Artigo do economista Mansueto Almeida ( não é meu parente) em seu blog muito lido.
Eu hesitaria em chamar os jornalistas silenciosos de "inocentes". No mínimo são cúmplices ideológicos do governo celerado. No limite, são coniventes involuntários, mas também cegos políticos, em relação aos crimes cometidos pela associação de neobolcheviques mafiosos que tomou de assalto o Estado e todas as suas companhias.
Paulo Roberto de Almeida
O silêncio dos inocentes
Mansueto Almeida, 14/12/2014
Uma coisa que tem me chamado atenção é o silêncio dos “inocentes” dos colunistas de esquerda dos nossos grandes jornais. Esses mesmos colunistas que vêm a possibilidade concreta de um radicalismo nos levar ao risco de um golpe militar, o que é um evidente delírio, se mantêm em silencio em relação aos escândalos envolvendo a Petrobras e que dizimou o valor de mercado da companhia com profundo e ainda incerto impacto no seu plano de investimento, nos partidos da base aliada, na política industrial do governo e no cronograma de obras públicas.
Acabei de voltar de uma rodada de encontros em NY com gestores de fundos e economistas e todos, sem exceção, perguntaram sobre o escândalo da Petrobras. Todos se preocupam com o possível efeito deste episódio na governança da empresa e na governabilidade do “novo” governo, pois grande parte das medidas fiscais necessárias para viabilizar o ajuste prometido precisa da aprovação do Congresso Nacional.
Um governo fraco correndo atrás de apagar escândalos recorrentes que a imprensa passou a noticiar todas as semanas é um péssimo sinal para o início de governo que se inicia e de um ano que seria de reformas econômicas. Cada vez mais me parece difícil que o “novo” governo tenha espaço político para mudanças profundas.
No caso da Petrobras, me impressiona como tanto desmando tenha passado tanto tempo despercebido pela grande maioria daqueles com algum envolvimento com a empresa. É claro que há muita gente envolvida. Não se desviam bilhões de Reais por anos sem a conivência de muitas pessoas que “não sabiam de nada”.
O tamanho da deterioração da Petrobras é de uma extensão que será impossível recuperar a governança da empresa em um curto espaço de tempo. O ideal seria que toda a sua diretoria fosse destituída e se colocasse na direção da empresa pessoas com reconhecida competência na área aqui no Brasil e no exterior recrutadas por headhunters.
Qualquer solução parcial de ajuste gradual na governança da Petrobras com a atual diretoria terá um custo elevado e será inócua. Os trabalhadores da Petrobras, os filiados do Sindipetro e os participantes do fundo de pensão da estatal, a Petros, que por tantas vezes levantaram a bandeira do fortalecimento da empresa e defesa do conteúdo nacional, deveriam agora ser os primeiros a exigir maior transparência da empresa e mudança radical da atual administração. A administração atual pode até ser bem intencionada, mas foi de uma incompetência extraordinária para descobrir o que seus colegas e subordinados faziam à luz do dia.
Muita gente critica o “too big to fail” quando se trata de instituições financeiras. E por que não quando se trata de empreiteiras? Onde estão os nossos progressistas que atacam bancos e se calam sobre a relação incestuosa entre nossas grandes empreiteiras e governos? Não há risco sistêmico algum em fechar grandes empreiteiras e a entrada de grupos estrangeiros nos processos de licitação no Brasil deveria agora ser incentivada. As grandes empreiteiras brasileiras têm um mercado doméstico protegido que não se justifica qualquer que seja o critério.
O governo subestima o escândalo da Petrobras como fez no passado recente com a piora dos indicadores macroeconômicos e com a piora fiscal. Há pouco mais de dois meses era normal escutar do secretário do Tesouro Nacional e do nosso já demitido ministro da fazenda que a meta de 1,9% do PIB seria cumprida.
A mesma ousadia parcial que o governo mostrou na área econômica deveria mostrar com uma mudança radical na Petrobras, caso contrário, a empresa que já foi orgulho de todos nós brasileiros continuará a se destacar mais pelo escândalo de corrupção do que pelo brilhantismo dos sucessivos recordes de exploração de petróleo em águas profundas que destacou a história da companhia.
No caso dos colunistas “progressistas” dos nossos meios de comunicação, estes continuarão atrás de um golpe militar ou choramingando a suposta guinada de 180o da política econômica, ao invés de discutirem profundamente o uso politico de estatais e o capitalismo de compadres que pode surgir quando há excesso de intervenção do governo na economia. A esquerda brasileira (como a direita) precisa se modernizar.
O biênio 2014-2015 será marcado na história do Brasil não pela Copa do Mundo ou por uma eleição competitiva, mas sim pela descoberta de um caso de corrupção em uma extensão que ninguém imaginava e que muita gente muito próxima aos envolvidos falava e ainda fala que “não sabia”. A esperança é que esse episódio leve a uma mudança institucional positiva para o país que agora sabemos que não veio com o caso do mensalão.
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