BUENOS AIRES - O governo da presidente Cristina Kirchner criticou fortemente a declaração do ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Fernando Pimentel, de que "a Argentina é um problema permanente". O ministro fez o comentário em entrevista à agência Dow Jones, na terça-feira.
Em nota distribuída à imprensa, a ministra de Indústria da Argentina, Débora Giorgi, afirmou que "a realidade do comércio bilateral entre Argentina e Brasil não condiz com os comentários feitos por Pimentel".
A ministra ressaltou que a Argentina foi responsável por 19,5% do superávit comercial de quase US$ 30 bilhões obtido pelo Brasil em 2011. Além disso, continuou Débora, no último ano, o déficit da balança comercial argentina com o sócio foi de US$ 5,8 bilhões. As compras de produtos brasileiros pelo mercado argentino cresceram 23% em relação a 2010, com US$ 22,71 bilhões, detalhou.
A ministra argentina alegou que as medidas que restringem as importações em seu país "seguem as normas dos tratados regionais e da Organização Mundial do Comércio (OMC)". Porém, a ministra não justificou a demora de mais de 60 dias - período máximo determinado pela OMC - para autorizar a importação de milhares de produtos brasileiros, entre eles os eletrodomésticos de linha branca, máquinas e equipamentos agrícolas, têxteis e outros.
Com um forte tom de reclamação, Débora acusou o Brasil de protecionismo. "A Argentina busca reequilibrar o comércio e a industrialização regional, requerendo o acesso ao mercado brasileiro e pedindo a eliminação das múltiplas barreiras não tarifárias existentes para a entrada de nossos produtos no mercado vizinho, ao mesmo tempo em que defendemos nossos produtos da concorrência desleal implícita nos incentivos à produção, à exportação e ao investimento."
Engessamento. Os analistas argentinos preveem um período de fortes conflitos comerciais no Mercosul, especialmente entre o Brasil e a Argentina, em consequência da exigência de uma declaração prévia à ordem de compra. A medida entrará em vigor no primeiro dia de fevereiro. "Se a Argentina não excluir o Brasil e o Uruguai do novo mecanismo que burocratiza as importações, haverá importantes atritos entre os parceiros, que poderiam provocar retaliações", avaliou Raúl Ochoa, especialista em integração e ex-secretário de Comércio Exterior. Ele disse ao Estado que a medida vai engessar o comércio.
Na avaliação do economista-chefe da Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas (Fiel), Juan Luis Bour, o governo argentino não deverá abrir exceções porque as restrições são uma solução de curto prazo para manter o superávit comercial do país a qualquer preço. "As disputas comerciais serão mantidas, e vamos ver muitas queixas por parte dos sócios, especialmente porque há outras restrições que não são tão visíveis, como a proibição para que as empresas não enviem os lucros ao exterior", disse Bour.
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