O parlamentarismo é a solução? Sim, mas apenas depois de retrocessos temporários
Paulo Roberto de Almeida
O líder do governo no Senado diz que o país está ficando “ingovernável” por causa das emendas parlamentares obrigatórias e incontingenciáveis, o que eu chamo de estupro orçamentário. Um plebiscito deveria determinar se o parlamentarismo seria a solução, diz ele.
Sabemos que o parlamentarismo não será aceito, pois a população não confia nos políticos (como se o presidente não fosse um). Os parlamentares gastam, mas não têm nenhuma responsabilidade pelo equilíbrio fiscal.
É o pior dos mundos.
E o Brasil continuará nele por muitos anos mais.
Afirmo que o parlamentarismo seria um avanço para o país (com uma reforma radical dos sistemas partidário e eleitoral), por diminuir o inevitável populismo demagógico dos candidatos a presidente, quase um imperador no Brasil.
Mas não tenho nenhuma ilusão de que a melhoria ocorreria imediatamente. Numa primeira fase, o parlamentarismo representará a exacerbação de tudo o que existe de negativo no atual sistema, caracterizado pir um estamento político predatório e medíocre: nepotismo, fisiologismo, prebendalismo, corrupção, desperdício, acentuação das desigualdades e da concentração de renda, fragmentação das políticas públicas (macro e setoriais), corporativismo, deformações diversas, enfim.
Apenas numa segunda ou terceira fase, depois de diversos percalços e fracassos, com a educação política da população, ou da educação tout court, é que o sistema parlamentar revelará os seus frutos.
Sorry pela decepção!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19/12/2023