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domingo, 13 de janeiro de 2019

Cesare Battisti preso na Bolivia: capitulo final de um terrorista ajudado pelo lulopetismo?


CORRIERE DELLA SERA
Arrestato Cesare Battisti in Bolivia

Preso a Santa Cruz

Una squadra speciale dell’Interpol formata da investigatori italiani ha catturato il 64enne terrorista pluri-assassino Cesare Battisti, latitante dal dicembre 2018 dopo la revoca dello status di residente permanente in Brasile e l’ordine di estradizione del presidente Michel Temer

Arrestato Cesare Battisti in Bolivia Preso a Santa Cruz
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Camminava in una strada di Santa Cruz de la Sierra, popolosa città nell’entroterra della Bolivia. Quel passante aveva una barba finta e soprattutto aveva in tasca un documento d’identità brasiliano riportanti un nome e un cognome, Cesare Battisti, e una data di nascita, il 18 dicembre 1954. Alle 17 di sabato 12 gennaio, le 22 in Italia, una squadra speciale dell’Interpol formata da investigatori italiani ha catturato il 64enne terrorista pluri-assassino Cesare Battisti, latitante dal dicembre 2018 dopo la revoca dello status di residente permanente in Brasile e l’ordine di estradizione del presidente Michel Temer. Come appreso dal Corriere, che ha dato notizia della cattura alle 2 della notte del 13 gennaio, Battisti era da solo. Non ha opposto resistenza. Indossava pantaloni e maglietta di colore blu, e un paio di occhiali per proteggersi dal forte sole e cercare, ulteriormente, di camuffarsi. Caricato in macchina e accompagnato in una caserma della polizia per le comparazioni tecniche (a cominciare dalle impronte), l’ex membro dei Proletari armati per il comunismo non ha aperto bocca. 
La pista
Quella squadra speciale aveva indirizzato con decisione la caccia intorno a Santa Cruz poco prima di Natale. Un lavoro minuzioso e certosino, un lavoro di strada attingendo agli informatori e alla conoscenza del territorio, un lavoro di tentativi, calcoli e azzardi. Nella giornata di sabato, l’epilogo. Dapprima è stata circoscritta la zona nella quale Battisti si era nascosto. Dopodiché, sono stati compiuti gli appostamenti in almeno tre, quattro aree differenti, anche se sempre nel raggio di pochi chilometri. Fin quando, a bordo della strada, con un passo ciondolante, forse conseguenza di uno stato di ebbrezza, gli investigatori dell’Interpol hanno notato quell’uomo. Tolta la barba, che come detto si è rivelata fasulla, c’erano molti dettagli sia dell’andatura sia dei lineamenti, in particolare del viso, che combaciavano con le ultime fotografie e gli ultimi video su Battisti, anche se parecchio datati. L’Interpol, con il supporto della polizia boliviana, ha avvicinato e accerchiato il terrorista. 
Il futuro
Una storia infinita, quella di Cesare Battisti. Che ora dovrebbe essere terminata per sempre. Prima bisogna attendere il completamento di tutti i passaggi tecnici. Ma poi, per Battisti si potrebbe aprire, in tempi brevi, il provvedimento di espulsione dalla Bolivia che innescherà il rimpatrio in Italia. Originario di Cisterna di Latina, evaso nel 1981 dopo una condanna per banda armata, il terrorista è stato condannato in contumacia per la partecipazione a quattro omicidi. Scappato in Messico e in Francia, autore di romanzi noir, Battisti aveva raggiunto il Brasile nel 2004. Tre anni dopo, era stato arrestato. Ne era seguita una lunga sequenza di colpi di scena: lo status di rifugiato, il diritto d’asilo, la richiesta di estrazione negata, un nuovo arresto, l’immediata scarcerazione, un massiccio movimento di intellettuali di tutto il mondo a favore di Battisti e contro la decisione di Temer di concedere l’estradizione. Era convinto d’avere ancora appoggi potenti in Sudamerica e rifugi sicuri, il terrorista. Quando l’hanno preso, procedeva a testa alta, in mezzo ad altri passanti, sicuro d’essere anonimo e al riparo come loro. 


Holocausto nazista: uma máquina industrial de matar - André Vargas (IstoE)


A grande matança
Entre agosto e outubro de 1942, a Operação Reinhard eliminou 1,32 milhão de judeus, 20% das vítimas do Holocausto. A média era de 15 mil mortos ao dia. Provas estavam nos registros de transporte ferroviário. Entender esse mecanismo evitaria novos genocídios

SEM RESISTÊNCIA 
Deportados acreditavam que iriam repovoar áreas remotas: quase 10% da população judaica mundial assassinada em 90 dias (
André Vargas
Revista IstoÉ, 11/01/19 - 09h00

A Segunda Guerra Mundial segue como uma fonte abundante das mais terríveis surpresas, mesmo 74 anos após seu término. A mais recente mostra que a máquina nazista de extermínio de judeus só não foi mais eficiente por mera falta de vítimas. Dos seis milhões de mortos nos campos de concentração, cerca de 20%, 1,32 milhão, pereceu ao longo de apenas três meses, entre agosto e outubro de 1942. Em termos gerais, quase 10% da população judaica mundial de então morreu naqueles 90 dias, a uma média de 15 mil por dia, revela uma pesquisa do biomatemático Lewi Stone, da Universidade de Tel Aviv, em Israel.
Como os nazistas tentaram eliminar as evidências de seus crimes quando a derrota se mostrou inevitável, apagando todos os registros possíveis, Stone buscou dados indiretos, analisando as compilações do historiador do Holocausto Yitzhak Arad sobre as movimentações de 480 “trens especiais” para os campos de extermínio de Treblinka, Sobibor e Belzec, na Polônia. A Deutsche Reichsbahn, a companhia ferroviária germânica, manteve os registros, revelando que a maioria dos “deportados” veio de 393 cidades, vilas e guetos poloneses. A justificativa para a viagem era que as vítimas deveriam repovoar áreas remotas do leste. Como o número de sobreviventes é conhecido, não foi difícil determinar o de mortos, mesmo com os corpos reduzidos a cinzas.
O extermínio sistemático foi batizado de Operação Reinhard, em homenagem ao idealizador da chamada Solução Final, que consistia na eliminação de todos os judeus residentes em territórios ocupados pelos alemães. Nazista impiedoso, Reinhard Heydrich era chamado por Hitler de “o homem com coração de ferro”. Ele foi morto em Praga pela resistência tcheca, pouco antes do início da operação. Com isso, a responsabilidade ficou com Odilo Globocnick, um austríaco da SS. Anos depois, Globocnick seria considerado pelo historiador Michael Allen “o indivíduo mais vil da mais vil organização conhecida”. Em sua conta figura a eliminação da resistência nos guetos de Varsóvia e Byalistok, com mais 600 mil vítimas, e a criação de campos de concentração. Globocnick cometeu suicídio com cianeto ao ser capturado por britânicos na Áustria, em maio de 1945.

Máquina ociosa
Iniciada em março de 1942, a operação eliminou 1,7 milhão de judeus e só não foi mais eficiente pela absoluta falta de gente para matar. Ou seja, a máquina de morte nazista era tão eficiente e abominável que apresentou capacidade ociosa mais de dois anos antes do final do conflito. Porém, se tivessem vencido os soviéticos na Frente Leste, o processo certamente teria se repetido contra judeus e eslavos da Rússia, Ucrânia e Belarus. Tanto que parte dos que sobreviveram trabalharam como escravos no esforço de guerra em instalações próximas aos campos, que depois incluiria o de Majdanek.
De acordo com Lewi Stone, a rapidez impediu qualquer tentativa de resistência. “O massacre acabou antes que houvesse tempo para uma resposta organizada”, diz. Os detalhes seguem surpreendentes quando comparados com eventos recentes. O genocídio de Ruanda, em 1994, matou 800 mil pessoas em 100 dias, com média diária de 8 mil. Sobre a relevância dessa conta macabra, Stone explica que é preciso entender as causas e padrões desses mecanismos criminosos para ficarmos alertas. “Bósnia, Ruanda, Darfur, Burundi, Síria e Myanmar passaram por operações de assassínio em grande escala nos últimos 25 anos. Alguns dos quais poderiam ser evitados”, alerta.

A força dos sobreviventes 
A vontade de viver pode estar oculta na mente ou no DNA, necessitando de uma terrível provação para ser ativada. É o que sugere um estudo israelense conduzido entre sobreviventes do Holocausto. Foi descoberto que, na média, eles viveram 84,8 anos, contra os 77,7 anos da média da população local. Divulgada este mês, a pesquisa analisou usuários de um serviço privado de saúde e foi conduzida entre 1998 e 2017. Foram estudados os históricos médicos de 38 mil pessoas nascidas na Europa, entre 1911 e 1945, comparando-as com 35 mil nascidos em Israel no mesmo período. O grupo de controle não passou pelo sofrimento da perseguição. Apesar de viverem 7 anos a mais, os que saíram dos campos de concentração e guetos foram mais propensos a males crônicos, como hipertensão (16%), doença renal (11%) e demência (7%). Características como estoicismo e resistência física, além da maior consciência para com a saúde decorrente da experiência traumática, podem estar entre as razões da longevidade. Os resultados provocarão novos estudos. “Foi uma cruel seleção darwinista que os levou a viver mais”, afirmou o pesquisador Gideon Koren.


Brasil condenado na OMC: stalinismo industrial - Jamil Chade (OESP)


Brasil vai questionar interpretação de juízes da OMC
Jamil Chade, de Genebra
O Estado de S. Paulo, 11/01/2019
O governo brasileiro vai questionar a interpretação dada pelos juízes da Organização Mundial do Comércio (OMC) que, em dezembro, condenaram cinco programas de incentivos fiscais do Brasil. A queixa, lançada pela Europa e Japão, será adotada nesta sexta-feira, 11, em Genebra, e será iniciado o período de 45 dias durante os quais o Itamaraty terá de chegar a um acordo sobre o que terá de ser feito para desmantelar o apoio hoje dado ao setor privado.
A OMC condenou de forma clara a estratégia de substituição de importação, uma política industrial adotada durante o governo de Dilma Rousseff e que distribuiria R$ 25 bilhões em bondades fiscais. Depois de cinco anos de contenciosos, a entidade coloca um espécie de "fronteira" à política que poderá ser adotada no País na próxima década.
Foram declarados como irregulares a formas de incentivos previstos na Lei de Informática, no Padis (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays), além do o Inovar Auto, da Lei de Inclusão Digital e o Programa de apoio ao desenvolvimento tecnológico da indústria de equipamentos para a TV digital (PATVD). 
Três dos programas condenados já foram encerrados. Mas a Lei de Informática vence apenas no ano de 2029 e o Padis vence em 2022. Ambos terão de mudar ou passarão por uma profunda reforma para que não sejam considerados como mecanismos que garantem uma concorrência desleal entre produtos nacionais e importados.
Nesta sexta-feira, a diplomacia brasileira usará a reunião na OMC para levantar uma preocupação surgida depois de ler a decisão dos juízes. Pelas regras internacionais, uma vez que um produto pague os impostos de importação, ele precisa receber o mesmo tratamento que um produto nacional dispõe. Trata-se do princípio do "tratamento nacional". 
Os acordos da OMC, porém, permitem uma exceção, que é a capacidade de governos para conceder subsídios a produtos nacionais. Ninguém discute o fato de que isso cria um desnível na concorrência. Mas essa possibilidade era permitida pelos tratados negociados ainda nos anos 90.
O que chamou a atenção dos especialistas brasileiros é que os juízes aplicaram uma nova interpretação do texto das regras e a condenação criou o que para muitos poderia ser um precedente perigoso na jurisprudência. 
Pela decisão da OMC, os juízes interpretaram as leis de forma a restringir o alcance dessa exceção, o que tornaria todos os subsídios condenáveis. Na avaliação do Brasil, isso poderia ter consequências negativas e afetar, entre os outros setores, o da agricultura. 
A queixa brasileira não irá mudar a condenação e o governo sabe que terá de cumprir a determinação da OMC. Mas a decisão de levantar esse ponto tem como objetivo demonstrar uma "preocupação sistêmica". 
O governo brasileiro ainda vai reforçar outra mensagem: a de que a nova decisão da OMC reverteu parcialmente uma condenação que, um ano antes, havia sido bem mais profunda. Na primeira instância, também tinham sido condenados o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para empresas exportadoras (Recap) e Programa Preponderantemente Exportador (PEC).
O Itamaraty, porém, conseguiu que eles fossem absolvidos. Os programas, no fundo, apoiam centenas de empresas nacionais, entre elas a Samarco e a Embraer.
Prazos
Com a adoção do relatório nesta sexta-feira, europeus e japoneses pedirão que o Brasil reforme seus programas dentro de um período a ser negociado. Se não houver um acordo no prazo de 45 dias, europeus levarão o caso de volta à OMC e pedirão uma arbitragem para que a entidade determine o prazo para que o Brasil retire seus programas de funcionamento. 
Legalmente, o fim desses programas não é tão simples, já que existem obrigações assinadas com empresas que fizeram investimentos e compromissos contratuais. Caso o Brasil não cumpra a decisão da OMC, Tóquio e Bruxelas já indicaram que irão solicitar a autorização para retaliar o Brasil.

Saida do Brasil do Pacto Global da Migracao da ONU - Amauri Eugênio Jr. (VICE)


Sair do pacto da ONU é uma fantasia de extrema-direita
Antes de ser fascista, é necessário parecer fascista.
VICE, 11 janeiro 2019

Além do socialismo, do politicamente correto, de jornalistas e de qualquer pessoa que pense diferente do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o governo recentemente empossado parece ter encontrado mais um inimigo público: os imigrantes. Na quarta-feira (9), Bolsonaro publicou em sua conta no Twitter uma mensagem em tom de crítica ao Pacto Global para Migração, acordo da ONU (Organização das Nações Unidas) assinado por 164 países, inclusive o Brasil, em dezembro de 2018.
No documento, voltado ao reforço da cooperação internacional para processos seguros, ordenados e regulares de migração e para eliminar qualquer modalidade de discriminação, o presidente afirmou que o país é soberano para decidir se os aceita ou não, além de que quem vier deverá estar sujeito às leis, regras, costumes e cultura daqui. Ainda, de acordo com o presidente, “não é qualquer um que entra em nossa casa, nem será qualquer um que entrará no Brasil via pacto adotado por terceiros.” De acordo com reportagem publicada pela BBC Brasil, o Ministério das Relações Exteriores solicitou aos diplomatas brasileiros para comunicarem a saída do pacto à ONU.
Quem ouve Bolsonaro falar pode imaginar que o país está tomado por imigrantes e que eles podem fazer o que bem entenderem por aqui. Todavia, a história está longe de ser essa: eles devem respeitar a legislação local. Ainda, a quantidade de pessoas nativas de outros países está muito longe do que a vã filosofia do WhatsApp nos induz a pensar: há cerca de 750 mil imigrantes na terra brasilis, o que totaliza a impressionante marca composta por quatro imigrantes a cada mil brasileiros – para efeito de comparação, a Alemanha tem 148 estrangeiros a cada mil nativos. OK, a situação na fronteira com a Venezuela é delicada demais, mas a medida tomada está muito longe de proteger a soberania dos brasileiros e de combater o moinho de vento do globalismo.
De acordo com Carolina de Abreu Batista Claro, pós-doutoranda em relações internacionais da UnB e professora universitária do IREL (Instituto de Relações Internacionais), da mesma instituição, a medida adotada pelo governo federal não se justifica, pois o pacto consiste em norma de soft law do direito internacional – ou seja, traduz regras de valor normativo limitado e que não são obrigatórias em âmbito jurídico.
Logo, o documento consiste em compromisso de ações com base no contexto atual e em demais tratados internacionais já existentes, aos quais o Brasil está vinculado. “A saída consiste em retórica política de extrema-direita, não corresponde com a realidade sobre as presenças de estrangeiros e de imigrantes no Brasil”, pontua, ao ressaltar como o vacilo cometido pela diplomacia brasileira é significativo: “além disso, [a saída] demonstra profundo desconhecimento sobre direito internacional e como internalizamos essas normas”.
Geopolítica fascista
Os demais países que anunciaram a saída do Pacto Global para Migração, como EUA, Austrália, Itália e Hungria têm fluxos migratórios muito maiores do que o Brasil, pois são locais de destino – EUA e Austrália, respectivamente – ou estão em rotas de trânsito, como nos casos de Itália e de Hungria.
Coincidência ou não, boa parte dos países que não assinou o documento está numa vibe que, sem meias palavras, cheira a fascismo, se parece com fascismo e (olha só) é bem fascista. Matteo Salvini, primeiro-ministro italiano, é abertamente de extrema-direita e conhecido por dar declarações que completam o bingo da xenofobia e da discriminação irrestrita – basta dizer que, há apenas alguns dias, ele se referiu às manifestações racistas contra o zagueiro senegalês Kalidou Koulibaly, do Napoli, como “brincadeira saudável entre torcidas”.
Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, não tem o menor pudor para bostejar com sucesso quando o assunto é racismo, islamofobia e qualquer modalidade de preconceito – e quem ousar pensar diferente dele, bom, é boicotado até perder a capacidade de falar. Ele não está sozinho: ainda que a direita populista tenha sofrido uma derrota importante nas eleições municipais na Polônia, o presidente Andrzej Duda conta com o apoio de uns feras de extrema-direita. Soma-se a isso tudo a falta de sensibilidade com qualquer causa humanitária de Donald Trump e a vontade insana de Steve Bannon dominar as mentes de geral. É com essa galerinha que apronta altas confusões com quem Bolsonaro quer se sentar no recreio. E quem anda com fascista, sabe como é, fascista é.
Todavia, a caminhada do Brasil é, histórica e geopoliticamente diferente das desses países quando o assunto é imigração. Não há nada que respalde a decisão do governo Bolsonaro. “Não temos número muito grande de imigrantes e o fato de o Brasil dizer que sairá do pacto está em discordância com quem o país já faz e com os tratados internacionais dos quais já faz parte”, pontua Carolina Claro.
Quem sai perdendo?
OK, os imigrantes ficam em situação delicada, o que é inegável, mas o Brasil tende a ter mais problemas com a saída do Pacto Global de Migração. De acordo com dados do Itamaraty, mais de três milhões de brasileiros vivem em outros países – não é necessário ser um jedi em matemática para sacar que muito mais brasileiros estão fora em comparação com quem vem para cá. E esses caras poderão ter problemas, mesmo que tenham direitos humanitários assegurados por meio de outros tratados mais antigos dos quais o Brasil é signatário.
Para o defensor público federal João Chaves, a saída do Brasil do pacto trará prejuízo político muito grande ao país. “Se o Brasil não participa do Pacto Global, ele fica em posição política de extrema fraqueza para negociar ou pedir qualquer coisa à comunidade internacional a favor da nossa comunidade”, destaca.
Além disso, um dos objetivos do pacto é assegurar que o processo de imigração aconteça de modo seguro, ordenado e regular, garantindo a segurança dos imigrantes e evitando a ação de coyotes –contrabandistas de imigrantes – o tráfico de pessoas. “Com essa medida, o governo Bolsonaro poderá estimular o crime organizado transnacional para o contrabando de migrantes e para o tráfico de pessoas para fins sexual e de exploração laboral, principalmente”, ressalta a pós-doutoranda em relações internacionais da UnB, que reforça os benefícios que a imigração segura e regular provenientes do pacto poderiam proporcionar para o indivíduo e para o país. “Ele não só fará parte do trabalho formal, mas poderá também buscar por educação e demais serviços públicos, e contribuir para a economia brasileira.”
Outro ponto a ser considerado é a mudança da imagem do Brasil perante a comunidade internacional. Sim, a luta contra a lenda urbana do globalismo nos fará sermos vistos na gringa como um povo que um dia defendeu a mediação de conflitos e os direitos humanos, mas que se tornou um (adivinhe?) país de extrema-direita. Em resumo: o nosso filme estará queimado. “O afastamento dos ideais de paz, dos direitos humanos e de proteção ao meio ambiente é extremamente negativo para o país, pois poucas nações irão querer chegar ao Brasil. O país só tem a perder nas conjunturas atual e futura”, pondera Carolina.
As imigrações irão parar?
A resposta para esta pergunta é não. Cidadãos em estado de desespero e em fuga de crises humanitárias em seus países continuarão a dar andamento ao fluxo migratório, como acontece nos EUA e em diversos países da Europa – França e Alemanha, por exemplo – e já ocorre no Brasil, inclusive. O que muda é o fato de eles virem para cá em condições inseguras e submetidos à escalada criminosa em âmbito internacional.
Pode-se dizer que o Brasil está perdendo uma grande oportunidade de ajudar a tornar o processo migratório mais humano e seguro para dar mais poder à ilegalidade. “O pacto busca cooperação internacional, reafirma princípios de direitos humanos e de política internacional, que farão o país ter benefícios com a migração e apoio de organismos internacionais para coordenar esses movimentos migratórios”, conta a professora do IREL, da UnB. Ela aproveita para reforçar o caráter contraditório da saída do país como signatário do documento. “Os imigrantes só virão por meios escusos e não protegidos, justamente o contrário do que prega o Pacto Global.”
Fluxo de desinformação
Qualquer pessoa minimamente informada (exceto pelo WhatsApp) estava ligada na coletânea interminável de fake news disseminadas durante as eleições sobre diversos aspectos – o firehosing rolou solto à época. A lógica das mentiras irrestritas continua a dar o tom dentro do panorama da imigração.
De acordo com João Chaves, o grande problema dentro desse cenário é a desinformação – que, sejamos francos, é visto desde o alto escalão do governo. “Existe muita mistificação dentro do tema migração e as pessoas não sabem que o Brasil recebe, proporcionalmente, quantidade muito pequena de imigrantes.”
Na prática, a saída do Brasil do Pacto Global de Migração não tem impacto imediato, pois a proteção dada aos imigrantes é baseada na Lei de Imigração e de Refúgio. “Espero a manutenção do cenário atual, que é bastante favorável, já que venezuelanos têm autorização temporária de permanência, conversível em permanente, por causa de portaria interministerial”, completa o defensor público federal. Ainda, os sírios podem solicitar refúgio e os haitianos são beneficiados com a acolhida humanitária, forma especial de residência.
Por fim, mesmo que a decisão governamental seja simbólica, os resultados poderão ser concretos e preocupantes. “Trata-se de uma situação bastante ruim. Os casos de xenofobia e de discriminação contra a população imigrante podem, sim, piorar, assim como contra as minorias por meio das ações que já têm sido apregoadas desde antes da posse pelo governo”, finaliza Carolina.

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