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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Cambio no Brasil: cambio?; Brasil?? Muito confuso, diz Financial Times

Eu também nao entendo o que quer, o que diz, o que pretende, para onde vai o ministro Mantega e seus passos erráticos na política economica em geral e na politica cambial em particular.
Mas, quem se importa com isso?
Acho, contudo, que o Ministro Mantega nao vai dar entrevista exclusiva para a Samantha Pearson: ela pega muito no pé dele. Com razao...
Interessante ver os comentários dos leitores a esta matéria do Estadao.
Paulo Roberto de Almeida
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Tentar entender o que Mantega quer no câmbio é exaustivo, diz FT

Segundo a publicação, há 3 razões para as mensagens contraditórias do governo. Uma delas: ‘Eles não têm ideia do que estão fazendo’.

31 de janeiro de 2013 | 11h 28
Fernando Nakagawa, correspondente da Agência Estado

LONDRES - Tentar entender o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer pode ser "exaustivo", segundo o jornal Financial Times. Em texto publicado no blog sobre mercados emergentes, o BeyondBrics, a publicação diz que esse problema é ainda maior no tema preferido do ministro brasileiro: a chamada "guerra cambial". A reportagem sugere, inclusive, que o recente sobe-e-desce do dólar pode indicar, entre outras coisas, que o governo "não tem ideia do que está fazendo".
O texto cita algumas passagens recentes em que o governo demonstrou desejos distintos sobre o rumo das cotações de câmbio. Até alguns dias atrás, diz o texto, o real seguia relativamente enfraquecido depois de o ministro declarar diversas vezes que o governo estava pronto para corrigir qualquer movimento excessivo na moeda e que um real mais fraco seria favorável à indústria brasileira.
Apesar dessa sinalização de que o governo olhava com simpatia um real fraco, Mantega disse, lembra o texto, que o real permaneceria flutuante "desde que dentro de uma banda apropriada". "Um comentário quase tão sem sentido como a promessa recente do Banco Central de que a inflação convergiria de uma forma não-linear com a meta", diz o texto do FT.
Mas o mesmo governo brasileiro permitiu, afirma o texto, com uma estratégia liderada pelo BC que o real se fortalecesse nos últimos dias abaixo de R$ 2 pela primeira vez desde julho. Após esse sobe-e-desce, diz o blog, o mercado ficou "completamente confuso".
Para a repórter Samantha Pearson, do escritório do FT em São Paulo, "há três explicações possíveis" para as mensagens que parecem contraditórias. A primeira é que o governo brasileiro "quer uma valorização gradual do real para conter a inflação e os avisos de Mantega foram destinados a moderar os movimentos" da moeda norte-americana. A segunda opção é que a equipe econômica pode ter avaliado que o real está "no nível certo" e, então, passaram a ser emitidos sinais contraditórios para "estabilizar a moeda".
Há, porém, uma terceira opção. "Eles não têm ideia do que estão fazendo".
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 Matéria original do Beyond Brics, Blog do Financial Times:
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Confused about Brazil’s currency war? So are we

Guido Mantega, Brazilian finance ministerTrying to understand what Guido Mantega is up to can be exhausting, especially when it comes to his favourite topic: currency wars.
The real weakened early on Wednesday after Brazil’s finance minister warned the government was ready to correct any excessive moves in the exchange rate, adding that a weaker currency makes domestic industry more competitive.
Mantega added that the currency would remain free-floating as long as it stayed within an appropriate band – a comment almost as nonsensical as the central bank’s recent promise that inflation would “converge in a non-linear way” with the target.
But then the real trimmed those losses later on Wednesday after the central bank sold dollars with an agreement to repurchase them in two months, rolling over a line worth more than $1bn before it expires this week.
On Tuesday, the central bank allowed the real to strengthen beyond the 2 per dollar level for the first time since July as concerns grow that the weaker currency is making imports more expensive for industry and adding to the country’s inflation problems.
In the end, the real closed Wednesday’s session more or less flat and traders went home thoroughly confused.
It seems there are three possible explanations behind the authorities’ mixed messages:
1. They want a gradual appreciation of the real to curb inflation and Mantega’s warning was intended to moderate any sharp moves on the back of the central bank’s intervention
2. They have decided the real is at the right level and are sending out contradictory signals to stabilise the currency
3. They have no idea what they’re doing.
This from analysts at Bulltick:
Throughout 2012, the authorities had displayed their willingness to defend the BRL against aggressive appreciation pressures via various intervention schemes and capital controls. Then, in mid-December of last year, Brazil reversed some of the capital controls, in an effort to shore up the BRL, which has massively underperformed. The BCB increased the minimum amount on short dollar positions required by local banks to hold (60% reserve requirement). Then the BCB rolled over all maturing (Jan 2013) USD swap positions and the BCB sounded more hawkish (in the latest minutes). However all this may be more of a head-fake or worse, indicative of lack of clear direction on FX/inflation policy, part of reactive policy that has been the pattern over the past year. We think the government will return to a weak(er) BRL policy to prop up growth with the BRL trading on average this year within a range of 1.95-2.0/USD.
Related reading:
Brazil’s currency warriors swap sides, beyondbrics
Brazil drops a capital control, beyondbrics
Brazil: A different kind of currency warrior, beyondbrics
Downturn shakes Brazil from its dream, FT.com

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Dólar câmbio (#dolarcambio)

2136 comentários
pcmarq
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Concordo com o FT. A política econômica atual do governo parece quadrilha de festa junina. "olha a cobra!" ai fazem algo "a ponte caiu" ai fazem outra. Não tem planejamento e isso obviamente pressupõe uma estratégia. O governo faz os doze trabalhos de Hércules (impõe goela abaixo mudanças no setor energetico, usa os bancos publico para baixar spread sem olhar a inadimplencia crescente, usa a Petrobras para segurar a inflação etc. Mas não faz a única coisa que precisa. As famosas reformas estruturais. Pode chegar o cambio a 3,00 e o juro a 0,5%. O Brasil não cresce mais do que isso, sem baixar o custo de produção e dar uma segurança ao empresário.
fabionog
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Nunca ninguém entendeu o Mantega aqui mesmo no Brasil. Não surpreende que alguém de fora também não o entenda.\

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Frases da semana (3) Antidumping cambial, ou salvaguarda cambial, ou, qualquer outra coisa cambial...

Colaboração do Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (como é mesmo o nome dele?) para a construção de uma nova teoria cambial, de uma nova política cambial, de um novo entendimento do que seja câmbio, do que seja dumping, do que seja salvaguarda, enfim, de qualquer coisa que possa dar a impressão que o governo está fazendo alguma coisa, qualquer coisa, para amenizar a chiadeira dos industriais por causa do câmbio valorizado (quando o governo não pretende, não sabe, não consegue fazer absolutamente nada), e quando, depois de um longo declínio, o câmbio justamente volta a subir (talvez tenha sido o ministro o responsável):


"Ainda não temos um termo exato porque é uma novidade. Chamamos de antidumping cambial, mas poderia ser uma salvaguarda. O câmbio tornou-se uma variável extremamente importante para o comércio. Quando a OMC foi criada, a realidade era muito diferente."
"O primeiro passo é estabelecer uma faixa de variação cambial aceitável. Não é atribuição da OMC, mas talvez do FMI. Definida a faixa, a OMC autorizaria países vítimas a neutralizar desvalorizações excessivas com uma medida cambial. Essa discussão está madura para ser feita agora."


Entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, "Tarifas de importação não são suficientes" (19/09/2011, p. B4).


Vocês entenderam? Eu confesso que não.
Busquei em meus manuais de economia internacional, seção políticas cambiais, mas não consegui achar nada que conseguisse me ajudar na interpretação das palavras do ministro. Confesso que sou incapaz de fazê-lo, tal a complexidade e inovação das propostas ministeriais. 
Acredito que também os técnicos do FMI e da OMC terão certa dificuldade em saber como interpretar, e como aplicar as complexas propostas do ministro. 
Talvez isso necessite uma rodada inteira de negociações comerciais (e cambiais) multilaterais apenas para entender o conceito, depois mais uma rodada inteira para discutir o que deve ser feito, se algo deve ser feito, enfim, mais uma terceira rodada para tentar aplicar alguma medida racional, e ao cabo de tudo, o yuan já será conversível e terá tido uma valorização de 100%.
Ufa! Ainda bem que o ministro levantou o problema...
Mas, confesso que eu queria entender o que ele disse...
Paulo Roberto de Almeida  

Degringolada cambial - Celso Ming

O governo é esquizofrênico: numa semana diz que está tremendamente preocupado com a contínua valorização do real, acusa os americanos de "guerra cambial", poupa os chineses da mesma acusação, pretende deslanchar ele mesmo uma guerra cambial na OMC -- ao colocar a questão das compensações tarifárias, salvaguardas ou qualquer outra medida contra governos que "manipulam o câmbio" --, diz que vai proteger os industriais da guerra cambial lá fora, e zut, na outra semana, sai correndo para salvar sua inflação dos efeitos "perversos" da valorização do dólar (e portanto da desvalorização do real), e balbucia algumas explicações incompletas sobre qual é, exatamente, a sua política: valorização ou desvalorização do real?
Eu não sei, mas o governo tampouco sabe, e o pior é que ele não sabe o que fazer ou o que dizer...
Chose de loques...
Paulo Roberto de Almeida


Solavancos no câmbio

O Estado de S.Paulo, 22 de setembro de 2011 | 19h45
Celso Ming
O governo Dilma vai trombando com os casuísmos e a inconsistência de sua política de câmbio.
Há poucas semanas, fez movimentos esdrúxulos destinados a estancar o mergulho do dólar (valorização do real). Uma dessas decisões foi impor um IOF de até 6% sobre as posições vendidas no mercado futuro. De lá para cá, ninguém mais assumiu posições vendidas para não morrer com esse imposto. Ou seja, o mercado de hedge (proteção) foi esvaziado.
Dolar23SETn.jpg
Agora, a situação cambial virou. Bancos, empresas e instituições entenderam que precisam se proteger da crise com compras de moeda estrangeira. Só que não há mais quem venda no mercado futuro, por causa do IOF e da desativação relativa do mercado de hedge.
As cotações dispararam. Saltaram 19,8% em apenas 15 dias úteis. E nesta quinta-feira o Banco Central acionou o primeiro leilão de swap de câmbio desde junho de 2009, para tentar conter a alta.
À parte essas inconsistências já deu para ver que o governo Dilma (e já não se fala em protagonismo do Banco Central) não quer nem cotações abaixo de R$ 1,50 por dólar e começa a se incomodar quando saltam para acima de R$ 1,90. São limites (piso e teto) ainda pouco claros.
Com essa disparada, novos problemas apareceram. O mais sério deles é o impacto inflacionário acionado pelo câmbio.
O que provavelmente não foi considerado pela equipe econômica (incluídos aí os dirigentes do Banco Central) quando começou a puxar para cima as cotações é a enorme transformação do sistema produtivo nos últimos três ou quatro anos. As empresas brasileiras se tornaram muito dependentes de suprimento externo de matérias-primas, insumos, conjuntos, componentes, peças, máquinas e capital de giro. A dívida externa do setor privado saltou, em cinco anos, de US$ 103,3 bilhões para US$ 232,3 bilhões.
Não só montadoras se abastecem mais de autopeças importadas. O setor têxtil usa fibras, fios e tecidos do exterior em maior número. A construção civil incorporou materiais de acabamento trazidos do exterior. A indústria de máquinas depende de eletrônica embarcada e subconjuntos importados. A indústria eletrônica importa a maioria dos seus chips e circuitos. E toda a agricultura precisa de fornecimento externo de fertilizantes, defensivos e boa parte de máquinas agrícolas.
Em outras palavras, essa esticada das cotações do câmbio provoca uma alavancada nos custos de todo o setor produtivo, não só da indústria. Até agora não se sabe o impacto inflacionário (pass through) disso diante do novo quadro de interdependência global. Em todo o caso, os mesmos setores que pediam mais câmbio já reclamam da forte alta dos custos.
Se a desvalorização do real persistir, logo chegará o momento em que o Banco Central será convocado para iniciar a revenda de dólares das reservas. E tem a política de juros. A aposta do Banco Central é de que a crise externa leva à desinflação da economia, a começar pela queda dos preços das commodities alimentares. E isso pode não acontecer. Ao contrário, a alta do dólar no câmbio interno vem puxando para cima os preços do trigo e demais cereais. O que implicará duro teste para a atual estratégia de expansão monetária (baixa dos juros) do Banco Central.
CONFIRA
desempregoAGOSTO.jpg
Aí está a trajetória do desemprego no Brasil que, em agosto, ficou em 6,0%, mesmo índice de julho. Esse número revela que o mercado de trabalho continua aquecido. É fator que contribui para que o nível de demanda da economia se mantenha acima da oferta da produção nacional.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Entre os vagalhoes e os penhascos (juros e cambio): dilemas reais

Ardil-22: a versão nacional
Alexandre Schwartsman*
Blog A Mão Visível, 22/06/2011 17:32

...se não subir as juros a demanda se expande e a inflação segue pressionada; caso suba os juros, aumentam os ingressos de capital, a demanda cresce e novamente aparecem as pressões inflacionárias. Esta seria a justificativa para a adoção de políticas de restrição ao crédito...
Publicado originalmente na Folha de S.Paulo, edição de 22 de junho de 2011


Um dos temas mais "quentes" de política monetária refere-se às dificuldades de lidar com o ingresso de capital estrangeiro no país. O problema aparece, no entender de autoridades, porque o remédio típico para arrefecer as pressões inflacionárias - na ausência de um ajuste fiscal digno deste nome - é o aperto da política monetária, expresso na elevação da taxa básica de juros, a Selic. Entretanto, segue o argumento, taxas de juros domésticas mais altas relativamente às externas criam um fator adicional de atração de capitais, que então realimentaria a pressão sobre a inflação por meio da expansão da liquidez e do crédito que se seguiriam ao ingresso.

Esta visão foi resumida pelo presidente do BC quando afirmou: "Esse impacto inflacionário do ingresso de capitais não pode ser lidado com juros, porque, na realidade, quando apertamos as condições financeiras e monetárias, os indivíduos e as empresas buscam recursos lá fora" (Valor Econômico, 27/04/2011).

Tal tese, se válida, colocaria o BC face a um "Ardil-22": se não subir as juros a demanda se expande e a inflação segue pressionada; caso suba os juros, aumentam os ingressos de capital, a demanda cresce e novamente aparecem as pressões inflacionárias. Esta seria a justificativa para a adoção de políticas de restrição ao crédito (há algum tempo me recuso a chamá-las de "macroprudenciais", por não serem "macro", muito menos "prudenciais"), que permitiriam desacelerar a demanda, sem estimular novos ingressos.

Resta, todavia, saber se a tese é, de fato, válida. Acredito que sim, mas apenas porque o BC parece ter agora mais objetivos que simplesmente manter a inflação na meta.

Com efeito, sabe-se que a política monetária enfrenta desafios distintos sob regimes cambiais diferentes. Quando a taxa de câmbio é administrada, o BC se compromete a comprar e vender moeda estrangeira a um determinado preço. Neste contexto, se os capitais são razoavelmente livres para entrar e sair do país, a gestão de política monetária fica muito complicada.

Caso o juro doméstico suba além do externo, há incremento no ingresso de capitais, que deve obrigatoriamente ser comprado pelo BC, elevando a oferta de moeda e trazendo as taxas de juros para baixo, desfazendo à noite o que o BC tece de dia. Isto força a novas rodadas de elevação de juros, reiniciando o ciclo, de forma não muito distinta daquela descrita pelo presidente do BC. Sob um regime de câmbio administrado e mobilidade elevada de capitais, são escassas as chances do BC impor sua política monetária.

No entanto, o Brasil não adota este regime. Formalmente, pelo menos, nosso câmbio é flutuante, isto é, o BC não tem qualquer obrigação de comprar ou vender moeda estrangeira. Caso a taxa de juros aumente, há um incentivo adicional para o ingresso de capitais, que se manifesta, todavia, pela apreciação da taxa de câmbio. Em tese, o câmbio se aprecia até o ponto em que a expectativa de desvalorização iguale a diferença entre o juro interno e externo, eliminando os ganhos esperados com a arbitragem.

O interessante neste caso é que não há o Ardil-22. O encarecimento do real é quem "freia" os ingressos, pois encarece também todos os ativos (ações, bônus, empréstimos, etc.) denominados em moeda nacional. Posto de outra forma, à medida que o real se fortalece face ao dólar, menores são os incentivos para indivíduos e empresas buscarem recursos no exterior, pois aumenta o risco de uma desvalorização que encareceria estes passivos.

O ardil reaparece, contudo, porque o BC tem se engajado também na tentativa de conter o fortalecimento da moeda nacional, adicionando um objetivo à obrigação de manter a inflação na meta. Como o real não se aprecia, permanece o incentivo para o ingresso de capitais, já que - além da diferença entre taxas de juros - o risco de uma desvalorização é consideravelmente menor.

Visto de outra forma, a compra de moeda estrangeira pelo BC faz com que o regime de câmbio se assemelhe à descrição que fizemos do regime de câmbio fixo nos parágrafos acima: os ingressos de capital agora se traduzem em elevação da liquidez doméstica, em particular se direcionados a ativos privados e não à dívida pública, como argumentado por Márcio Garcia (Valor Econômico, 29/04/2011).

O Ardil-22 reflete o duplo objetivo do BC (inflação e câmbio). Sob tais circunstâncias, um instrumento adicional é requerido, a saber, as restrições ao crédito, cujo funcionamento, todavia, ainda se reveste de dúvidas, seja quanto à intensidade do seu impacto sobre a inflação, seja acerca do horizonte temporal em que tais efeitos se manifestarão.

A persistência da inflação, contudo, assim como os sinais de atividade econômica ainda forte no primeiro trimestre do ano, parecem estar reduzindo a ênfase do BC no seu objetivo cambial e reavivando seu interesse pela política monetária convencional. Resta saber se esta nova postura irá sobreviver à queda sazonal da inflação no segundo trimestre, ou se voltaremos à hesitação que marcou o final do ano passado e o começo deste ano.

Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley). [alexandre.schwartsman@hotmail.com]

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A insustentavel posicao cambial brasileira - Francisco Lopes

A advertência é clara: a atual configuração da política econômica brasileira é insustentável no longo prazo, segundo Chico Lopes, ex-presidente do Banco Central. Segundo ele: "A bolha de acumulação de reservas vai estourar em algum momento entre 2013 e 2015.

Sobre risco cambial, besouros e borboletas
Francisco Lopes
(recebido: 15/06/2011)

A macroeconomia só terá uma configuração sustentável quando a taxa Selic for compatível com o padrão internacional.

É fácil ser otimista sobre a evolução da macroeconomia brasileira no curto prazo. A combinação de juros elevados, taxa de câmbio praticamente estabilizada e menor pressão nos preços internacionais de alimentos e petróleo, reduzirá a inflação em 12 meses do IPCA já a partir de outubro próximo. A inflação de 2012 deverá ficar abaixo de 5%, com a economia mantendo o crescimento na faixa de 4% a 4,5%.

Será, porém, uma vitória de Pirro já que em algum momento ocorrerá uma inevitável correção para cima na cotação do dólar, com alta probabilidade de se transformar numa traumática "parada súbita". A pressão desse ajuste vai trazer de volta a inflação e exigir nova elevação da taxa Selic. Se for um ajuste súbito, haverá também uma freada no crescimento.

A atual configuração da política econômica brasileira é insustentável no longo prazo. Forte crescimento com apreciação cambial no contexto de uma economia mundial com expansão moderada produz inexorável deterioração do balanço de pagamentos. Em algum momento, teremos que interromper o crescimento e ajustar a taxa de câmbio. Com o agravante de que, a despeito do aumento do déficit em transações correntes, a acumulação de reservas internacionais também ganhou velocidade vertiginosa, algo como US$ 100 bilhões por ano. Isso configura uma autêntica "bolha especulativa" que poderá ter graves consequências quando estourar.

"A bolha de acumulação de reservas vai estourar em algum momento entre 2013 e 2015."

O Brasil, ao contrário da China, não acumula reservas internacionais porque produz superávit nas transações de bens e serviços com o exterior. No nosso caso, a acumulação de reservas resulta apenas do ingresso de capital estrangeiro e, nos últimos doze meses, apenas 20% desse movimento consistiu em aporte direto de capital para empresas, isto é, em ingresso com uma motivação nitidamente de longo prazo. O resto, incluindo aplicações em ações, renda fixa e os empréstimos intercompanhias (que o Banco Central imprecisamente classifica como investimento direto) são certamente ingressos com motivação mais de curto prazo e de natureza bem mais volátil.

O que faz esse capital estrangeiro ter tanta gana de vir para o Brasil? O Banco Central anuncia oficialmente que o regime cambial é de livre flutuação e que só opera no mercado de câmbio para "reduzir a volatilidade". Na prática, nas condições atuais, isso significa que a cotação do dólar fica estável ou realiza um movimento de queda gradual. O que temos então é um verdadeiro paraíso para o especulador estrangeiro que pode facilmente se beneficiar do diferencial nas taxas de juros. Não é uma possibilidade de arbitragem perfeita, como ficou claro em 2008, mas é uma bela oportunidade de ganho com risco reduzido. Como o Brasil ainda não aboliu o forte efeito motivador da possibilidade de arbitragem (mesmo imperfeita) sobre o movimento de capitais, o resultado é o ingresso maciço que estamos observando.

Esse movimento adquire todas as características de uma bolha especulativa quando começa a gerar um mecanismo de retroalimentação. Quanto mais capital entra tanto maior é a pressão de baixa sobre a cotação do dólar e tanto maior a garantia de que o Banco Central vai continuar aplicando sua política de redução da volatilidade para produzir estabilidade ou apreciação gradual. Isto, por sua vez, torna ainda mais atraente o ingresso de capital para arbitrar juros. Na realidade para o especulador a apreciação em si não é importante. Seu ganho principal resulta do diferencial entre as taxas de juros e para isso só é necessário que não ocorra uma desvalorização significativa da taxa de câmbio.

O resultado é a anomalia de um mercado cambial em que tipicamente apenas o Banco Central e os importadores atuam na ponta compradora, com todos os demais operam como vendedores. Isso não resulta apenas da atuação de especuladores profissionais. Considere, por exemplo, o processo de decisão do diretor financeiro de uma grande multinacional que administra o caixa da empresa dentro de uma perspectiva global. Naturalmente vai querer ficar credor no Brasil, ganhando remuneração superior a 12% ao ano e devedor em outros países com custo financeiro muito menor. Isto significa que vai operar como vendedor no mercado cambial brasileiro. Curiosamente esse executivo vai ficar ofendido se lhe disserem que está operando como especulador: afinal, para ele, está apenas fazendo o seu trabalho de administração do caixa. O espaço aqui não me permite citar diversos outros casos concretos que confirmam a natureza especulativa da bolha que se desenvolve agora no nosso mercado de câmbio. Todo mundo enxerga uma possibilidade de ganho aparentemente fácil e quer tirar uma casquinha.

"Controlar a entrada de capital pode simplesmente antecipar o momento de ruptura da bolha."

Bolhas especulativas são fenômenos complexos que não entendemos bem, mas com certeza sabemos que sempre evoluem para o colapso. Nosso palpite é que essa nossa bolha de acumulação de reservas vai estourar em algum momento entre 2013 e 2015. É impossível saber o momento exato e a sequência exata dos eventos na ruptura, apenas sabemos que ela se tornará mais provável quando o mercado de câmbio transitar da atual posição de excesso permanente de oferta para uma posição de equilíbrio ou de excesso de demanda. Isto inevitavelmente vai resultar da deterioração continuada do déficit no balanço de pagamentos em transações correntes.

Na ruptura, os primeiros a sair tipicamente são os especuladores profissionais. A eliminação do excesso de oferta tira o Banco Central do papel de disciplinador do movimento de apreciação e tende a aumentar a volatilidade do mercado. O especulador sabe que nosso regime de livre flutuação na prática tem sido um regime de flutuação amortecida assimétrica, isto é, a atuação do governo no mercado de câmbio é muito mais decidida para evitar apreciações do que para evitar depreciações. A maior volatilidade do câmbio torna menos favorável a relação risco-retorno e induz o especulador a reduzir sua posição vendida na moeda brasileira. Esse ajuste é muito facilitado pela dimensão do nosso mercado de derivativos de dólar, que é inusitadamente grande para uma economia emergente. A grande liquidez desse mercado torna muito fácil travar qualquer posição vendida em dólar, e isso vale tanto para os especuladores profissionais como para qualquer empresa ou investidor.

Como em todo colapso de bolha, o movimento pode ser iniciado por um pequeno grupo de profissionais, mas depois se alastra rapidamente e ganha amplitude e intensidade. O resultado é uma forte e rápida depreciação da taxa de câmbio.

Idealmente o Banco Central pode tentar administrar esse ajuste, produzindo uma transição lenta e suave da taxa de câmbio para o novo patamar sustentável de equilíbrio e dessa forma evitando o "overshooting" característico dos colapsos de bolha. Para isso terá que operar com determinação e intensidade na ponta vendedora tanto no mercado de dólar à vista como no mercado de derivativos através de futuros e swaps. Naturalmente, a venda de dólar num mercado cambial em movimento de alta produzirá prejuízo para o erário público, mas isso será mais do que compensado pelos benefícios de se evitar a parada súbita.

De fato uma das poucas coisas que o governo pode fazer agora diante da perspectiva de um inevitável ajuste cambial no futuro é preparar seus planos de contingência para uma operação desse tipo, isto é de amortecimento da desvalorização.

Em particular, tanto o Banco Central como outras áreas mais politizadas do governo têm que estar psicologicamente preparadas para entregar aos "malditos especuladores" o botim resultante de suas operações cambiais no país, sendo que isso poderá significar a perda de um grande e imprevisível volume de reservas internacionais (metade das reservas, por exemplo?).

É importante entender, porém, que não existem alternativas viáveis de controle de capitais para escapar de uma bolha que já se instalou e se desenvolve a pleno vapor. A introdução de controles sobre a entrada de capital, como tem sido tentado recentemente, apenas bloqueia alguns canais de entrada e redireciona o movimento para outros canais. Por outro lado uma aplicação muito ampla desses controles pode simplesmente antecipar o momento de ruptura da bolha. A alternativa de controles sobre a saída de capital poderá parecer tentadora quando a bolha começar a estourar, mas ela nunca é eficaz se adotada em apenas um segmento do mercado. Ou seja, a opção de controle sobre a saída de capitais é na realidade uma opção pela centralização total do câmbio, o que seria um lamentável retrocesso na política econômica brasileira.

Será possível promover uma saída ordenada da bolha e um ajuste gradual da taxa de câmbio? Temos que torcer que sim, mas qualquer operador com experiência em mercados especulativos provavelmente dirá que não. Ou seja, é bom estar preparado para um comportamento do mercado de câmbio semelhante ao que ocorreu em 2008 (ou mesmo 2003), desta vez possivelmente com ainda maior overshooting em virtude dos grandes montantes envolvidos.

É interessante notar que 2008 foi uma oportunidade perdida para se obter uma nova configuração sustentável para nossa macroeconomia. A crise mundial produziu forte desvalorização cambial e o Banco Central reagiu corretamente baixando a Selic de 13,75% ao final de 2008 para 8,75% em junho de 2009, uma redução de 5 pontos percentuais. Na realidade, porém, essa redução resultou muito tímida, principalmente considerando que no mesmo período o banco central americano também se moveu na mesma direção. Como a taxa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) caiu de 5,25% em meados de 2007 para praticamente zero ao final de 2008, a redução da Selic foi inferior à do juro americano.

A cotação do dólar voltou a cair rapidamente e em outubro de 2009 já tinha voltado para próximo de R$ 1,70, praticamente anulando toda a desvalorização anterior. A operação correta naquela ocasião teria sido reduzir a taxa Selic muito mais agressivamente, ainda que ao custo de uma taxa de inflação um pouco maior num período transitório.

Não é nossa intenção aqui fazer uma crítica à atuação do BC no contexto de crise internacional de 2008, já que naquele ambiente de incerteza não seria fácil adotar uma tática de atuação muito diferente de seu padrão tradicional. Devemos lembrar também que algumas das pré-condições necessárias para uma redução mais agressiva da taxa de juros não estavam presentes, entre elas a eliminação do piso imposto pela regra atual de remuneração da caderneta de poupança. Na realidade, como sugeri no artigo "A Estabilização Incompleta", do livro Novos Dilemas da Política Econômica (editado por Edmar Bacha e Mônica Bolle, LTC 2011), o trabalho de construção do arcabouço institucional necessário para a consolidação da estabilidade ainda está longe de concluído.

Essas considerações nos levam ao que parece ser a questão central. Só vamos ter uma configuração sustentável de nossa macroeconomia quando a taxa Selic for compatível com o padrão internacional, admitindo-se um pequeno prêmio de risco. Isso seria talvez algo como 3% a 4% ao ano agora, e algo como 6% a 7% quando a taxa de juros do Fed voltar para o patamar de 4% a 5% daqui a alguns anos. Essas taxas de juros poderiam ser ainda menores com uma meta de inflação menor.

Um nível "normal" de taxa de juros é pré-condição para que possamos adotar uma verdadeira flutuação cambial, com o governo se abstendo de qualquer interferência no mercado de câmbio. Só então vamos descobrir qual é realmente a taxa de câmbio de equilíbrio da nossa economia, e só então o regime de metas de inflação poderá operar da forma como foi teoricamente desenhado para operar, produzindo uma trajetória de crescimento econômico sustentável com inflação controlada.

Para evitar mal entendido quero enfatizar que sou totalmente favorável à ideia do tripé estabilizador, composto por austeridade fiscal, flutuação cambial e regime de metas de inflação. As vantagens do tripé, introduzido ainda no governo FHC, são inequívocas. Sabemos que funciona muito bem nos países desenvolvidos que o adotam, como Suécia ou Inglaterra.

No Brasil, porém, o tripé estabilizador é meio de mentirinha. Teoricamente existe flutuação cambial, mas na prática o movimento da taxa de câmbio é inibido pela intervenção rotineira do Banco Central. Por outro lado, nosso principal instrumento de política monetária, a taxa Selic, tem impacto muito reduzido sobre o nível de atividade e a inflação. A austeridade fiscal existe mais no discurso do que na prática. Ou seja, o regime se apresenta como de metas de inflação, mas alguns de seus pressupostos básicos não estão presentes.

Um comentário final sobre o título deste artigo. A evolução atual da macroeconomia brasileira me faz lembrar o voo de um besouro. A primeira vista a aerodinâmica do besouro não devia permitir que voasse, não obstante ele é capaz de voos curtos. São voos deselegantes que mais parecem sequências de saltos. Certamente um besouro não tem a capacidade de voo de uma borboleta. Muitos analistas quando discutem nossa macroeconomia parecem acreditar que estão analisando uma borboleta, com toda sua beleza e complexas piruetas. Não se pode negar que são elegantes e divertidos os debates sobre a delicada calibragem da taxa Selic, os ciclos de ajuste e relaxamento da política monetária, o papel das medidas macroprudenciais, a coordenação das políticas monetária e fiscal, o impacto do "dólar index" sobre a taxa de câmbio real-dólar e tudo mais. Os analistas parecem esquecer, porém, que as importantes deformidades que ainda existem em nossa economia nos permitem no máximo pensar em um voo de besouro. Infelizmente um besouro voador não se transforma automaticamente numa aerodinâmica borboleta. É fundamental ter em mente que o trabalho de construção das precondições institucionais para a consolidação da estabilidade ainda está longe de concluído e, na verdade, avançou muito pouco nos governos petistas. Isto ficará novamente claro na próxima crise cambial.

O autor agradece os comentários de Edmar Bacha, sem naturalmente implicá-lo em suas heterodoxias.
Francisco Lopes é sócio principal da consultoria Macrométrica

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Comentários do economisa Ricardo Bergamini:

O que o Chico Lopes escreveu abaixo venho demonstrado de longa data:

1) Mesmo com o saldo de reservas de US$ 288,6 bilhões o Brasil está no limite da crise cambial em função do déficit nas transações correntes.

2) O Brasil está sendo financiado pelos investimentos externos em função dos juros altos, não pelo seu comércio exterior. Qualquer susto do mercado financeiro a explosão será inevitável.

3) O atual governo terá que resolver a difícil dicotomia da política externa brasileira, qual seja: juros altos atraem investimentos externos que valorizam o real, diminuindo a competição dos produtos brasileiros no exterior, e consequentemente aumentando os déficits nas transações correntes.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Delirios cambiais e as indefinicoes de sempre: o "primeiro" debate economico da era Dilma

Ainda ouviremos falar muito na tal de "guerra cambial" -- muito mais exercida, aliás, pelos EUA, com sua política de desvalorização controlada, do que pela China, com sua política de estabilidade na paridade com o dólar, mas moderadamente deslizante -- e dessas "manipulações" -- aqui a referência indireta é claramente a China, mas os dirigentes brasileiros têm medo de pronunciar o nome do país -- e ouviremos ainda mais reclamações desses empresários, mal acostumados durante muito tempo com a política de desvalorizações constantes, automáticas, que empobrecia o povo mas encobria todas as suas ineficiiencias competitivas.
Se o governo, ou suas mais altas autoridades quiserem mesmo cuidar da "defasagem" cambial, eles não precisam nem controlar os fluxos de capitais, nem passar a "manipular" o câmbio, o que eles não farão pois não têm NENHUMA política alternativa para colocar no lugar do câmbio flutuante. Se ele é flutuante, ele deve subir ou baixar, em função dos demais dados do cenário interno, entre eles o nível da taxa de juros.
Se o governo quiser mesmo combater o câmbio alto, só tem uma solução: controlar as despesas públicas, diminuir o nível de financiamento que o Estado "obtém" da sociedade -- e ele só consegue o dinheiro prometendo juros altos, justamente -- e entrar num regime de emagrecimento fiscal.
Qualquer outra solução "milagre" seria bobagem e de curto efeito, como esse aumento no IOF, que não serviu para absolutamente nada.
Acho que continuaremos ouvindo bobagens pelo futuro próximo...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma e as batatadas sobre o câmbio no Jornal Nacional
Reinaldo Azevedo, 3.11.2010

O Jornal Nacional acaba de reapresentar, agora acompanhada da repercussão, a declaração de ontem de Dilma Rousseff sobre o câmbio, a saber:

Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica, um câmbio flutuante. E nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional.

Bem, vamos ver. Não sou economista, claro!  Mas sou economista o bastante para tratar das bobagens múltiplas contidas em trecho tão curto;

1 - O nível de reservas do Brasil nada tem a ver com câmbio flutuante. Um país pode ter reservas altas ou baixas com câmbio flutuante ou fixo. Existe no máximo uma correlação entre elas porque, bem, nos dois casos, estamos falando sobre dólares.

2 - Segundo a presidente eleita, as reservas brasileiras nos protegem de ataques especulativos? É mesmo? Assim seria se o ataque se desse na forma de fuga de dólares. Só que o movimento, hoje, é contrário: o que se tem e uma entrada excessiva: com os juros americanos no chão, os investidores vêm aproveitar a nossa taxa, digamos, exuberante! Assim, as vistosas reservas, longe de uma garantia contra o problema em curso, são parte do problema.

3 - A China, cujo câmbio é flutuante só em teoria, é que mantém reservas altíssimas. Pra quê? Justamente para decidir artificialmente o valor da sua moeda, mantida desvalorizada porque isso lhe permite provocar os estragos que provoca nas economias mundo afora.

Eu não estou defendendo câmbio fixo, flutuante, mais ou menos fixo ou mais ou menos flutuante. Só estou deixando claro que a equação da presidente eleita está errada. Os “especialistas” que comentaram a questão preferiram ignorar a salada teórica e falar sobre a tal guerra cambial no mundo. Estamos na fase de preservar Dilma de si mesma.

[fim de transcrição]
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Termino por aqui [PRA]:
O que precisa ser dito, também, é que essa política insana de acumular reservas, em níveis exageradamente altos, muito mais altos do que a prudência com a balança de transações correntes recomendaria (três meses de importações, quando já estamos com mais de dois anos de importações de cobertura cambial), essa política nos leva a um CUSTO FISCAL ALTISSIMO, na faixa de 25 a 30 bilhões de dólares por ano, que é a diferença entre os juros internos (aos quais o governo remunera os títulos da dívida pública com cujos recursos ele compra dólares) e os juros externos, que remuneram nossas divisas (tipicamente, Treasury bonds americanos, que estão, como vocês sabem, com os juros no piso mínimo).