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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Por que defendo a decisão da Ministra Rosa Weber? - Deputado Rodrigo Maia (O Globo)

 POR QUE DEFENDO A DECISÃO DA MINISTRA ROSA WEBER?!

Rodrigo Maia, Deputado Federal pelo Rio de Janeiro
O Globo, 09/11/2021 

A decisão da Min. Rosa Weber, que determinou a suspensão do “orçamento secreto” e a adoção de medidas de transparência, tem gerado controvérsia. Lideranças parlamentares ligadas ao governo falam em crise com o STF. A decisão, contudo, limita-se a dar fiel cumprimento a uma regra aprovada pelo próprio Congresso em reformas recentes. Não pode ser interpretada como uma interferência na autonomia do Legislativo.

A LDO de 2014 já consagrava o caráter impositivo das emendas individuais. A Emenda n. 86/2015 constitucionalizou o “princípio da execução equitativa”, reafirmado na Emenda n. 100/2019. Segundo esse princípio, o governo deve observar critérios objetivos e imparciais na execução do orçamento, e as emendas apresentadas devem ser tratadas de forma igualitária e impessoal. Portanto, o próprio Congresso aprovou (nesta Legislatura) norma que proíbe o uso das emendas como uma ferramenta de gestão de coalizão parlamentar.

Podemos discutir, no mérito, se é bom ou ruim que em um sistema presidencialista com tantos partidos o governo possa lançar mão das emendas como forma de construir sua base. Mas esse debate já ocorreu, e uma decisão clara foi tomada. Não podemos fechar os olhos: o modelo instaurado pelo “orçamento secreto” não se coaduna com a Constituição, com “critérios objetivos e imparciais”, com “tratamento igualitário” de parlamentares.

Não se trata aqui de uma crítica indiscriminada às emendas individuais ou à busca dos parlamentares por mais recursos para os estados e regiões que representam, uma luta legítima. O modelo urdido pelas lideranças governistas, contudo, pretende lançar esse jogo fora dos limites constitucionais. Se o Congresso entende que precisa ter mais peso no orçamento, deve defender abertamente isso, aumentando o volume de recursos que serão alocados diretamente por decisão legislativa. As emendas, porém, devem ser empregadas de forma objetiva, impessoal e equitativa, a menos que a Constituição seja modificada. Por que a regra que valeu para o governo do PT não pode valer para o governo Bolsonaro, que se elegeu com uma crítica contumaz ao “toma-lá-dá-cá”?

A questão da transparência é outro grande problema. Ocultar os “congressistas requerentes da despesa” produz um quadro que é pior do aquele que se tinha antes de 2014. Naqueles tempos, era possível identificar e tematizar o tratamento diferenciado conferido aos parlamentares. Sabia-se quem estava recebendo, quanto, quando e para que. Agora, nem isso. O STF não pode controlar o mérito das emendas parlamentares e das alocações orçamentárias, mas pode (e deve) fiscalizar o procedimento orçamentário. O Congresso deve satisfação para a sociedade, mas, sem transparência, não há controle político pelas urnas.

O “orçamento secreto” gera, ainda, dois efeitos colaterais. Primeiro, diante elevada rigidez orçamentária, com despesas discricionárias abaixo de 7% do total, o abuso das emendas de relator desorganiza os programas estruturais de políticas públicas ao disputar recursos com eles. Num momento em que essas políticas são centrais para a rede de proteção social e para a retomada da economia, temos que privilegiar iniciativas que pensam de forma sistêmica o País. Segundo, com a proximidade das eleições, o acesso aos recursos do “orçamento secreto” gera uma vantagem competitiva para os beneficiados. Em nosso modelo eleitoral, políticos da mesma sigla acabam competindo entre si. Por isso, a cooptação de apoio no varejo, com base nas emendas de relator e à margem da ação de lideranças partidárias, estimula o racha em partidos outrora disciplinados.

Se o STF referendar a cautelar, assegurará a observância de regra duas vezes aprovada pelo Congresso, destinada a fomentar uma política parlamentar transparente e impessoal. Ela pode ser alterada no futuro, mas enquanto estiver no texto da Constituição, ninguém pode acusar o Tribunal de invadir o espaço do Legislativo.

Com vácuo deixado por Bolsonaro, Colômbia busca protagonismo em pautas pró-Amazônia - Emílio Sant'Anna (Estadão)

 Com vácuo deixado por Bolsonaro, Colômbia busca protagonismo em pautas pró-Amazônia

Presidente colombiano Ivan Duque ocupa espaço deixado pelo vizinho e vende a imagem de um lutador em defesa da floresta

Estadão | Emílio Sant'Anna, enviado especial | 10 de novembro de 2021, 05h00

GLASGOW - O espaço deixado pelo governo Jair Bolsonaro no protagonismo ambiental entre as nações do chamado sul global não ficou vazio por muito tempo. A Colômbia tem preenchido o vácuo deixado pelo vizinho. Ainda que cerca de dois terços da Amazônia estejam no Brasil, é do país presidido por Iván Duque Marques a atenção e as ações que se destacam desde antes da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-26).

Em Glasgow, onde a conferência ocorre há uma semana, Duque teve uma série de encontros com chefes de Estado. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, entre eles. Foi a primeira vez que os dois ficaram frente a frente, o democrata americano de máscara, o sul-americano sem. Além de ambos terem bases conservadoras, param por aí as semelhanças com Bolsonaro.

Duque avança no vácuo deixado pelo País não só de olho no espólio da “soft power” ambiental deixada por Bolsonaro, mas em outras negociações e lucros futuros.“Isso abre espaço para o governo colombiano em outros foros”, diz o professor Relações Internacionais da USP Felipe Loureiro. “Quando um país avança em um tabuleiro (geopolítico) ganha prestígio em outros.”

Em 2019, no mesmo dia em que Bolsonaro afirmou, em discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, que há “falácias” sobre a Amazônia, Duque se disse contra a politização de queimadas na região. Agora, enquanto Bolsonaro sequer colocou os pés no Reino Unido para a COP e preferiu permanecer na Itália após a reunião do G-20 para receber homenagem de um político da ultradireita local, Duque não apenas se encontrou com autoridades estrangeiras, como vendeu a imagem de um país comprometido com a luta contra o desmate. Esteve ao lado do premiê britânico, Boris Johnson, no anúncio de um acordo de proteção de florestas com a adesão de mais de cem países. Dias depois, ele esteve junto do presidente francês, Emmanuel Macron.

“Não podemos sair da COP sem dar ao mundo respostas concretas e esta cúpula deve ser lembrada porque demos um basta a discursos vazios e materializamos a esperança para as gerações que pedem o melhor de nós”, escreveu Duque nas redes sociais.

Na Escócia, ele também promoveu a agricultura colombiana e saiu com US$ 33,5 milhões (R$ 184 milhões) para conter a devastação na Amazônia e reduzir os gases de efeito estufa. O dinheiro veio de uma aliança com a Alemanha, a Noruega e o Reino Unido.

Os dois primeiros, por sinal, são os mesmos países que injetaram mais de R$ 3 bilhões no Fundo Amazônia, congelado desde o início da gestão Bolsonaro. Sobre o assunto, em 2019, o presidente brasileiro assim se dirigiu ao país nórdico: "A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer para nós”, disse. Foi além e também sugeriu que o dinheiro norueguês fosse usado para reflorestar a Alemanha.

“Em relações internacionais não existe vácuo. Se um país sai de cena, outro vai ocupar o espaço”, diz o professor da FGV André Pereira de Carvalho. Segundo ele, desde que o Brasil criou atritos em relação ao Fundo Amazônia, a Noruega cogitava levar o financiamento ao país vizinho.

“É inacreditável que o Brasil não esteja aproveitando esse momento”, diz Loureiro. “Não vai ser fácil reconstruir a imagem do País. Isso pode durar décadas.”

A realidade doméstica do líder do país andino, porém, não é tão pacífica e engajada. A Colômbia é considerado o lugar mais perigoso do mundo para ser um ambientalista: 65 dos 227 assassinatos de ativistas ambientais foram registrados no país em 2020, conforme a ONG Global Witness.

Segundo a ativista colombiana Laura Morales, da Citizen Climate Lobby, Duque faz marketing em cima de ações ambientais que partem da sociedade civil. “Muitas do que ele faz é propaganda. Alguns dos resultados que ele anuncia nunca passaram pelo governo e mesmo assim ele faz questão de dizer que são da gestão dele”, afirma. Procurado, o governo colombiano não atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem.

Ainda assim, aos olhos da comunidade internacional, o direitista conseguiu conciliar suas convicções político-ideológicas com uma posição alinhada à postura exigida pela emergência climática que já se sente nos diferentes cantos do planeta.

De acordo com o último relatório do IPCC, o painel de cientistas da ONU, A Terra está esquentando mais rápido do que era previsto e se prepara para atingir 1,5ºC acima do nível pré-industrial já na década de 2030, dez anos antes do que era esperado. Com isso, haverá eventos climáticos extremos em maior frequência, como enchentes e ondas de calor.

Enquanto o Brasil se desentendia com os financiadores do Fundo Amazônia e acumulava resultados negativos nas taxas de desmatamento, a Colômbia fazia o contrário. Apesar de em 2019, o país ter perdido uma área de floresta equivalente à cidade de São Paulo, os 159 mil hectares perdidos de vegetação representaram uma queda de 19% em relação ao ano anterior.

“Há alguns anos a Colômbia vem se destacando com uma série de reformas. Não por acaso entrou para a OCDE e para a Otan e o Brasil continua de fora’, diz a coordenadora do curso de Relações Internacionais da Anhembi-Morumbi, Helena Margarido Moreira.

Para ela, durante a COP, o Brasil pareceu ensaiar um retorno a sua política ambiental anterior com anúncios como o fim da derrubada ilegal da floresta com prazo para acontecer e o acordo do metano, mas “não há nada diferente do que o governo Bolsonaro faz desde o início”, afirma se referindo às dúvidas da comunidade internacional sobre o comprimento dos acordos.

A forma como o Brasil vem conduzindo as políticas ambientais deve causar espanto mesmo na direita, afirma. “O governo Bolsonaro vê a pauta ambiental como uma pauta de esquerda, mas não há nada de incongruente entre a postura do governo colombiano que também é de direita”, afirma. 

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,com-vacuo-deixado-por-bolsonaro-colombia-busca-protagonismo-em-pautas-pro-amazonia,70003894207


Imagem do Brasil DESABA no mundo: não participação na COP-26 rebaixou ainda mais o país - Luciana Gurgel (UOL)

 Análise | Mídia internacional tem mirado mais no governo e menos na marca Brasil

 

UOL | Luciana Gurgel | 09.11.2021

 

Londres – Para quem tem apreço pelo Brasil e se informa pela mídia internacional, dói ver o país tão associado a notícias negativas como nas últimas duas semanas.

 

Esta não é a primeira vez que o país enfrenta cobertura negativa capaz de arranhar tão fortemente sua imagem externa.

 

Mas há agora uma diferença sutil. As críticas têm sido dirigidas mais às autoridades de plantão do que à marca Brasil em si, e isso pode ser percebido em alguns momentos da cobertura da mídia sobre os encontros do G20 e COP26.

 

Brasil, China e Rússia sem líderes principais na COP26

A ausência do presidente Jair Bolsonaro em Glasgow para participar dos primeiros dias da conferência global do clima foi tratada como incompreensível, sendo a COP26 um encontro que reuniu 120 líderes globais.

 

Até alguns que ameaçaram não aparecer mudaram de ideia, como o indiano Narendra Modi. Ele apanhou bastante pela proposta de neutralizar as emissões de carbono até 2070, mas pelo menos estava lá.

 

Entre as grandes economias globais, o Brasil equiparou-se à China de Xi Jinping e à Rússia de Vladimir Putin como nações que delegaram a diplomatas e ministros a missão de representar o país em um dos mais importantes eventos diplomáticos dos últimos anos, com implicações diretas sobre a vida das pessoas.

 

A percepção foi negativa em todo o mundo, até em locais que não costumam prestar muita atenção ao Brasil.

 

A correspondente brasileira Cláudia Wallin, que vive na Suécia, registrou que o principal telejornal da rede pública, a SVT, deu destaque à seguinte crítica:

 

“Em vez de ir a Glasgow, Bolsonaro viajou para Anguillara Veneta para se tornar cidadão honorário”.

 

Mas os abalos não vieram só de Glasgow. A agressão a jornalistas na visita do presidente à Itália exibiu ao mundo uma truculência que repercutiu na mídia global.

 

Algo mudou no tratamento da mídia sobre o Brasil?

Alguns sinais ajudam a fazer crer que tanto jornalistas quanto entrevistados parecem fazer questão de “separar” o Brasil como instituição da atuação de seus governantes.

 

Reportagens sobre a violência contra os jornalistas na Itália apresentaram o presidente como figura isolada. O trecho de uma matéria da agência Reuters é um exemplo:

 

“O ex-capitão do Exército viu seu apoio internacional diminuir desde que Donald Trump perdeu sua candidatura à reeleição, enquanto o ceticismo de Bolsonaro em relação à Covid-19, vacinas e questões ambientais lhe rendeu poucos amigos no cenário global”.

 

Outro exemplo dessa distinção pode ser percebido em um artigo do The Guardian da cobertura da COP26 explicando a atuação do Brasil com relação ao desmatamento na Amazônia. O texto foi compartilhado globalmente pelos integrantes da coalizão Covering Climate Now.

 

Cobertura da imprensa global sobre meio ambiente perdeu em 2020 para a da Covid, mas superou a de anos anteriores

 

“Momento infeliz do país”

No dia abertura da conferência, Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, autora do livro Justiça Climática (publicado em português) falou à Sky News sobre a decepção com a participação do Brasil na COP26.

 

Entretanto, fez a ressalva de que se tratava de um momento infeliz do país e de suas políticas ambientais, citando o nome da ex-ministra Izabella Teixeira como exemplo de autoridade que contribuiu para mitigar os problemas em sua gestão.

 

Só que esses lampejos podem não ser suficientes para compensar a avalanche de cobertura negativa.

 

Por mais que diplomatas e empresários se empenhem para desconstruir a má reputação do país, a questão da Amazônia tem um peso difícil de equilibrar, quando um nome como Al Gore diz à mídia global que não confia no presidente brasileiro e em seus compromissos.

 

Cobertura da Sky News direto da Amazônia

No Reino Unido, o massacre diário tem hora certa para acontecer.

 

Patrocinadora da cúpula do clima, a Sky News criou um “estúdio ao ar livre” em Manaus, de onde o jornalista Mike Stone co-ancora diariamente o principal noticiário da rede.

 

Da beira do rio ou de cenários amazônicos, ele entrevista pessoas comuns, cientistas, líderes indígenas e de ONGs, unânimes em condenar a condução governamental. Tem buscado ouvir vozes sensatas e ressaltado argumentos baseados em evidências científicas.

 

Mas isso não é suficiente para atenuar o impacto negativo, que não é apenas uma questão de imagem.

 

Uma má reputação em questões climáticas hoje em dia vale muito dinheiro e influência global.

 

Consciência ambiental do consumidor

A cobertura da mídia sobre a COP26 é massiva em todo o mundo. Atinge desde os altos escalões da política até as pessoas comuns que vão ao supermercado fazer compras.

 

Em países desenvolvidos, os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre os problemas ambientais e sabem quem são as nações que não colaboram. Ou que continuam permitindo práticas inaceitáveis em relação aos ecossistemas e aos animais.

 

Uma das reportagens mais fortes exibidas pela Sky News há poucos dias mostrava uma criação de gado clandestina na Amazônia. Os animais eram empurrados em balsas, em condições absurdas de sofrimento.

 

Ao tentar caminhar pela frágil ponte que levava à embarcação, uma vaca desaba, sem força nas pernas. Mesmo sabendo que estava sendo filmado, um homem coloca os pés sobre a sua cabeça para afogá-la.

 

Cenas de crueldade dessa natureza, embora não sejam a prática da indústria agropecuária brasileira, comprometem o país porque mostram aos consumidores que o problema existe.

 

As grandes redes globais de supermercados evitam ter em suas prateleiras algo que seus clientes não gostam ou não compram. E os países com má reputação saem em desvantagem na hora de vender para essas redes.

 

Valor da marca Brasil

Apesar de várias matérias fazerem essa distinção entre governo e instituição, isso não acontece na totalidade da cobertura negativa, acaba assim acaba respingando na marca Brasil.

 

Em outubro passado, a consultoria britânica Brand Finance revelou em seu estudo Nation Brands que o Brasil perdeu 12% do valor de sua marca nacional em 2021. E a queda se deveu sobretudo à cobertura negativa relativa à resposta falha à Covid-19.

 

A marca do país, que era a 16ª mais valiosa do mundo no ano passado, perdeu cinco posições no ranking global e assim deixou de integrar o clube das 20 mais valiosas do mundo, que continua liderado por Estados Unidos e China.

 

No caminho inverso ao do Brasil, o valor da marca do México aumentou US$ 23 bilhões (3,6%), o que fez o país subir uma posição e passar a integrar o Top 20.

 

Dessa maneira, com a ultrapassagem mexicana, a marca do Brasil passou a ser apenas a quarta mais valiosa das Américas, atrás também de Estados Unidos e Canadá.

 

Diante da onda de cobertura ambiental negativa da imprensa global que se abateu sobre o Brasil nas últimas semanas e que ainda deve durar alguns dias, só resta torcer para que o valor da marca brasileira não despenque ainda mais.

 

E que a distinção entre governo e a reputação institucional do país ajude a suavizar o impacto à marca Brasil depois da COP26.

 

https://mediatalks.uol.com.br/2021/11/09/midia-internacional-tem-mirado-mais-no-governo-e-menos-na-marca-brasil/

A crise da Covid-19 no Brasil e seus reflexos: lançamento-debate de livro - Uniceub, 10/11/2021, programação

 

Caixa de Texto:  Caixa de Texto:    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIA 10/11/2021 - MANHÃ (QUARTA-FEIRA)

Horário

Tipo de atividade

Tema

Participantes

Link da Sala

10.11.2021

08h00-08h40

Mesa Redonda


 

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos: As três fases da Política Sanitária Nacional Durante a Gripe Espanhola: Elemento Catalisador de Mudanças (1918-1920)


https://www.youtube.com/watch?v=6KtZarhn-4w

Mediadora:

Profa. Dra. Gleisse Ribeiro Alves (docente Relações Internacionais, CEUB)

https://www.youtube.com/watch?v=6KtZarhn-4w

 

Debatedores:

Prof. Dr. Alan Rangel  (Pós-doutorando na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

alan.rangel@gmail.com

 

Adan Martins Caetano  (pesquisador do grupo de estudos “Governança global”, CEUB)

adan.silent@gmail.com

 

Jefferson Seidy Sonobe Hable  (Aluno pesquisador pela Graduate School of Environmental Studies na Universidade de Nagoya/Japão; Egresso CEUB)

jefferson.sh@sempreceub.com

  

10.11.2021

08h45-09h20

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos: Policy Evaluation: Program and Policy Evaluation in Light of WHO Information/Communication Strategy During Covid-19


https://www.youtube.com/watch?v=6KtZarhn-4w

 

Mediadora:

Profa. Dra. Gleisse Ribeiro Alves (Relações Internacionais, CEUB)

https://www.youtube.com/watch?v=6KtZarhn-4w

 

Debatedor:

Prof. Dr. Gabriel Blouin Genest (École de Politique appliquée, Université de Sherbrooke/CA)

gabriel.blouin-genest@usherbrooke.ca

 

10.11.2021

09h20-09h45

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  A Odisseia Socioeconômica Brasileira: uma história contada a partir da década 60 e desembocada na Pandemia do Covid-19


https://www.youtube.com/watch?v=6KtZarhn-4w 

Mediadora:

Profa. Patrícia Prego Alves (docente Relações Internacionais, CEUB)

https://www.youtube.com/watch?v=6KtZarhn-4w

 

Debatedores:

Marcos Vinicius Quevedo (pesquisador do grupo de estudos “Governança global”, CEUB)

viniciusquevedoc@gmail.com

 

Tiago Rezende (pesquisador do grupo de estudos “Governança global”, CEUB)

rezendealvest@gmail.com

 

10.11.2021

09h45-10h15

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  Parliamentary Inquiry Committee (CPI) on COVID-19 pandemic in Brazil and the defense of democracy in crisis


https://www.youtube.com/watch?v=gjksTSEH0Tk

Mediadora:

Profa. Dra. Gleiss e Ribeiro Alves (Relações Internacionais, CEUB)

https://www.youtube.com/watch?v=gjksTSEH0Tk

 

Debatedora:

Fernanda Lopes de Oliveira 

nandaany@hotmail.com

Letícia Mendes Silva

leticiamendes.cp@gmail.com

 

 

 

 

10.11.2021

10h15-11h20

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  Paradiplomacia/Cooperação internacional  e as ações brasileiras no combate ao Covid-19 


https://www.youtube.com/watch?v=gjksTSEH0Tk

 

Mediadora:

Profa. Dra. Gleisse Ribeiro (docente Relações Internacionais, CEUB) 

https://www.youtube.com/watch?v=gjksTSEH0Tk

 

Debatedores:

Eryck Chaves Tavares (pesquisador do grupo de estudos “Governança global”, CEUB)   - eryck.tavares@uniceub.br

Helohane Rodrigues Carneiro Pereira (graduanda em Relações internacionais, CEUB) -  casos práticos da paradiplomacia 

helohane.rodrigues@sempreceub.com

Pedro Carvalho de Holanda Rodrigues (graduando em Relações internacionais, CEUB).  – histórica da Paradiplomacia 

pedro.carvalho25@sempreceub.com

 

 

 

 

DIA 10/11/2021 - NOITE (QUARTA-FEIRA)

Horário

Tipo de atividade

Tema

Participantes

Link da Sala

10.11.2021

19h00-19h30

Mesa Redonda

 

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  O Brasil e a pandemia da covid-19 - aspectos internacionais


https://www.youtube.com/watch?v=KSeNRPin3fM

Mediador:

Prof. Me. Lucas Soares Portela (docente Relações Internacionais, CEUB). - lucas.portela@ceub.edu.br

https://www.youtube.com/watch?v=KSeNRPin3fM

 

Debatedor: 

Prof. Dr. Paulo Roberto de Almeida (Diplomata e escritor)

pralmeida@mac.com

10.11.2021

19h30-20h00

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  The United Nations Committee on Economic, Social and Cultural Rights and The Fight Against Covid-19


https://www.youtube.com/watch?v=KSeNRPin3fM

Mediador:

Prof. Me. Lucas Soares Portela (docente Relações Internacionais, CEUB)  lucas.portela@ceub.edu.br

 

https://www.youtube.com/watch?v=KSeNRPin3fM

 

Debatedor:

Prof. Dr. Renato Zerbini Ribeiro Leão (docente Relações Internacionais, CEUB; Negociador ECOSOC/BRAZIL)renato.leao@ceub.edu.br

 

10.11.2021

20h00-20h30

Mesa Redonda

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  

Entre ciência, direito e política: acesso e utilização prioritária de equipamentos e serviços de saúde por pessoas com deficiência em tempos de pandemia


https://www.youtube.com/watch?v=aBjJGzHKa9w

Mediadora:

Profa. Dra. Gleisse Ribeiro Alves (docente Relações Internacionais, CEUB)

https://www.youtube.com/watch?v=aBjJGzHKa9w

 

Debatedoras:

Profa. Dra. Luciana Barbosa Musse (docente Direito, CEUB)

luciana.musse@ceub.edu.br

Ana Cláudia M. de Figueiredo (Ex-conselheira no Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência.  Integrante da Comissão da Pessoa com Deficiência da OAB-DF)

ana.f0703@gmail.com

Ana Cláudia Brandão (Coordenadora do Estudo Covid19 e síndrome de Down (no centro brasileiro) de iniciativa da T21 Research Society)

dra.anabrandao@gmail.com

Isabela Sousa (pesquisadora do grupo de estudos “Governança global”, CEUB)

isabela.luz@sempreceub.com

Letícia Mares Antunes (graduanda em Relações Internacionais, CEUB)

leticiamares@sempreceub.com

10.11.2021

20h30-21h00

Livro: A crise da COVID-19 no Brasil e seus reflexos:  

Os contratos de venda futura de commodities em tempos pandêmicos: questões sobre imprevisibilidade e aleatoriedade


https://www.youtube.com/watch?v=aBjJGzHKa9w 

Mediadora:

Profa. Dra. Gleisse Ribeiro Alves (docente Relações Internacionais, CEUB)

https://www.youtube.com/watch?v=aBjJGzHKa9w

 

Debatedores:

 

Prof. Dr. Danilo Porfírio de Castro Vieira (professor titular de Relações Internacionais e Direito no Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e professor de Direito no Instituto de Direto Público do Distrito Federal (IDP). - danilo.vieira@ceub.edu.br

Prof. Me Daniella Rebelo dos Santos Chaves (Egressa doCEUB e pós graduanda lato sensu em Direito de Família e Sucessões pela Faculdade de Direito Damásio de Jesus

daniella.chaves@cpvadvogados.com.br

 


Até quando suportaremos? - Luiz Werneck Vianna, Carlos Alberto Torres, Paulo Roberto de Almeida

 Transcrevo do FB de Roda Democrática, que por sua vez copiou de Decisões Interativas, este artigo de Luiz Werneck Vianna, introduzido por Carlos Alberto Torres. Devo dizer que concordo com ambos em seus argumentos descritivos da situação, mas discordo radicalmente da conclusão, aliás pouco conclusiva, de Luiz Werneck Vianna, que pretende que:

"O lixo do atraso está pronto para ser varrido."

Não, não está, ele está mais pujante do que nunca, e pretende continuar no próximo governo, que, como todos os precedentes, depende de um Congresso formado por um estamento parlamentar basicamente corrupto para dispor de um mínimo de governança. Não estamos perto de eliminar o atraso...

Paulo Roberto de Almeida


terça-feira, 9 de novembro de 2021


Até quando suportaremos?


A palavra autorizada do sociólogo Luiz Werneck Vianna nos auxilia a reconhecer o contexto histórico-político em que se desdobrarão os próximos acontecimentos.

 

Permito-me ressaltar, com o meu olhar, contemplando o amplo quadro de análise com que o artigo nos brinda, três pontos estratégicos, que dele se podem deduzir, para desbloquear o desenvolvimento de nossa democracia:

1.              O caráter democrático do combate à corrupção e para acabar com a impunidade;

2.             A superação do risco de um golpe militar de Bolsonaro apoiado por militares nostálgicos do regime militar instaurado em 1964;

3.             A necessidade histórica de superarmos a polarização bolsonarismo versus lulopetismo para dar espaço ao projeto da democracia; ou seja, “o lixo do atraso está pronto para ser varrido”.


 

Com a palavra Werneck Vianna, em Horizontes Democráticos, 9 de novembro de 2021 (*)

 

Até quando vamos tolerar o saque de uma gangue instalada no coração da política brasileira que se apropria do que é ganho pelos brasileiros que mourejam para ter o pão de cada dia?

 

Até quando vamos permanecer passivos diante dos crimes continuados que perpetram mesmo diante de uma sociedade vítima de uma cruel pandemia que ceifou a vida de 600 mil cidadãos, parte dos quais poderia ter sobrevivido não fossem as ações criminosas da quadrilha que pretendeu tirar proveito da calamidade sanitária que ainda nos aflige em negócios escusos?

 

Até quando será permitida a eles comprometer nosso futuro com a depredação da nossa natureza e dos recursos nossos humanos privando as novas gerações de uma formação que lhes permita o acesso a uma vida ativa e produtiva? Quem são os nossos algozes e de onde extraem o poder com que nos assolam? 

 

Não fomos objeto de uma conquista militar por parte de um país inimigo que nos imponha pela força a vassalagem como a antiga Roma reinava em seu vasto império. Ao contrário, estamos submetidos a naturais da terra com nomes e sobrenomes conhecidos, não poucos de longa data, herdeiros da nossa história comum de contubérnio entre o latifúndio e a escravidão. Essa marca de registro do nosso DNA, tantas vezes diagnosticada e não poucas combatidas pelos que tentam extirpá-la sem êxito, persiste como mácula em nossa formação, resistente ao que foi a obra da Abolição, que deixou ao desamparo a população liberta com sua opção preferencial pela emigração massiva dos pobres europeus, e na forma de república sem povo que se criou aqui com o protagonismo dos militares e dos proprietários de terras paulistas.

 

Tal herança maldita, longe de perder influência com os sucessivos surtos da modernização do país, foi preservada em suas linhas principais, exemplar o processo de industrialização conduzido por uma política de Estado que sintomaticamente se aliou às elites agrárias. No caso, nada de melhor expressa essa aliança do que a legislação trabalhista do governo Vargas nos anos 1930 do que a exclusão dos trabalhadores da terra dos direitos concedidos aos urbanos. 

 

Classicamente, configuraríamos o tipo de modernização conservadora, confirmado nas décadas seguintes, com os resultados nefastos que hoje se estampam aos olhos de todos como na abissal desigualdade social reinante entre nós, raiz dos processos pelos quais as elites proprietárias se apropriam do poder político e fazem uso dele para preservar seus privilégios.

 

Raimundo Faoro, em ensaio magistral sobre a modernização nacional procura demonstrar seus elos de ligação com as reformas modernizadoras introduzidas pelo marquês de Pombal em Portugal de fins do século XVIII, que se aproveitou de recursos do despotismo político para introduzi-las ao tempo em que conservavam os setores privilegiados como a nobreza e o clero. Sem bases novas de sustentação, suas mudanças não resistiram à duração de um reinado e tiveram frustrados seus objetivos. Tal modelagem pombalina, conclui Faoro, nunca abalada ter-se-ia conformado na plataforma de todas as modernizações brasileiras, cujas mudanças sempre impuseram o resultado de ainda mais reforçar o domínio das forças conservadoras.

 

Quase ironicamente, o argumento de Faoro sugere que, por volta dos anos 1870, a tal revoada das ideias novas de que fala a bibliografia no seu culto à ciência importado pelo positivismo mal ocultaria o retorno do espírito pombalino de cientificismo. O lugar de assentamento dessas novas ideias seria a das academias militares, o da Escola Politécnica e das faculdades de medicina. O positivista Comte teria recuperado Pombal. A emergência das novas elites intelectuais forjadas nessas instituições teria dado origem ao pathos de um desenvolvimento e de uma industrialização induzida pelas luzes da ciência mediante ações orquestradas por elas. 

 

Nesse novo cenário, sob a república, os militares são investidos de papel de protagonismo e com advento do Estado Novo, em 1937, se tornam hegemônicos na condução da política brasileira e, a partir daí, atores privilegiados na condução da industrialização acelerada do país, presentes na construção de Volta Redonda, na Petrobras, assim como na imensa malha das empresas estatais. O script, longamente ensaiado cumpriria seu enredo: a modernização brasileira teria um andamento conservador sob a tutela militar.

 

O desafio a esse andamento, no começo dos anos 1960, centrado em um programa de reformas sociais, entre as quais a agrária, proposto pelo governo João Goulart, com ampla base popular, encontrará seu desenlace no golpe de 1964, quando os militares se auto-investirão dos papeis de condutores da modernização pelo alto, com atenção especial à questão agrária, tal como se evidenciou na implantação do agronegócio.

 

Essa história de frustações e de desencantos das modernizações autoritárias podem, até elas, conhecer o sortilégio da astúcia na história, pois os processos que desatam contêm em si a possibilidade de trazer o moderno como antídoto a elas, tal como ocorreu nos idos dos anos 1980 quando foram derrotadas por uma coalizão ampla de forças democráticas escorada por massivas manifestações populares. Lá como agora onde se generaliza a percepção de que o país está sem rumo e dirigido por caminhos equívocos que somente trazem o aprofundamento da miséria social reinante, por toda parte, inclusive em setores das elites, soam os sinais de que isso que aí está deve ser interrompido como solução de salvação nacional.

 

A derrota da fascitização da sociedade, a essa altura consumada, culminou, como último recurso para esse governo de militares nostálgicos da ditadura do AI-5 se manterem no poder, na cínica aliança aos políticos avulsos do Centrão sempre aplicados em suas pretensões de roer até os ossos o patrimônio comum. Tal mudança de rota se afasta radicalmente das tradições modernizadoras brasileiras, inclusive daquelas que se originaram nos meandros das corporações militares. O lixo do atraso está pronto para ser varrido.


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(*) https://horizontesdemocraticos.com.br/ate-quando-suportaremos/