Dispensa apresentações...
Previsões imprevidentes para
2015: a situação está russa (sem querer ofender...)
Paulo Roberto de Almeida
Ao comemorar dez aninhos
desta tresloucada série – dedicada, como sabem os meus 18 leitores (copyright Alexandre Schwartsman), a fazer
previsões que até aqui nunca deram certo –, resolvi arregaçar as mangas – expressão
fora de moda: resolvi abrir mais um Word
file em meu computador – para preparar novas previsões para este ano da
graça de 2015, e que espero também possam falhar por completo (para o que conto,
como sempre, com a cooperação dos companheiros).
Aliás, o ano vai começar sem nenhuma graça: aumento
de diversas tarifas de preços administrados pelo governo, promessas de mais
chantagens recíprocas entre o parlamento e o executivo, desvalorização da moeda
que levava tanta gente a New York, Orlando e Paris, e outras surpresas que nos promete
o novo governo companheiro. Apenas para refrescar a memória dos que costumam
acompanhar esta série, reproduzo aqui algumas das previsões que fiz anteriormente,
sendo fragorosamente derrotado em todas elas (acertando, portanto, no meu
objetivo):
1) Governo companheiro decreta
sua conversão ao capitalismo (2004-2005);
2) O MST reconhece que o
agronegócio e a biotecnologia são benéficos (2006-2007);
3) Governo renuncia ao protecionismo comercial
(2011-2012);
4) Estaremos livres de qualquer novo caso de corrupção
em 2013 (2012-2013);
5) Secretaria dos Vasos Comunicantes elimina dívida e
déficits públicos (2013-1014).
Sem mais delongas, passo a enunciar minhas novas previsões para 2015, de
antemão condenadas ao fracasso (e espero que os companheiros não me desmintam).
1) Esgotados todos os demais recursos, companheiros
tentam a honestidade
Ufa, deu uma discussão tremenda no Comitê Central, uma ala argumentando
que não via vantagem nenhuma em ser honesto (já que todos faziam caixa 2), outra
dizendo que já não estavam sobrando expedientes ilegais, que todos já tinham
sido tentados e tinham sido flagrados pela mídia golpista. Aos três dias da
discussão, ganhou (por uma margem mínima de votos) a honestidade, mas sob
condicionalidades: fica sujeita a ser revista no prazo de seis meses; se a
arrecadação diminuir volta-se ao esquema anterior.
2) Companheiros passam a trabalhar com bicoins (Receita ainda
não detectou)
Consoante os mais modernos métodos em termos de ferramentas monetárias,
o partido companheiro abriu uma nova seção de contabilidade paralela apenas
para lidar com o novo instrumento à disposição de libertários, traficantes,
doleiros e mercadores de armas e diamantes: bitcoins, a moeda virtual e
indetectável (até o momento) pelas autoridades intrometidas; encarregados do
tesouro companheiro já estão tomando aulas com anarco-capitalistas para operar
o novo sistema.
3) Mídia golpista vai conseguir demitir mais seis
ministros do novo governo
Antes que o ano complete seis meses, a mídia reacionária terá conseguido
derrubar pelo menos seis ministros do novo governo, todos eles abatidos por
práticas heterodoxas naquelas áreas bem conhecidas dos jornalistas
investigativos. Companheiros amaldiçoarão a Lei de Acesso à Informação, e
passarão a adotar expedientes secretos com maior frequência, mais ou menos como
nos tempos do regime militar, que eles amam tanto.
4) Obras dos Jogos Olímpicos de 2016 ficarão todas
prontas antes do final do ano
Só não se sabe bem de qual ano, mas tem gente que aposta em 2015, outros
em 2018 (a tempo das eleições), outros ainda em 2022, para comemorar duzentos
anos de independência nacional. Em todo caso, elas só vão custar duas vezes o
orçamento planejado, com notável progresso em relação a Abreu e Lima.
5) Cuba será admitida no Mercosul (vai ter de mudar de
nome para isso)
Sob demanda dos companheiros, os comunistas cubanos, que negociam um
acordo de livre comércio com o império, prometem que vão considerar o pedido
dos membros do Mercosul para integrar o bloco; os companheiros alegam ter
construído o porto de Mariel justamente para essa eventualidade, que já fazia
parte dos cálculos estratégicos sempre previdentes de seu setor de policy-planning. Cubanos ficaram de
dar resposta até o final de 2018, pois não querem irritar os estadunidenses.
Mudança de nome, aliás, vem bem a calhar, depois de certa fadiga do material.
6) Aprovada a liberalização da maconha terapêutica (para
qualquer coisa)
Estudantes da Fefelech-USP organizam a primeira festa da maconha no
campus, aberta a estudantes do segundo grau. Companheiros do Uruguai acusam a
medida de concorrência desleal e introduzem uma reclamação comercial no sistema
de solução de controvérsias do Mercosul; sem solução, o caso sobe até o órgão
de solução de disputas da OMC, que passa a discutir o problema. Se perderem,
os companheiros uruguaios prometem recorrer a Haia.
7) PCdoB mobiliza base aliada para declarações de apoio à
Coreia do Norte
Com pruridos, mas denotando concordância com o princípio da neutralidade
da internet, companheiros também assinam nota de protesto e de apoio político à
República Popular Democrática da Coreia, que passa a ter sua internet no
pisca-pisca desde que cismou de provocar Hollywood; aproveitando a deixa,
convidam o mundo todo para uma segunda conferência internacional sobre a
neutralidade da internet, que termina por um consenso unânime: internet deve
ser neutra.
Pronto: conto com todos os colaboradores tradicionais desta série para
novos sucessos em grande estilo. Estão todos convidados desde já a conferir os
resultados no final de 2015, ou assim que der...
Tallahassee, Flórida, 28 de dezembro de 2014
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