A Comissão da Verdade cumpriu com o seu cometido de Omissão da Verdade. Poderia ter ficado muda, teria sido melhor para o Brasil e para o respeito devido à inteligência dos brasileiros. Mas petralha é petralha. Caminha em linha reta rumo ao abismo, como escrevia Tocqueville dos revolucionários, nas suas Memórias de 1848. Napoleão dizia: “Arranhai um russo, encontrareis um tártaro”. Fosse vivo o grande general francês, diria hoje, no Brasil: “Arranhai um petralha, encontrareis um comunista”.
O que é lamentável é que, pela ignorância de muitos eleitores, pelas inúmeras bolsas que os governos foram criando ao longo destes doze anos (junto com o anúncio, utilizando os canais oficiais, de que os pobres veriam cortados estes benefícios caso a oposição ganhasse), pelo aparelhamento do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal Eleitoral pelos petralhas, pelos desvios de bilhões de reais dos cofres públicos para financiar a caixa do Partido, estes ganharam as eleições “no tapetão”, ou “fazendo o diabo” como gostam de dizer Dilma e o seu Ministro Chefe da Casa Civil, Gilberto Carvalho. Pior para o Brasil. Ruim para todos nós.
A mais recente pérola neste período pós-eleitoral (num clima de fim de festa, com a casa absolutamente desarrumada e a economia em bancarrota) foi o informe da dita “Comissão da Verdade”. Não repetirei aqui o teor das esdrúxulas conclusões apresentadas pelos membros da dita cuja, todos eles alinhados com a petralhada. Referir-me-ei ao espírito que anima tanto esse quanto os documentos anteriores produzidos pelos membros da tal Comissão.
O pano de fundo que os animou é o de reescrever a história. O objetivo inicial assinalado à Comissão consistia em rever as transgressões aos direitos humanos ocorridas no longo período 1946-1985. As conclusões da Comissão centraram-se, no entanto, num período menor, exatamente o correspondente ao regime militar (1964-1985). Era clara a finalidade da Comissão: mais uma vez tentar desmoralizar os nossos militares que, no contexto da Guerra Fria, ganharam o combate contra os comunistas. Não tivessem as Forças Armadas combatido com denodo, como era seu dever, os comunistas que tentavam implantar no Brasil a Ditadura do Proletariado, teríamos mergulhado simplesmente na guerra civil, de forma semelhante a como países vizinhos viram se ensanguentar os seus territórios pela ação criminosa dos comunistas.
Comunista não gosta de perder. Na Colômbia, onde nasci, muitos jovens morreram na opção errada de tentar combater as instituições republicanas pela luta armada. Tanto no meu país de nascença quanto em outros países da América Latina, inúmeros jovens sacrificaram-se nessa opção louca, sob a miragem do revolucionário Che Guevara. Eu mesmo me radicalizei e, no meu país, sofri as consequências por isso. Vários dos meus amigos que militaram nas fileiras da guerrilha foram mortos pelas Forças Armadas colombianas. Nunca, no entanto, passou pela minha cabeça cobrar dos colombianos “bolsa guerrilha” como muitos ex-militantes fizeram no Brasil. Achei isso, sempre, falta de caráter. Se lutei por um ideal errado, foi só pela minha decisão pessoal. A grandeza da minha opção, mesmo errada, consistia justamente nesse caráter de entrega a um ideal. Quando se passa a conta, o ideal vira desculpa e a heroicidade converte-se em negócio de mercenários.
Os petralhas querem, simplesmente, desmoralizar as Forças Armadas, conspurcando a memória dos líderes militares, passando-lhes a conta pela derrota que os comunistas sofreram no campo da luta armada. No festival de safadezas em que se converteram os governos petralhas, inclusive o da Dilma, a defesa dos comunas consiste em atacar a memória dos adversários, no processo que o delegado Tuminha denominou, com muita propriedade, de “assassinato de reputações”. Os corruptos militantes petralhas seguem, aqui, as lições de tática revolucionária dadas por Lenine há um século.
Mas o que fica pelo chão é certamente o compromisso com a verdade. Só sendo muito ignorante ou cego pela ideologia para não perceber a jogada. Os petralhas tentaram, além de saquear o país, estabelecer o que Gramsci denominava de “Revolução Cultural”, consistente em destruir os valores fundantes da sociedade burguesa. Tudo é válido para isso: corromper as crianças com uma iniciação sexual tendenciosa no ciclo fundamental, atacar a religião e os valores da moral cristã, destruir a família mediante a divulgação maciça do erotismo e de novelas que deixem em ridículo aqueles que acreditam ainda nos valores tradicionais concernentes à moral familiar, semear a insegurança jurídica em torno à propriedade privada (só resguardando, em contas secretas na Suíça, os valores roubados à sociedade brasileira pelos dirigentes petralhas e os seus colaboradores), semeando uma ética do “politicamente correto” em face das críticas aos governos petralhas mediante a censura à imprensa livre e a intimidação, etc.
Cito, a seguir, a pergunta que fazia o Blog da Força Expedicionária Brasileira: “- Se o Lula, a Dilma e os seus ministros não sabiam do mensalão nem da corrupção na Petrobrás, porque é que os ex-presidentes militares e os seus ministros deveriam saber de eventual tortura em quartel? Não precisa explicar. Eu só queria entender!”
Sempre defendi que a sociedade brasileira tem o direito a conhecer a verdade histórica, não apenas dos fatos ocorridos durante o ciclo militar, mas ao longo de toda a nossa história. Para isso, o melhor expediente é entregar essa tarefa aos historiadores. Poder-se-ia constituir uma comissão com esses profissionais (os há excelentes, entre os nossos intelectuais), a fim de que, superando as diferenças ideológicas, coloquem em claro o que realmente aconteceu em determinado período. Seja convidado, para tal efeito, a integrar essa comissão o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (criado por Dom Pedro II em 1838, sendo mais antigo, portanto, que as nossas Universidades e que conta com uma respeitável trajetória no terreno da historiografia). Isso é plenamente válido. Mas não seria necessário, para esta finalidade, constituir, a partir do Governo, uma “Comissão da Verdade”, com a finalidade sub-reptícia de deitar por terra a Lei de Anistia, à luz da qual se pacificaram os espíritos na transição entre os governos militares e a Nova República.
Nenhum valor relativo ao conhecimento da verdade têm as afoitas conclusões da “Comissão da Verdade”. Esta não passou de mais uma tentativa gramsciana imposta em vão pela petralhada. O destino que espera a essa tal Comissão, bem como às suas conclusões, é simplesmente o esquecimento.
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