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quinta-feira, 23 de maio de 2013

Voltando ao seculo 17, com os Amish (menonitas da Pensilvania)

A caminho de Baltimore, onde vim participar de um encontro da Economic and Business History Society (com um pequeno paper de revisão bibliográfica sobre a historiografia econômica brasileira), paramos no condado de Lancaster, Pensilvânia, onde Carmen Lícia organizou uma visita a alguns sítios históricos e atuais da comunidade Amish isto é, os menonitas (anabatistas, emigrados da Europa para os EUA séculos atrás), e que ainda conservam hábitos, costumes e tecnologia próprias da era pré-Revolução Industrial. Ou seja, eles não usam nada moderno, com exceção de máquinas de costura (Singer, manuais, ou pedalais) e máquinas de lavar impulsionadas a gás.
Aliás, não existe nenhuma, repito, nenhuma eletricidade numa residência Amish, apenas coisas movidas a querosene ou a gás, ou então tração humana, animal, força da natureza (como bombas acionadas por rodas d'água).
Enfim, não tem iPad, iPhone ou coisas do gênero para a juventude Amish (a menos que inventem um Facebook movido a gás).
A foto abaixo foi tirada por uma família oriental que também visita a Amish Village (uma espécie de condensação turística do que eles têm), onde tinha um simpático pavão, carregando sua enorme plumagem (deve ser um incômodo para dormir ou fazer amor), que é uma das maravilhas da seleção natural (e que eles devem achar que foi criado por deus).
A comida é sem graça, mas de boa qualidade, e eles são muito simpáticos e prestativos. Adoram vender quilts e outras manufaturas para os turistas, e tem quilts de 900 dólares: capitalistas esses Amish.
Paulo Roberto de Almeida

terça-feira, 2 de abril de 2013

A Journey Inside the Whale: viajando pela baleia

Aproveitando a Sexta-Feira Santa (ou Good Friday, como chamam aqui), Carmen Lícia e eu descemos em busca de cultura (e de um pouco de sol). Fomos a Washington, visitar exposições que estavam pedindo desesperadamente a nossa presença (sem qualquer intervenção divina, claro, seja do Pai, seja do Filho).
Guiados pela encarnação atual do Espírito Santo (que se chama GPS), lá desabalamos pelas estradas do império, contornando aqui e ali os eixos de maior circulação (e maiores engarrafamentos, como em volta de NY) e descemos alegremente em direção da capital da nova Roma (na verdade, ficamos no subúrbio, em Alexandria, uma cidade que tinha o privilégio de ser frequentada pelo Bolívar do Império, o Santo general Washington, uma espécie de Artigas que deu certo..., com perdão dos puristas).
O objetivo era claramente o de visitar museus (e restaurantes, por acaso).
Primeiro foi a Freer Galerie, onde havia uma exposição especial sobre o cilindro de Ciro, o grande rei Persa, muito diferentes de sucessores e antecessores, no sentido em que foi um libertador dos oprimidos, tendo reconduzido o povo judeu de volta a Jerusalém, encerrando uma escravidão de dezenas de anos.
Depois almoçamos em Georgetown, ou perto, no Bistro Lepic, um menu leve, começando com seis escargots de Bourgogne, passando por um foie de veau à Provençale, e terminando por sorbet, enquanto Carmen Lícia comia um belo peixe aos legumes. O mais caro mesmo (54 dólares) foi meia garrafa de Bordeaux, mas millesime de 2004, o que talvez justificasse, como justificou, o valor.
Depois fomos ao museu de Dumbarton Oaks, que só abria pela tarde. Foi ali que se realizou uma das conferências preparatórias de San Francisco, com a participação da China, entre os três grandes (a França ainda não era suficientemente grande nessa ocasião): antiguidades bizantinas, pré-colombianas e de outras civilizações, além da própria casa, que é um primor de decoração.
Jantamos num italiano de Potomac, em Maryland, com nosso amigo Gonzaga, quem nos levou, aliás. Como um belo especial da casa, macarrão linguine aos frutos do mar (depois não houve mais espaço para sobremesa), mas o vinho foi um Chianti reserva.
Sábado começamos por um passeio em Alexandria, com sol e um pouco de arte. Eis nossa foto do passeio, à beira do Potomac, tirada por uma simpática mãe de família americana (eles todos são simpáticos).

Pela tarde fomos à National Gallery, para duas exposições especiais, dessas que reúnem peças excepcionais, dispersas em diversos museus do mundo, e que não se reunirão mais nos próximos 300 anos: a primeira em torno dos pré-rafaelitas ingleses, que acreditavam que a Idade Média era melhor do que a era da revolução industrial.
Depois obras quase completas de Albrecht Durer, o genio do desenho, colega de tantos outros artistas do Renascimento.
Finalmente, fomos ao shopping Tysons Corner, numa grande Barnes que tem por lá: quase compro o livro mais recente do Ian Morris, mas resisti à tentação, tanto por razões de espaço (minhas estantes já estão cheias), como porque dentro de um ou dois meses vou poder comprar por menos da metade do preço na Abebooks.
Domingo, chuvoso e frio, voltamos, mas sem deixar de fazer mais um museu, desta vez em Newark, para ver o Altar Tibetano e outras maravilhas.
Estradas cheias, mas suportáveis, sobretudo quando o Santo Espírito do GPS nos guia por caminhos alternativos, longe das embouteillages do império... (Roma devia ser assim, também, nos fins de semana...).
Uma viagem perfeita, não fosse pelo excesso de turistas e carros, mas todo mundo tem o direito de ser como nós...
Achei também que o número de asiáticos em Washington (e um pouco em todas as partes) multiplicou-se por dez, desde que deixamos o império dez anos atrás.
Eles estão por toda a parte, agora com família, carros de bebê e tudo a que têm direito...
Assim é...
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 22 de abril de 2012

Flanerie a Bologna...

Carmen Licia passeando sob as arcadas da maravilhosa, culturalmente rica (e comercialmente tentadora) cidade de Bolonha, na Emília Romagna, uma das nossas etapas de turismo cultural (e gastronômico)...
Paulo Roberto de Almeida 



domingo, 29 de janeiro de 2012

Petite randonnée en Europe: en Côte d’Azur, avec les impressionistes... - Paulo Roberto de Almeida


Petite randonnée en Europe: en Côte d’Azur, avec les impressionistes...

Paulo Roberto de Almeida
(Feito em Lyon, 29/01/2012)

Girona, a cidade setentrional mais importante da Espanha mediterrânea, foi nossa última etapa nesse país: deixando o hotel, pela manha, ainda visitamos a cidade, embora rapidamente, antes de retomar a autoestrada para finalmente cumprir nosso objetivo principal: a Provence e a Côte d’Azur, na França mediterrânea. Eu teria preferido viajar pelas pequenas estradas perto da costa, para refazer o caminho dos últimos combatentes brasileiros que participaram da guerra civil espanhola, da qual se retiraram, finalmente, em abril de 1939, junto com o que restou do exército e do governo republicano derrotados pelas forças franquistas. Eles se retiram por Figueras, depois Port-Bou, a fronteira imediatamente situada em frente à costa francesa, e ficaram internado num campo improvisado nas areias de Argelès-sur-Mer, até o início da guerra europeia (quando tomaram destinos diversos). Já escrevi sobre isso e meu trabalho é este:
“Brasileiros na Guerra Civil Espanhola, 1936-1939: combatentes brasileiros na luta contra o fascismo”, revista Sociologia e Política (Curitiba, PR; ano 4, nº 12, junho 1999, Dossiê: Política Internacional, pp. 35-66; ISSN 0104-4478; link: http://www.revistasociologiaepolitica.org.br/revista12/). Relação de Trabalhos n° 608. Efetuada versão resumida do artigo, publicada sob o título de “O Brasil e a Guerra Civil Espanhola: Participação de brasileiros no conflito” in Hispanista (vol. 2, nº 5, abril-maio-junho 2001; ISSN 1676-9058; link: http://www.hispanista.com.br/revista/artigo37esp.htm).
O roteiro político-sentimental ficou para outra oportunidade, e viajamos sem parar pela Autoestrada do Sol, passando por cidades que conhecíamos bem do sul da França. Ultrapassamos Marselha, Toulon e adentramos no Var, pouco antes dos Alpes Maritimes, onde está Nice, a antiga Nizza dos italianos despossuídos por Napoleão. No final da tarde, depois de 550 kms de estrada, aproximadamente, resolvemos ir em direção ao mar, escolhendo Saint Raphael, próximo a Saint Tropez, como nosso local de repouso e base de viagens. O hotel escolhido foi o Marina, da rede Best Western (a preços praticamente parisienses: 165 euros por noite, e resolvemos ficar só duas...).
Bem, como é nosso costume, e o sacrifício oblige, resolvemos nos dedicar a nosso esporte favorito: gastronomia. O próprio hotel tem um restaurante reconhecido, o Quai St. Raphael, e lá fomos nós. Eu fui de gambas finement persillées, e estavam realmente boas, quase italianas, como eu mesmo diria, e me repetiria; Carmen Lícia preferiu um Loup de Mer entier, grillé à la braise, do qual o maître fez questão de retirar a espinha para ela; como vinho um blanc, Côtes de Provence, Domaine des Planes, produzido a Roquebrune-sur-Argens, um village perto dali (por que passamos numa das nossas incursões). Mais sobremesa, café, etc., ficou tudo por 61 euros, o que achei razoável, tendo em vista o prazer gustativo, olfativo e bebitivo, se ouso a expressão.
Na manhã seguinte saímos em direção a Saint Tropez, para visitar um museu identificado. Antes, porém, como ninguém é de ferro, paramos para almoçar em Sainte Maxime, um village dependente de Fréjus, alguns quilômetros adiante, na costa. Em face do chamado embarras du choix, preferimos um restaurante italiano: San Marco. Eu fui de tagliatelli ai frutti di mare (ou aux fruits de mer, como estava no cardápio); Carmen Lícia pediu um escalopino di vitello alla milanese, também acompanhado de tagliatelli. Para beber, duas taças de Côtes de Provence, blanc et rouge; total: 48 euros, apenas (apenas?).
Musée de l'Annonciade, Saint Tropez, Côte d'Azur, France
Depois, fomos a nosso objetivo principal: o Musée de l’Annonciade, bem no porto velho de Saint Tropez, numa antiga igreja reformada em meados dos anos 1950. Não sei se a Brigitte Bardot frequentou o museu, que já estava aberto quando ela fazia furor nas praias não longe dali, mas ele vale uma visita, não tanto pelos quadros em si, mas pelo leque de artistas consagrados que ali comparecem com dois ou três quadros cada um. Realmente impressionante a amostra, embora, como eu digo, os quadros não estão entre os mais famosos dos impressionistas; mas praticamente 95% dos nomes mais famosos estão ali presentes.
Em St. Paul de Vence
No dia seguinte, já com as coisas empacotadas novamente, e o sol ainda brilhando, saímos (depois de passar no correio) para o objetivo principal: Saint Paul de Vence, e sua Fundação Maeght, uma outra coleção impressionante de impressionistas, se ouso a redundância, mas também comportando uma amostra variada de artistas contemporâneos, com forte ênfase no catalão Miró, que viveu nessa aldeia durante uma boa parte da sua vida.
Para não destoar do costume, antes de visitar a Fundação, almoçamos perto dali, no Restaurant La Terrasse sur Saint Paul (20, chemin des Trions); desta vez, fui eu quem comi Loup grillé, mas tive de retirar eu mesmo as espinhas, que não eram muitas. Antes um aperitivo à base de pasta de azeitona preta; os vinhos foram Muscadet e Bordeaux. Esses lautos almoços, ou jantares, estão destruindo minha linha retilínea, se vocês me permitem a expressão um tanto enganadora.
Um Miró farseur
Já conhecíamos a Fundação Maeght, mas desta vez estávamos sem tempo contado, como em outras viagens, por isso foi o ideal para percorrer calmamente suas várias salas e jardins (o labirinto de Miró, como designado), com muitas escultura de Calder e outros artistas conhecidos. Muitas fotos, não das obras, mas da construção, da arquitetura, das estátuas de jardim.
Dali, fomos visitar um outro impressionista, mas um gigante da escola, Renoir, que tinha uma casa em Cagnes-sur-Mer, numa colina acima da cidade. Era uma residência atelier, que ele alternava (nos meses de inverno) com sua outra casa a oeste de Paris, mas perfeitamente equipada para abrigar toda a sua família e artistas visitantes, que foram muitos nas duas décadas finais de sua vida, quando Renoir já era um ícone da pintura francesa contemporânea. Acabei roubando duas laranjas do jardim de Renoir, mas que, ao provar, revelaram-se muito amargas: bem feito, ninguém mandou praticar maus hábitos.

No retorno, subimos ao Bourg Medieval de Cagnes, encarapitado numa colina e com muitas casas antigas e ruelas tortas. O Cercle des Amis local organiza anualmente um campeonato internacional de “boules carrées”, a crer num cartaz formalmente colado na parede de sua sede. Gostaria de assistir a um campeonato desse tipo, mas ele só se desenvolve em agosto, ainda acreditando-se na palavra dos “cagneux”. 
Cumprida a etapa na Côte de Azur, começamos novamente a subir pela Provence. Nesse dia, 26 de janeiro, dormimos em Cavaillon, a caminho de Gordes, nosso próximo objetivo. O jantar foi no Novotel, à base de spaghetti aux fruits de mer, meu fetiche gastronômico.
Gordes é, provavelmente, uma das mais belas cidades medievais e renascentistas de toda a França, encarapitada, como muitas outras, na montanha, com um belo sol iluminando todas as paredes e janelas de suas muitas casas de pedra e de alvenaria. Os caminhos são estreitos, especialmente o que leva à Abbaye de Sénanque, nossa finalidade de viagem nessa etapa, a cerca de dez kms da aldeia.

Para “matar o tempo”, antes da visita à abadia, só permitida pela tarde, nos sacrificamos mais uma vez no restaurant et hostellerie Le Provençal, bem na praça principal de Gordes. Menu a 24 euros, e eu comecei com salade de chèvre chaud, com tomates sèches; depois colin (um peixe, para quem não sabe), en papillote croustillante et legumes e arroz; o vinho escolhido foi um do próprio Louberon, a região onde estávamos, um Chateau Les Eydins, appelation d’origine controlée, 2009; depois ainda tive um plateau de fromages au choix, e um café; preço final, para os dois: 56 euros.

A abadia de Sénanques foi construída pelos cistercianos no século XII, e conseguiu sobreviver (mas mal) a guerras de religião e à própria revolução francesa, não sem enormes desgastes em sua estrutura e patrimônio econômico. Hoje existem apenas sete monges ali residindo, supostamente em regime de clausura. Digo supostamente porque consegui encontrar dois no corredor e começamos uma conversa agradável, em italiano: sim os dois eram da Itália, um deles de Pisa, na Toscana (onde já estivemos várias vezes) e outro conhecia o Brasil. Acho que eles romperam a clausura porque são italianos, e não conseguem viver sem falar.

Em todo caso, foi uma boa surpresa, numa visita que teria ficando, essencialmente, em paredes quase nuas, grandes salas geladas e sombrias, mas com muita história em todas as partes, como nos explicou a guia que nos acompanhava. Acho que a deixei perturbada, fazendo muitas perguntas sobre a “economia política” dos monges trapistas, apenas para descobrir, depois, que eles também se globalizaram e viraram capitalistas do turismo. A livraria e loja de souvenirs da abadia vendia uma quantidade incrível de produtos, todos da melhor qualidade, a começar pela lavanda, produzida ali mesmo. Compramos um vidrinho, e mais alguns livros, que ninguém é de ferro também nesse particular.
Eu preferi estudar as regras monásticas e saí com uma coleção completa de Règles des moines, incluindo Pacôme, Agostinho, Benedito, Francisco de Assis e as do Monte Carmel. Pronto, agora posso estudar as 73 regras de São Benedito, e quem sabe fazer outras tantas para orientar a vida dos diplomatas, que são tão monásticos quanto. O outro livro que comprei foi de Petrarca, que morou na região, e compôs, em latim, uma série de ensaios “contra a boa e a má sorte” (de 1366). Pode ser que existam alguns bons conselhos para nós mesmos, setecentos anos depois...; em todo caso, entre os remédios “contra a boa sorte”, existem recomendações quanto à “abundância de livros”, o que para mim é realmente um problema. Imediatamente após, tem outra sobre a “reputação dos escritores” e creio que Petrarca pensava na sua própria; vou verificar para ver se tem algum bom conselho em minha intenção. Depois relato o que aprendi...

De retorno a Gordes, ainda visitamos algumas ruelas, mas o castelo da cidade, reformado pelo arquiteto húngaro Paul Vasárely, estava infelizmente fechado para visitas, até o começo do verão, o que é uma pena. Compramos alguns postais, tomei mais um café e retomamos o caminho da estrada provincial na saída da cidade, já com o marcador a mais de 26 mil kms, o que significa que ultrapassei 5 mil kms de randonnée europeia.
Como o tempo estava se fechando, resolvemos vir direto a Lyon, uma bela cidade do interior da França, de onde escrevo estas notas.
Aqui em Lyon, cidade também conhecida de outras etapas, visitamos essencialmente o museu dos tecidos e da seda, onde ocorria uma exposição especial sobre os vestidos da virgem Maria, na França e na Espanha: uma coleção muito interessante de roupas refinadíssimas, que coloca a virgem Maria na altura das melhores modelos de moda de todos os tempos. Antes, porém, nosso passatempo favorito: um almoço num “Restaurant des Vosges”; comida simples, apenas por instinto de sobrevivência; nem tomei vinho. Mas descontei logo mais a noite, com uma garrafa quase inteira de vinho da região, com um queijo de cabra também quase inteiro, e uma baguette quase inteira (estou exagerando, eu sei), mais quatro ou cinco mandarines deliciosas. No quarto tem uma máquina de Nespresso, várias vezes acionada, para diversos tipos de café. Hotel caro tem dessas compensações...
Como o tempo se fecha, com ameaça de neve e gelo por todo lado, resolvemos ir para Paris, para pelo menos degustar nosso zero grau em baixo das cobertas, sem pensar em ficar inventando passeios e descobertas gastronômicas. Mas isso eu contarei depois, quando me estabelecer em Paris. Por enquanto, encerro esta randonnée, e retomo meus “séjours en academie”.
Paulo Roberto de Almeida 
 (feito em Lyon, em 29/01/2012)

sábado, 28 de janeiro de 2012

Turistando na Europa - blog de Carmen Licia Palazzo

Eu estava postando algumas descrições impressionistas de nossa randonnée europeia, mas sem a mesma competência de minha queridíssima Carmen Licia, que além de tudo tira fotos muito melhores do que eu.
Uma amostra abaixo...
Defeitos de exibição são inevitáveis, quando se transpõe o conjunto do blog, por isso recomendo uma vista ao blog original: http://carmenlicia.blogspot.com/
Divirtam-se, e admirem...
Paulo Roberto de Almeida

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Abadia de Notre-Dame de Sénanque


Hoje visitamos a abadia beneditina cistercense de Sénanque, próxima à cidade de Gordes, no Luberon ( uma cadeia de montanhas), na região da Provence. Sua construção foi iniciada no século XII. A arquitetura cistercense caracteriza-se por uma grande sobriedade, o que não impede que seja incrivelmente bela. Nada é supérfluo, tudo tem sua função. A visita inclui também a sala na qual os monges recolhiam-se para leitura e também para o trabalho de cópias. Era o antigo "scriptorium", único local que, na Idade Média, possuía aquecimento através de uma grande lareira alimentada por madeira da região.
Atualmente a abadia ainda se constitui em um mosteiro que abriga uma comunidade de cistercenses. No século XIX foi acrescentada uma construção lateral na qual atualmente os monges vivem e trabalham, mas o claustro na antiga construção medieval continua sendo um local de recolhimento. Da mesma forma, a igreja abacial continua como tal e todo o conjunto, que passou por muitos percalços durante as guerras de religião, foi preservado e restaurado dentro das normas beneditinas.
De acordo com São Bernardo, um monge não seria considerado monge se não trabalhasse com suas próprias mãos. Em Sénanque eles continuam ativos no cultivo da lavanda, na produção de alguns derivados das plantas, na produção de mel e também em atividades de recepção a turistas, à manutenção de uma excelente livraria, e outros trabalhos semelhantes. Na livraria há obras excelentes não apenas relativas à vida monástica mas também de história medieval, de culinária provençal, de diálogo interreligioso, de autores diversos e não apenas de confissão católica.
Foi um belo programa, e há muito ainda por descobrir na região. Esperamos voltar por lá em abril.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Viagem pelo sul da Europa a caminho de Paris



















O Paulo e eu estamos fazendo uma excelente viagem pelo sul da Europa e daqui iremos até Paris, onde vamos ficar por 4 meses. Já estivemos em Évora, uma pequena cidade que nos encantou. De lá fomos para Córdoba, depois Águila (um belo porto no mediterrâneo), Barcelona, Girona, e agora estamos em Saint-Raphael, na Côte d'Azur. Um excelente programa.

A universidade de Évora é belíssima. O prédio data do século XVI e foi inicialmente o Colégio do Espírito Santo. Na foto, uma das salas, com o púlpito em madeira e os azulejos nas paredes. As salas têm também toda a aparelhagem moderna de "data show" mas devidamente posicionada para não atrapalhar o visual das peças antigas. As mesas e cadeiras e o espaço para o professor ( que evidentemente não fica mais no púlpito) estão no centro da sala, deixando livre para o olhar tanto a azulejaria quanto o púlpito em madeira. E são muitas salas desta mesma maneira, com cenas diversas nos painéis de azulejos. Um encanto.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Petite randonnée en Europe: de Évora a Girona, em tempos alternados...


Petite randonnée en Europe: de Évora a Girona, em tempos alternados...

Paulo Roberto de Almeida

O avião com Carmen Lícia chegou pouco depois da hora fixada, na sexta-feira dia 20, mas, assim como ocorreu comigo ao desembarcar em Paris, os passageiros tiveram de descer escadas sozinhos, sem qualquer ligação com o tradicional finger. Não sei se é greve de funcionários, economia da empresa, ou bagunça mesmo, mas isso está ocorrendo com cada vez maior frequência: os serviços aeroportuários estão se tornando mais precários, em lugar de melhorar.
Meu carro já estava à espera, assim que foi fácil sair do aeroporto, tomar a autoestrada e logo em seguida atravessar a nova ponte Vasco da Gama, que ainda não conhecia: imponente, mesmo sob o lusco-fusco da manha de inverno. Saímos de Lisboa pouco antes das 7hs, com o odômetro marcando 23.130 kms. As 8h30 já estávamos adentrando em Évora. 
Biblioteca Pública de Évora (cartaz simpático)
Depois de rápida circulada pela cidade murada, e de ver que a Hostaria de Loyos não era lá essas coisas, resolvemos ficar num hotel moderno fora de uma das portas da cidade, o Ibis, da rede hoteleira Accor. Dormimos, ambos, até quase as 15hs, quando saímos para passear novamente na cidade, desta vez a pé, por várias partes. De noite fizemos lanche, em lugar de jantar, pois já tínhamos comido no meio da tarde. E ficamos planejando as próximas etapas do passeio. Na manhã seguinte, sábado 21, saímos do Hotel para visitar a Universidade, em férias até o início de fevereiro: prédio imponente, salas antigas, com azulejos azuis retratando os diversos temas das aulas, catedráticas (já que todas elas tinham um púlpito, suponho que não mais usado). Fiz-me fotografar no púlpito da sala de filosofia grega, e tirei fotos de Platão, Aristóteles e alguns outros companheiros filósofos. Todos eles “falando” em latim, curiosamente...

 Aristóteles ensinando em latim na Universidade de Évora
Na mesma universidade, uma "aluna" não convencional, anda faltando às aulas involuntariamente...
Uma gata universitária desaparecida, infelizmente para boa sua formação...


Seguimos para a Espanha, e almoçamos a cerca de 100kms de Córdoba, nosso primeiro destino no país: comi uma “dorada al horno”, num excelente parador de estrada, mas podia ter comido mais, sobretudo jamón ibérico que deixamos para outro dia.
Acabamos enfrentando mais estrada do que o esperado, e fomos dormir em Águilas, já na costa valenciana, depois de esquivar Granada, cujo Alhambra já vimos mais de uma vez. Até essa cidade espanhola da costa mediterrânea já tinha alcançado mais de 3.200kms de viagem de carro, o que dá mais ou menos 650kms por dia, nossa média em matéria de turismo, se ouso dizer. Só de Évora a Águila foram 850kms, em cerca de 11 hs de viagem, com duas boas paradas no caminho.
No dia 22, domingo, saímos tarde e acabamos parando em Santa Pola, antes de Valência, para almoçar, as 15hs, como fazem todos os espanhóis. Excelente restaurante “El Faro”, que nos reteve durante mais de uma hora: calamares fritos de entrada, dorada de principal, vinho branco da região “Primitivo Quiles”, de Alicante, de uma tradição familiar que remontava, segundo li no rótulo, a 1780 (parbleu!); água Vichy Catalona que também segundo o rótulo foi premiada em várias exposições universais e feiras internacionais, desde as de Nice e Nápoles, em 1884, a de Barcelona, e 1888, a exposição universal do centenário da revolução, em Paris, em 1889, Veneza em 1902 e Viena, em 1904; isso faz um bocado de prêmios para uma simples água mineral com gás: em todo caso matou a minha sede espanhola. Total, para dois, com sobremesas e café, 52 euros!
Seguimos boa parte do caminho de Alicante a Valência pela costa, pela estrada N322, serpenteando entre colinas e praias. De Santa Pola a Valência foi mais um passeio de barriga cheia, o que não me impediu de chegar as 19hs e de ainda circular bastante pela cidade, até encontrar um Holiday Inn Express, que nos pareceu conveniente, com garagem interna e outros serviços. Um descanso reparador, internet ampla e livre, café da  manhã espanhol, ou seja, razoável.
Em Valência, parece que o prefeito foi para a cadeia por sobrefaturar esta cidade das Ciências monumental (no Brasil, não se vai para a cadeia por obras bem mais medíocres...)
Como acordamos tarde, fomos pela autoestrada e depois coleando pela costa, parando em Port Salou, para almoçar: foi no limite de Cambrils, e tinha muita coisa fechada, por não ser estação de férias. Acabamos achando o restaurante Casa Solers, com menu completo a 27 euros cada. Entrada: aperitivos da casa (tapitas e pasteizinhos) e langostinos a la plancha, devidamente grelhados ao ponto, com limão e ervas, quase italiano; principal: bacalao catalana, com alho, tomates e pignoli; vinho L’Arnot Nègre, da Catalunha mesmo; sobremesa: fresas, ou seja, morangos, bem maduros, mas duros, o que estava perfeito; custo total: 54,57 euros. Valeu.
Não deu para esperar pela foto: estava louco para experimentar o meu Bacalao Catalana.
Na saída, no caminho para Tarragona, pudemos contemplar alguns exemplos da fantástica bolha imobiliária espanhola, que pode ter arrastado a economia do país para o buraco (já que a Espanha não ofendeu muito os critérios de Maastricht); alguns cartazes em russo fazem supor que os amigos de Putin, capitalistas mafiosos e mafiosos tout court fazem um pouco de lavagem de dinheiro ali mesmo, no imobiliário espanhol. Enfim, fica a sugestão para os brasileiros que se cansaram de encontram outros brasileiros em Miami: os imóveis por aqui devem estar ainda mais baratos, e eles podem falar portunhol. Enfim, isso na suposição de que os mafiosos russos não estejam executando gente por aqui, como fazem lá na terra deles... 
Chegamos no final da tarde em Barcelona, o suficiente, porém, para passear por várias partes da cidade, para um guarda da Generalitat me dar uma bronca por entrar com o carro em zona proibida, e para escapar depois, já noite entrada, para a estrada. Já conhecíamos suficientemente a melhor cidade da Europa (de longe, batendo Paris, pela abertura total a qualquer hora) para não precisar ficar mais uma vez em Barcelona. O objetivo sempre foi mais o sul da França, e assim pegamos a autoestrada outra vez.
Paramos pouco antes da fronteira, em Girona, num Novotel confortável (e caro) próximo à estrada: ali sim, comemos jamon ibérico de lanche-jantar, mais queijos e pão, acompanhados de uma taça de vinho tinto Duero e outro rosé Penedés; café excelente. Nem vi a conta, pois fomos direto para o quarto descansar. Nem tanto, pois Carmen Lícia fazia aniversário na virada da meia noite, e retirei os presentes que tinha comprado em Lisboa para lhe oferecer: duas roupas (lindas, acho) e um batom, dos seus preferidos. Creio que foi um bom final de noite, a despeito do cansaço e da quilometragem.
Na manha seguinte, entramos em Girona, para conhecer a imponente catedral. A cidade nos pareceu bastante desenvolvida, e moderna, a despeito do centro histórico sempre de ruas acanhadas, como ocorre tradicionalmente nas velhas cidades europeias.
Em Girona, completei 25.000kms no carro, o que significa mais de 4 mil kms percorridos em menos de dez dias.
De lá seguimos para a fronteira da França, mas sobre essa etapa falarei depois.

Paulo Roberto de Almeida 

Petite randonnee en Europe: de Paris a Lisboa, em tres tempos...

Foi mais fácil do que aprender a dizer saperlipopete de trás para diante, no escuro, sem hesitar e com as mãos amarradas às costas...
Enfim, maneira de dizer...
Estou me referindo ao pequeno circuito que acabo de fazer por metade da Europa (OK, 2/5, apenas), a partir do dia 15 deste mês de janeiro de 2012, apenas como lazer prévio ao trabalho (ele não me pega tão cedo).
Comecei desembarcando, como programado, no Charles De Gaulle, aeroporto que já foi mais impressionante do que é agora, comparado a outros novos monstros na Ásia ou na América do Norte. Serviços franceses, ou seja, quase inexistentes as 7hs da manhã...
Imediatamente comprei um chip para o meu iPhone, que ninguém fica sem comunicação hoje em dia por falta de chip, ou de celular. Telefonei para casa para avisar que tinha chegado bem e, zut, antes que eu me desse conta, os 5 euros de crédito se acabaram num átimo. Tive de comprar mais 25 e depois mais 25 euros, para enfrentar as necessidades pessoais e familiares.
Depois recolhi o carro que esperava por mim, no guichê da Hertz: um Peugeot 3800, diesel, seis marchas, teto solar, todo computadorizado, só faltando falar, ainda que ele apite quando a gente faz alguma bobagem.
Razoável, mas no começo fiquei buscando freio de mão manual: não existe, ele mesmo se encarrega de apertar e soltar, penetrando no seu pensamento e detectando que você quer parar ou começar a andar. Espertinho esse carro...


Fiquei em Paris, no primeiro dia, para rever a capital em que já morei e detectar algumas possíveis mudanças. Tem sim: muito mais carros. Inacreditável massa de veículos para um domingo, talvez porque fosse o último dia da iluminação natalina e de final de ano. Toda a cidade engalanada, a Tour Eiffel iluminada de alto abaixo (ou vice-versa), luzes para todo lado, e carros para todo lado, também. O que eu pretendia que fosse um passeio de meia hora apenas para percorrer os trechos mais conhecidos, acabou levando uma hora e meia de trânsito a 3kms por hora. 
Sim, também desisti de comer em algum restaurante do centro, do Quartier Latin, pois não acharia vaga em lugar nenhum para estacionar o carro. Acabei comendo um sanduíche e fui para o hotelzinho que acabei achando do lado de La Défense, para ter um com estacionamento próprio sem que isso me custasse mais uma diária.
Hotel des Ammandiers, em frente ao Théatre do mesmo nome, na Avenue Pablo Picasso, de Nanterre, um bairro universitário, que já teve dias mais movimentados (em 1968, claro).


No dia seguinte, segunda 16, logo de manhã, passei no Banco do Brasil, Avenue Kleber, perto da praça de l'Étoile (Arco do Triunfo, aquela coisa alta, na qual os americanos sobem para ver Paris em perspectiva), peguei meus cartões de crédito, e fui direto para a Embaixada (Cours Albert Premier, perto da praça Alma, onde se come muito bem). Depositei duas malas grandes, para deixar o carro mais leve e viajar com pouca bagagem e fui imediatamente para a estrada, via Porte St Cloud.
Tomei, como estava previsto o caminho de Orleans e Bordeaux.
Orleans foi uma primeira entrada para revisitar essa cidade que já foi mais gloriosa, nos tempos da Jeanne d'Arc, aliás objeto de uma recente controvérsia entre o presidente petit Nicolas Sarkozy e o líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, cada um reivindicando seu direito a homenagear a virgem salvadora da França (pelo menos é o que dizem...).
Catedral de Orleans (em foto rápida de iPhone)
Um almoço rápido num restaurante não tipicamente francês (aliás chinês, mas foi o que achei aberto numa segunda-feira em que tudo fecha), e estrada de novo, sem parar, em direção ao Sudoeste (o sol que descamba à frente do carro é um terror para dirigir).
Felizmente o tempo estava frio mas seco, sem um traço de chuva nas estradas, sem qualquer ameaça de neve: ótimo para chegar a pontas de 180kms/h.
A Espanha apareceu já no começo da noite, direto a San Sebastian (mais ou menos 800kms de Paris), a primeira cidade importante no norte, país basco. Também quase tudo fechado, mais de 21hs: felizmente apareceu um lugarzinho para estacionar bem em frente do Melia Tryp Orly, Plaza Zaragoza, a dois passos de uma lanchonete, à base de tapas (as, não os) e cerveja: comi um "hamburguer" de ternera (era o mais razoável), uma cerveja, justamente, e fui direto para o Hotel, onde coloquei o carro na garagem. Preço mais do que razoável, comparado ao resto da Europa, e isso não sei por causa da crise, ou da época, praticamente vazia de turistas gastadores...
No dia seguinte, ou seja, terça-feira 17/01, sai como programado, mas com algumas visitas no caminho. Primeira parada: Bilbao, que eu já conhecia, mas sempre é bom rever velhos amigos.
Fui imediatamente ao Guggenheim da cidade, para ver se ele ainda estava lá, e como parece óbvio, não se mexeu, nem ficou mais escuro, desde minha primeira e única visita, alguns anos atrás. Impressionante, por fora, pois por dentro continua com pouca coisa, dependendo mais de exposições temporárias e de empréstimos de outros museus do que de coleções próprias.
Guggenheim de Bilbao (esse iPhone até que é razoável para fotos rápidas)
Burgos, logo mais abaixo, foi a próxima etapa, onde almocei muito bem, num restaurante do centro da cidade, por um preço modestíssimo para a excelência da comida (e do vinho, que não devia ter exagerado, mas exagerei). Tirei algumas fotos, cuja postagem fica reservada a outra oportunidade.
Deixei de entrar em Valladolid e Tordesillas, que já conhecia de visitas anteriores, mas entrei em Salamanca, já que ela tem fama de "estudiosa" (pelo menos os padrecos de antigamente anteciparam Adam Smith, no estudo de questões econômicas, ou pelo menos em detectar a inflação que acometeu a Espanha da espoliação americana, inundado por ouro e prata em quantidades inacreditáveis para os padrões da época). 
Salamanca tem a famosa casa das conchas, cuja foto tirei, mais uma vez:
Casa das Conchas (Salamanca)
A partir de Salamanca, pretendia dormir no parador de Zamora, que conhecia de viagem anterior, mas resolvi seguir adiante, já que eram apenas 18hs. E lá fui, pelo norte de Portugal, em lugar do centro, pois pretendia passar pelo Porto, onde não tinha estado ainda.
Montanha, frio, noite, estrada pequena, fui até Bragança, apenas, uma centena de quilômetros adentro de Portugal. Não posso reclamar do hotel, San Lazaro, o melhor da cidade, também por um preço razoável (e um jantar à base de spaghetti aos frutos do mar, com um bom vinho da região). Mas isso depois que me perdi três vezes na cidade, tendo chegado até o castelo.
Não acordei cedo, mas ainda assim cheguei no Porto para o almoço, que fiz à beira do mar, no restaurante Shi, em Matosinhos, norte da cidade, mais exatamente na foz do Douro (que vinha seguindo desde a Espanha, mas o danado se chamava Duero, então).
Pela primeira vez na viagem, pode-se dizer que fiz haute gastronomie: vieiras grelhadas, com foie gras, chutney de manga e alcachofra, de entrada, e lulas recheadas de camarão, como principal, tudo isso acompanhado por um bom vinho do Douro, tinto, Touriga, Castelo D'Alba (a 18 euros, acho que valeu). 
Já estava então a 2 mil kms de Paris, e satisfeito...
Mulheres de pescadores, desesperadas com o desaparecimento de seus maridos, tragados pelo mar (escultura na praia de Matosinhos, norte do Porto)
Continuei, ainda que borracho, pois tinha de chegar a Lisboa, para esperar a Carmen Lícia (e comprar um presente, antes dela chegar). A despeito do vinho, do sono, do sol sempre incomodando, fui descendo, entre a autoestrada e pedaços da nacional, parando em algumas cidades pelo caminho.
Coimbra foi uma etapa óbvia, mas eu já conhecia e me contentei com algumas fotos, aqui e ali. A universidade deve ter sido boa, antigamente, hoje me parece dentro dos padrões portugueses normais (e vocês entendam o que desejarem por isso). Preferi enquadrar o criador do reino de Portugal, um gajo que teve lá o seu valor...
Estátua de Dom Dinis, em frente à Universidade de Coimbra
Feito isso, ainda enfrentei o sono e o cansaço para ir dormir numa cidade que é o símbolo de Portugal: Batalha. Pois foi nas batalhas contra os mouros que o reino de Portugal se fez.
Catedral de Batalha (túmulos dos reis fundadores)
O hotel ficava bem perto do mosteiro, e tinha um banheiro que era um gelo, a despeito do quarto ser aquecido: estamos falando de um frio a zero grau, e a solução foi tomar banho no vapor quente, com torneira e chuveiro amplamente ligados a toda...
Nessa noite fui jantar num restaurante perto do hotel, chamado de Vinho em Qualquer Circunstância, abreviado para este último nome: comecei com um folhado com queijo de cabra e depois enfrentei (é o caso de se dizer) um bacalhau a Pipo, regado a um rosé da região, Casa do Valle. Não posso reclamar da comida, ainda que o preço tenha destoado dos últimos dias. Enfim, o prazer valeu a fatura.

No dia seguinte, refeito do banho no vapor, visitei rapidamente a catedral, túmulo de vários reis portugueses (os pais fundadores, algumas mães também) e enfrentei novamente a estrada, direto a Lisboa, onde primeiro fui fazer compras (presente para Carmen Licia, que desembarcava no dia 20, mas que fazia aniversário em 24 de janeiro), e depois fui para o Hotel Lutecia, perto da saída para o aeroporto.
Jantar à base de bacalhau e vinho do Alentejo; bom, condizente com as 4 estrelas do hotel.
Justamente, acordei as 5hs da manhã, para buscá-la na chegada do voo da TAP de Brasília.
Nem entramos em Lisboa, pois seguimos direto para Évora, via nova Ponte Vasco da Gama.
Manha fria, com trechos de bruma, ou neblina, vocês escolhem.
Évora é uma cidade murada, cuja parte histórica está toda cercada de muralha e portas. A universidade fica na parte nordeste da cidade, que visitei na manhã seguinte à minha chegada, dia 21, portanto.
Mas sobre essa etapa falarei depois.
Paulo Roberto de Almeida 


(feito em Saint Raphael, Côte d'Azur, em 25/01/2012)