Petite randonnée en Europe: de Évora a Girona, em tempos alternados...
Paulo Roberto de Almeida
O avião com Carmen
Lícia chegou pouco depois da hora fixada, na sexta-feira dia 20, mas, assim
como ocorreu comigo ao desembarcar em Paris, os passageiros tiveram de descer
escadas sozinhos, sem qualquer ligação com o tradicional finger. Não sei se é
greve de funcionários, economia da empresa, ou bagunça mesmo, mas isso está
ocorrendo com cada vez maior frequência: os serviços aeroportuários estão se
tornando mais precários, em lugar de melhorar.
Meu carro já
estava à espera, assim que foi fácil sair do aeroporto, tomar a autoestrada e
logo em seguida atravessar a nova ponte Vasco da Gama, que ainda não conhecia:
imponente, mesmo sob o lusco-fusco da manha de inverno. Saímos de Lisboa pouco
antes das 7hs, com o odômetro marcando 23.130 kms. As 8h30 já estávamos
adentrando em Évora.
Biblioteca Pública de Évora (cartaz simpático)
Depois de rápida circulada pela cidade murada, e de ver
que a Hostaria de Loyos não era lá essas coisas, resolvemos ficar num hotel
moderno fora de uma das portas da cidade, o Ibis, da rede hoteleira Accor.
Dormimos, ambos, até quase as 15hs, quando saímos para passear novamente na
cidade, desta vez a pé, por várias partes. De noite fizemos lanche, em lugar de jantar, pois já tínhamos comido no meio da tarde. E ficamos planejando as próximas etapas do passeio. Na manhã seguinte, sábado 21, saímos do Hotel para visitar a Universidade, em férias até o início de fevereiro: prédio imponente, salas antigas, com azulejos azuis retratando os diversos temas das aulas, catedráticas (já que todas elas tinham um púlpito, suponho que não mais usado). Fiz-me fotografar no púlpito da sala de filosofia grega, e tirei fotos de Platão, Aristóteles e alguns outros companheiros filósofos. Todos eles “falando” em latim, curiosamente...
Aristóteles ensinando em latim na Universidade de Évora
Na mesma universidade, uma "aluna" não convencional, anda faltando às aulas involuntariamente...
Uma gata universitária desaparecida, infelizmente para boa sua formação...
Seguimos
para a Espanha, e almoçamos a cerca de 100kms de Córdoba, nosso primeiro
destino no país: comi uma “dorada al horno”, num excelente parador de estrada,
mas podia ter comido mais, sobretudo jamón ibérico que deixamos para outro dia.
Em Córdoba, visitamos como esperado a Mesquita, que esses idiotas de espanhóis insistem em chamar de Catedral, apenas porque, estupidamente, colocaram uma estúpida catedral bem no meio de uma magnífica mesquita que deveria ter sido conservada como mesquita. Não, esses católicos insolentes e fundamentalistas estragaram toda a mesquita colocando seus santos barrocos em todas partes, pendurando uns horríveis quadros de santos e outros penduricalhos supostamente cristãos. Acho que está um pouco pior, nas manifestações de fundamentalismo católico, do que havíamos encontrado alguns anos atrás. Nada, absolutamente nada, informa que se tratava de uma das mais importantes mesquitas de todo Al Islam, estupenda em sua arquitetura e decoração. Idiotas espanhóis.
Acabamos
enfrentando mais estrada do que o esperado, e fomos dormir em Águilas, já na
costa valenciana, depois de esquivar Granada, cujo Alhambra já vimos mais de
uma vez. Até essa cidade espanhola da costa mediterrânea já tinha alcançado
mais de 3.200kms de viagem de carro, o que dá mais ou menos 650kms por dia,
nossa média em matéria de turismo, se ouso dizer. Só de Évora a Águila foram
850kms, em cerca de 11 hs de viagem, com duas boas paradas no caminho.
No dia 22,
domingo, saímos tarde e acabamos parando em Santa Pola, antes de Valência, para
almoçar, as 15hs, como fazem todos os espanhóis. Excelente restaurante “El
Faro”, que nos reteve durante mais de uma hora: calamares fritos de entrada,
dorada de principal, vinho branco da região “Primitivo Quiles”, de Alicante, de
uma tradição familiar que remontava, segundo li no rótulo, a 1780 (parbleu!);
água Vichy Catalona que também segundo o rótulo foi premiada em várias
exposições universais e feiras internacionais, desde as de Nice e Nápoles, em
1884, a de Barcelona, e 1888, a exposição universal do centenário da revolução,
em Paris, em 1889, Veneza em 1902 e Viena, em 1904; isso faz um bocado de
prêmios para uma simples água mineral com gás: em todo caso matou a minha sede
espanhola. Total, para dois, com sobremesas e café, 52 euros!
Seguimos boa
parte do caminho de Alicante a Valência pela costa, pela estrada N322,
serpenteando entre colinas e praias. De Santa Pola a Valência foi mais um passeio
de barriga cheia, o que não me impediu de chegar as 19hs e de ainda circular
bastante pela cidade, até encontrar um Holiday Inn Express, que nos pareceu
conveniente, com garagem interna e outros serviços. Um descanso reparador,
internet ampla e livre, café da manhã
espanhol, ou seja, razoável.
Em Valência, parece que o prefeito foi para a cadeia por sobrefaturar esta cidade das Ciências monumental (no Brasil, não se vai para a cadeia por obras bem mais medíocres...)
Como
acordamos tarde, fomos pela autoestrada e depois coleando pela costa, parando
em Port Salou, para almoçar: foi no limite de Cambrils, e tinha muita coisa
fechada, por não ser estação de férias. Acabamos achando o restaurante Casa
Solers, com menu completo a 27 euros cada. Entrada: aperitivos da casa (tapitas
e pasteizinhos) e langostinos a la plancha, devidamente grelhados ao ponto, com
limão e ervas, quase italiano; principal: bacalao catalana, com alho, tomates e
pignoli; vinho L’Arnot Nègre, da Catalunha mesmo; sobremesa: fresas, ou seja,
morangos, bem maduros, mas duros, o que estava perfeito; custo total: 54,57
euros. Valeu.
Não deu para esperar pela foto: estava louco para experimentar o meu Bacalao Catalana.
Na saída, no
caminho para Tarragona, pudemos contemplar alguns exemplos da fantástica bolha
imobiliária espanhola, que pode ter arrastado a economia do país para o buraco
(já que a Espanha não ofendeu muito os critérios de Maastricht); alguns
cartazes em russo fazem supor que os amigos de Putin, capitalistas mafiosos e
mafiosos tout court fazem um pouco de
lavagem de dinheiro ali mesmo, no imobiliário espanhol. Enfim, fica a sugestão
para os brasileiros que se cansaram de encontram outros brasileiros em Miami:
os imóveis por aqui devem estar ainda mais baratos, e eles podem falar
portunhol. Enfim, isso na suposição de que os mafiosos russos não estejam
executando gente por aqui, como fazem lá na terra deles...
Chegamos no
final da tarde em Barcelona, o suficiente, porém, para passear por várias partes
da cidade, para um guarda da Generalitat me dar uma bronca por entrar com o
carro em zona proibida, e para escapar depois, já noite entrada, para a estrada.
Já conhecíamos suficientemente a melhor cidade da Europa (de longe, batendo
Paris, pela abertura total a qualquer hora) para não precisar ficar mais uma
vez em Barcelona. O objetivo sempre foi mais o sul da França, e assim pegamos a
autoestrada outra vez.
Paramos
pouco antes da fronteira, em Girona, num Novotel confortável (e caro) próximo à
estrada: ali sim, comemos jamon ibérico de lanche-jantar, mais queijos e pão,
acompanhados de uma taça de vinho tinto Duero e outro rosé Penedés; café
excelente. Nem vi a conta, pois fomos direto para o quarto descansar. Nem
tanto, pois Carmen Lícia fazia aniversário na virada da meia noite, e retirei
os presentes que tinha comprado em Lisboa para lhe oferecer: duas roupas
(lindas, acho) e um batom, dos seus preferidos. Creio que foi um bom final de
noite, a despeito do cansaço e da quilometragem.
Na manha
seguinte, entramos em Girona, para conhecer a imponente catedral. A cidade nos
pareceu bastante desenvolvida, e moderna, a despeito do centro histórico sempre
de ruas acanhadas, como ocorre tradicionalmente nas velhas cidades europeias.
Em Girona,
completei 25.000kms no carro, o que significa mais de 4 mil kms percorridos em
menos de dez dias.
De lá
seguimos para a fronteira da França, mas sobre essa etapa falarei depois.
Paulo Roberto de Almeida
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