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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O Brasil e a bomba: Geisel deixou as opcoes abertas, de fato apoiou um programa paralelo...

Geisel admitiu possibilidade de construir a bomba atômica brasileira

Em reunião em 1974, presidente manifestou o temor de que a Argentina testasse uma arma nuclear

11 de agosto de 2013 | 21h 13
Marcelo de Moraes - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Arquivos secretos do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) mostram que o ex-presidente Ernesto Geisel admitiu a possibilidade de o Brasil construir sua arma atômica dentro de sua política nuclear. Em exposição feita ao Alto Comando das Forças Armadas, em 10 de junho de 1974, Geisel reconhece a preocupação do governo e dos militares em relação ao fato de a Índia ter detonado uma bomba atômica e à possibilidade de os vizinhos argentinos também o fazerem.
Por conta disso, afirmou que considerava como um dos pontos básicos a serem adotados "desenvolver uma tecnologia para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos, o que nos permitirá, inclusive, se necessário, dispor de nossa própria arma", disse o general.
A fala de Geisel aos militares é um momento marcante de seu mandato, quando decidiu se encontrar com o Alto Comando em Brasília, numa reunião secreta no início de seu mandato presidencial e apresentar o que considerava como aspectos mais importantes. A reprodução da fala do presidente faz parte do acervo do EMFA, que acaba de ser liberado pelo Arquivo Nacional, em Brasília, e ao qual o Estado teve acesso.
Geisel fez questão de abordar a questão nuclear com o Alto Comando. "Por seus importantes reflexos sobre a segurança nacional, não desejo encerrar esta exposição sem uma referência especial à política nacional para o uso da energia nuclear", avisou.
E demonstra sua preocupação em evitar que o Brasil fique para trás em questão de desenvolvimento no setor, tanto para fins econômicos, através da produção de energia, quanto no campo militar. Nesse momento, ele trata abertamente da preocupação com eventuais avanços da Argentina nesse setor.
"A explosão recente de uma bomba nuclear pela Índia provocou comoção mundial e temos que considerar a hipótese de, em futuro não longínquo, a Argentina também pode explodir a sua. Evidentemente, isto gera inquietação entre nós e todos indagam qual será a posição do Brasil face à situação", diz.
Geisel lembra aos presentes que, em anos anteriores, o Brasil teve "a preocupação de preservar relativa liberdade de ação nesse campo". E que, "por isso, o governo Castello Branco decidiu que o Brasil não deveria abrir mão do direito de realizar explosão nuclear para fins pacíficos, bem como não assinou, mais tarde, o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, a despeito das fortes pressões exercidas pelas potências atômicas".
O  general compara o quadro nuclear brasileiro com o da Argentina, lembrando que os vizinhos tiveram "relativa facilidade de encontrar urânio", sendo "mais favorecida pela natureza que o Brasil". E avaliou que ficaram em situação favorável para produzir armas nucleares.
"Ora, dispondo de urânio, orientaram-se para a geração de energia partindo do urânio natural, ficando na dependência, apenas, da importação de água pesada. Certamente consideraram, também, que a solução adotada, embora muito menos econômica, permite obter consideráveis quantidades de plutônio, que pode servir para construir a arma nuclear", explica.
"O governo brasileiro, com vistas à obtenção de energia elétrica, preferiu o processo atualmente mais econômico, que é o da utilização do urânio enriquecido. Por essa razão, contratou-se com firmas americanas a construção da Usina de Angra dos Reis, à base de urânio enriquecido. Pelas condições do contrato, o urânio que será usado em Angra dos Reis está sujeito a salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica e por isso teremos que restituir o plutônio produzido", diz.
"Nesse quadro, devemos evitar a abordagem passional do problema, capaz de nos conduzir a decisões precipitadas, por influência das supostas possibilidades ou intenções da Argentina", acrescenta.
Apesar disso, Geisel avisa aos militares presentes que estava em fase de revisão o conceito estratégico nacional "formulado anos atrás". E foi direto: "Dentro da necessidade de atualização, ressaltada pelo EMFA, o conceito deverá abranger a hipótese de guerra continental envolvendo a Argentina".
No discurso, Geisel trata de tudo, de política interna a economia. Feito dez anos depois da tomada do poder pelos militares é quase uma carta de intenções do presidente, que avisa considerar uma anormalidade os militares exercerem o poder no País, além do uso de atos de exceção. Afirmou também que fazia parte de sua missão preparar o Brasil para retomar o governo democrático. E que se não o fizesse a missão caberia ao seu sucessor – como acabou acontecendo com o general João Batista de Figueiredo, último presidente militar. Geisel, porém, avisou que não abriria mão de utilizar os instrumentos de que dispunha para manter a ordem no País.
O documento com a íntegra da fala de Geisel foi registrado nos arquivos do EMFA pelo general Hugo Abreu, então ministro do gabinete militar do presidente. O jornalista Elio Gaspari faz referência a trechos desse discurso na sua monumental série de livros sobre a ditadura. Seu acesso a essa fala presidencial, segundo registra sua obra, foi feita através de um calhamaço de 40 folhas anotadas por Heitor Ferreira, então secretário de Geisel.

domingo, 30 de maio de 2010

Programa nuclear do Brasil - Le Monde tem duvidas...

Le programme nucléaire du Brésil suscite des doutes
Natalie Nougayrède - New York Envoyée spéciale
Le Monde, 30 mai 2010

L'Agence internationale pour l'énergie nucléaire (AIEA) a mis en place une structure d'évaluation

Après avoir voulu prendre l'initiative sur le dossier nucléaire iranien, la diplomatie brésilienne traverse une phase difficile. L'accord négocié le 16 mai à Téhéran à propos d'un transfert d'uranium iranien vers la Turquie continue d'essuyer les critiques des Etats-Unis. Jeudi 27mai, la secrétaire d'Etat américaine Hillary Clinton a assuré à son homologue brésilien, Celso Amorim, que " faire gagner du temps à l'Iran, (...) rend le monde plus dangereux et non moins " dangereux.

Un autre facteur place le Brésil en position délicate: son propre programme nucléaire comporte des zones d'ombre. C'est pour cette raison que l'Agence internationale de l'énergie atomique (AIEA), l'organisme de vérification de l'ONU, a discrètement mis en place, en mai, une équipe spéciale chargée d'évaluer les activités nucléaires du géant d'Amérique latine. Cela n'a pas été annoncé publiquement.

L'AIEA, dont le directeur, Yukiya Amano, s'est rendu en mars au Brésil, est frustrée de voir que ses inspecteurs ne peuvent accéder à l'intégralité des activités d'enrichissement d'uranium menées par ce pays. Le secret sur une partie de ses centrifugeuses (les appareils permettant d'enrichir) est justifié par le Brésil pour des raisons de compétition commerciale. Sans tout à fait convaincre ses interlocuteurs.

A la fin des années 1980, le Brésil, sorti de la dictature,avait renoncé à un programme nucléaire militaire dont l'existence a été reconnue en 1990. Le Brésil et l'Argentine avaient ensuite passé un accord sur le contrôle de leurs matériaux nucléaires respectifs. Le Brésil, qui nourrit de grandes ambitions dans le nucléaire civil, tient un discours en faveur de l'abolition de l'arme suprême dans le monde,réitérant cette position lors de la conférence d'examen du traité de non-prolifération (TNP), en mai, à New York.

Rôle de l'armée
Cacherait-il le développement d'un programme nucléaire militaire? Les avis des diplomates étrangers sont partagés.En marge de la conférence du TNP, les motivations du Brésil dans son approche du dossier iranien ont été amplement débattues. En défendant le droit de l'Iran à enrichir de l'uranium en dépit de l'opacité de son programme, Brasilia pourrait, selon certains, se ménager la possibilité d'accéder un jour au " seuil " nucléaire, c'est-à-dire la maîtrise de toutes les technologies liées à la bombe atomique, mais sans aller jusqu'à la fabriquer. Le rôle important joué par l'armée - singulièrement la marine - dans le programme nucléaire brésilien renforce ces interrogations.

D'autres sources considèrent que le Brésil n'est pas un pays" à risque " car il a fourni suffisamment de garanties et n'a jamais évoqué la possession de la bombe comme un élément décisif de puissance pour son propre compte. Mais en s'emparant de la question iranienne, le Brésil a attiré sur lui, non sans risque, une attention nouvelle.