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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Por ideologia, Ernesto mobilizou diplomacia e minou combate contra pandemia - Jamil Chade (UOL)

Por ideologia, Ernesto mobilizou diplomacia e minou combate contra pandemia

Jamil Chade 
https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/


Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.

Colunista do UOL

17/05/2021 04h00 

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2021/05/17/por-ideologia-ernesto-mobilizou-diplomacia-e-minou-combate-contra-pandemia.htm?

 

Resumo da notícia

· Ex-chanceler é o próximo convocado na CPI da pandemia, na terça-feira

· Durante sua gestão, ele hesitou em fazer parte de mecanismos internacionais de vacina e tentou impedir fortalecimento da OMS

·  Araújo não aceitou convite para reunião no qual Pequim ofereceu crédito de US$ 1 bi para América Latina comprar suas vacinas

·  Sob seu comando, o Brasil não fez parte de compromisso de 130 países para lutar contra a desinformação na pandemia 

 

 

Durante a pior pandemia em cem anos, a diplomacia brasileira foi usada como instrumento para promover uma ideologia, deixando em segundo plano os esforços nacionais e internacionais para combater o vírus da covid-19. 

Nesta terça-feira, o ex-chanceler Ernesto Araújo terá de responder diante da CPI sobre suas ações no comando do Itamaraty, durante a pandemia. Desde a eclosão da crise, porém, sua atuação na esfera internacional teve como meta enfraquecer uma resposta global à pandemia. 

Desde a hesitação em fazer parte da coalizão internacional por vacinas, a ausência do Brasil em esforços internacionais e medidas deliberadas para colocar a política e a ideologia acima da questão de saúde, a diplomacia nacional foi uma peça fundamental no fracasso da resposta nacional à crise sanitária. 

 

OMS e o "comunavírus" 

Com o desembarque da pandemia, quase imediatamente a OMS foi colocada no centro das atenções. Se havia um local onde a coordenação internacional poderia ocorrer, muitos acreditavam que era a agência que deveria pilotar a resposta à crise. 

Mas, para Araújo, um dos focos deveria ser o de impedir que agências internacionais ganhassem força. Ao longo de meses, torpedeou iniciativas, exigiu uma investigação sobre a OMS e fez questão de esvaziar a representação brasileira em cúpulas e reuniões. 

Ainda em abril de 2020, Araújo postou em plena madrugada um texto em suas redes sociais. Não se tratava de uma orientação para lutar contra a pior crise sanitária em quase cem anos. Nem um plano sobre como conseguir respiradores, testes ou máscaras. Tampouco se trata de uma estratégia para costurar novas alianças para garantir a recuperação da economia. 

Tratava-se de um alerta sobre a necessidade de que se combata o comunismo que, segundo ele, iria se aproveitar do momento de crise e de apelos por solidariedade para implementar sua ideologia por meio do fortalecimento de entidades internacionais, como a OMS. 

Desde sua chegada ao poder, Araújo deixou claro que o estado-nação não deve se submeter a um poder internacional e vinha implementando tal visão durante a pandemia. 

"O Coronavírus nos faz despertar novamente para o pesadelo comunista", advertia o título do texto do chanceler. "Chegou o Comunavírus", escreveu o então ministro, conhecido por suas posições próximas ao governo dos EUA... - 

Segundo ele, a ideia de transferir poderes para a OMS seria o primeiro passo de um plano comunista. 

Araújo insiste que tal ameaça fica esclarecida em uma obra de Slavoj Zizek, "um dos principais teóricos marxistas da atualidade, em seu livreto "Virus", recém-publicado na Itália". "Zizek revela aquilo que os marxistas há trinta anos escondem: o globalismo substitui o socialismo como estágio preparatório ao comunismo. A pandemia do coronavírus representa, para ele, uma imensa oportunidade de construir uma ordem mundial sem nações e sem liberdade", disse o brasileiro, que indica a influência do autor em diversos meios. 

No primeiro trecho da obra escolhida, Araújo deixa claro sua recusa por recomendações, como o lockdown. "Tomara que se propague um vírus ideológico diferente e muito mais benéfico, e só temos a torcer para que ele nos infecte: um vírus que faça imaginar uma sociedade alternativa, uma sociedade que vá além do Estado-nação e se realize na forma da solidariedade global e da cooperação."... - 

"O vírus aparece, de fato, como imensa oportunidade para acelerar o projeto globalista. Este já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo. São instrumentos eficientes, mas a pandemia, colocando indivíduos e sociedades diante do pânico da morte iminente, representa a exponencialização de todos eles", disse o brasileiro. 

"A pretexto da pandemia, o novo comunismo trata de construir um mundo sem nações, sem liberdade, sem espírito, dirigido por uma agência central de "solidariedade" encarregada de vigiar e punir. Um estado de exceção global permanente, transformando o mundo num grande campo de concentração", alertou o então chefe da diplomacia nacional. 

"Diante disso precisamos lutar pela saúde do corpo e pela saúde do espírito humano, contra o Coronavírus mas também contra o Comunavírus, que tenta aproveitar a oportunidade destrutiva aberta pelo primeiro, um parasita do parasita", completou o chanceler. 

"Uma coisa é certa: novos muros e outras quarentenas não resolverão o problema. O que funciona são a solidariedade e uma resposta coordenada em escala global, uma nova forma daquilo que em outro momento se chamava comunismo", disse. 

Em outro trecho, o ataque do ministro brasileiro se refere ao plano relativo à coordenação da OMS. 

"Um primeiro e vago modelo de uma tal coordenação na escala global é representado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (...) Serão conferidos maiores poderes a outras organizações desse tipo", diz o texto do autor europeu. "Transferir poderes nacionais à OMS, sob o pretexto (jamais comprovado!) de que um organismo internacional centralizado é mais eficiente para lidar com os problemas do que os países agindo individualmente, é apenas o primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária" alertaria. 

Meses depois, durante a abertura do Conselho de Direitos Humanos da ONU, já em 2021, Araújo voltaria a atacar a ideia de lockdown. "Sociedades inteiras estão se habituando à ideia de que é preciso sacrificar a liberdade em nome da saúde", disse. "Não critico as medidas de lockdown ou semelhantes, que tantos países aplicam. Mas não se pode aceitar o lockdown no espírito humano, o qual dependente da liberdade e dos direitos humanos", afirmou. ... - 

Uma primeira reunião entre um chanceler brasileiro e a OMS apenas ocorreu em abril de 2021, mais de um ano depois da declaração de uma emergência internacional. Também em abril, a agência se aproximaria ao novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e faria um pedido: que o Brasil voltasse a exercer sua "liderança tradicional" em temas de saúde pública global. 

 

Vacinas

Também por motivos ideológicos, o Itamaraty ficou de fora do lançamento da Covax, a aliança mundial de vacinas. Em abril de 2020, o primeiro encontro contou com chefes de estado de vários países do mundo. Mas a ausência do Brasil chamou a atenção. Naquele momento, procurado pela coluna, o governo explicou que mantinha "outros projetos de alianças", sem jamais explicar quais seriam. 

Pressionado inclusive por senadores, o Itamaraty optou por aderir ao projeto. Mas com várias ressaltas. A primeira delas é de que pediria o menor volume permitido de vacinas dentro do esquema criado: doses que poderiam cobrir apenas 10% da população nacional. Pelas regras do mecanismo, o país poderia ter pedido o dobro. 

A decisão de aderir ao projeto, que foi tomada nas últimas horas do prazo dado pela OMS, ainda estabeleceu mais flexibilidades. O Brasil conseguiu o direito de entrar no mecanismo, reservando-se o direito de não comprar o primeiro lote da vacina, caso fosse da mesma empresa que já estava fornecendo doses ao país. Mas isso significaria que, para a segunda entrega de doses, o Brasil seria colocado para o final da fila entre os recipientes. 

 

Patentes

Um outro elemento chave na política externa brasileira foi a decisão de romper a postura tradicional do país, se distanciar de outros países emergentes e se negar a apoiar a ideia de uma suspensão de patentes de vacinas. O projeto foi apresentado pela Índia e África do Sul, na OMC em outubro, e previa que qualquer país poderia produzir versões genéricas da vacina, sem que fosse punido pela quebra da patente. 

Negociadores consideraram que a falta do apoio brasileiro foi central para que proposta não tivesse a força necessária e que o projeto se arrastasse por meses, sem uma definição. Ao tomar essa postura, o Itamaraty rompia com mais de 20 anos de uma política de defesa da saúde como sendo prioridade sobre questões comerciais ou econômicas. 

De um líder incontestável nessa questão, o Brasil passou a ser um dos maiores obstáculos para que houvesse um acordo para a produção em massa de vacinas. 

Como um terremoto no mundo diplomático, o governo de Joe Biden decidiu recentemente apoiar a suspensão de patentes, dias depois de o Itamaraty voltar a afirmar que não mudaria de postura e que a proteção das patentes era fundamental. 

 

Anti-China e aliança com Trump

Um dos aspectos que marcou sua gestão foi ainda as repetidas críticas contra o governo da China, o que, para ex-ministros do governo de Jair Bolsonaro e para o governador João Doria, afetou a capacidade de o Brasil ter acesso privilegiado a insumos chineses fundamentais para a vacinação no país. 

O ex-chefe da pasta da Saúde Luiz Henrique Mandetta revelou à coluna que, ainda no início da crise, foi buscar contato com a embaixada da China em Brasília e aproximar posições. Mas suas tentativas eram minadas pelo Itamaraty. 

Ainda em abril de 2020, em um texto publicado, o ex-chanceler criticou Pequim. "Não surpreende que, ao menos até agora, a China - que já empregava largamente sistemas de controle social digitalizado - se tenha demonstrado a mais bem equipada para enfrentar a epidemia catastrófica. Deveremos talvez deduzir daí que, ao menos sob alguns aspectos, a China represente o nosso futuro? Não nos estamos aproximando de um estado de exceção global?", questionou. 

"Mas se não é esse [o modelo chinês] o comunismo que tenho em mente, que entendo por comunismo? Para entendê-lo, basta ler as declarações da OMS." Para ele, o lockdown em Wuhan naquele momento veio "à custa da destruição dos empregos que permitem a sobrevivência digna e minimamente autônoma de milhões e milhões de pessoas, ao preço do desmantelamento de sua liberdade e de seu sustento, se atinge um mundo "em paz consigo mesmo". 

Não houve apenas ataques em redes sociais. Ainda no início da crise, o governo da China promoveu um encontro com chanceleres da América Latina para debater a proposta de dar um crédito de US$ 1 bilhão para que a região comprasse vacinas chinesas. Araújo foi um dos poucos ministros da região que recusou o convite. 

A recusa em permitir qualquer aproximação com a China vinha de uma percepção clara e alinhada com o governo de Donald Trump que a pandemia seria um momento decisivo para o poder de Pequim no mundo. A ordem, portanto, era de impedir uma maior influência dos chineses, mesmo que isso representasse custos para o país. 

Além de apoiar ataques dos filhos de Bolsonaro e outros membros do governo contra a China, seminários foram promovidos dentro do Instituto Rio Branco com supostos especialistas que usaram a entidade para difundir críticas contra Pequim. 

"Eu tô cada vez mais convencido de que o Brasil tem hoje as condições, tem a oportunidade de se sentar na mesa de quatro, cinco, seis países que vão definir a nova ordem mundial", disse o então ministro, naquele encontro com a presença de Bolsonaro. 

“É, outro dia a...na conversa do presidente com o primeiro-ministro da Índia, o indiano disse que vai ser tão diferente o pós-coronavírus do pré quanto pós segunda guerra do pré", explicou. 

"Eu acho que é verdade e assim como houve um conselho de segurança que definiu a ordem mundial, cinco países depois da... da segunda guerra, vai haver uma espécie de novo é... conselho de segurança e nós temos, dessa vez, a oportunidade de tá nele e acreditar na possibilidade de o Brasil influenciar e forma... ajudar a formatar um novo é... cenário", afirmou. 

Um trecho, porém, revelou um ataque velado contra a China. "Que que aconteceu nesses trinta anos? Foi uma globalização cega para o tema dos valores, para o tema da democracia, da liberdade. Foi uma globalização que, a gente tá vendo agora, criou é... um modelo onde no centro da economia internacional está um país que não é democrático, que não respeita direitos humanos etc., né?", disse, numa referência aos chineses e sem citar o nome do país. 

 

ONU: Itamaraty opta por ficar de fora de combate contra desinformação

Ao longo de seu mandato, porém, o governo brasileiro se distanciou de iniciativas internacionais, não apoiou resoluções na ONU, não criticou o corte de dinheiro dos EUA para a OMS, não enviou ministros para reuniões, não adotou uma postura de protagonismo no cenário internacional e não foi a uma reunião entre ministros para fortalecer o multilateralismo. 

Em dezembro de 2020, por exemplo, Araújo, usou um evento extraordinário da ONU para tratar da crise da covid-19 para criticar a OMS, questionar o multilateralismo e para defender alguns de seus mantras da diplomacia do atual governo, principalmente a soberania nacional. 

O evento virtual contou com mais de 90 presidentes e primeiros-ministros. A meta era a de garantir um compromisso amplo sobre como dar uma resposta global à crise. Mas o presidente Jair Bolsonaro optou por não participar. Araújo, pelo protocolo, ficou para o final da fila, sendo um dos últimos a discursar e quando já era o início da noite em Nova York. 

Em seu discurso, o chanceler fez questão de romper um tom de apoio ao multilateralismo adotado pelos demais governos e deixar claro que foram governos nacionais quem deram uma resposta à crise. Segundo o ministro, a crise não poderia ser usada como "pretexto" para ampliar a agenda ou o mandato da ONU e, em sua visão, o organismo é apenas uma "plataforma para compartilhar experiências".

Sua defesa era de que a resposta contra a covid-19 é de responsabilidade de governos nacionais, e não de organismos estrangeiros. Para ele, não deve haver uma transferência de competências do nível nacional para o internacional e criticou "clichês bonitos como "o mundo precisa de mais multilateralismo" ou "problemas globais exigem respostas globais". 

O governo brasileiro ainda optou por não aderiu a um compromisso assinado por 130 países de todo o mundo na ONU contra a desinformação em meio à pandemia. Em junho de 2020, uma ofensiva na ONU por parte de governos estabeleceu um compromisso global para lutar contra a desinformação durante a pandemia... - 

Aliados do governo de Jair Bolsonaro como Israel, Índia, Hungria e Japão assinaram a declaração. Até mesmo o governo dos EUA de Donald Trump aderiu, assim como o Reino Unido de Boris Johnson. Também aderiram ao projeto Alemanha, França e Itália, entre muitos outros países. 

O texto da iniciativa alertava que "à medida que a COVID-19 se espalha, um tsunami de desinformação, ódio, bode expiatório e assustador foi desencadeado". Segundo os governos, em tempos de crise de saúde, "a propagação da "infodemia" pode ser tão perigosa para a saúde e segurança humana quanto a própria pandemia". 

"Entre outras consequências negativas, a COVID-19 criou condições que permitem a disseminação de desinformação, notícias falsas e vídeos para fomentar a violência e dividir as comunidades", alertaram os governos. "Por estas razões, pedimos a todos que parem imediatamente de difundir informações errôneas e observem as recomendações da ONU para enfrentar este problema", sugeriram os governos. 

 

Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais: um registro sintético dos livros mais importantes de 1949 a 2013 - Paulo Roberto de Almeida

 Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais: um registro sintético dos livros mais importantes desde 1949

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

2594. “Uma vida através dos livros: minhas memórias intelectuais”, Hartford, 24 março 2014, 10 p. Registro parcial dos livros mais importantes publicados no mundo e no Brasil, ao longo de minha vida. Para desenvolvimento futuro com comentários sobre os autores e suas obras, ano a ano.

 

 

1949: 

George Orwell: 1984 (Nineteen Eighty-Four)

C. W. Ceram: Deuses, túmulos e sábios: a história da arqueologia

Victor Nunes Leal: Coronelismo Enxada e Voto

Fernand Braudel: La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II

Ludwig von Mises: Human Action: A Treatise on Economics

José Honório Rodrigues: Teoria da História do Brasil

 

1950: 

Thor Heyerdahl: Kon-Tiki

Octavio Paz: El Labirinto de la Soledad y otros escritos

Ernet Gombrich: A História da Arte

Will Durant: The Age of Faith (Story of Civilization, vol. 4)

 

1951: 

J. D. Salinger: The Catcher in the Rye

Hannah Arendt: The Origins of Totalitarianism

Ludwig von Mises: Socialism: An Economic and Sociological Analysis

George Kennan: American Diplomacy

 

1952:

José Honório Rodrigues: A Pesquisa Histórica no Brasil

J. A. Soares de Souza: Um diplomata do Império: Barão da Ponte Ribeiro

Ernest Hemingway: The Old Man and the Sea

Heinrich Harrer: Seven Years in Tibet

Frantz Fanon: Peau Noire, Masques Blancs

Alan Bullock: Hitler: A Study in Tirany

J. Mortimer Adler: Great Books of the Western World

 

1953: 

Pierre Renouvin: Histoire des relations internationales (Paris: 8 vols.: 1953-1958)

Lançamento dos Cadernos do Nosso Tempo (IBESP-RJ: 5 números até 1956);

Robert L. Heilbroner: The Wordly Philosphers

Czeslaw Miloz: A Mente Cativa

Isaiah BerlinL The Hedgehog and the Fox: An Essay on Tolstoy’s View of History

 

1954:

Criação do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, Palácio Itamaraty (RJ)

John Kenneth Galbraith: The Great Crash of 1929

Georges Politzer: Principes Elementaires de Philosophie

Vinicius de Moraes: Antologia Poética

 

1955:

Costa, Hipólito José. Diário de Minha Viagem para Filadélfia, 1798-1799

Lançamento da Revista Brasiliense (publicada até 1964);

Cornelius Ryan: The Longest Day

Claude Lévi-Strauss: Tristes Tropiques

Werner Keller: E a Bíblia Tinha Razão (The Bible as History)

 

1956: 

Erich Fromm: The Art of Loving

João Guimarães Rosa: Grande Sertão, Veredas

C. Wright Mills: The Power Elite

Ludwig von Mises: The Anti-Capitalist Mentality

Winston Churchill: A History of the English Speaking Peoples

 

1957: 

Boris Pasternak: Doutor Jivago

Ayn Rand: Atlas Shrugged

Mircea Eliade: Le Sacré et le Profane

Karl Popper: The Poverty of Historicism

Norman Cohn: Pursuit of the Millenium: Revolutionay Millenarians and Mystical Anarchists of the Middle Ages

 

1958:

Hélio Jaguaribe: O Nacionalismo na Atualidade Brasileira

Hélio Vianna: História diplomática do Brasil;

Lançamento no Rio de Janeiro da RBPI

Jorge Amado: Gabriela, Cravo e Canela

John Kenneth Galbraity: The Affluent Society

Claude Lévi-Strauss: Anthropologie Structurelle

Hannah Arendt: The Human Condition

 

1959:

Carlos Delgado de Carvalho: História diplomática do Brasil

Luis Vianna Filho: A vida do Barão do Rio Branco;

Celso Furtado: Formação Econômica do Brasil

Karl Popper: The Logic of Scientific Discovery

 

1960:

Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro: Atlas de Relações Internacionais;

William L. Shirer: The Rise and Fall of the Third Reich

David H. Lawrence: Lady Chatterley's Lover sells 200,000 copies in one day following its publication since being banned since 1928

 

1961: 

Foreign Affairs: Jânio Quadros: “Brazil’s new foreign policy”;

José Honório Rodrigues: Brasil e África: outro horizonte;

René Goscinny, Albert Uderzo: Astérix le Gaulois

 

1962: 

Boxer, Charles R. The Golden Age of Brazil, 1695-1750

San Tiago Dantas: Política externa independente;

Alexander Soljenitsin: Um Dia na Vida de Ivan Denisovich

The works of Pierre Teilhard de Chardin are denounced by the Roman Catholic Church

Milton Friedman: Capitalism and Freedom

Thomas Kuhn: The Structure of Scientific Revolutions

John Steinbeck: Travels With Charley: In Search of America

Barbara Tuchman: The Guns of August

 

1963: 

Hannah Arendt: Eichmann in Jerusalem: A Report on the Banality of Evil

Morris West: The Shoes of Fisherman

 

1964: 

Herbert Marcuse: One-Dimensional Man

Prêmio Nobel de Literatura para Jean-Paul Sartre, que recusa

Ernst Mayr: What Evolution Is

Mao Tse-tung: O Livro Vermelho do Presidente MTt (Citations from...)

 

1965: 

Werner Baer: Industrialization and Economic Development in Brazil;

Edmar Morel: O Golpe começou em Washington

Erico Veríssimo: O Senhor Embaixador

 

1966:

E. Bradford Burns: The Unwritten Alliance: Rio Branco and Brazilian-American Relations

Mikhail Bulgakov: O Mestre e a Margarida, de (1940), publicada com cortes na URSS

Jorge Amado: Dona Flor e seus dois maridos (?)

Barbara W. Tuchman: The Proud Tower: A Portrait of the World Before the War, 1890-1914

Barrington Moore Jr.: Social Origins of Dictatorship and Democracy: Lord and Peasant in the Making of the Modern World

Carrol Quigley: Tragedy and Hope: A History of the World in Our Time

 

1967: 

Robert T. Daland: Brazilian Planning

John W. F. Dulles: Vargas of Brazil;

Thomas E. Skidmore: Politics in Brazil, 1930-1964: An Experiment in Democracy;

Gabriel Garcia Marquez: Cien Años de Soledad

 

1968: 

Richard Graham: Britain and the Onset of Modernization in Brazil, 1850-1914;

Arthur C. Clark: 2001, A Space Odissey

Alexander Soljenitsyn: Pavilhão dos Cancerosos; O Primeiro Círculo

Paul R. Ehrlich: The Population Bomb

 

1969: 

Werner Baer: The development of the Brazilian steel industry;

Jorge Amado: Tenda dos Milagres

Dean Acheson: Present at the Creation: My Years at the Department of State

 

1970: 

John W. F. Dulles: Unrest in Brazil: Political-Military Crises, 1955-1964

Henri Charrière: Papillon

Alvin Toffler: Future Shock

 

1971: 

Alfred Stepan: The Military in Politics: changing patterns in Brazil;

Alexander Soljenitsyn: Agosto 14

 

1972: 

Frank D. McCann Jr.: The Brazilian-American Alliance, 1937-1945

Jorge Amado: Tereza Batista Cansada de Guerra

Walter Rodney: How Europe Underdeveloped Africa

 

1973: 

John W. F. Dulles: Anarchists and Communists in Brazil, 1900-1935

Moniz Bandeira: Presença dos Estados Unidos no Brasil: dois séculos de história

Celso Lafer e Felix Peña: Argentina e Brasil no sistema de relações internacionais;

Golpe no Chile (11/09): morte de Victor Jara, no Estadio (16), assassinado, e de Pablo Neruda (23), 

Alexander Soljenitsyn: novela O Arquipélago de Gulag, escrita em 1958-1968, publicada em Paris, de um manuscrito contrabandeado da URSS; 

Mikhail Bulgakov: O Mestre e a Margarida, de (1940), publicada completa na URSS

Mario Vargas Llosa: Pantaleón y las visitadoras

E. F. Schumacher: Small is Beautiful

 

1974:

Alexander Soljenitsyn, preso e expulso da URSS; seus livros começam a ser publicados no Ocidente.

John Le Carré: Tinker, Tailor, Soldier, Spy

Nicholas Meyer: The Seven-Percent Solution

 

1975: 

Stanley E. Hilton: Brazil and the great powers, 1930-1939: the politics of trade rivalryBrazil and the Internacional Crisis: 1930-1945;

Romain Gary, escrevendo sob o pseudônimo de Émile Ajar, ganha o Goncourt pela segunda vez, com o romance: La Vie Devant Soi

Philip Agee: Inside the Company: CIA Diary

 

1976: 

Luciano Martins: Pouvoir et Développement Économique: formation et évolution des structures politiques au Brésil;

Alex Haley: Roots: The Saga of an American Family

Ira Levin: The Boys From Brazil

Richard Dawkins: The Selfish Gene

Michel Foucault: Histoire de la Sexualité: 1. La volonté de Savoir

Jean-François Revel: La Tentation Totalitaire

 

1977: 

Ronald Schneider: Brazil: Foreign Policy of a Future World Power

Pedro Malan et ali: Política econômica externa e industrialização do Brasil (1939-52)

Jorge Amado: Tieta do Agreste

Alfred D. Chandler Jr.: The Visible Hand: The Managerial Revolution in American Business

 

1978:

Dulles, John W. F. President Castelo Branco: A Brazilian Reformer;

Lançamento em Brasília da revista Relações Internacionais (UnB);

Graham Greene: The Human Factor

 

1979: 

Peter Evans: Dependent Development: The Alliance of Multinational, State and Local Capital in Brazil

Henry Kissinger: White House Years

 

1980:

Gerson Moura: Autonomia na Dependência: 1935-1942

Umberto Eco: Il nome della Rosa

Carl Sagan: Cosmos

Alvin Toffler: Third Wave

Mario Vargas Llosa: La Guerra del Fin del Mundo

Martin Cruz Smith: Gorky Park

Stephen Jay Gould: The Mismeasure of Man

 

1981: 

Stanley Hilton: Hitler’s Secret War in South America;

Stephen Jay Gould: The Mismeasure of Man

Gore Vidal: Creation

 

1982: 

Laurence Hallewell: Books in Brazil: a history of the publishing trade

 

1983:

Lançamento em São Paulo da revista Política e Estratégia (Soc. Convívio);

 

1984:

O ano de George Orwell: 

Barbara W. Tuchman: The March of Folly: From Troy to Vietnam

 

1985:

 

1986:

Gerson Moura: Tio Sam chega ao Brasil: a penetração cultural americana

A. L. Cervo e C. Bueno: A Política Externa Brasileira, 1822-1985;

Richard Dawkins: The Blind Watchmaker

 

1987: 

Steve Topik: The Political Economy of the Brazilian State, 1889-1930

Paul M. Kennedy: The Rise and Fall of the Great Powers: Economic Change and Military Conflict From 1500 to 2000

 

1988: 

Thomas Skidmore:  The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85;

Winston Fritsch: External constraints on economic policy in Brazil, 1889-1930

Stephen Hawking: A Brief History of Time

Prix Goncourt: Erik Orsenna: L'Exposition coloniale

 

1989: 

Gerald K. Haines: The Americanization of Brazil: a study of U.S.: cold war diplomacy in the Third World, 1945-1954

Moniz Bandeira: Brasil-Estados Unidos: A Rivalidade Emergente, 1950-1988

Gelson Fonseca Jr. e Valdemar Carneiro Leão (orgs.): Temas de Política Externa Brasileira I

João H. P. de Araújo, M. Azambuja e Rubens Ricupero: Três Ensaios sobre Diplomacia Brasileira

Khomeiny decreta uma fatwa contra Salman Rushdie por causa dos Versos Satânicos; em 1991 o tradutor japonês seria esfaqueado e morto, na Universidade Tsukuba, segundo a fatwa.

Umberto Eco: O Pêndulo de Foucault

 

1990:

Gerson Moura: O Alinhamento sem Recompensa: a política externa do Governo Dutra

 

1991:

Gerson Moura: Sucessos e Ilusões: relações internacionais do Brasil durante e após a Segunda Guerra Mundial

Rubens A. Barbosa: América Latina em perspectiva;

 

1992:

A. L. Cervo; Clodoaldo Bueno: História da Política Exterior do Brasil;

Lançamento da revista Política Externa (SP: Ed. Paz e Terra-NUPRI/USP);

 

1993:

Paulo R. Almeida: O Mercosul no contexto regional e internacional;

1º número da série de Brasília da Revista Brasileira de Política Internacional;

 

1994:

Roberto Campos: A Lanterna na Popa;

Vasco Leitão da Cunha: Diplomacia em Alto Mar;

 

1995:

José H. Rodrigues e Ricardo Seitenfus: Uma História Diplomática do Brasil)

MRE: A Palavra do Brasil nas Nações Unidas: 1946-1995

Moniz Bandeira: O Expansionismo Brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata;

R. Ricupero: Visões do Brasil

C. Bueno: A República e sua Política Exterior

 

1996: 

Steve Topik: Trade and Gunboats: The United States and Brazil in the Age of Empire;

Lançamento da revista Parcerias Estratégicas (CEE-SAE);

 

1997: 

Marshall C. Eakin: Brazil: the once and future country;

Iris Chang: The Rape of Nanking

Jared Diamond: Guns, Germs and Steel

 

1998: 

Thomas M. Cohen: The Fire of Tongues: Antonio Vieira and the Missionary Church in Brazil and Portugal;

Moniz Bandeira: De Marti a Fidel: a revolução cubana e a América Latina

Paulo R. Almeida: Relações internacionais e política externa do Brasil;

 

1999:

Paulo R. Almeida: O Brasil e o multilateralismo econômicoO estudo das relações internacionais do Brasil;

 

2000: 

H. W. Brands: The First American: the Life and Times of Benjamin Franklin

 

2001: 

Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance: en route toward the First World;

Paulo R. Almeida: Os primeiros anos do século XXI: relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2001)

 

2002: 

Stephen Jay Gould: I Have Landed

 

2003: 

 

2004: 

Jared Diamond: Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed 

 

2005: 

Tony Judt: Postwar: A History of Europe since 1945

Jung Chang & Jan Halliday: Mao: the Unknown Story

 

2006: 

Richard Dawkins: The God Delusion

 

2007: 

Christopher Hitchens: God is not Great

 

2008: 

 

2009: 

Guy Sorman: Economics does not lie

 

2010: 

Mario Vargas Llosa: El Sueño del Celta

 

2011: 

Richard Dawkins: The Magic of Reality: How We know What’s Really True?

Daniel Yergin: The Quest

 

2012: 

 

2013: 

http://www.theguardian.com/books/2013/jan/21/george-orwell-day-begins-annual-commemoration ;  "George Orwell Day begins annual commemoration". The Guardian (London). 21 January 2013. Retrieved 21 January 2013

 

2014:

 (a completar)

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Hartford, 25 Março de 2014

 

domingo, 16 de maio de 2021

Mini-reflexão sobre a miséria que ainda nos aguarda - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre a miséria que ainda nos aguarda

Paulo Roberto de Almeida

Aos que esperam algum tournant decisivo nesta semana que já foi identificada como o “ponto alto” da CPI da Pandemia, eu diria que cabe baixar a bola e apenas aguardar mais do mesmo. E o que é “mais do mesmo”?

Desculpem o longo parágrafo explicativo seguinte, mas ele tem a pretensão de resumir nossa trajetória declinante desde a segunda metade da ditadura militar até o ponto mais baixo desse itinerário decadente a que fomos conduzidos sob a presidência de um inepto perverso, que desde o início de 2019 aprofunda a decrepitude na qual vivemos atualmente.

Trata-se do prolongamento de um imenso, delongado, doloroso e angustiante processo agônico de declínio estrutural a que o Brasil foi levado desde a última fase do regime militar, no qual navegamos a esmo durante os 20 anos seguintes (1983-2003), com os altos e baixos de um mar encapelado no Brasil e no exterior — crises da dívida externa, “moratória soberana”, Constituinte utópica e auto-destrutiva, aceleração inflacionária, seis trocas de moedas e estabilização parcial, crises financeiras externas aumentando nossa fragilidade macroeconômica — e com algumas ilusões de crescimento não sustentado nas quase duas décadas seguintes, que também corresponderam a certa perda na qualidade das políticas públicas (macroeconômicas e setoriais), a uma tentativa de assalto monopólico ao poder por uma organização criminosa travestida de partido político, que conduziu um imenso exercício de cleptocracia improvisada e à criação da maior recessão de nossa história econômica, e que nos levou, finalmente, aos braços de uma extrema-direita a mais estúpida que é possível contemplar no cenário político mundial contemporâneo.

Esta semana de 18 a 22 de maio de 2021 será uma espécie de “ponto ótimo da crise” na trajetória da CPI que deveria ser do “fim do mundo”, mas que representará apenas a continuidade da descida ao fundo do poço; nossas “elites políticas” ainda não cessaram de perpetrar seu horrível trabalho de aprofundar nosso declínio, e eu explico porque.

Assim que saiu a decisão de Lewandowski a pedido da AGU em favor do Sargento Tainha da Saúde, eu já tinha alertado: Pazuello recebeu o direito de mentir sobre o capitão e de colocar toda culpa em terceiros, o que inevitavelmente recairá no primeiro. Fecha-se a quadratura do círculo. Depois, cabe aos senadores tocar o barco. Como estamos no Brasil, lamento dizer o seguinte: quanto mais se conseguir provar a incapacidade de Bolsonaro seguir sendo presidente, mais o Centrão se esforçará para mantê-lo no poder. 

É isso, ou a mobilização da sociedade, o que não ocorrerá pois convém tanto às ditas esquerdas, PT em primeiro lugar, manter a bipolaridade e que Bolsonaro seja o candidato que chega sangrando em outubro de 2022, quanto também interessa ao genocida no poder que Lula seja seu adversário naquela data, numa espécie de aposta extrema e desesperada para que o cenário divisivo de 2018 se repita. 

Não sei se vocês já perceberam, mas os brasileiros se encontram numa situação que tem uma expressão no léxico do desespero: “abraço de afogados”. É a isso que o nosso miserável sistema político e essa nossa formidável mediocridade das elites nos levou: a continuar cavando a fétida fossa da desesperança, para chegar a lugar nenhum, a não ser o prolongamento de nossa decadência como nação. É esse o espetáculo que vamos infelizmente oferecer ao mundo no bicentenário de nossa emergência como Estado independente: será um triste espetáculo posso assegurar.

No plano da conjuntura imediata, pode-se parafrasear um dos  títulos de Gabriel Garcia Marquez: El Capitán no Tiene Quienes le Oigan. Com 500 mil mortos a caminho, falta completa de vacinas, uma CPI no lombo e assessores aloprados que não apenas não conseguem defendê-lo, mas que vão conseguir enterrá-lo um pouco mais, o dito capitão não tem a menor chance de chegar “vivo”, politicamente, até outubro de 2022. 

Quero virar jacaré se ele conseguir manter-se no cargo, dispondo de apenas 15% de apoio “popular” até lá. Mas isso não importa. O que importa é que NADA estará resolvido até lá e qualquer que seja o resultado da contenda eleitoral: se o chefe mafioso (mas inteligente e perspicaz) das esquerdas, se o capitão inepto e destrambelhado (como reação à volta do lulopetismo), seja ainda um tertius ainda indefinido que se apresentará claudicante depois do engalfinhamento patético que ocorrerá nas forças ditas “centristas” (um saco de gatos onde figuram os mesmos politicos corruptos do Centrão e alguns oportunistas de ocasião).

Qualquer que seja o resultado do pleito presidencial, o país continuará dividido e acrimonioso, confuso e perdido quanto ao seu futuro — pois que o processo eleitoral NÃO consistirá de discussões em torno de programas de governo e sim em uma lamentável troca de acusações recíprocas — e a sociedade persistirá nesse esquartejamento de impulsos contraditórios entre populismos de direita e de esquerda, sem qualquer possibilidade de que um projeto de reformas estruturais seja proposto e levado adiante por algum pequeno grupo com pretensões a estadistas.

Termino constatando justamente isto: o Brasil atual — mas isso vale para toda a nossa “herança” da ditadura militar — parece uma nação incapaz de produzir o seu pequeno lote de estadistas capazes de elevar o nível do debate político e de oferecer caminhos de escape do atual (mas já longo e delongado) processo de decadência estrutural. Um dia, longínquo por certo, conseguiremos sair do presente e continuado atoleiro para superarmos progressivamente (mas com dificuldades) nossas grandes tragédias permanentes e algumas conjunturais: a não educação da maior parte da população, os baixíssimos níveis de produtividade do capital humano (que é uma consequência do primeiro fator), a imensa corrupção dos estamentos políticos (derivado do patrimonialismo nunca vencido), a instabilidade jurídica criada pelo mandarinato da alta magistratura (em parte medíocre e também corrupta), ademais do caráter predatório de nossas elites (de quaisquer tipos e setores, novas ou velhas, estatais ou privadas).

Lamento ter ocupado a atenção dos poucos que me leem com um texto essencialmente pessimista, como este, mas é porque ele foi feito para meu próprio “esclarecimento”, que não é nenhum Aufklarung em direção de um projeto utópico de futuro, mas uma simples síntese de minha desesperança atual: não, não espero nada da conjuntura imediata — ou seja, da CPI da Pandemia e seus efeitos subsequentes — ou do médio prazo de nossa trajetória político-eleitoral de 2022, pois que considero que continuares nas névoas e brumas de um itinerário largamente indefinido, e incerto. 

Continuaremos nos arrastando penosamente em direção a esse futuro incerto, com alguns poucos progressos aqui e ali, pois como dizia Mário de Andrade cem anos atrás: “progredir, progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade”.

Sorry pela “fatalidade” sociológica.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 16/05/2021



Uma vida através dos livros: 1949 - Paulo Roberto de Almeida

Uma vida através dos livros

Paulo Roberto de Almeida

1949

Nasci na quase exata metade do século XX, no final de 1949, que corresponde, no teatro geopolítico do mundo, ao segundo ou terceiro ano da Guerra Fria, um período na história das relações internacionais que marcaria o primeiro meio século de minha vida, e que, de certa forma, determinaria o que eu seria na fase madura, o que eu escolheria como  ocupação, o que eu teria no centro de minhas reflexões e escritos durante boa parte de minhas atividades profissionais, na diplomacia, e intelectuais, nas diversas academias a que fui ligado. Digo que determinaria parte de minha vida, não que eu tenha tido qualquer coisa a ver com a Guerra Fria – ou sequer tivesse consciência de sua existência, nos meus primeiros anos –, mas é que minha atenção foi chamada para essa grande divisão do mundo já na primeira adolescência, entre 12 e 13 anos, e isso ficou marcado em minha mente, como relatarei mais adiante, na altura do início dos anos 1960: a possibilidade de um conflito nuclear, com aquela imagem de uma nuvem em formato de champignon, era por demais impactante para quem se tornou curioso acerca das coisas do mundo, ainda que isso estivesse muito distante, do Brasil e da vida de uma família de classe média baixa num país recém saído de sua condição de economia essencialmente agrícola. 

Não que eu soubesse, ou adivinhasse tudo isso, obviamente, naquele momento inaugural de minha vida. Todo o meu relato é retrospectivo e introspectivo: ele visa capturar cada ano de minha trajetória pessoal profissional e intelectual, introduzindo, no decorrer de cada um dos anos desse itinerário, os livros, a produção intelectual, os grandes fatos do Brasil e do mundo, paralelamente a uma breve descrição do que acontecia comigo, com minha família, no meio social no qual nos inseríamos e nos desenvolvíamos. 

(2020)

Que livros eu reteria desse ano de 1949, que não foi exatamente um ano completo, pois me “pertenceu” apenas pelas suas seis semanas finais?

Sem consultar a “bibliografia”, ou a relação das obras produzidas nesse ano, apenas dois me veem à cabeça, numa lembrança talvez cronologicamente incorreta: a obra de sociologia política de Vitor Nunes da Silva Leal, Coronelismo, enxada e voto, que se tornou clássico sobre os estudos de estrutura política e eleitoral do Brasil — tendo seu autor sido alçado à condição de ministro do STF, apenas para ser cassado pela ditadura militar —, e o texto, praticamente um panfleto, de Albert Einstein sobre o socialismo, no qual o grande físico nobelizado 30 anos antes expressava sua admiração e simpatia por esse modo de organização politica, econômica e social, revelando tanto empatia pelo regime que havia derrotado o nazifascismo (que havia eliminado brutalmente seis milhões de judeus como ele), quanto ingenuidade a respeito dessa forma moderna de escravidão, um sistema brutal de “exploração do homem pelo homem”, sem qualquer resquício de espírito democrático. Einstein não teve oportunidade de se manifestar sobre o relatório de Krushev sobre os crimes de Stalin, pois que morreu em abril de 1955, e o relatório só foi revelado pelo New York Times em meados do ano seguinte.

Falarei sobre outros livros do ano de meu nascimento no momento oportuno, mas cabe registrar que nesse ano de 1949 a Guerra Fria já estava bem “instalada”: a União Soviética conseguiu, graças aos esforços do seu antigo chefe da NKVD, Beria (ele seria assassinado depois por Krushev), explodir o seu primeiro artefato nuclear, rompendo o monopólio americano nessa área, que durava desde 1945, quando duas bombas atômicas foram explodidas em Hiroshima e Nagasaki. No mesmo ano, uma corte americana condenou à morte Julius e Ethel Rosemberg, por espionagem atômica em favor da URSS, deslanchando, junto com a vitória de Mao Tsetung na guerra civil chinesa, em outubro, o macartismo nos EUA.

De certa forma, sou um “filho” da Guerra Fria, pois que minhas primeiras leituras políticas, anos mais tarde, seriam os exemplares fartamente distribuidos pelo governo americano (traduzidos para o Português graças aos cuidados “editoriais” da CIA) da revista Seleções da Reader’s Digest, o periódico simbolo desses anos de emergência do conflito bipolar. Minha educação política se deu nesse contexto, mas a Revolução cubana e o golpe militar de 1964 me levaram rapidamente para o lado exatamente oposto. Mas essa é uma história que eu contarei no ano apropriado...

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 15/05/2021


Livros publicados no ano de 1949: 

George Orwell: 1984 (Nineteen Eighty-Four)

C. W. Ceram: Deuses, túmulos e sábios: a história da arqueologia

Victor Nunes Leal: Coronelismo, Enxada e Voto

Fernand Braudel: La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II

Ludwig von Mises: Human Action: A Treatise on Economics

José Honório Rodrigues: Teoria da História do Brasil