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sábado, 30 de janeiro de 2021

Dúvidas legítimas de um sábado reflexivo - Paulo Roberto de Almeida

 Dúvidas legítimas de um sábado reflexivo

Paulo Roberto de Almeida 

Eu sempre me pergunto por que pessoas aparentemente inteligentes, e até bem informadas, escolhem ficar do lado da burrice, da desinformação, dos equívocos e da perversidade?

O que as motiva? 

O que as induz a isso? 

O que elas ganham com isso? 

Algumas até simpáticas e de boa vontade para com os mais frágeis e desprovidos de coisas básicas, acabam aderindo ao que contraria fundamentalmente suas crenças normais, que estão mais do lado da bondade humana do que do lado (pelo menos imagino) da perversidade de um psicopata.

Como é que uma sociedade normalmente voltada para o bem-estar, para a generosidade, para a cooperação social, consegue aderir a tudo o que é contrário aos nobres sentimentos de solidariedade humana e de bondade natural?

Como é que pessoas boas, talvez um tanto ingênuas, acabam aderindo, defendendo e promovendo um MONSTRO?

Como é que chegamos a isso que estamos vendo e suportando todos os dias?

Como é que não se generaliza um sentimento de revolta e uma reação efetiva em face de tantos mortos acumulados no altar da incompetência, da indiferença, do desprezo pela vida humana? 

Por que tudo isso, quando as evidências são tão gritantes?

Onde foi, como foi, quando foi que o Brasil desandou?

Até quando ofereceremos ao mundo esse espetáculo grotesco de um país fracassado nos deveres mais elementares de uma nação minimamente funcional? 

Até quando seremos obrigados a chorar pelos mortos involuntários, a ter vergonha de nossa incapacidade de evitar essa hecatombe cotidiana?

Que ela tenha sido deliberada ou involuntária, o fato é que somos obrigados a contemplar o desastre continuamente.

Até quando não teremos condições de nos revoltar? Até quando suportaremos passivos um quadro de demolição das bases mesmas de uma nação digna desse conceito? 

É isso um homem, perguntou certa vez um escritor que sobreviveu ao Holocausto?

É esta a sociedade que desejamos, para nós, para nossos filhos, pergunto eu? 

É este o país no qual queremos viver?

É este o Estado que construímos? Um ogro famélico que consome a vida de muitos brasileiros para alimentar a cobiça e a cupidez insaciáveis de um bando de aproveitadores das elites? 

Os mandarins do Estado — entre os quais eu me incluo — não têm nada a ver com tudo isso? Vão permanecer indiferentes, só pensando em suas vantagens e prebendas corporativas?

Como foi que chegamos a isto?

Quando vamos nos libertar do pesadelo?

Desculpem: acordei reflexivo neste sábado.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30/01/2021