O alerta foi este:
Não parte de imagens pré-concebidas, mas de fontes documentais, e tira do limbo historiográfico um período crucial na formação da diplomacia brasileira.
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E o que surgiu?
Tchan, tchan, tchan...: dois textos meus!
Incrível!
Material de 2007, ressurgindo assim agora, do nada, de graça?
Ou o Google é muito bom, ou o pessoal do Ipea está revisando os arquivos e republicando material antigo com novos links.
Eis o que apareceu:
(neste link: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1809:catid=28&Itemid=23)
PS.: Quero deixar registrado que colaborei voluntariamente com a revista do Ipea, "Desafios do Desenvolvimento", publicando inúmeras resenhas de livros, gaciosamente, quando essa instituição era dirigida por pessoas normais, e fazia coisas normais. Depois que ela passou para mãos (e pés, mas muito pouco cérebros) algo anormais, deixei de colaborar. O Ipea vem publicando alguns estudos ridículos nos últimos tempos...
Paulo Roberto de Almeida
Livros e Publicações |
Paulo Roberto de Almeida Do leão britânico para a águia americana?
Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 Eugênio Vargas Garcia:
Editora UnB-Funag, 2006, 672 p., R$ 89,00 A revisão é bem-vinda,já que o período é movimentado.Versalhes, que efetuou o primeiro ordenamento da era moderna,foi uma repetição - sem bailes nem diplomacia secreta - do Congresso de Viena: a Liga das Nações tentou diminuir,sem conseguir, os ímpetos guerreiros dos velhos imperialismos. O Brasil, presente na criação da nova ordem, abandonou essa "ONU frustrada" poucos anos depois. Projetou-se na América do Sul, livre dos constrangimentos do século XIX,com as fronteiras já delimitadas por Rio Branco. O autor segue os passos da diplomacia brasileira no triângulo Europa-EUA-América do Sul.Organiza seu roteiro em torno de sete grandes eixos: 1) "rumo à Europa", isto é, a presença na Conferência de Versalhes; 2) "diplomacia econômica", com a defesa do café e a atração de capitais; 3) "equilíbrio estratégico na América do Sul" e os ensaios de corrida armamentista; 4) "comércio e finanças", em que é mais visível a substituição de hegemonias; 5) "experiência da Liga das Nações", tentativa precoce de entrar em outro "Conselho"; 6) "de volta à América": o distanciamento da velha Europa e a reafirmação do americanismo; 7) "a diplomacia anti-revolução das oligarquias", em que cuida dos problemas do século (comunismo, anticomunismo, imigração) e da gestão diplomática da Revolução de 1930. O presidente se "intrometia" demais nos assuntos diplomáticos, como visto na saída,"batendo a porta", da Liga das Nações. As grandes potências, então como agora, tratavam o Brasil com negligência benigna, o que refletia, aliás, a pouca importância do país, simples fornecedor de produtos de sobremesa, no equilíbrio mundial. O desejo de uma "aliança" com os Estados Unidos também é típica dessa fase, que assiste à hegemonia ideológica do pan-americanismo,mais do que do pró-americanismo (cuja vigência foi limitada em nossa história). Não existia ainda o "imperialismo americano", pela razão de que os europeus preenchiam esse papel. Os americanos eram amigos e os novos donos do dinheiro fácil. O autor pratica um saudável revisionismo,que emerge da leitura dos documentos e dos fatos reais, não das concepções conspiratórias dos que vêem no manifesto destino da nova Roma a referência obrigatória da diplomacia brasileira no século XX. Não falta oportunidade para crises... Nove entre dez palestrantes empresariais, ao falarem de crises, começam lembrando a surrada explicação do ideograma chinês que congrega os dois sentidos utilizados como título nesse livro. É óbvio que eles não conhecem nada de chinês e essa chinoiserie cansa a quem assiste. Não é o caso dessa obra, uma excelente oportunidade para repensar algumas das crises que atingiram o Brasil e um alerta para outras que poderão sobrevir se não corrigirmos alguns rumos. Vinte autores, economistas à exceção de dois, preenchem as quatro partes do livro - investimentos diretos, fluxos de capitais, macroeconomia e competitividade externa - com catorze estudos, alguns mais propositivos do que outros,mas todos dotados de forte sustentação empírica.Apenas Luiz Carlos Prado foge à regra e faz digressões sóbrias e intelectualmente estimulantes sobre o conceito de globalização. O enfant terrible do Banco Central (BC) - e âncora cambial do Plano Real -,Gustavo Franco, abre o volume tirando as lições dos dois censos do BC sobre o capital estrangeiro. Demonstra que o investimento estrangeiro direto (IED) deve ser considerado um "ativo estratégico",que traz muitos benefícios ao sistema produtivo brasileiro, bem longe daquela visão de "passivo externo" ou parte da "vulnerabilidade externa". Pedro da Motta Veiga refaz, em seguida, a trajetória cambaleante dos acordos de investimento: multilaterais (TRIMs), regionais (Nafta) e plurilaterais (o frustrado MAI,da OCDE), lembrando ainda os acordos bilaterais de investimentos de última geração, bastante abrangentes e bem ao gosto do capital. Justamente,Maria Helena Zockun, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), identifica os incríveis obstáculos impostos pelo Brasil à entrada de IED,desde a burocracia infernal até a selva legal das regras contraditórias de União, estados e municípios.
Crise e Oportunidade: o Brasil e o cenário internacional Antonio Corrêa de Lacerda (organizador)
O ex-assessor internacional da Fazenda, Otaviano Canuto, e Pablo Santos fazem uma análise comparada do risco-soberano em economias emergentes, concluindo que ainda carregamos, a despeito da flutuação cambial e do aumento das exportações, uma elevada vulnerabilidade externa. Daí o alto prêmio de risco pago pelas emissões.Essa vulnerabilidade é confirmada no estudo seguinte, por Marcos Cintra e Daniela Prates, que examinam os fluxos voluntários de capitais para o Brasil entre 1995 e 2004. Carlos Kawall e Adriana Beltrão analisam as condições sob as quais o Brasil poderia adquirir a classificação de "grau investimento": o peso da dívida diminuiu, mas as exportações e as receitas correntes são ainda insuficientes para um salto antes de seis ou sete anos.Editora Lazuli, 2006, 328 p., R$ 40,00 Carlos Eduardo Carvalho tira, em seu texto, algumas lições das crises cambiais e da dependência do financiamento externo: o Brasil respondeu bem a esses desafios, comparado à tragédia argentina,dada sua maior flexibilidade fiscal. Corrêa de Lacerda e Fernando Leite constatam que o setor público "seqüestra"a poupança do setor privado, que só pode, assim, financiarse mediante endividamento externo. Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que se procurava transferir ativos do Estado para o setor privado, aumentava, via carga tributária, o peso do Estado no conjunto da economia. Renato Baumann discute o paradoxo dos países latino-americanos nos anos 1990, quando ganhos sobre a inflação não trouxeram a esperada retomada do crescimento econômico.O embaixador Rubens Barbosa traça um decálogo para aumentar a competitividade, mas admite que, pelo menos no plano dos valores,o Brasil parece preparado para enfrentar a globalização. Finalmente, um estudo analisa os fatores de competitividade associados às subsidiárias de multinacionais, reconhecendo o papel central das políticas de governo. Seria a volta da velha aliança entre o Estado e o capital estrangeiro? Talvez. Esse livro representa, em todo caso, uma saudável contribuição de pesquisa empírica ao ambiente, por vezes impressionista, em que se desenvolvem certos trabalhos acadêmicos.Os estudos devem ser continuados, de modo a criar oportunidades de afastar novas crises. |
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