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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Soberania economica, desindustrializacao e esquizofrenia economica

Alguns, muito acima dos mortais comuns, querem por que querem que o Brasil fabrique iPads (desde que com 80% de conteúdo local, alertam esses nacionalistas esquizofrênicos, que não têm ideia dos processos produtivos integrados em escala mundial que ocorrem hoje).
Para isso estão dispostos a tudo, ridiculamente, cedendo soberania econômica que tanto prezam (equivocadamente) no plano político, criando regras confusas no terreno da política industrial, fazendo do setor uma selva completa de miniregras setoriais que só alimentam a confusão nessa área.
Seria tão mais simples se as regras fossem universais, e para melhorar o ambiente de negócios no Brasil.
Economistas malucos acabam provocando desindustrialização no Brasil, mesmo quando a intenção é outra, ou exatamente oposta.


Foxconn recebe inéditas renúncias fiscais do governo do PT

A empresa Foxconn está habilitada a produzir tablets no Brasil, recebendo incentivos fiscais determinados pelo decreto 5.906, de 2006, que se refere à Lei da Informática.

. O governo do PT concedeu inéditas renúncias fiscais.

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Comento brevemente:
Na verdade, não existe política industrial, mas apenas impulso, repentes, rebrotes, saltos de "genialidade" governamental (que todas remetem a dar mais dinheiro para os ricos de sempre), e muito protecionismo tarifário para proteger os mesmos ricos da concorrência estrangeira.
O problema da indústria no Brasil é grave, e ele tem um nome: o inimigo da indústria se chama Estado extrator, o arrecadador compulsório e o espoliador das receitas e do faturamento do empresário, por uma teia complexa de tributação em cascata, reincidente e irracional, que está matando a competitividade da indústria.
A seguir uma seleção de matérias sobre mais esse escândalo de uma suposta política industrial no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Foxconn recebe benefício para fabricar iPad
O Estado de S. Paulo - 26/01/2012


O governo federal oficializou a concessão de incentivos fiscais para a Foxconn produzir o tablet iPad, da Apple, no Brasil. A medida está em uma portaria interministerial publicada ontem no Diário Oficial da União.
Embora a portaria não cite diretamente o tablet da Apple, o governo já havia dito que a fabricante tinha interesse em produzi- lo no País. Os incentivos envolvem a isenção dos impostos IPI, PIS e Cofins. Segundo a portaria, a Foxconn poderá receber benefícios para produzir "microcomputador portátil, sem teclado, com tela sensível ao toque ("touch screen"), de peso inferior a 750g (Tablet PC)". OiPad tem peso de 601 gramas (3G) e de 613 gramas (3G +Wi-Fi).
Aportaria, com data de segunda-feira, foi assinada pelos ministros Guido Mantega (Fazenda), Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e pelo então ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que desde terça-feira responde pelo Ministério da Educação.
Com sede em Taiwan, a Foxconn é a maior fabricante de componentes eletrônicos do mundo. Em viagem à China em abril de 2011, a presidente Dilma Rousseff anunciou um investimento de US$ 12 bilhões da Foxconn no Brasil em cinco anos. A empresa, no entanto, nunca deu detalhes sobre o projeto.


O ministro, a China e o professor

Fala-se muito de inovar e fazer mais ciência no país, mas não temos professores para formar técnicos
O GOVERNO ABRIU ontem a porteira para a Foxconn receber subsídios e fabricar iPads no Brasil.
Anteontem, Aloizio Mercadante deixou de ser ministro de Ciência e Tecnologia para ocupar a pasta da Educação. O que têm a ver Mercadante e Foxconn?
Mercadante foi um dos ministros que negociaram a vinda da Foxconn para o país. Mas não apenas isso.
Em abril de 2011, na visita de Dilma Rousseff à China, a gigante sino-taiwanesa anunciou investimentos de US$ 12 bilhões no Brasil.
Soube-se depois que a Foxconn traria seu "savoir-faire" (know-how, em português corrente), mas o dinheiro deveria vir de sócios, subsídios e empréstimos estatais.
A Foxconn fornece insumos para computadores e eletrônicos, para Intel e Apple. No Brasil, se for mais que uma maquiladora subsidiada, pode formar um aglomerado de fornecedores e pesquisa em torno de si. Bom.
A múlti sino-taiwanesa seria uma empresa "de ponta" tecnológica por aqui (nem tão mais de ponta assim). É muito raro o Brasil inventar, por si só, empresas desse tipo.
Não temos empreendedores animados ou instruídos o bastante para inventar tais negócios nem massa crítica tecnológica. Empresas ignoram universidades e vice-versa. Não temos trabalhadores qualificados suficientes. Temos impostos e outros custos altos demais.
O governo vai dar, pois, à Foxconn condições que nega a montes de empresas no Brasil -no mínimo, impostos menores e infraestrutura. E trabalhador qualificado?
O único programa novo de Dilma Rousseff na área de educação básica é o Pronatec, de incentivo à educação para o trabalho, em especial no ensino médio. Grosso modo, o Pronatec pretende dar bolsas para estudantes, financiar escolas técnicas em Estados e municípios e ampliar em uns 60% a rede de escolas técnicas federais.
Mercadante mencionou o programa, entre outros dos governos petistas, em seu discurso político e sem novidade maior (nem novidade média, mas é cedo ainda, tudo bem). Em 5.300 palavras, 30 páginas, visitou todos os clichês do setor, como a necessidade de "educar para inovar" (nas empresas) e a de formar mais engenheiros. O de sempre.
Disse que quer saltos na educação, em vez de melhorias incrementais. Ok. Como? Por meio de um "pacto nacional pela educação", em primeiro lugar. Uhm. Oh, torpor único do enfado. Isso é conversa. Mas passemos, ainda, pois o ministro acabou de chegar.
Depois desses prolegômenos, a gente espera que o ministro conte algo sobre, por exemplo, currículos mais eficazes ou, nas palavras dele, como "educar para inovar".
Inovação depende de boa educação para o trabalho (não depende, nem de longe, apenas de formar "cientistas de ponta". Quem vai trabalhar nas empresas inovadoras? Quem vai inovar processos no dia a dia, o arroz com feijão da inovação?).
Talvez sejam os oriundos das escolas que o Pronatec, em tese, vai multiplicar. Mas escolas técnicas precisam de professores de matemática, física e química. Mesmo hoje, o deficit de professores nessas áreas é de dezenas de milhares. Se o ensino médio em geral se expandir (e o técnico em particular), de onde virão os professores? Da China?
Isso não é trivial. É quase dramático. Quem liga?
(Vinícius Torres Freire, na Folha de São Paulo de hoje, 26/01/2012)
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O que seria preciso para fabricar Iphones nos EUA?
Mansueto Almeida, 23/01/2012

Foi essa a pergunta provocante que presidente Obama fez ao ex-CEO da Apple, Steven P. Jobs, em fevereiro de 2011, em um jantar na Califórnia.
O The New York Times trouxe uma excelente matéria neste último domingo (How the U.S. Lost Out on iPhone Work) (1) que tenta responder a esta pergunta do presidente Obama a partir de uma série de entrevistas que os repórteres fizeram com vários funcionários e ex-funcionários da Apple, economistas, pesquisadores, especialistas em comércio internacional, etc.
A matéria mostra que o grande diferencial da China, por exemplo, não são apenas os salários menores (corrigidos pela produtividade), mas também: (i) abundante oferta de mão-de-obra qualificada e semi-qualificada; (ii) elevada flexibilidade e disponibilidade de trabalhadores que podem, se necessário, iniciar um turno de trabalho não programado durante à noite já que esses trabalhadores moram nas fábricas; (iii) rapidez das fábricas tanto para aumentar quanto para reduzir a escala de operação; e  (iv) elevada integração das cadeias produtivas entre os vários países asiáticos.
A matéria mostra que uma empresa, nos EUA, levaria pelo menos 9 meses para contratar cerca de 8.000 engenheiros, enquanto, na China, os fornecedores da Apple levaram apenas 15 dias para executar essa tarefa.
Reportagens como essa sobre por que os Iphones são produzidos na China e a maneira que a Foxconn trabalha, me fazem questionar a promessa da Foxconn de investir US$ 12 bilhões para produzir Ipads e telas dos dispositivos móveis no Brasil (ver post anterior sobre esse tema) (2). Não tenho dúvidas que, a depender do volume de subsídios e de barreiras tarifárias e não tarifarias contra importação, a Foxconn possa eventualmente produzir alguns Ipads para serem vendidos no Brasil e Mercosul.
Mas não espere muita coisa além disso porque, dada a nossa estrutura de custo, o Brasil não tem como ser uma plataforma de exportação de aparelhos eletrônicos e, assim, ainda acho delírio a expectativa de que a Foxconn venha a empregar 100 mil trabalhadores e 20 mil engenheiros no Brasil como chegou a ser anunciado pelo governo em abril de 2011.
Mais do que acreditar em planos mirabolantes, seria melhor que a presidenta Dilma em reunião com empresários aproveitasse a oportunidade e fizesse pergunta semelhante que o presidente Obama fez no jantar da Califórnia com duas modificações:
O que seria preciso para que vocês empresário aumentassem o investimento na indústria no Brasil, sem que para isso seja necessário aumentar o volume de empréstimo do BNDES e a proteção comercial?

(Mansueto Almeida / IPEA)

2 comentários:

Anônimo disse...

"Brasil Concede el visado a Yoani Sánchez" (http://www.diariodecuba.com/cuba/9288-brasil-concede-elvisado-yoani-sanchez)

Vale!

Anônimo disse...

"Yoani Sanchez pide ayuda a Brasil R7"(http://www.youtube.com/watch?=NXt9aORzfbQ).

Vale!