Academia.edu: uma plataforma
de informação e de colaboração entre acadêmicos
Paulo Roberto de Almeida
Conheci o Academia.edu por
referência de colegas acadêmicos e por ter lido a respeito na própria internet.
Já conhecia, e era membro, como ainda sou, do Researchgate.net (https://www.researchgate.net/profile/Paulo_Almeida2),
uma outra plataforma, que possui objetivos relativamente similares, isto é,
conectar acadêmicos e facilitar a disseminação de material de pesquisa e
publicações de todas as áreas científicas, ainda que por mecanismos e
ferramentas ligeiramente diferentes. No formato atual do Academia.edu, mantenho
arquivo de publicações e intercâmbio desde dezembro de 2013, mas antes já
estava afiliado, embora com outra identidade, mas sempre através de minha
vinculação como professor do Centro Universitário de Brasília (Uniceub), nos
programas de mestrado e doutorado em Direito. Neste ano, pude ali carregar boa
parte da minha produção acadêmica, à qual tiveram acesso centenas, se não
milhares, de pesquisadores de todo o mundo, como também outros “curiosos” não
exatamente identificados (o que pode ser visto no Analytics).
Desde o início da era da
internet (estamos falando do início dos anos 1990) eu procurei utilizar as
possibilidades de comunicação e de informação que começavam a se tornar disponíveis
por meio das versões “primitivas” da www, então baseada unicamente na linguagem
html, sem muitas outras ferramentas sofisticadas. (...) Com o passar dos anos
tecnologias e plataformas foram evoluindo e eu procurei acompanhar a
progressão, ainda utilizando ferramentas livremente disponíveis na internet.
Meu primeiro site foi baseado em Geocities, com navegador Netscape, então
dominante. Fiz um pequeno site, bastante limitado, com os mesmos objetivos e
finalidades que caracterizam atualmente meu domínio pessoal (www.pralmeida.org), este existente desde o
final dos anos 1990, concentrando o essencial de minha produção em todas as
áreas de atuação acadêmica e profissional. Ele serve, essencialmente, para
postar a produção própria, pois sempre fui muito solicitado, por alunos,
colegas professores e pesquisadores de origens diversas, a oferecer informações
e aconselhamento sobre os temas que são objeto de minhas publicações mais
frequentes, que coincidem tanto com minhas atividades profissionais na
diplomacia, quanto com o exercício da profissão docente (que mantenho em
caráter paralelo à profissão no serviço público federal).
O site www.pralmeida.org é basicamente passivo, ou
seja, fica à disposição de quem o acessa – diretamente ou por ferramentas de
busca – uma vez que nele vou colocando trabalhos publicados, vários inéditos,
listas de trabalhos, informações sobre todos os meus livros – próprios,
editados, capítulos em livros coletivos, teses, livros e publicações diversas –
e outras seções adicionais, mas ele também comporta uma janela de contato,
através da qual recebo consultas, perguntas, pedidos dos mais diversos
interlocutores, geralmente para ajuda dos mais jovens em algum trabalho
universitário. (...) Fui e sou colaborador regular de inúmeros periódicos de
minhas áreas de pesquisa e reflexões acadêmicas, assim como sou editor adjunto
da mais antiga revista de relações internacionais do Brasil, a Revista
Brasileira de Política Internacional (1958
a 1992, no Rio de Janeiro, com a qual colaborei a partir de meados dos anos
1980, e desde 1993 em Brasília, processo que conduzi pessoalmente). (...)
Em meados dos anos 2000,
após certa relutância, passei a usar as possibilidades de postagens rápidas no
formato blog (http://diplomatizzando.blogspot.com/,
mas ele é apenas o sucessor de vários outros anteriores, ou de outros especializados).
Também resisti muito a aderir a outras ferramentas, como Twitter ou Facebook,
tanto por timidez e reserva naturais, quanto pela percepção, acertada, que me
tomaria o precioso tempo de que disponho para ler, refletir, escrever e
publicar, justamente. Acabei aceitando e aderindo, mas as uso de maneira
bastante limitada, evitando muitas interações que me tomariam esse tempo
precioso justamente. (...)
O Academia.edu permitiu
aumentar enormemente a visibilidade de minha produção acadêmica. A concepção dessa
plataforma veio potencializar a disseminação de meus materiais, uma vez que ela
se baseia na indexação múltipla de cada trabalho ou arquivo inserido, o que
suponho passa a ser do conhecimento não apenas daqueles outros membros que me
seguem, quanto de outros pesquisadores que fazem buscas nessa plataforma. Os conceitos
mais comuns no meu caso são: Brazilian Foreign Policy, Brazilian History,
Brazilian Political Economy e Brazilian Politics, além de algumas outras em
número e diversidade mais limitada. Estes são meus campos de atuação, e cada
uma dessas entradas podem ter algumas dezenas ou mais de um milhar de
“assinantes”, e se supõe que o volume aumente constantemente com a adesão de
mais e mais pesquisadores no Academia.edu. Isso deixa supor um alcance que eu
nunca teria apenas com o meu site, mesmo inscrito nos instrumentos de busca
mais comuns.
Por meio dela, portanto,
meus “seguidores” ficam sabendo de tudo o que eu posto – e os materiais são em
volume significativo – assim como acompanho o que produzem, e disseminam no
Academia.edu os acadêmicos que sigo. Por vezes, também recebo pedidos para
encaminhamento de algum trabalho postado apenas parcialmente, ou referido nessa
plataforma, o que vai ampliando o escopo e a abrangência da divulgação. Pelas
estatísticas que recebo regularmente, computadas sob diversas formas no
Analytics, fico sabendo não da identidade, mas do local de onde partiram as
buscas por trabalhos meus. Existe também uma grande quantidade de
“desconhecidos”, ou de “não identificados”, o que supõe instrumentos de busca,
ou serviços de informação que desejam permanecer incógnitos. Os alertas sobre
“pesquisadores” que buscaram trabalhos meus, ou que acessaram meu perfil são
diários, assim como são frequentes os alertas sobre algum trabalho mais buscado
e descarregado, geralmente os mais recentes ou de título mais atraente.
Trabalhos em inglês ou francês, que também publico, recebem visitas mais
frequentes, embora o volume maior seja obviamente em português, que concentra o
essencial de minha produção, de resto dirigida basicamente a um público
universitário e de pesquisadores situado no próprio Brasil. Uma vez por mês, ou
um pouco mais, visito o Analytics para ter uma ideia do que andam buscando com
maior intensidade, e publico os resultados mais frequentes em meu blog, com uma
ou outra observação sobre as visitas e carregamentos.
O Academia.edu é uma boa
fonte de pesquisa e de informação, ainda que não possa ser equiparado às bases
de dados mais usadas no meio acadêmico, que são feitas de modo profissional,
com indexação de base científica e de uso obrigatório nos centros
universitários e laboratórios mais produtivos de todo o mundo. O Academia.edu é
um bom instrumento, mas de uso pessoal, flexível o bastante para servir a pesquisas
rápidas e divulgação facilitada, mas não pode, ainda, substituir as bases de
dados profissionais. Embora sua tendência seja, provavelmente a de crescer
nessa direção, mas o modo de funcionamento terá de, provavelmente, mudar em
consequência. Revistas especializadas são caras, de acesso mais restrito,
porque ou se assina – e pode custar caro – ou se tem de ir numa biblioteca.
Atualmente, e desde muitos anos, os pesquisadores usam veículos digitais onde
estão revistas eletrônicas e impressas – tipo JSTOR, por exemplo – e as
impressas apresentam o problema do seu arquivamento e conservação. (...)
Já descarreguei vários
trabalhos do Academia.edu, em temas de minhas pesquisas, e devo ter citado um
ou outro em trabalhos recentes, mas minha utilização dessa plataforma ainda é
relativamente recente. Por outro lado, tenho feito uso dela, mais para carregar
meus próprios textos – uma espécie de backup livre e disponível – do que para
engajar pesquisas propriamente, mas é provável que cada vez mais venha a
recorrer a ela para trabalhos futuros. Ele pode ser comparado ao
Researchgate.net, que também possui concepção relativamente similar, embora com
dispositivos algo diferentes, e sem a capacidade de indexação – e portanto de
disseminação direta – do Academia.edu, e que parece constituir sua vantagem
comparativa por excelência.
A característica a ser primeiro
destacada no site sua própria existência, seu caráter gratuito, sua capacidade
que é aparentemente ilimitada, e sua flexibilidade de uso, uma vez que é
possível criar quantas categorias desejamos para ir acomodando todos os tipos
de trabalhos (inclusive vários de terceiras partes e de fontes diversas). Organizei
minha arquitetura no Academia.edu de forma algo similar a que existe em meu
site: livros próprios, aqueles que eu editei, os que eu colaborei com
capítulos, os artigos publicados em periódicos com revisão incógnita
(peer-reviewed), os simples papers e artigos publicados em formato digital, e
diversas listas de trabalhos, para justamente facilitar a busca de algum curioso
em determinada área (tipo integração, política externa do Brasil, trabalhos em
inglês ou francês, etc.).
A ferramenta mais
importante, obviamente, é a sua definição de interesses, que podem ser tanto
palavras-chaves (que na verdade representam pesquisadores reunidos sob certas
rubricas, digamos “international relations”, ou “Brazilian Foreign Policy”)
quanto definições que qualquer pessoa decide criar. Existem conceitos com apenas
um seguidor, e qualquer um pode criar um “index” com o seu próprio nome, de
forma bem narcisista, e ter o seu grupo de seguidores fieis. O mais comum,
porém, é encontrar itens que reproduzem palavras-chave (key words) encontráveis
em quaisquer revistas sérias. Não é algo absolutamente inovador, mas o fato de
definir seus campos de “depósito”, ou de “arquivamento” e a capacidade de se
criar novas palavras-chave, em determinada área de interesse que pode atrair
outros pesquisadores – que por acaso digitem um novo conceito e encontrem
outros na mesma área – representa, ao meu ver, um tremendo suporte à ampliação
da cooperação entre acadêmicos de todos os lugares do planeta.
Uma eventual limitação
dessa plataforma talvez possa ser a inexistência de alguma ferramenta do tipo
citação dos seus próprios trabalhos por outros pesquisadores, que existe, por
exemplo, no citation do Google
Scholar. O meu, nesse instrumento do Google, responde no link: http://scholar.google.com/citations?user=OhRky2MAAAAJ e pode oferecer boas surpresas para
saber se, quando e como outros pesquisadores estão fazendo uso de minhas
pesquisas e publicações. O Academia.edu apenas relaciona quantas vezes alguém –
pode até ser um navegante enganado – acessou seu perfil ou um trabalho em um
determinado país.
O Academia.edu de forma alguma se parece com, ou ameaça os periódicos
tradicionais, pois os objetivos e os mecanismos de utilização e de compartilhamento
são bastante diferentes. Os journals
são, em princípio, proprietários, ou seja, exclusivos e excludentes,
baseando-se no trabalho coletivo de um comitê editorial que decide quem merece
ser publicado ou não. Eles são, ainda, o principal repositório do conhecimento
científico e da pesquisa especializada. Em contrapartida, o Academia.edu é uma
espécie de feira livre, e de free lunch,
já que todos podem postar o que desejarem, sob qualquer critério, o que poderia
abrigar, inclusive e hipoteticamente, fraudes e plágios. O Researchgate.net,
nesse particular, é mais restrito, já que pede para identificar a publicação e
os dados editoriais (o Academia.edu o faz, mas de modo mais livre).
Estamos falando,
portanto, de dois animais completamente diferentes, ainda que pertencendo à
grande família dos “papers acadêmicos”, mas de classes diferentes e, sobretudo,
de espécies completamente distintas, por enquanto não solúveis uma na outra (e
creio que devem permanecer assim). Existe alguma osmose entre elas, mas esta é
puramente voluntária, e provavelmente não aceita pelos journals mais respeitados. Como, no entanto, os journals estão
ficando muito “caros” para os pesquisadores individuais, e extremamente
disputados pelos que necessitam publicar para não serem completamente ignorados
– segundo o famoso, e por vezes vicioso, moto “publish or perish” –, pode ser
que plataformas desse tipo venham a preencher alguns papeis de revistas da área
científica. Ainda assim, seria preciso algum controle para preservar a
qualidade, e a veracidade e fiabilidade, do que se publica e divulga, para não
comprometer a respeitabilidade dos meios acadêmicos. As fraudes e plágios já
existem em grande número em condições normais, e ferramentas como o Academia.edu
podem potencializar ainda mais a possibilidade de usos indevidos dos materiais
ali depositados.
Não se pode determinar,
a priori, um meio ou veículo ideal, mas é certo que existe uma filtragem
natural dos meios com respeito aos fins, em função da qualidade e da relevância
da produção acadêmica. Cientistas gostam, em geral, de revistas de grande
divulgação, como Nature, ou Science, mas elas abrigam um número
extremamente reduzido de aspirantes, e o mais frequente é o veículo
especializado numa pequena área do conhecimento científico, e mais
frequentemente em formato eletrônico ou digital. Os da área das humanidades
aspiram também aos grandes veículos de prestígio, com grande número de
assinantes e leitores online, mas aqui também o acesso é bem restrito.
A academia vem
conhecendo por uma multiplicação de veículos, alguns inclusive feitos ad hoc, e sem qualquer qualidade, apenas
para responder a critérios quantitativos das entidades de fomento – você
precisa ter tantos pontos por publicações para poder aspirar um suporte
financeiro para um congresso ou projeto qualquer – e muitos desses sobrevivendo
em perfeita promiscuidade – você me publica, que eu te publico – o que é um
sinal de deterioração dos padrões acadêmicos, certamente. Porém, a maior parte
dos journals é séria, e mantém padrões,
mas são disputados acirradamente. Sobram as muitas revistas quase de
departamento universitário, que são geralmente medíocres, mas tendem a melhorar
com o tempo.
A vantagem, talvez
involuntária, de uma plataforma do tipo Academia.edu é a de facilitar o acesso
a todo tipo de publicação, mas também de peças de qualidade que não teriam
chegado ao conhecimento de colegas e potenciais interessados sem esse recurso
da “auto-publicação”. Com isso, narcisistas podem ficar gratificados, e embromadores
serem devidamente identificados. Em todo caso, mais publicações, mais recursos
disponíveis, maior diversidade de pesquisas, acesso facilitado e instrumentos
de busca flexíveis sempre serão benéficos para o avanço das boas pesquisas e
para um conhecimento mais amplo dos bons projetos de pesquisadores isolados. Creio
que todos esses formatos de veículos de publicação e de divulgação são válidos,
uma vez que eles são complementares nos seus objetivos e funções, e servem aos
diferentes propósitos dos pesquisadores, como podem ser desde o desejo narcisista
de serem conhecidos, até o trabalho cooperativo de alto nível.
No meu caso, que sou um
pesquisador e acadêmico em tempo parcial, e que leva um labor solitário nas
horas vagas de lazer e de descanso, fora e em complemento ao trabalho
profissional na diplomacia, e que não dispõe de grande recursos próprios ou
institucionais para publicação ou divulgação, uma plataforma como o
Academia.edu é um instrumento valiosíssimo de disseminação de textos
possuidores de algum valor para outros acadêmicos da área. Acredito que foi uma
grande “invenção” de acadêmicos, que talvez tenham alguma motivação comercial,
mas que acredito animados de um desejo sincero de servir à comunidade a partir
de uma ferramenta criativa e inovadora. Sou muito grato à equipe de
Academia.edu, com quem interagi várias vezes para solucionar questões pontuais
de meu “arquivamento” e de minha própria identidade, e sempre fui atendido em
tempo extremamente rápido e de forma completamente satisfatória.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 19/12/2014
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