Sou informado, pelo editorial do Professor Antonio Carlos Lessa ao boletim 88 (dezembro de 2014) de
Mundorama (
aqui), que o meu artigo, reproduzido parcialmente abaixo, foi um dos mais acessados desde quando foi publicado, em janeiro de 2010, pouco depois, justamente, dos vinte anos do artigo seminal de Francis Fukuyama sobre o "fim da História", que foi muito pouco lido pelos seus críticos e geralmente rejeitado pelas más razões, inclusive por pessoas que jamais o leram, e viram nele uma demonstração de cabotinismo imperial. Ele continuou sendo acessado desde então: somente em 2014, ele foi acessado 4.382 vezes, o que certamente me teria permitido comprar um supercomputador, se eu recebesse alguma coisinha a cada vez.
Como considero que o debate levantado por Fukuyama, bem como seus principais argumentos, ainda permanecem válidos, permito-me reproduzir aqui o início de meu artigo (escrito, devo esclarecer, em meados de 2009), mas apenas numa pequena parte, puramente introdutória, remetendo depois os leitores ao link de
Mundorama, onde ele pode ser lido em sua íntegra.
Boas festas de final de ano, aos que ainda não passaram a marca do calendário. Dentro de meia hora saio para jantar com Carmen Lícia, e depois vamos ver fogos na baia de St. Petersburg, FL.
Paulo Roberto de Almeida
Boletim Mundorama, 21/01/2010
1. O que restou, vinte anos depois, da tese controversa de Fukuyama?
No verão de 1989, a revista americana
National Interest
publicava um ensaio teórico – mais exatamente de filosofia da História –
do intelectual nipo-americano Francis Fukuyama sobre os sinais – até
então simplesmente anunciadores – do fim da Guerra Fria, cujo título
estava destinado a deslanchar um debate ainda hoje controverso: “The End
of History?”.
[1]
Vinte anos depois, em vista das muitas críticas feitas naquela
conjuntura – e ainda hoje – às principais teses do autor, vale a pena
retomar seus principais argumentos e verificar se eles ainda conservam
alguma validade para nossos tempos, que poderiam ser considerados como
de pós-Guerra Fria, mas que alguns interpretam, ou consideram
efetivamente, como de volta à Guerra Fria, ainda que sob novas
modalidades (com uma Rússia singularmente diminuída e uma China
hesitante em se posicionar como contendor estratégico dos Estados
Unidos).
Antes, contudo, de ingressar numa
descrição linear desses argumentos, qualquer que seja sua validade
relativa ou absoluta para o tema que nos interessa – qual seja, o da
natureza das opções abertas aos países em termos de reforma e
desenvolvimento paralelos do sistema econômico e do regime político,
que Fukuyama identificava com a redução dessas opções à democracia de
mercado – cabe chamar a atenção para uma peculiaridade geralmente
descurada no debate anterior (e talvez atual) sobre a validade das teses
de Fukuyama, sobretudo por aqueles que recusavam, in limine, a
essência mesma do argumento do autor. Esta peculiaridade tem a ver,
basicamente, com um simples sinal diacrítico: o ponto de interrogação ao
final do título, geralmente ignorado pelos críticos das teses de
Fukuyama, e provavelmente também por aqueles que apóiam, em grande
medida, o sentido dos seus argumentos. Ou seja, Fukuyama não fazia uma
afirmação peremptória, mas levantava uma hipótese, a do final presumido
da história, numa análise de corte essencialmente conceitual, ainda que
fortemente embasada nos fatos históricos, e nunca pretendeu formular uma
sentença de caráter terminativo, indicando um “congelamento” das formas
possíveis de organização social, econômica e política. O interrogante
básico de seu argumento tem a ver com a possibilidade de alternativas
credíveis às democracias liberais de mercado, ponto.
O ponto de interrogação, por si só, tem o
poder de desmantelar boa parte das críticas superficiais, embora ele
não elimine uma discussão responsável sobre a essência de sua tese, que
caberia discutir, após o resumo inicial de seus argumentos. A tese –
vale a pena resumir desde o início – tem a ver com o caráter
incontornável da democracia de mercado como sendo uma espécie de
‘horizonte insuperável de nossa época’, como poderia argumentar – mas a
propósito do marxismo – Jean Paul Sartre, um dos estudantes, junto com
Raymond Aron, da tese original de Hegel, através de Alexandre Kojève.
2. O que Fukuyama de fato escreveu?
(...)
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