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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Em Defesa da Globalização (Jagdish Bhagwati) - resenha Paulo R. de Almeida

Agora a segunda resenha desaparecida no site do Ipea. Cabe esclarecer que minhas resenhas, originais, são sempre maiores, ou seja, mais extensas, do que as versões publicadas, que passam pelos cortes dilacerantes dos editores, sempre roubando caracteres aos autores e adequando seus textos aos espaços disponíveis.

2. “Globalização para todos os gostos”, Brasília, 12 junho 2004, 2 p. Resenha do livro de Jagdish Bhagwati: Em Defesa da Globalização: como a globalização está ajudando ricos e pobres (Rio de Janeiro: Elsevier-Campus, 2004, 348 pp.; ISBN: 85-352-1440-2). Publicada na revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: IPEA-PNUD, ano 1, nº 1, agosto 2004, p. 76). Relação de Trabalhos nº 1281. Relação de Publicados nº 507.




Globalização para todos os gostos

Resenha do livro de:
Jagdish Bhagwati

Em Defesa da Globalização: como a globalização está ajudando ricos e pobres

(Rio de Janeiro: Elsevier-Campus, 2004, 348 pp.; ISBN: 85-352-1440-2)

            O economista indiano da Columbia University se pergunta, no frontispício dessa obra, se o mundo precisa de mais um livro sobre a globalização. A pergunta é pertinente pois que, desde a popularização desse conceito no início dos anos 90, rios, talvez oceanos de tinta já foram vertidos em escritos pró- ou anti-globalização. O movimento anti-globalizador – que se vê como altermundialista, sem jamais ter explicado de que seria feito esse “outro mundo” – deve seu sucesso ao fenômeno que vitupera em encontros movidos mais a transpiração do que inspiração.
            O propósito de Bhagwati é outro: nem atacar, nem elogiar, mas explicar como funciona esse processo (nos seus mecanismos comerciais, financeiros, tecnológicos e culturais) e ver o que fazer para aperfeiçoá-lo. Os maiores beneficiários são, obviamente, as multinacionais, mas os pobres dos países emergentes também vêem sua prosperidade aumentar, como o provam milhões de chineses e indianos retirados da miséria absoluta. Os anti-globalizadores agitam temores, mas não dão provas concretas de que ele produza, como proclamam, miséria, concentração de renda ou destruição das culturas nacionais.
A primeira parte do livro é justamente dedicada à compreensão do movimento contrário à globalização, constatando no entanto Bhagwati que ela é benéfica não só economicamente, mas também socialmente. Na segunda parte, ele considera suas implicações sociais, examinando a distribuição da riqueza via comércio, via trabalho (com redução da exploração de crianças), a promoção das mulheres, da cultura e da democracia. Os benefícios dos investimentos diretos são muito superiores aos problemas, o que o leva a concluir que são infundados os temores dos anti-globalizadores.
A terceira parte aborda os aspectos “incômodos” da globalização: movimentos de capitais de curto prazo e fluxos de pessoas. Bhagwati não apóia a liberalização financeira e critica o “complexo Wall Street-Tesouro” (que engloba outras instituições, como o FMI e o Banco Mundial); ele comprova, com satisfação, que a ultra-liberal The Economist acabou rendendo-se às suas teses. A quarta parte, finalmente, quer fazer a globalização funcionar melhor e aqui também Bhagwati se distancia dos anti-globalizadores, pois ele preconiza o seu gerenciamento adequado pelos mesmos organismos multilaterais que eles querem enterrar. Ele discorda, portanto, de que a globalização necessite de uma face humana: isso ela já tem, mas pode-se sempre melhorá-la. Em conclusão, ele recomenda um pouco menos de paixão e um pouco mais de razão aos críticos da globalização.

Paulo Roberto de Almeida


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