Essa decadência moral ocorreu, mais ou menos, em 1968, quando a URSS invadiu a República Tchecoslovaca, então tentando construir oo que foi chamado de "socialismo a face humana" (e eu não estou considerando os traumas de 1953, na RDA, e o horror da invasão soviética na Hungria, em 1956, que já tinham determinado a saída de vários "marxistas" dos PCs em vários países).
Ou seja, foi só depois de muitos anos, após tudo isso, que esse "filósofo" foi descobrir que a democracia é um "valor universal", só em 1979???!!!
Demorou tanto para "descobrir" isso? Lento esse "filósofo", não é?
De todo modo ele não era um "filósofo"; no máximo, poderia ser considerado um professor de filosofia, e talvez apenas de marxismo, e ainda assim com tremendas falhas, como vim a descobrir.
Chamá-lo, por outro lado, de "intelectual marxista" é uma contradição nos termos. Se ele era intelectual, não podia ser marxista; e se era marxista, não podia ser intelectual. Concordam?
As contradições são insanáveis, como ainda revelado numa entrevista recente, na qual ele ainda reclamava que a China estava aumentando a desigualdade, sem considerar os tremendos progressos sociais havidos naquela última ditadura imperial que o marxismo jamais produziu.
Até 1992, ou 1993, eu ainda pensava que era possível "dialogar" com esses "intelectuais marxistas", num debate de ideias e de confrontação dessas ideias à realidade.
Pois foi justamente o C.N. Coutinho que me provou que não.
Estávamos, portanto, em 1992 ou 1993, e eu fui assistir uma palestra do próprio na UnB. Fui não tanto pelas ideias marxistas ou gramscianas, pois as conhecia todas, mas pelo que ele poderia dizer de prático, ou de ligado ao mundo real.
Com efeito, logo depois da primeira derrota de Lula e do PT na campanha presidencial de 1989, o PT, sob direção e mão firme dos cubanos, havia organizado o Foro de São Paulo, e logo em seguida um "governo paralelo", para vigiar o governo Collor e propor políticas alternativas.
Pois o C.N. Coutinho era o "ministro paralelo" das relações exteriores, ou seja, o chanceler do governo paralelo do PT, e como tal talvez tivesse algo de inteligente a dizer sobre as relações internacionais.
Fiquei totalmente boquiaberto, surpreendido, estupefato quando ele -- na maior demonstração de ignorância que eu já tinha visto, ou então de má-fé absoluta -- disse que a situação deplorável na qual vivia então a Somália -- que saía de mais de 25 anos de uma ditadura marxista-leninista -- se devia à dominação capitalista e imperialista sobre a África exercida pelas potências imperiais. Arregalei os olhos e prestei atenção: seria possível que esse chanceler paralelo não soubesse disso? Justamente o mais marxista-leninista dos governos da África -- junto com o Congo Brazaville e algumas outras ditaduras menores -- tinha sua situação deplorável atribuída ao imperialismo???!!!
A partir desse momento, passei a não ter nenhum respeito por esse "filósofo marxista", inclusive por várias outras barbaridades que disse na mesma palestra.
Achei que não era mais possível manter qualquer tipo de diálogo com quem deformava, mentia, mistificava, de forma tão canhestra e tão desonesta a realidade dos países, numa demonstração de anti-imperialismo primário, infantil, aliás totalmente surrealista, nesse caso da Somália.
Passe a considerar que esse tipo de gente é capaz de qualquer coisa.
Acho que, pelo que veio depois, essa gente é mesmo capaz de qualquer coisa, de mentir descaradamente, o de revelar toda a sua ignorância senil.
Paulo Roberto de Almeida