Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 23 de outubro de 2018
Premio Nobel de Economia 2018: Nordhaus e Romer
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
Angus Deaton e o estudo da pobreza (e da fuga dela) - André Azevedo Alves (Portugal)
O Prémio Sveriges Riksbank em memória de Alfred Nobel de 2015 foi atribuído a Angus Deaton, doutorado pela Universidade de Cambridge e Professor há mais de três décadas na Universidade de Princeton. Deaton começou por ser essencialmente um microeconomista centrado na análise do consumo e do rendimento que, gradualmente, alargou o seu campo de investigação a questões de maior abrangência no domínio da economia política institucional e do estudo da pobreza e do desenvolvimento.
A fundamentação do prémio destaca três contributos distintos, mas todos relacionados com a análise do consumo. O primeiro foi o seu trabalho conjunto com John Muellbauer no âmbito da estimação da procura corporizado no “Almost Ideal Demand System” apresentado na American Economic Review em 1980. O segundo foi o seu contributo para a análise da relação entre consumo e rendimento, prosseguindo linhas de investigação avançadas por economistas como Milton Friedman e Franco Modigliani e focando-se em particular na sua avaliação. O terceiro, e porventura mais saliente, foi a sua investigação sobre a pobreza, a comparação de níveis de vida e o desenvolvimento, com amplo suporte empírico em inquéritos aos agregados familiares.
O trabalho de Angus Deaton com vista ao aperfeiçoamento das comparações de níveis de vida tem-se revelado especialmente importante para um melhor entendimento dos diferentes níveis de desenvolvimento assim como da evolução dos mesmos ao longo do tempo. Neste domínio, e em boa parte devido aos seus contributos, a compreensão das semelhanças e diferenças nos padrões de consumo de bens e serviços entre sociedades e no interior de uma mesma sociedade tem assumido uma relevância crescente tanto a nível da investigação como enquanto guia para as políticas públicas.
Muitas das principais ideias de força do trabalho de Angus Deaton ao longo das últimas décadas encontram-se reunidas de forma (relativamente) acessível no livro The Great Escape: Health, Wealth, and the Origins of Inequality (Princeton University Press, 2013). Nessa obra, de difícil catalogação nos moldes ideológicos tradicionais mas com numerosos contributos de grande valor, Deaton procura explicar o extraordinário processo de fuga à miséria e pobreza generalizada que se desenvolveu ao longo dos últimos três séculos. Os avanços em termos de crescimento económico e qualidade de vida foram extraordinários e sem precedente na longa história da humanidade, tendo também sido acompanhados do aparecimento de desigualdades sem precedentes entre diferentes partes do mundo.
A abordagem de Angus Deaton aplicada à análise das inovações e dos sucessos (assim como dos insucessos) civilizacionais dos últimos séculos pode ser legitimamente inserida na mesma categoria, em sentido lato, de estudos de economia política institucional com abordagem interdisciplinar desenvolvidos por autores como Mancur Olson, William Easterly ou Elinor Ostrom.
Num tópico particularmente controverso – o da ajuda internacional ao desenvolvimento – Deaton alinha em grande medida com Easterly na crítica enérgica aos efeitos prejudiciais dessa ajuda sobre o desenvolvimento institucional dos países mais pobres. Sem deixar de reconhecer os efeitos positivos de curto prazo que as transferências dos países mais ricos para os mais pobres podem ter em matérias importantes como os cuidados de saúde, Deaton alerta para os graves danos que essas transferências produzem a nível institucional. De facto, ao propiciar o desenvolvimento e perpetuação de estruturas rentistas e de governos opressivos e ineficazes, a ajuda internacional pode constituir-se como um dos principais obstáculos ao desenvolvimento. A respeito destes temas, vale também a pena ler o recente texto de Angus Deaton publicado na Review of Austrian Economics intitulado “On Tyrannical Experts and Expert Tyrants”, motivado precisamente pelo livro The Tyranny of Experts, de William Easterly.
Globalmente considerados, os contributos de Angus Deaton são um exemplo do melhor que a ciência económica contemporânea tem para oferecer, conjugando o individualismo metodológico, uma sólida base conceptual e o trabalho empírico rigoroso e devidamente sustentado.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
domingo, 18 de outubro de 2015
Premios Nobel de Economia: a lista completa (NYT)
Past Winners of the Nobel Memorial Prize in Economic Science
Compiled: The New York Times, October 12, 2015“For his analysis of consumption, poverty and welfare.”
“For his analysis of market power and regulation.”
“For their empirical analysis of asset prices.”
“For the theory of stable allocations and the practice of market design.”
“For their empirical research on cause and effect in the macroeconomy.”
Peter A. Diamond, Dale T. Mortensen and Christopher A. Pissarides
“For their analysis of markets with search frictions.”
“For his analysis of economic governance, especially the boundaries of the firm.”
Leonid Hurwicz, Eric S. Maskin and Roger B. Myerson
“For having laid the foundations of mechanism design theory.”
Robert J. Aumann and Thomas C. Schelling
“For having enhanced our understanding of conflict and cooperation through game-theory analysis.”
Finn E. Kydland and Edward C. Prescott
“For their contributions to dynamic macroeconomics: the time consistency of economic policy and the driving forces behind business cycles.”
Robert F. Engle III
“For methods of analyzing economic time series with time-varying volatility (ARCH).”
“For methods of analyzing economic time series with common trends (co-integration).”
Daniel Kahneman
“For having integrated insights from psychological research into economic science, especially concerning human judgment and decision making under uncertainty.”
“For having established laboratory experiments as a tool in empirical economic analysis, especially in the study of alternative market mechanisms.”
George A. Akerlof, A. Michael Spence and Joseph E. Stiglitz
“For their analyses of markets with asymmetric information.”
“For his development of theory and methods for analyzing discrete choice.”
Robert A. Mundell
“For his analysis of monetary and fiscal policy under different exchange-rate regimes and his analysis of optimum currency areas.”
James A. Mirrlees and William Vickrey
“For their fundamental contributions to the economic theory of incentives under asymmetric information.”
Robert E. Lucas Jr.
“For having developed and applied the hypothesis of rational expectations, and thereby having transformed macroeconomic analysis and deepened our understanding of economic policy.”
John C. Harsanyi, John F. Nash Jr. and Reinhard Selten
“For their pioneering analysis of equilibria in the theory of noncooperative games.”
Robert W. Fogel and Douglass C. North
“For having renewed research in economic history by applying economic theory and quantitative methods in order to explain economic and institutional change.”
Gary S. Becker
“For having extended the domain of microeconomic analysis to a wide range of human behavior and interaction, including nonmarket behavior.”
Ronald H. Coase
“For his discovery and clarification of the significance of transaction costs and property rights for the institutional structure and functioning of the economy.”
Harry M. Markowitz, Merton H. Miller and William F. Sharpe
“For their pioneering work in the theory of financial economics.”
Trygve Haavelmo
“For his clarification of the probability theory foundations of econometrics and his analyses of simultaneous economic structures.”
Maurice Allais
“For his pioneering contributions to the theory of markets and efficient utilization of resources.”
James M. Buchanan Jr.
“For his development of the contractual and constitutional bases for the theory of economic and political decision making.”
Richard Stone
“For having made fundamental contributions to the development of systems of national accounts and hence greatly improved the basis for empirical economic analysis.”
Gérard Debreu
“For having incorporated new analytical methods into economic theory and for his rigorous reformulation of the theory of general equilibrium.”
George J. Stigler
“For his seminal studies of industrial structures, functioning of markets, and causes and effects of public regulation.”
James Tobin
“For his analysis of financial markets and their relations to expenditure decisions, employment, production and prices.”
Lawrence R. Klein
“For the creation of econometric models and the application to the analysis of economic fluctuations and economic policies.”
Theodore W. Schultz and Sir W. Arthur Lewis
“For their pioneering research into economic development research with particular consideration of the problems of developing countries.”
Herbert A. Simon
“For his pioneering research into the decision-making process within economic organizations.”
Bertil Ohlin and James E. Meade
“For their pathbreaking contribution to the theory of international trade and international capital movements.”
Milton Friedman
“For his achievements in the fields of consumption analysis, monetary history and theory, and for his demonstration of the complexity of stabilization policy.”
Leonid V. Kantorovich and Tjalling C. Koopmans
“For their contributions to the theory of optimum allocation of resources.”
Gunnar Myrdal and Friedrich August von Hayek
“For their pioneering work in the theory of money and economic fluctuations and for their penetrating analysis of the interdependence of economic, social and institutional phenomena.”
Wassily Leontief
“For the development of the input-output method and for its application to important economic problems.”
John R. Hicks and Kenneth J. Arrow
“For their pioneering contributions to general economic equilibrium theory and welfare theory.”
Simon Kuznets
“For his empirically founded interpretation of economic growth, which has led to new and deepened insight into the economic and social structure and process of development.”
Paul A. Samuelson
“For the scientific work through which he has developed static and dynamic economic theory and actively contributed to raising the level of analysis in economic science.”
Ragnar Frisch and Jan Tinbergen
“For having developed and applied dynamic models for the analysis of economic processes.”
Angus Deaton, por que o premio Nobel de economia - Justin Wolfers (NYT)
See also: http://www.nytimes.com/2015/10/13/business/angus-deaton-nobel-economics.html
Past prizes in economics: http://www.nytimes.com/2015/10/13/business/economy/past-winners-of-the-nobel-memorial-prize-in-economic-science.html?_r=1
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Frases da semana (3) Antidumping cambial, ou salvaguarda cambial, ou, qualquer outra coisa cambial...
"Ainda não temos um termo exato porque é uma novidade. Chamamos de antidumping cambial, mas poderia ser uma salvaguarda. O câmbio tornou-se uma variável extremamente importante para o comércio. Quando a OMC foi criada, a realidade era muito diferente."
"O primeiro passo é estabelecer uma faixa de variação cambial aceitável. Não é atribuição da OMC, mas talvez do FMI. Definida a faixa, a OMC autorizaria países vítimas a neutralizar desvalorizações excessivas com uma medida cambial. Essa discussão está madura para ser feita agora."
Entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, "Tarifas de importação não são suficientes" (19/09/2011, p. B4).
Vocês entenderam? Eu confesso que não.
Busquei em meus manuais de economia internacional, seção políticas cambiais, mas não consegui achar nada que conseguisse me ajudar na interpretação das palavras do ministro. Confesso que sou incapaz de fazê-lo, tal a complexidade e inovação das propostas ministeriais.
Acredito que também os técnicos do FMI e da OMC terão certa dificuldade em saber como interpretar, e como aplicar as complexas propostas do ministro.
Talvez isso necessite uma rodada inteira de negociações comerciais (e cambiais) multilaterais apenas para entender o conceito, depois mais uma rodada inteira para discutir o que deve ser feito, se algo deve ser feito, enfim, mais uma terceira rodada para tentar aplicar alguma medida racional, e ao cabo de tudo, o yuan já será conversível e terá tido uma valorização de 100%.
Ufa! Ainda bem que o ministro levantou o problema...
Mas, confesso que eu queria entender o que ele disse...
Paulo Roberto de Almeida