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quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Com vácuo deixado por Bolsonaro, Colômbia busca protagonismo em pautas pró-Amazônia - Emílio Sant'Anna (Estadão)

 Com vácuo deixado por Bolsonaro, Colômbia busca protagonismo em pautas pró-Amazônia

Presidente colombiano Ivan Duque ocupa espaço deixado pelo vizinho e vende a imagem de um lutador em defesa da floresta

Estadão | Emílio Sant'Anna, enviado especial | 10 de novembro de 2021, 05h00

GLASGOW - O espaço deixado pelo governo Jair Bolsonaro no protagonismo ambiental entre as nações do chamado sul global não ficou vazio por muito tempo. A Colômbia tem preenchido o vácuo deixado pelo vizinho. Ainda que cerca de dois terços da Amazônia estejam no Brasil, é do país presidido por Iván Duque Marques a atenção e as ações que se destacam desde antes da Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-26).

Em Glasgow, onde a conferência ocorre há uma semana, Duque teve uma série de encontros com chefes de Estado. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, entre eles. Foi a primeira vez que os dois ficaram frente a frente, o democrata americano de máscara, o sul-americano sem. Além de ambos terem bases conservadoras, param por aí as semelhanças com Bolsonaro.

Duque avança no vácuo deixado pelo País não só de olho no espólio da “soft power” ambiental deixada por Bolsonaro, mas em outras negociações e lucros futuros.“Isso abre espaço para o governo colombiano em outros foros”, diz o professor Relações Internacionais da USP Felipe Loureiro. “Quando um país avança em um tabuleiro (geopolítico) ganha prestígio em outros.”

Em 2019, no mesmo dia em que Bolsonaro afirmou, em discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, que há “falácias” sobre a Amazônia, Duque se disse contra a politização de queimadas na região. Agora, enquanto Bolsonaro sequer colocou os pés no Reino Unido para a COP e preferiu permanecer na Itália após a reunião do G-20 para receber homenagem de um político da ultradireita local, Duque não apenas se encontrou com autoridades estrangeiras, como vendeu a imagem de um país comprometido com a luta contra o desmate. Esteve ao lado do premiê britânico, Boris Johnson, no anúncio de um acordo de proteção de florestas com a adesão de mais de cem países. Dias depois, ele esteve junto do presidente francês, Emmanuel Macron.

“Não podemos sair da COP sem dar ao mundo respostas concretas e esta cúpula deve ser lembrada porque demos um basta a discursos vazios e materializamos a esperança para as gerações que pedem o melhor de nós”, escreveu Duque nas redes sociais.

Na Escócia, ele também promoveu a agricultura colombiana e saiu com US$ 33,5 milhões (R$ 184 milhões) para conter a devastação na Amazônia e reduzir os gases de efeito estufa. O dinheiro veio de uma aliança com a Alemanha, a Noruega e o Reino Unido.

Os dois primeiros, por sinal, são os mesmos países que injetaram mais de R$ 3 bilhões no Fundo Amazônia, congelado desde o início da gestão Bolsonaro. Sobre o assunto, em 2019, o presidente brasileiro assim se dirigiu ao país nórdico: "A Noruega não é aquela que mata baleia lá em cima, no Polo Norte, não? Que explora petróleo também lá? Não tem nada a oferecer para nós”, disse. Foi além e também sugeriu que o dinheiro norueguês fosse usado para reflorestar a Alemanha.

“Em relações internacionais não existe vácuo. Se um país sai de cena, outro vai ocupar o espaço”, diz o professor da FGV André Pereira de Carvalho. Segundo ele, desde que o Brasil criou atritos em relação ao Fundo Amazônia, a Noruega cogitava levar o financiamento ao país vizinho.

“É inacreditável que o Brasil não esteja aproveitando esse momento”, diz Loureiro. “Não vai ser fácil reconstruir a imagem do País. Isso pode durar décadas.”

A realidade doméstica do líder do país andino, porém, não é tão pacífica e engajada. A Colômbia é considerado o lugar mais perigoso do mundo para ser um ambientalista: 65 dos 227 assassinatos de ativistas ambientais foram registrados no país em 2020, conforme a ONG Global Witness.

Segundo a ativista colombiana Laura Morales, da Citizen Climate Lobby, Duque faz marketing em cima de ações ambientais que partem da sociedade civil. “Muitas do que ele faz é propaganda. Alguns dos resultados que ele anuncia nunca passaram pelo governo e mesmo assim ele faz questão de dizer que são da gestão dele”, afirma. Procurado, o governo colombiano não atendeu aos pedidos de entrevista da reportagem.

Ainda assim, aos olhos da comunidade internacional, o direitista conseguiu conciliar suas convicções político-ideológicas com uma posição alinhada à postura exigida pela emergência climática que já se sente nos diferentes cantos do planeta.

De acordo com o último relatório do IPCC, o painel de cientistas da ONU, A Terra está esquentando mais rápido do que era previsto e se prepara para atingir 1,5ºC acima do nível pré-industrial já na década de 2030, dez anos antes do que era esperado. Com isso, haverá eventos climáticos extremos em maior frequência, como enchentes e ondas de calor.

Enquanto o Brasil se desentendia com os financiadores do Fundo Amazônia e acumulava resultados negativos nas taxas de desmatamento, a Colômbia fazia o contrário. Apesar de em 2019, o país ter perdido uma área de floresta equivalente à cidade de São Paulo, os 159 mil hectares perdidos de vegetação representaram uma queda de 19% em relação ao ano anterior.

“Há alguns anos a Colômbia vem se destacando com uma série de reformas. Não por acaso entrou para a OCDE e para a Otan e o Brasil continua de fora’, diz a coordenadora do curso de Relações Internacionais da Anhembi-Morumbi, Helena Margarido Moreira.

Para ela, durante a COP, o Brasil pareceu ensaiar um retorno a sua política ambiental anterior com anúncios como o fim da derrubada ilegal da floresta com prazo para acontecer e o acordo do metano, mas “não há nada diferente do que o governo Bolsonaro faz desde o início”, afirma se referindo às dúvidas da comunidade internacional sobre o comprimento dos acordos.

A forma como o Brasil vem conduzindo as políticas ambientais deve causar espanto mesmo na direita, afirma. “O governo Bolsonaro vê a pauta ambiental como uma pauta de esquerda, mas não há nada de incongruente entre a postura do governo colombiano que também é de direita”, afirma. 

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,com-vacuo-deixado-por-bolsonaro-colombia-busca-protagonismo-em-pautas-pro-amazonia,70003894207


Imagem do Brasil DESABA no mundo: não participação na COP-26 rebaixou ainda mais o país - Luciana Gurgel (UOL)

 Análise | Mídia internacional tem mirado mais no governo e menos na marca Brasil

 

UOL | Luciana Gurgel | 09.11.2021

 

Londres – Para quem tem apreço pelo Brasil e se informa pela mídia internacional, dói ver o país tão associado a notícias negativas como nas últimas duas semanas.

 

Esta não é a primeira vez que o país enfrenta cobertura negativa capaz de arranhar tão fortemente sua imagem externa.

 

Mas há agora uma diferença sutil. As críticas têm sido dirigidas mais às autoridades de plantão do que à marca Brasil em si, e isso pode ser percebido em alguns momentos da cobertura da mídia sobre os encontros do G20 e COP26.

 

Brasil, China e Rússia sem líderes principais na COP26

A ausência do presidente Jair Bolsonaro em Glasgow para participar dos primeiros dias da conferência global do clima foi tratada como incompreensível, sendo a COP26 um encontro que reuniu 120 líderes globais.

 

Até alguns que ameaçaram não aparecer mudaram de ideia, como o indiano Narendra Modi. Ele apanhou bastante pela proposta de neutralizar as emissões de carbono até 2070, mas pelo menos estava lá.

 

Entre as grandes economias globais, o Brasil equiparou-se à China de Xi Jinping e à Rússia de Vladimir Putin como nações que delegaram a diplomatas e ministros a missão de representar o país em um dos mais importantes eventos diplomáticos dos últimos anos, com implicações diretas sobre a vida das pessoas.

 

A percepção foi negativa em todo o mundo, até em locais que não costumam prestar muita atenção ao Brasil.

 

A correspondente brasileira Cláudia Wallin, que vive na Suécia, registrou que o principal telejornal da rede pública, a SVT, deu destaque à seguinte crítica:

 

“Em vez de ir a Glasgow, Bolsonaro viajou para Anguillara Veneta para se tornar cidadão honorário”.

 

Mas os abalos não vieram só de Glasgow. A agressão a jornalistas na visita do presidente à Itália exibiu ao mundo uma truculência que repercutiu na mídia global.

 

Algo mudou no tratamento da mídia sobre o Brasil?

Alguns sinais ajudam a fazer crer que tanto jornalistas quanto entrevistados parecem fazer questão de “separar” o Brasil como instituição da atuação de seus governantes.

 

Reportagens sobre a violência contra os jornalistas na Itália apresentaram o presidente como figura isolada. O trecho de uma matéria da agência Reuters é um exemplo:

 

“O ex-capitão do Exército viu seu apoio internacional diminuir desde que Donald Trump perdeu sua candidatura à reeleição, enquanto o ceticismo de Bolsonaro em relação à Covid-19, vacinas e questões ambientais lhe rendeu poucos amigos no cenário global”.

 

Outro exemplo dessa distinção pode ser percebido em um artigo do The Guardian da cobertura da COP26 explicando a atuação do Brasil com relação ao desmatamento na Amazônia. O texto foi compartilhado globalmente pelos integrantes da coalizão Covering Climate Now.

 

Cobertura da imprensa global sobre meio ambiente perdeu em 2020 para a da Covid, mas superou a de anos anteriores

 

“Momento infeliz do país”

No dia abertura da conferência, Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, autora do livro Justiça Climática (publicado em português) falou à Sky News sobre a decepção com a participação do Brasil na COP26.

 

Entretanto, fez a ressalva de que se tratava de um momento infeliz do país e de suas políticas ambientais, citando o nome da ex-ministra Izabella Teixeira como exemplo de autoridade que contribuiu para mitigar os problemas em sua gestão.

 

Só que esses lampejos podem não ser suficientes para compensar a avalanche de cobertura negativa.

 

Por mais que diplomatas e empresários se empenhem para desconstruir a má reputação do país, a questão da Amazônia tem um peso difícil de equilibrar, quando um nome como Al Gore diz à mídia global que não confia no presidente brasileiro e em seus compromissos.

 

Cobertura da Sky News direto da Amazônia

No Reino Unido, o massacre diário tem hora certa para acontecer.

 

Patrocinadora da cúpula do clima, a Sky News criou um “estúdio ao ar livre” em Manaus, de onde o jornalista Mike Stone co-ancora diariamente o principal noticiário da rede.

 

Da beira do rio ou de cenários amazônicos, ele entrevista pessoas comuns, cientistas, líderes indígenas e de ONGs, unânimes em condenar a condução governamental. Tem buscado ouvir vozes sensatas e ressaltado argumentos baseados em evidências científicas.

 

Mas isso não é suficiente para atenuar o impacto negativo, que não é apenas uma questão de imagem.

 

Uma má reputação em questões climáticas hoje em dia vale muito dinheiro e influência global.

 

Consciência ambiental do consumidor

A cobertura da mídia sobre a COP26 é massiva em todo o mundo. Atinge desde os altos escalões da política até as pessoas comuns que vão ao supermercado fazer compras.

 

Em países desenvolvidos, os consumidores estão cada vez mais conscientes sobre os problemas ambientais e sabem quem são as nações que não colaboram. Ou que continuam permitindo práticas inaceitáveis em relação aos ecossistemas e aos animais.

 

Uma das reportagens mais fortes exibidas pela Sky News há poucos dias mostrava uma criação de gado clandestina na Amazônia. Os animais eram empurrados em balsas, em condições absurdas de sofrimento.

 

Ao tentar caminhar pela frágil ponte que levava à embarcação, uma vaca desaba, sem força nas pernas. Mesmo sabendo que estava sendo filmado, um homem coloca os pés sobre a sua cabeça para afogá-la.

 

Cenas de crueldade dessa natureza, embora não sejam a prática da indústria agropecuária brasileira, comprometem o país porque mostram aos consumidores que o problema existe.

 

As grandes redes globais de supermercados evitam ter em suas prateleiras algo que seus clientes não gostam ou não compram. E os países com má reputação saem em desvantagem na hora de vender para essas redes.

 

Valor da marca Brasil

Apesar de várias matérias fazerem essa distinção entre governo e instituição, isso não acontece na totalidade da cobertura negativa, acaba assim acaba respingando na marca Brasil.

 

Em outubro passado, a consultoria britânica Brand Finance revelou em seu estudo Nation Brands que o Brasil perdeu 12% do valor de sua marca nacional em 2021. E a queda se deveu sobretudo à cobertura negativa relativa à resposta falha à Covid-19.

 

A marca do país, que era a 16ª mais valiosa do mundo no ano passado, perdeu cinco posições no ranking global e assim deixou de integrar o clube das 20 mais valiosas do mundo, que continua liderado por Estados Unidos e China.

 

No caminho inverso ao do Brasil, o valor da marca do México aumentou US$ 23 bilhões (3,6%), o que fez o país subir uma posição e passar a integrar o Top 20.

 

Dessa maneira, com a ultrapassagem mexicana, a marca do Brasil passou a ser apenas a quarta mais valiosa das Américas, atrás também de Estados Unidos e Canadá.

 

Diante da onda de cobertura ambiental negativa da imprensa global que se abateu sobre o Brasil nas últimas semanas e que ainda deve durar alguns dias, só resta torcer para que o valor da marca brasileira não despenque ainda mais.

 

E que a distinção entre governo e a reputação institucional do país ajude a suavizar o impacto à marca Brasil depois da COP26.

 

https://mediatalks.uol.com.br/2021/11/09/midia-internacional-tem-mirado-mais-no-governo-e-menos-na-marca-brasil/

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Grandes empresas pedem protagonismo do Brasil na agenda verde - Mônica Ciarelli e Bruno Villas Boas (OESP)

 Em carta, grandes empresas pedem protagonismo do Brasil na agenda verde

Em documento que será levado para a COP26, presidentes de empresas como Bradesco, Ipiranga, BRF, Renner, Klabin e Natura, entre muitas outras, alertam para o risco de ‘enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira’

O Estado de S.Paulo 
Mônica Ciarelli e Bruno Villas Boas
27/09/2021, 05:00

Em meio à desconfiança global em relação à gestão ambiental brasileira por parte do governo, os empresários voltam a se posicionar sobre o tema. Presidentes de 105 grandes empresas nacionais e estrangeiras e de dez entidades setoriais assinaram uma carta defendendo objetivos climáticos ambiciosos e o protagonismo do País nas negociações do clima. Antecipado com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, o documento será apresentado ao governo brasileiro e levado para a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP26, marcada para novembro, em Glasgow, na Escócia.

O tamanho das empresas que subscrevem o documento é um indicativo da importância que a questão ambiental tem para a economia brasileira. Apenas as 46 empresas desse grupo que têm capital aberto somam quase R$ 1 trilhão em faturamento. Assinam o documento CEOs como Octavio de Lazari Júnior (Bradesco), Lorival Luz (BRF), Marc Reichardt (Bayer), Daniel Klabin (Klabin), Fabio Faccio (Renner), Marcelo Melchior (Nestlé), André Lopes de Araújo (Shell), Daniel Mazini (Amazon), Christian Gebara (Vivo), João Paulo Ferreira (Natura) e Marcelo Araujo (Ipiranga).

Chamada de “Empresários pelo Clima”, a iniciativa liderada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) ocorre em meio a uma série de movimentos do setor privado para se blindar do posicionamento ambiental do governo de Jair Bolsonaro. Diante de ameaças, por parte dos estrangeiros, de retirada de investimentos e boicote aos produtos brasileiros, lideranças empresariais têm manifestado publicamente preocupação com o desmatamento e cobrado medidas.

“Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima. Esse é o papel compatível com a nossa tradição de integridade climática”, afirma um trecho da carta. “O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira.”

A presidente do CBEDS, Marina Gross, que foi negociadora em conferências sobre o clima no fim dos anos 90, explica que o conselho tem alertado internamente ao governo sobre como seu posicionamento tira recursos das empresas. “Na carta, estamos dizendo ao governo: ‘por favor, avance, pois nós vamos dar a retaguarda’. Para fora do Brasil, estamos mostrando que o País tem grandes empresas e instituições, com um peso grande do PIB, fazendo a coisa certa.”

Baixo carbono

No documento, empresários defendem medidas para uma economia de baixo carbono e assumem responsabilidades. Eles lideram empresas que adotam medidas para redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE), precificação interna de carbono, descarbonização das operações. Os executivos pedem um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória, com “ações eficazes para o fim do desmatamento ilegal e a conservação do meio ambiente”.

O Brasil emitiu, em 2019, 2,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), sendo que 44% dessas emissões foram decorrentes do desmatamento. Marina explica que 98% desse desmatamento no País é ilegal. “O desmatamento ilegal é o nosso elefante na sala, que acontece sobretudo no bioma da Amazônia, e isso tem de acabar. Isso não traz desenvolvimento”, afirma.

Em recente discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Bolsonaro divulgou, porém, dados imprecisos sobre meio ambiente e a Amazônia, o que prejudica ainda mais a imagem do País no exterior.

Tito Martins, presidente da mineradora Nexa (ex-Votorantim Metais), é um dos executivos que assinaram a carta. Segundo ele, o documento reafirma que o setor econômico apoia a necessidade de olhar a questão da Amazônia e da emissão de carbono de forma séria e prática. “Se não participarmos disso ativamente, seremos cobrados por clientes, fornecedores e diferentes ‘stakeholders’. E vamos perder, do ponto de vista de negócio e econômico”, afirma o executivo.

Denise Hills, diretora de sustentabilidade de Natura, diz que estar alinhada com a agenda global e fazer esforços para endereçar a emergência climática é, além de uma obrigação moral, um imperativo econômico. “Os ganhos para o Brasil, entretanto, não serão só em termos financeiros, mas também socioambientais e reputacional”. Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco, acrescenta que a carta reforça a “importância do comprometimento mais amplo da sociedade e de uma ação conjunta em prol de objetivos climáticos ambiciosos”.

Marina entregou a carta, ainda sem as assinaturas, para o presidente da COP26, Alok Sharma, durante visita ao Brasil, realizada em agosto. Os organizadores tentam apresentar o documento ao governo brasileiro. Há pedidos de encontro com o ministro das Relações Exteriores Carlos França e os ministros Joaquim Leite (Meio Ambiente), Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Marina diz que tem recebido sinalizações positivas para o encontro.

Leia a íntegra da carta:

Posicionamento empresários pelo clima

"O mundo precisa, com urgência, caminhar para uma economia de baixo carbono e o setor empresarial no Brasil reconhece sua responsabilidade nessa transformação. Sobre as bases do compromisso, da ciência e da inovação, as empresas estão respondendo ao chamado expresso no Acordo de Paris, que, em 2015, conferiu ao setor produtivo protagonismo na defesa contra o agravamento e os efeitos das mudanças climáticas, em parceria com a sociedade civil e governos.

O Brasil tem vantagens comparativas extraordinárias na corrida para alcançarmos uma economia de emissões líquidas de carbono neutras, valendo-nos dos nossos múltiplos recursos naturais e da capacidade de nosso povo. Para isso, devemos desenvolver um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme com ações eficazes para a preservação do meio ambiente e o cumprimento das metas de combate ao desmatamento ilegal. Essa é uma oportunidade única do Brasil ser competitivo e melhorarmos as condições de vida da população, alinhados com as novas prioridades em torno das quais o mundo está se movimentando.

É possível trazer escala à inovação e às boas práticas e planejar estrategicamente para que o Brasil realize rapidamente o seu potencial de crescimento sustentável e alinhado com os objetivos de combater a mudança climática e proteger a biodiversidade. O setor empresarial brasileiro está engajado na recuperação do país dos efeitos da Covid-19, promovendo uma retomada verde (green recovery) fundada em bases de economia circular, de baixo carbono e de inclusão. Os CEOs signatários deste documento têm assumido posições e trabalhado por esse avanço em todo o país.

Às vésperas da COP de Glasgow, o momento é de ação, com vistas a evitar o aquecimento global para além de 1,5º C em relação ao período pré-industrial. Por isso, as empresas no Brasil já vêm adotando medidas para a redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito de estufa (GEE), precificação interna de carbono, descarbonização das operações e cadeias de valor, investimentos em tecnologias verdes e estabelecimento de metas corporativas ambiciosas de neutralidade climática até 2050.

Uma transição célere para o baixo carbono é possível e desejada pelo setor produtivo brasileiro. Segundo estudo recente, apoiado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), é possível reduzirmos as emissões de GEE em até 42% no Brasil já em 2025, em relação aos níveis de 2005.

Para atingirmos essa meta, são importantes os avanços representados pelo RenovaBio, nossa recém-aprovada política de pagamento por serviços ambientais – PSA, futuro mercado regulado de carbono no Brasil, bem como o esforço para o reconhecimento global da experiência e contribuição brasileiras para a mitigação das emissões líquidas de gases do efeito estufa, inclusive com soluções baseadas na natureza. Assim, consideramos crucial o aprofundamento da discussão entre o setor privado, a sociedade civil e o governo brasileiro sobre a posição brasileira em relação ao Artigo 6° do Acordo de Paris.

Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima. Esse é o papel compatível com a nossa tradição de integridade climática, presente na decisão do país em assumir uma contribuição nacionalmente determinada (NDC) para o combate à mudança climática relevante e não condicionada, e de construção de consensos internacionais que tem caracterizado nosso país. O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira.

Acreditamos que as discussões dos mecanismos de apoio ao objetivo de carbono neutro previstos no Acordo de Paris, a serem conduzidas em Glasgow, são uma oportunidade de estimular a economia mundial, abrindo fronteiras e alinhando esforços, para a inclusão dos países de todos os níveis de renda, com estímulo à inovação e atenção à integridade no combate ao aquecimento global.

Para dar concretude aos esforços na direção de uma economia de carbono neutro, apoiamos a aderência a metas baseadas em conceitos científicos (Science Based Targets) e práticas de transparência financeira (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), com a adoção de mecanismos de financiamento para a promoção da transição climática e o combate integral e inequívoco ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e de outros biomas brasileiros.

É preciso, ainda, a adoção de regras que possibilitem o desenvolvimento de mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil – com práticas de transparência na contabilização das emissões e sua conexão com mercados mundiais, assegurando a qualidade ambiental e integridade dos créditos de carbono a serem comercializados e cooperando para a criação de um mercado de carbono global no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC).

Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil.

O setor empresarial brasileiro convida, portanto, toda a sociedade e atores políticos que apoiem o engajamento do Brasil nessa nova realidade global de economia climática, por meio da retomada verde da economia e da participação ativa na Conferência de Glasgow e em seus preparativos. Assim poderemos reafirmar nossa inserção internacional e construir um melhor legado ambiental, social e econômico, com menos desigualdades e melhores condições de vida, para essa e as próximas gerações."

Conselho de Líderes

CEBDS

Assinam a carta:

·         Cláudio Ribeiro – 2WEnergia

·         Elizabeth Garcia – Approach Comunicação

·         Karin Marangoni Ferrara Formigoni – Arcadis

·         Alfredo Pinto – Bain & Company

·         Jean-Emmanuel Seixas – Egis

·         Juliana Azevedo – P&G

·         Winston Fritsch – Struttura Desenvolvimento e Financiamento de Projetos e WF Consultores

·         Jean-Urbain Hubauy – Ticket Log

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-carta-grandes-empresas-pedem-protagonismo-do-brasil-na-agenda-verde,70003851465