– Qual o quê Lima, Sua Majestade Imperial e o Ministro Bonifácio têm mais o que fazer! De mais, vou contar a aventura para chegar aqui vindo do Cosme Velho,  poderou Machado. 

– O progresso, Majestade, o progresso, a tecnologia! 

Bem, subi no bonde puxado por dois burros, um à esquerda e outro à direita do condutor.  Notei que os burros conversavam, mas ora o da direita ora o da esquerda levantava o tom de voz.   E eu ali, sentado, cabreiro, aborrecido, mas prestando muita atenção e tentando a todo custo entender o que os burros falavam.  Sim, a primeira coisa foi identificar que a língua comum era o Houyhnhnm. 

Bem, os assuntos eram burrices o tempo todo e nada fazia sentido.  Já na altura da Lapa, consegui me libertar deste suplício burrificante e, ao olhar para a frente, vi um bonde, já bem distante, com tração elétrica, mas este já ia bem mais  acelerado e o perdi de vista.   O condutor do bonde, falando uma língua que nem eu nem os burros entendíamos, balbuciou algo, mas como já estava na Carioca, nem perdi meu tempo e saltei do bonde. 

A esta altura e já faminto, Lima exclamou: 

– Pedrinho e Zé Bonifácio, me deêm licença porque uma bela mesa e prosa nos aguardam; vamos Machado que o Maneco, o Oliveira Lima, a Júlia Lopes e a Maria Laura nos esperam. Até outro dia, Pedrinho e Zé! 

– Feliz o Lima com sua leveza e coitado do Machado que perde tempo e o bonde da história, do progresso, da tecnologia e da mais importante reforma que é a abertura econômica enquanto tem que aturar burros da esquerda e da direita falando a mesma língua Houyhanhnm e um condutor do bonde ininteligível. Bonifácio, sabe de uma coisa?  Não faço mais “independências”, fui! 

E José Bonifácio e D. Pedro I, às vésperas do aniversário de 200 anos da Independência do Brasil, voltaram para suas estátuas no Largo de São Francisco de Paula e na Praça Tiradentes. 


(Texto ficcional adaptado de obras dos geniais Lima Barreto, Machado de Assis e Manoel de Oliveira Lima)

Luiz Henrique de F. Carneiro, empresário e economista, é formado na FEA/UFRJ,  PUC/RJ e Universidade de Chicago. Seu e-mail:  luiz.henrique@lvcinvestimentos.com

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Pasteur. La foi dans la science - Revue L'Histoire (janvier 2022)

A França vai comemorar os 200 anos do nascimento de Pasteur reafirmando sua fé na ciência.

No Brasil, não vamos "comemorar" os 200 anos da nossa Independência porque o desgoverno do Bozo é tudo o que não gostaríamos nesse ano símbolo, a destruição das instituições, o desmantelamento da governança, o estupro orçamentário e, sobretudo, a ANTICIÊNCIA, o desprezo pelas mais rudimentares normas sanitárias, cuidados profiláticos e investimentos em vacinas, o que levou o Brasil a ter, proporcionalmente, uma das maiores taxas de mortalidade por Covid do mundo, senão a maior.

E o capitão continua negacionista e sabotando vacinas para crianças, e os necessários cuidados em relação à Ômicron. O Brasil se desfez sob o Bozo, um psicopata incurável.

Paulo Roberto de Almeida



Pasteur. La foi dans la science 

La pandémie de Covid-19 a rebattu les cartes : alors qu’on croyait possible de les éradiquer, les maladies infectieuses se rappellent à nous. Et avec elles l’importance du vaccin. C’est une des nombreuses raisons de commémorer en 2022 le bicentenaire de la naissance de Louis Pasteur à Dole, dans le Jura.

Celui-ci est devenu, de son vivant déjà, une légende, celui qui a vaincu la mort. Rien, il est vrai, ne manque au portrait du saint laïque, fils du peuple, prêt à tout pour faire triompher la vérité au bénéfice du bien-être de l’humanité.

Les travaux des historiens depuis trente ans ont nuancé ce portrait. Pasteur n’est pas un génie isolé ; il s’est appuyé sur de fidèles collaborateurs et sur les travaux de ses prédécesseurs. D’autres acteurs essentiels ont contribué à la « révolution pasteurienne », en premier lieu son grand rival allemand, Robert Koch. Pasteur fut aussi un entrepreneur avisé et sut faire preuve d’un grand sens de la communication.

Reste une œuvre scientifique immense. Et une conception de la science dont nous sommes les héritiers.

► Découvrir ce numéro

 

sábado, 28 de novembro de 2020

Friedrich Engels, o general e o verdadeiro criador da economia marxista - Ruan de Souza Gabriel (O Globo)

Por que Friedrich Engels, que faria 200 anos neste sábado, não era um mero coadjuvante de Karl Marx

Especialistas lembram como a modéstia do pensador alemão, responsável pela divulgação e formulação da teoria marxista, cristalizou essa impressão e ofuscou um teórico de primeira linha

 Ruan de Souza Gabriel

O Globo, 28/11/2020

https://oglobo.globo.com/cultura/por-que-friedrich-engels-que-faria-200-anos-neste-sabado-nao-era-um-mero-coadjuvante-de-karl-marx-24769966

 

Numa carta a um camarada do Partido Social - Democrata alemão, remetida em 1884, um ano após a morte de Karl Marx, Friedrich Engels comentou sua prolífica colaboração com o autor de "O capital" e referiu a si próprio como "o segundo violino". Em outra carta, escreveu: "Marx era um gênio; nós, no máximo, tínhamos talento".

 

A modéstia de Engels contribuiu para cristalizar sua imagem como a de um mero ajudante que pagava as contas enquanto seu amigo se empanturrava de dialética. Tal imagem, contudo, cai por terra sob uma análise mais robusta. Engels, cujo bicentenário de nascimento é comemorado neste sábado (28) — a data está sendo lembrada com lançamentos de obras importantes dele e sobre ele —, era um revolucionário dedicado e um teórico de primeira linha, que ainda anima estudiosos do marxismo, do feminismo e da ecologia

 

Quando publicou o livro "Engels, o segundo violino", em 1995, o historiador Osvaldo Coggiola, professor da Universidade de São Paulo (USP), quase optou por outro título para afastar a ideia de que ele fosse só um coadjuvante: seria "Engels, o General". O interesse de Engels por estratégia militar lhe rendeu esse apelido na casa de Marx. 

 

Autor de uma elogiada biografia de Engels, publicada em dois tomos (1920 e 1934), e cuja edição condensada a Boitempo lança agora no Brasil, o alemão Gustav Mayer especulou que as metáforas militares às quais Marx recorria em seus textos eram influência do "General". No ano que vem, a editora publica os textos da dupla sobre a Guerra Civil Americana (1861-1865).

 

Segundo Coggiola, Engels "tinha ideias próprias e às vezes se adiantava a Marx". Em 1844, ele já escrevia sobre economia política enquanto o outro ainda fazia a crítica da filosofia .

 

— Engels era um teórico com todas as letras. É errado imaginar Marx e Engels como uma dupla caipira, na qual Marx é o Zezé Di Camargo, com a voz afinada, e Engels é o Luciano tocando a viola, ou melhor, violino — compara Coggiola.

 

Nascido numa família de industriais alemães, Engels frequentou a universidade esporadicamente, mas era um autodidata competente. Trabalhou na fábrica da família em Manchester, na Inglaterra, até amealhar fortuna suficiente para sustentar a si próprio e a Marx e ainda contribuir para as lutas operárias. Conhecia de perto o proletariado e, em 1845, três anos antes do "Manifesto comunista", escreveu "A situação da classe trabalhadora na Inglaterra". 

 

Depois da morte de seu camarada, editou o segundo e o terceiro volumes do "Capital". Em dezembro, a Expressão Popular lança "Cartas sobre 'O capital'", reunião da correspondência dos dois amigos entre si e também com outros revolucionários acerca da obra-prima do materialismo dialético.

 

Segundo Ricardo Musse, do departamento de Sociologia da USP, Engels não apenas contribuiu com a elaboração da teoria marxista (na década de 1840, ele e Marx escreveram textos incontornáveis a quatro mãos), mas também para convertê-la na política adotada pelos partidos operários, que, à época, dividiam-se em seguidores da dupla alemã, dos anarquistas e de outras correntes socialistas.

 

— Engels é um formulador da teoria e da prática marxista — diz Musse. — Além de divulgar o marxismo, escreveu textos importantes, como sua "Introdução" a "As lutas de classe na França de 1848 a 1850", de Marx, que influenciou as principais vertentes políticas marxistas do século XX: a teoria da revolução de Lênin, a teoria da hegemonia de Gramsci e a social-democracia.

 

Feminismo e ecologia

Para a socióloga Maria Lygia Quartim de Moraes, Engels não era nenhum "segundo violino", apenas "modesto". E sempre atual.

 

— Engels foi fundamental para nós, feministas dos anos 70. Em "A origem da família, da propriedade privada e do Estado", de 1884, ele liga a opressão da mulher à propriedade privada — explica Maria Lygia. — No século XIX, a moda era o pensamento abstrato, e os textos dele têm um trato com dados da realidade, que a contemporaneidade aprecia. Ele também trata com lucidez da ecologia.

 

Os estudos de Engels sobre as ciências naturais, realizados entre 1873 e 1886, só foram publicados em 1925, como "Dialética da natureza", recém-lançada pela Boitempo. Segundo a pesquisadora Laura Luedy, da Unicamp, Engels ambicionava organizar as descobertas empíricas numa teoria e desbancar a pretensão de "isenção" da ciência .

 

— Engels apontou as consequências nefastas da dominação da natureza com vistas à acumulação continuada de capital, e defendia que o conhecimento das leis da natureza deveria ser aliado a uma revolução do modo de produção e da ordem social — observa Laura. 

 

— Nos anos 80, a centralidade da ecologia no projeto marxista foi reconhecida, sobretudo, pela escola da ruptura metabólica" e a "ecologia-mundo", que recuperam as teses de Engels sobre dialética e ordem natural.

 

O texto "O papel do trabalho na hominização do macaco", incluído na "Dialética", no qual Engels junta o marxismo e a Teoria da Evolução de Charles Darwin, é um exemplo de que ainda soa bem a música do "segundo violino". "Não fiquemos demasiado lisonjeados com nossas vitórias humanas sobre a natureza", alertava Engels. "Esta se vinga de nós por toda vitória desse tipo".

_______________________________________________

 

Lançamentos:


"Friedrich Engels: uma biografia"

Autor: Gustav Mayer. Tradução: Pedro Davoglio. Editora: Boitempo. Páginas: 336. Preço: R$ 67.


"Dialética da natureza"

Autor: Friedrich Engels. Tradução: Nélio Schneider. Editora: Boitempo. Páginas: 400. Preço: R$ 83.


"Cartas sobre 'O capital'"

Autores: Karl Marx e Friedrich Engels. Tradução: Leila Escorsim. Editora: Expressão Popular. Páginas: 384. Preço: R$ 45.