Enfim, mais uma resenha impiedosamente podada, que vai aqui em sua versão original.
Paulo Roberto de Almeida
Capitalismo para céticos |
por Paulo Roberto de Almeida Agora a versão completa:
Capitalismo para céticos
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo
Ensaios
sobre o capitalismo no século XX
(São Paulo: Unesp; Campinas:
Unicamp-Instituto de Economia, 2004, 240 p.)
Responda rápido: o que o grupo de rock Capital Inicial, o magnum opus de Karl Marx, O
Capital, e a revista CartaCapital
têm em comum? Não, não é a similaridade de nomes: é que todos eles se opõem, ao
menos intelectualmente, ao capitalismo, ainda que dele não possam prescindir. O
mesmo talvez deva ser dito desta coletânea sobre o velho capitalismo e suas
novas roupagens.
Não sei se o autor aprecia o grupo de rock brasiliense,
mas ele fez seu capital inicial escrevendo uma tese sobre “valor
e capitalismo”, tornou-se um grande leitor de Marx (e
de outros pensadores da economia, favoráveis e contrários ao capitalismo) e é
membro do conselho editorial de CartaCapital,
de onde foi tirada a maior parte dos artigos. A “mais valia”, neste caso, é
que, além de textos sobre a história da economia capitalista, sobre a
globalização e sobre os intelectuais críticos ao capitalismo, o livro também
comporta quatro artigos sobre futebol, mas estes pertencem a uma espécie de
“hora da saudade”, sem trazer valor agregado ao conjunto dos ensaios de
vulgarização que integram as três primeiras partes.
Digo vulgarização no bom sentido da palavra, pois se
trata, na maior parte, de variações jornalísticas de artigos de puro corte
acadêmico. Sua característica unificadora é essa visão crítica do capital e dos
seus mecanismos, como convém aos membros da academia, que já têm seu capital
próprio amplamente assegurado pelo sistema de tenure universitária e que se dedicam a aumentar o seu “valor de
troca” – preço de mercado – escrevendo de maneira cética sobre o capitalismo. O
Brasil é um excelente mercado consumidor para os críticos do capitalismo, para
os censores do FMI, para os opositores da globalização: este livro é uma prova
sofisticada desta tese. O pessimismo aqui é de regra: precarização das relações
de trabalho, mal-estar da globalização, impossibilidade de alcançar patamares
mais altos de desenvolvimento, miopia liberal-conservadora, máscaras do
imperialismo, tragédias ciclópicas rondando esses incautos da periferia que
somos todos nós, entregues atados à sanha da nova barbárie capitalista.
O problema, entretanto, é que textos desse tipo
ilustram, mas não esclarecem, encantam convertidos com o elegante jogo de
palavras sobre as finanças liberalizadas, mas de fato contribuem pouco para
explicar características cruciais de nossa época, que podem não agradar aos
críticos da academia, mas são as que existem, sem que qualquer conspiração de
magnatas tenha estabelecido as regras do jogo. Pode ser divertido ler, mas é
altamente duvidoso pretender que “a mão invisível ataca no trópico”, ou que são
“insucessos” as “atuais políticas inspiradas nas crenças do liberalismo
econômico”. Por esse critério, teriam sido bem sucedidas as políticas passadas
inspiradas no dirigismo econômico? Também é irônico ler sobre a “fúria
reformista dos liberais”, talvez mais uma prova indireta de que os únicos
atores realmente revolucionários, hoje em dia, são os capitalistas e os
globalizadores, uma vez que a esquerda acadêmica, saudosista do keynesianismo,
parece ter se tornado irremediavelmente conservadora.
Paulo
Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
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Um comentário:
Se o capitalismo é a razão de todos os males, então por que ele deu certo nos EUA, Japão e Alemanha? Na América Latina as elites sempre mamaram nas tetas do governo. Trocaram os caudilhos de direita pelos de esquerda. Ou seis por meia dúzia. Como a desigualdade social ainda não foi sanada, o capitalismo é usado como bode expiatório para justificar a ineficácia do peronismo bolivariano.
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