Editorial O Estado de S.Paulo O escândalo da Petrobrás revela agora sua face patética, protagonizada pela presidente Graça Foster: "A gente não queria que nada disso tivesse acontecido. Para não acontecer, teria que ter criado barreiras anteriormente. Mais fortes do que as barreiras que foram criadas". Se isso não for uma confissão de incompetência diante de sua obrigação de evitar que "tivesse acontecido", só pode ser uma mensagem cifrada para quem tinha poder para "não querer" que acontecesse. Ou seja, no olho do furacão no qual ninguém mais no governo parece se entender, Graça Foster pode ter-se permitido um singelo ato de penitência... ou o desabafo, na forma de um chute no pau da barraca. Ou as duas coisas juntas. A esta altura, não faz muita diferença.
Esse espetáculo foi oferecido aos jornalistas que, na quarta-feira passada, compareceram a um café da manhã com toda a diretoria da Petrobrás, um encontro de confraternização de fim de ano ao qual faltou, por razões óbvias, o caráter festivo. Graça Foster aproveitou a ocasião para esclarecer que já procurou Dilma Rousseff "três, quatro" vezes para demitir-se.
A presidente da estatal, em declarações que podem ser definidas também como inacreditáveis, deu a entender que ela e a diretoria da empresa só começaram a desconfiar da farra da propina depois da Operação Lava Jato, deflagrada em março último, que levou para o cotidiano da empresa "outras palavras" como "lavagem de dinheiro, organização criminosa, crime de corrupção, peculato". "Tivemos que aprender a viver dessa forma, com tantas palavras tão incomuns na nossa vida. E tudo ficava na expectativa de que podia não ser verdade. Mas no dia 8 de outubro, com o acesso ao depoimento do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, veio a confirmação dessas palavras que a gente queria negar." Definitivamente, patético.
Persistindo nessa linha, Foster defendeu a importância de auditorias internas diante do impasse criado pela hesitação dos auditores externos em avalizar o último balanço trimestral da empresa: "Nós deveremos ter uma sinalização positiva de que a diretoria está em condições, do ponto de vista de suas práticas de governança, de assinar o balanço. Para isso, precisamos dessas auditorias". E acrescentou, nesse contexto: "Eu preciso ser investigada; eu e os diretores precisamos ser investigados". Os auditores externos que o digam.
Na área política, a colaboração para enriquecer o repertório do escândalo ficou por conta do deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPI mista da Petrobrás. Na semana passada, Maia apresentou seu relatório se eximindo de recomendar o indiciamento de quem quer que fosse entre os envolvidos na investigação. Pressionado pela repercussão negativa da decisão, reconsiderou os termos do relatório original e decidiu pedir o indiciamento de 52 pessoas, a maior parte delas já transformada em réus em decorrência da Operação Lava Jato. E fez mais: engrossou o coro dos que pedem a demissão de Graça Foster e de toda a diretoria da empresa. O novo relatório foi aprovado pela CPI.
E para coroar o desempenho petista em dias que contribuíram fartamente para enriquecer, digamos, as excentricidades dessa fase negra da história da Petrobrás, Lula entrou em cena. Depois de participar de solenidade no Ministério da Justiça, durante a qual tentou minimizar a importância da Operação Lava Jato fazendo críticas ao "julgamento midiático" e ao "vazamento seletivo" de denúncias, o ex-presidente foi questionado pelos jornalistas sobre a permanência ou não de Graça Foster no comando Petrobrás. "Eu não acho nada. É um problema da presidenta Dilma." E arrematou, sem corar: "Eu não posso dar palpite".
Como a roda do maior escândalo da era petista não para, ainda na quinta-feira o jornal Valor revelou informações contidas em documentos da Petrobrás, de acordo com os quais a diretoria da estatal, da qual Graça Foster fazia parte, ignorou, em 2009, recomendações de áreas técnicas internas e permitiu que o prejuízo nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, com contratos de várias naturezas e propostas para licitações, inicialmente previstos em US$ 836 milhões, aumentasse mais de 10 vezes, para US$ 10,5 bilhões. Vem mais por aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário