O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 22 de abril de 2018

IPRI: atividades programadas nas próximas semanas

Próximas atividades do IPRI

Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag
[Objetivoplanejamentofinalidadeinformação aos interessados]


Atividades previstas no âmbito do IPRI nas próximas semanas, no âmbito das séries Diálogos Internacionais, Percursos Diplomáticos, ou outras

25 de abril, 16:45-18:30 – “O Direito Internacional no Brasil: Centenário do Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional”; Prof. Dr. George Galindo, Consultor Jurídico do Itamaraty; Prof. Dr. Wagner Menezes, professor adjunto da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Departamento de Direito Internacional;Auditório do Instituto Rio Branco.

27 de abril, 15:00-17:30 – Depoimento na série “Percursos Diplomáticos” de Celso Lafer, ex-chanceler (1992-94 e 2000-2002), ex-representante brasileiro em Genebra,professor emérito da Faculdade de Direito da USP, ex-presidente da Fapesp. Local: Auditório do Instituto Rio Branco.

7 de maio, 15:00-17:30 – “Brexit and its implications: a view from Ireland”; Denis Staunton, jornalista irlandês, atualmente chefe do bureau do jornal ‘Irish Times’ em Londres, anteriormente nos principais escritórios do jornal no exterior: Bruxelas, Berlim e WashingtonLocal: Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II, do MRE.

8 de maio, 15:00-17:30 – "Élections françaises en 2017: rupture et renouvellement"; Pascal Perrineau, politologue, spécialiste en sociologie électorale, professeur à SciencesPo, et auteur de plusieurs ouvrages sur la politique française ; discussants : Prof. Francisco Rezek ; Secretário de Assuntos Estratégicos da PR, Hussein Kalout ;Local: Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II, do MRE.

9 de maio, 15:00-17:30 – “Dinâmica global do agronegócio brasileiro: visão estratégicaem uma conjuntura de incertezas”; Marcos Jank; Presidente da Aliança Agro Ásia-Brasil (Asia-Brazil Agro Alliance – ABAA), um programa de representação institucional na Ásia patrocinado pela APEX, ABPA, ABIEC e UNICA. Foi presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) e fundador do Instituto de Estudos do Comércio e das Negociações Internacionais (ICONE), além de professor associado da Universidade de São Paulo, na FEA e ESALQ. Local: Auditório do Instituto Rio Branco.

11 de maio, 15:00-17:30 – Russia: political challenges at home and abroad”,  Dimitri Trenin, Director of the Carnegie Moscow Centre; Local: Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II, do MRE.

15 de maio, 10:30-12:30 – Mesa redonda com Antonio Jorge Ramalho da Rocha, sobre temas da Unasul. Local: Sala C ou D.

15 de maio, 15:00-17:30 – “Política e integração na América do Sul: Unasul, CDS, ESUD”; Antonio Jorge Ramalho da Rocha; professor de Relações Internacionais do IRel-UnB; atual diretor  da Escola Sul-Americana de Defesa (ESUDE), em Quito; Local: Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II, do MRE.

25 de maio, 15:00-17:30 – Depoimento na série “Percursos Diplomáticos” de RonaldoSardenberg, ex- representante permanente do Brasil na ONU, em Nova York, ex-embaixador em Moscou, ex-professor de Relações Internacionais na UnB. Local: Auditório do Instituto Rio Branco.

30 de maio, (horário a definir) – Kissinger, o pensador e o homem de ação, no contexto global e nas relações bilaterais; mesa redonda sobre a presença de Henry Kissinger nas relações internacionais e na política regional; Celso Lafer, Rubens Ricupero, Marcos Galvão, Sérgio Eduardo Moreira Lima, Carlos Henrique Cardim, Matias Spektor, Paulo Kramer, Paulo Roberto de Almeida. Local: sala San Tiago Dantas.

xx de junho, 15:00 ...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de abril de 2018

IPRI: atividades realizadas até meados de abril 2018

Atividades realizadas pelo IPRI em 2018

Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag
[Objetivo: relatório; finalidade: informação aos interessados]


Atividades desenvolvidas no âmbito do IPRI no ano de 2018, no âmbito das séries Diálogos Internacionais, Percursos Diplomáticos, ou outras: 

7 de fevereiro, 15:00 – O Itamaraty na Cultura Brasileira: Guimarães Rosa; João Almino, embaixador, diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), membro da Academia Brasileira de Letras 9ABL), autor de diversas obras literárias. Local: Auditório Paulo Nogueira Batista, Anexo II, do MRE.

22 de fevereiro, 15:00 – Percursos Diplomáticos: embaixador Gelson Fonseca Jr., diretor do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD-RJ); ex-representante do Brasil nas Nações Unidas, embaixador no Chile, ex-presidente da Funag. Local: Auditório do Instituto Rio Branco.

2 de março, 15:00 – O Brasil na OCDE: onde estamos, para onde vamos?Carlos Marcio Cozendey, embaixador, ex-Subsecretário de Assuntos Econômicos e Financeiros, representante do Brasil junto à OCDE em Paris. Auditório Paulo Nogueira Batista.

7 de março, 15:00 – Globalização e agricultura: qual o lugar do Brasil?Zander Navarro: Doutor em Sociologia pela Universidade de Sussex (Inglaterra) e pós-doutoramento no MIT (Estados Unidos). Auditório Paulo Nogueira Batista.

9 de março, 15:00 – Diplomacia do etanol: desafios e perspectivas; Klaus Guimarães Dalgaard, professor adjunto de política internacional e comparada do Departamento de Ciência Política da UFMG. Auditório Paulo Nogueira Batista.

14 de março, 15:00 – Direitos humanos no Brasil e no mundoJosé Augusto Lindgren-Alves, embaixador em Sófia (Bulgária, 2002-2006), Budapeste (Hungria, 2006-2008), Sarajevo (Bósnia e Herzegovina, 2011 a 2015), assim como cônsul-geral em S. Francisco (Estados Unidos, 2006-2002) e Barcelona (Espanha, 2015-2016), atualmente aposentado. Diversos livros. Auditório Paulo Nogueira Batista.

20 de março, 15:00 – A presença da China no Brasil e na América do Sul; Renato Baumann, doutor em Economia pela University of Oxford (1982). Foi diretor do Escritório da Cepal no Brasil entre abril de 1995 e novembro de 2010. Atualmente é Secretário-Adjunto de Assuntos Internacionais (SAIN/MP) e professor de economia da UnB. Auditório do Instituto Rio Branco.

26 de março, 15:00 – O papel da Hungria e dos outros países de Visegrád na União EuropeiaSándor Gyula Nagy, economista pesquisador e coordenador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior do Ministério das Relações Exteriores (IFAT), vinculado ao Ministério das Relações Exteriores da Hungria; Auditório embaixador Paulo Nogueira Batista.
 
11 de abril, 9:00-11:30 – Cual futuro para la Unión Europea? un debate sobre el White Paper 2017; Stefan Simosas, chefe da Seção Política da Delegação da União Europeia no Brasil; Palestrante: Susanne Gratius, Professora de Ciências Políticas e Relações Internacionais, Universidad Autónoma de Madrid. Local: Auditório do Instituto Rio Branco.

18 de abril, 15:00-17:30 – O Brasil e a questão nuclear global na década de 1970: novas interpretações historiográficas; Carlo Pattiprofessor-adjunto de Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás e docente permanente dos programas de pós-graduação de Ciência Política e História na mesma instituição. Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Florença (Itália) em 2012. Auditório Paulo Nogueira Batista.

25 de abril

Cairu: a Brazilian Adam Smith - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente artigo publicado: 

A Brazilian Adam Smith

Cairu as the Founding Father of Political Economy in Brazil at the beginning of the 19th century

  • Paulo Roberto AlmeidaUniceub; IPRI-Funag/MRE
Keywords: Adam Smith, José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, economic thought

Abstract

Adam Smith’s seminal work, The Wealth of Nations, was introduced to Brazilian readers by an autodidatic “economist”, José da Silva Lisboa, at the beginning of the 19th century. The paper intends to reconstruct the reception of Smith’s ideas in Brazil (and Portugal), through the early works of José da Silva Lisboa. He was a remarkable intellectual, liberal by instinct besides a government official, who was largely responsible for the “economic opening” of Brazilian ports to foreign trade (decreed by the Portuguese Regent, Prince D. João, in 1808, at his arrival in Brazil). He was honored with the title of Viscount of Cairu (who became the patron of the Brazilian economists in the 20th century). He translated, incorporated, copied and transformed many Smithian ideas in his books (published in Portugal and Brazil, by Imprensa Régia), adapting them to a colonial economy and a backward agricultural environment. He suggested, among other original features, the existence of a fourth factor of production (besides land, labor and capital): knowledge, which could be considered an anticipation of modern conceptual evolution in economic thinking.

Author Biography

Paulo Roberto Almeida, Uniceub; IPRI-Funag/MRE
Paulo Roberto de Almeida, Brasília, Brazil (pralmeida@me.com) Director, International Relations Research Institute (IPRI, Min. of Foreign Affairs) Professor of International Political Economy at the Graduate Studies in Law, University Center of Brasília (Uniceub) (www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)

References

ALMODOVAR, António. Introduction to: Lisboa, José da Silva. Escritos Económicos Escolhidos, 1804-1820. Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, Lisboa, 1993.
ARRIGHI, Giovanni.. Adam Smith in Beijing: Lineages of the Twenty-First Century. Londres, 2007.
______. The winding paths of capital. Interview with David Harvey. New Left Review, n.56, Mar-Apr/2009, p.61-94. Avaible em: or . Acessed at: 5 dec. 2016.
CAIRU, José da Silva Lisboa. Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no Brasil (1810). Senado Federal, Coleção Biblioteca Básica Brasileira, Brasília, 1999. 
FENELON, Dea Ribeiro. Cairu e Hamilton: um estudo comparativo. Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais; Belo Horizonte, 1973.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil (1959). Fundo de Cultura.Rio de Janeiro, 1963. 
LIMA, Heitor Ferreira. História do Pensamento Econômico no Brasil. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1976.
LISBOA, José da Silva. Escritos Económicos Escolhidos, 1804-1820. Banco de Portugal, Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, Lisboa, 1993.
OLIVEIRA, Luis Valente de; RICUPERO, Rubens (orgs.). A Abertura dos Portos. Senac-SP, São Paulo, 2007.
SMITH, Adam. An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Londres, 1791.

Published
2018-04-17

How to Cite
Almeida, P. (2018). A Brazilian Adam Smith. MISES: Interdisciplinary Journal of Philosophy, Law and Economics6(1). https://doi.org/https://doi.org/10.30800/mises.2018.v6.64

Roberto Campos disseca o lulopetismo desde a origem (1993)

Violinista do campo de concentração
Roberto Campos, deputado federal 
O Globo, do dia 18 de abril de 1993

"Lembro-me vagamente de um filme de Claude Lelouch em que músicos judeus se enfileiravam para tocar na orquestra do campo de concentração. Com um pouco de Mozart e Beethoven e - oh! suprema humilhação! - umas árias do antissemita Wagner escapavam temporariamente à câmara de gás. E talvez conseguissem uma sopa reforçada”. 
Essa imagem me veio à mente ao saber dos jantares oferecidos a Lula por empresários paulistas. Certamente fantasiam que o sindicalista selvagem possa se transformar no capitalista domesticado. Não se trata, obviamente, de uma conversão na estrada de Damasco, mas talvez de um desvio eleitoral na estrada de Garanhuns. Esperam não apenas ser poupados, mas até arranjar um pequeno cartório. Afinal de contas, o PT apoiou os cartórios de informática e agora parece inclinado a proteger a pirataria das patentes. 
Hoje acredito que os únicos esquerdistas que entendem a economia de mercado são aqueles que experimentaram, na carne, a cruel ineficiência do "socialismo real". Não os nossos socialistas de bar, de púlpito ou de palanque. 
O sonho presidencial de Lula é um pesadelo para os que sonham com a modernização do Brasil. Seu partido é excludente, pois prega o conflito de classes, coisa obsoleta nas modernas sociedades integrativas. De seu nome, "Partido dos Trabalhadores", infere-se que os outros são partidos de vagabundos... 
A modernização brasileira passa pela renúncia dos "ismos": nacionalismo, populismo, estruturalismo e estatismo doenças que no PT têm a irreversibilidade da AIDS. As curas são conhecidas: desinflação, privatização, desregulamentação, destributação, liberalização comercial e reinserção no sistema financeiro internacional.
A ideologia petista está seguramente desequipada para todas essas tarefas. Em matéria de inflação, sua propensão é atribuí-la não aos desmandos do Governo e sim à ganância dos empresários. Dificilmente resistiriam à tentação de controlar preços, pelo menos os dos oligopólios e da cesta básica. A privatização é relutantemente aceita como um modismo liberal a ser estudado. "Estamos interessados", diz Lula, "em discutir os setores estratégicos que deverão continuar subordinados ao Estado". Lula, aparentemente, ignora que o que se chama no Brasil de “setores estratégicos” como petróleo, eletricidade e telecomunicações; sempre foram privados (ou estão sendo privatizados) nas sete economias mais poderosas do mundo... 
Não é de admirar, aliás, que Lula não entenda a essencialidade da privatização, quer para a cura da inflação, quer para a retomada do crescimento. O PT é cada vez menos um partido de operários e cada vez mais um partido de funcionários. E estes estão incrustados nas estatais, como carrapatos burocráticos. Para a CUT, a privatização não significa-melhoria da eficiência e redução da corrupção. “Veem-na apenas como um ‘‘harakiri” do corporativismo! Também não se pode esperar de Lula o apostolado da desregulamentação. Basta lembrar o apoio do PT à máfia portuária, no caso da extinção do monopólio dos sindicatos. 
Pouco se pode esperar, outrossim, em matéria de destributação. Isso pressuporia a redução do tamanho e funções do Estado e o reconhecimento realista de que "não se consegue enriquecer os pobres empobrecendo os ricos" (para lembrar a expressão do líder trabalhista inglês, Hugh Dalton, que aprendeu na década de 50 o que os nossos trabalhistas ainda não aprenderam). 
Pouco se poderia esperar também em termos de abertura comercial. É um caso em que empresários e trabalhadores se irmanam na proteção de empregos nas indústrias ineficientes, esquecendo-se da alternativa melhor de geração de empregos por exportadores eficientes. Quanto à reinserção no mercado financeiro internacional, nem é bom falar! O PT sempre foi favorável à moratória e tem muito menos entendimento das funções do FMI do que russos e chineses, os quais deixaram de considerá-lo apenas como o “comitê executivo do capitalismo”, para nele ver uma fonte de recursos e de assistência técnica para a estabilização dos preços. 
Não há sinais, outrossim, de que o PT se tenha convencido de que a decretação, como o fizemos na Constituição de 1988, de amplas "conquistas sociais", não elimina a lei da oferta e da procura no mercado. Para trágico desapontamento-da população brasileira, depois das "conquistas sociais", nunca o salário mínimo real foi tão baixo, nunca o nível de desemprego foi tão alto, nunca pior a distribuição de renda.  
À parte Brizola, cujo relógio mental parou há 30 anos, não parece haver, não galeria de presidenciáveis, ninguém mais despreparado que Lula para a responsabilidade presidencial. Brizola dá-lhe um conselho prudente: administrar primeiro pelo menos uma prefeiturazinha. Talvez no ABC paulista hoje ameaçadas de desindustrialização, pela fuga" de empresas intimidadas por experiências recentes de sindicalismo selvagem. 
Com sua conhecida delicadeza de sentimentos, Brizola mimoseou seu contendor com o apelido de "sapo barbudo''. Isso cria incertezas para os investidores, sobretudo os estrangeiros, que desconhecem as sutilezas de nossa linguagem política. É que não se sabe se se trata de um sapo útil, dos que comem insetos (Bufo terrestris americanus), ou daqueles sapos amazônicos que emitem borrifos venenosos (dendrobotidae). Enquanto isso os investidores suspenderão suas decisões de investimento, prolongando nossa estagflação.
Consta que os empresários paulistas, que tomaram a iniciativa de banquetear Lula, são da indústria de brinquedos. Talvez a esperança deles seja que Lula aprenda a brincar de capitalismo. O mais provável é que estejam desempenhando o papel dos violinistas do campo de concentração.  
O conselho de Deng Xiaoping aos chineses é: “Enriquecei-vos”. O conselho de Lula aos brasileiros é: "Sindicalizai-vos e contribuais para a CUT". É o fim da picada... 

sábado, 21 de abril de 2018

Planejamento diplomático: sua institucionalização

Planejamento Diplomático:

O Itamaraty do século 21
Sistema de planejamento estratégico propiciará mais transparência e eficiência à diplomacia
         
ALOYSIO NUNES FERREIRA*
O Estado de S.Paulo, 20 Abril 2018

No final do ano passado determinei a criação de um grupo no Itamaraty para propor um sistema de planejamento estratégico do Ministério das Relações Exteriores, inspirando-se em outras chancelarias, em exemplos de sucesso de órgãos públicos e do setor privado e na melhor literatura de administração e pensamento estratégico. Essa decisão se baseou em duas constatações principais.

A primeira é que o Itamaraty tem capacidade de planejamento e análise invejável, mas a máquina cresceu muito e os temas são cada vez mais específicos e fragmentados, tornando mais complexa a tarefa de manter uma visão de conjunto e monitorar as atividades. Era necessário, portanto, que o planejamento refletisse essa realidade, garantindo unidade de propósitos, antecipação de tendências e riscos, além de preocupação constante com o resultado, isso tudo num ambiente internacional sempre incerto.

A segunda constatação diz respeito à tendência dos órgãos de controle e da moderna prestação de contas, que exigem não apenas a definição de objetivos e metas, mas também a capacidade de demonstrar resultados concretos com eficiência, de modo a assegurar o melhor uso possível dos recursos aplicados. Os órgãos de controle do próprio governo e os externos e independentes não se contentam mais com a conformidade e legalidade da execução orçamentária e financeira. Exigem também a demonstração do retorno do investimento público. Essa é uma tendência global, e não apenas no Brasil.

Um dos principais desafios de qualquer chancelaria, quando se trata de planejamento estratégico, diz respeito à determinação da eficiência. Não se mede a eficiência da diplomacia como se mensura a eficácia de uma campanha de vacinação, ou seja, pela quantidade de crianças alcançadas. Tampouco é possível medir o êxito com indicadores como a extensão, em quilômetros, de estradas pavimentadas ou rios dragados em um ano.

A eficiência na diplomacia requer, na maioria das vezes, estratégias de longo prazo. A medida dessa eficiência, portanto, exige frequentemente o uso de indicadores qualitativos, especialmente desenhados para as características próprias da política externa. É mais difícil avaliar a eficácia de políticas que exigem paciência, abertura de canais de contato e a construção de boa vontade para alcançar o objetivo almejado.

Por exemplo, levamos dez anos para abrir o mercado norte-americano para a carne bovina in natura brasileira, mas isso não significa que tenhamos sido ineficientes nos primeiros nove anos. Na verdade, sem a paciente construção do caso e o emprego de diferentes técnicas de negociação e eventos de promoção nos nove anos anteriores certamente não teríamos alcançado o êxito no décimo.

O planejamento em relações exteriores, portanto, demanda uma perspectiva sui generis, adaptada a uma política pública cuja medida de sucesso nem sempre é óbvia. O sucesso diplomático pode significar a ausência de uma decisão de um governo ou de um organismo internacional que, se não fosse evitada, afetaria negativamente os nossos interesses. Pode representar a superação de um risco de conflito que jamais eclodirá, mas cuja mera divulgação de seu potencial poderia acarretar enormes prejuízos e minar a capacidade negociadora e a influência do País perante os envolvidos.

Essa consciência de que a realidade da diplomacia é peculiar não invalida a necessidade de implementar o planejamento, mas recomenda fugir das fórmulas tradicionais. Tendo presente essa premissa básica, determinei a execução, em 2018, do projeto piloto do “sistema de planejamento estratégico das relações exteriores” (Sisprex), cujo desenho básico conterá os seguintes elementos: diagnóstico do ambiente internacional para determinar as principais tendências regionais e globais e seu impacto nas diretrizes da política externa; esforço coletivo das unidades do Itamaraty na definição de objetivos estratégicos que deverão integrar, no futuro, um plano estratégico quadrienal; elaboração de planos de trabalho anuais contendo metas específicas e atividades a serem desempenhadas, com previsão de recursos necessários.

Utilizando as mais modernas técnicas disponíveis, esse sistema encadeado deverá garantir coerência entre os três elementos, prevendo também uma estrutura de governança encarregada de corrigir metodologias, sugerir indicadores e fazer atualizações nos documentos resultantes sempre que necessário, tanto em função das mudanças de prioridades governamentais quanto em reação a imprevistos no ambiente estratégico internacional.

Com isso será possível aproveitar a criatividade e a capacidade de inovação dos funcionários mais jovens e das unidades básicas, que serão chamados a contribuir para o processo de reflexão coletiva. Ao mesmo tempo, a liderança do ministério deverá validar o processo em cada uma de suas fases, resultando em instruções mais precisas, que propiciarão o engajamento de todos na busca dos resultados almejados. Não menos importante, esse sistema estruturado facilitará o monitoramento, a avaliação da eficiência, a alocação ótima de recursos e o compartilhamento das melhores práticas.

O Sisprex deverá evoluir rapidamente para se tornar também um elo entre o Itamaraty e a sociedade. Ele contém em seu DNA o diálogo e a transparência, como, aliás, deve ser numa chancelaria afinada com seu tempo. Tanto nas fases de diagnóstico de tendências quanto na definição de objetivos estratégicos, as consultas com especialistas e forças vivas da sociedade serão fundamentais. Os documentos de referência resultantes do planejamento, em sua versão ostensiva, serão igualmente valiosos instrumentos de diplomacia pública, ao evidenciarem claramente a importância do trabalho diplomático para a sociedade e sua contribuição central para um Brasil mais forte, próspero e justo.


MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES


192     ISSN  1677-7042 1   Nº  240,  sexta-feira,          15 de dezembro de 2017


Ministério das Relações Exteriores 
GABINETE DO MINISTRO

PORTARIA DE 12 DE DEZEMBRO DE 2017

O MINISTRO DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, no uso de suas atribuições legais, resolve:


Art. 1° Fica instituído Grupo de Trabalho com o objetivo de estabelecer um sistema integrado de planejamento da política externa brasileira no âmbito do Ministério das Relações Exteriores.
Art. 2° Compete ao Grupo de Trabalho:
I - definir parâmetros para o pensamento estratégico, de médio e longo prazos, em todos os níveis da estrutura organizacional do MRE, no Brasil e no exterior;

II - recomendar a participação de unidades do MRE, no Brasil e no exterior, no processo de planejamento estratégico;

III - implementar o processo de planejamento estratégico no MRE, integrando as áreas políticas e administrativas na consecução dos objetivos da política externa brasileira;

IV - realizar estudos e elaborar documentos para apoiar a tomada de decisão das altas instâncias do MRE sobre o planejamento estratégico e seus ciclos de implementação, monitoramento e revisão;

V - propor iniciativas que possam contribuir para a formulação e a execução do planejamento estratégico do MRE, incluindo o aperfeiçoamento de políticas de governança e de gestão financeira, de pessoas, de processos, de projetos, de riscos e de controles internos;

VI - elaborar documento de referência para a adoção de um sistema de planejamento estratégico no MRE, que tenha o propósito de subsidiar, de modo sistemático e coerente, a formulação e a condução da política externa brasileira, bem como atender às demandas dos órgãos de supervisão e controle da Administração Pública.

Parágrafo único. O Grupo de Trabalho deverá encaminhar ao Ministro de Estado das Relações Exteriores os resultados de suas atividades, podendo recomendar a adoção de medidas e a apreciação de determinados temas pelo Comitê de Governança, Riscos e Controles do MRE.

Art. 3° O Grupo de Trabalho será composto por representantes das seguintes unidades do Ministério das Relações Exteriores:
I- Gabinete;
II - Secretaria-Geral;
III - Secretaria de Planejamento Diplomático; IV - Coordenação-Geral de Modernização; e V - Divisão de Informática.

§ 1º As atividades do Grupo de Trabalho serão coordenadas pelas chefias da Secretaria de Planejamento Diplomático e da Coordenação-Geral de Modernização.

§ 2° O Grupo de Trabalho poderá convidar a participar de suas atividades representantes de órgãos e entidades públicas e privadas, além de pesquisadores, especialistas e integrantes de instituições da sociedade civil, quando considerar necessário para o cumprimento de suas finalidades.

§ 3° Os representantes designados para compor o Grupo de Trabalho desempenharão suas atividades sem prejuízo daquelas decorrentes de seus respectivos cargos ou funções, sendo a participação considerada prestação de serviço relevante e não remunerada.

Art. 4° O documento de referência citado no inciso VI do art. 2º desta Portaria deverá ser elaborado e encaminhado, até 31 de janeiro de 2018, à apreciação do Ministro de Estado das Relações Exteriores.

Art. 5° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

ALOYSIO NUNES FERREIRA

Grand Strategy - John Lewis Gaddis

When to Wage War, and How to Win: A Guide

ON GRAND STRATEGY 
By John Lewis Gaddis 
368 pp. Penguin Press. $26.

What is “grand strategy” as opposed to simple strategy? The term is mostly an academic one. It denotes encompassing all the resources that a state can focus — military, economic, political and cultural — to further its own interests in a global landscape.
“On Grand Strategy,” by John Lewis Gaddis, a pre-eminent historian and biographer of the Cold War, does not offer a comprehensive analysis, much less a history, of strategy on a grand scale in the manner of the classic studies by Angelo Codevilla, Edward Mead Earle, Lawrence Freedman, B. H. Liddell Hart, Edward N. Luttwak or Williamson Murray. Gaddis does concede that “grand strategies have traditionally been associated, however, with the planning and fighting of wars.” And so wars — or rather how not to lose them — are the general theme of his often didactic book.
Ten lively essays proceed in chronological order from King Xerxes’ invasion of Greece to Isaiah Berlin’s thoughts on World War II and the Cold War. In all of them Gaddis keeps pounding — to the point of monotony — the seemingly self-evident: The grand strategist must prune away emotion, ego and conventional wisdom to accept that “if you seek ends beyond your means, then sooner or later you’ll have to scale back your ends to fit your means.” His repetitious observation about proportionality might have been banal — if so many leaders, many of them geniuses, had not forgotten it. The generals who led the Athenian expedition to Sicily, Julius Caesar poised at the Rubicon, Alexander the Great at the Indus, Napoleon and Hitler at the border of Russia and Lyndon Johnson in Vietnam all equated past tactical success with assured future strategic dominance, lied to themselves that the material or spiritual advantages were all theirs and so ended up dead, humiliated or defeated.
The case studies are variously drawn from some 16 years of co-teaching a well-regarded seminar on “Studies in Grand Strategy” at Yale. Gaddis’s present book is at least the fourth such volume by professors of the Yale class, along with Paul Kennedy’s edited “Grand Strategies in War and Peace,” Charles Hill’s “Grand Strategies: Literature, Statecraft, and World Order” and more recently Linda Kulman’s “Teaching Common Sense: The Grand Strategy Program at Yale University.” While varied in tone and theme, all these efforts reflect the practical aims of the Yale seminar. Their implicit idea is to remind America’s future best and brightest how the mostly successful grand strategy of the past saw America become the pre-eminent world power of the 20th century by winning two world conflicts along with the Cold War. In contrast, the often arrogant neglect of grand strategic thinking has led to postwar quagmires, stalemates and the assorted misadventures that often drained American resources for either impossible or irrelevant aims, while tearing the country apart over the last 70 years.
Gaddis writes as he presumably teaches, informally mixing literary and historical analyses with the observations of his students, reminiscing in a personal voice about long-ago conversations or sharing conclusions that came to him over the years of the seminar. The book is as much personal remembrance as strategic reflection, and is chock-full of aphorisms and enigmatic adages.
Niccolò Machiavelli Palazzo Della Signoria, via Getty Images 
Gaddis believes the best way to hone strategic thinking is not just by mastering the advice of Machiavelli or Clausewitz (who both figure prominently in the class), much less contemporary high-tech wizardry, but also by understanding the interplay of history, literature and philosophy over 2,500 years of Western civilization — with occasional insights from Sun Tzu and other non-Western thinkers. In some sense “On Grand Strategy” is a traditional argument for the value of classical education in the broadest sense.
The student of strategy learns to balance a grasp of detail with proper humility: It is, of course, wise to have a plan and contingencies. But how will these prompt rival counter-responses? Do such agendas have the means adequate for their ends? Or are they more dreams, warped by ego and emotion (“And the heat of emotions requires only an instant to melt abstractions drawn from years of cool reflection. Decades devoid of reflection may follow”)? The better way is to be Isaiah Berlin’s versatile fox, not a single-minded obsessed hedgehog, or to embrace Machiavelli’s virtues of imitation, adaptation and approximation.
A recurrent theme is the danger of omnipresent hubris. Even a great power cannot master the unexpected and uncontrollable — from the great plague at Athens, to the harsh Russian winter, to I.E.D.s and tribal factionalism in Iraq. Why in the world, during a breathing spell in their war against Sparta, did democratic Athenians attack neutral and democratic Syracuse, 500 miles away? The answer is the same blinkered arrogance that sent Philip II’s huge but poorly led Spanish Armada into the British northern seas. Understanding the underappreciated role of irony is essential for a leader, and might have prevented the disasters of both 415 B.C. and 1588. Tolstoy and Clausewitz appreciated that bad things can come from good intentions and vice versa. The best generals live with and react to paradoxes, Gaddis argues. The worst ignore or seek to undo them.
Carl von Clausewitz
Gaddis sees these more successful global strategists as rope-a-dope pragmatists who remain elastic and patient enough to capitalize on events and opportunities as they unfold, rather than forcing them to fit preconceived schemes. Caesar tries to force a Roman republic into a global hegemony without full cognizance of the inevitable blowback from centuries of republican government, and so predictably is assassinated by a dying generation of dreamy senators. His savvier adopted son, Augustus, like the later Otto von Bismarck, builds coalitions, finds pre-existing seams to exploit at home and abroad, and waits to take advantage when enemies — or friends — stumble. Stalin’s prewar Bolshevik nightmare was responsible for 20 million dead, but apparently was not so loathsome that the Soviet Union could not prove temporarily useful for Churchill and Roosevelt in bleeding out the Nazi Wehrmacht.
Morality matters, if defined less as self-righteous ardor and more as self-awareness of a leader’s effect on those around him and an appreciation of paradox. A pragmatic St. Augustine has no problem with war — if it is a last resort to save civilization, without which there can be neither calm nor organized religion.
Still, courting calculated risk is essential. The gambler Winston Churchill took chances in 1940, albeit rational ones backed by educated guesses that, for all Hitler’s bluster, the Third Reich had neither the air nor sea power to destroy the Anglosphere. Risk is not always risk when it is the natural expression of national advantages and a mixture of caution and audacity.
Sun Tzu Alamy 
Gaddis’s American heroes are Abraham Lincoln and Franklin Roosevelt, who he thinks “rescued democracy and capitalism.” Roosevelt somehow was cognizant early on of how the singular military and economic potential of America might save Europe and Asia, but only if he first prepared reluctant Americans materially and psychologically for the inevitable war to come. Woodrow Wilson, among others, was not so successful in creating a postwar peace because he forced conditions to preconceived realities that bore little resemblance to emerging ironies at Versailles — and was without a sellable idea of an American role after World War I.
Gaddis concludes with an invaluable warning that true morality embraces neither messianic interventionism nor the quest for utopianism — indeed that is how millions become deluded, endangered or doomed. Instead, ethical leadership pursues the art of the possible for the greater (not the greatest) good. Augustine did not demand the city of God absolutely over the city of man. Augustus did not self-righteously return the Principate to the strife of the late republic. Lincoln did not start the Civil War as a crusade to eradicate slavery everywhere.
With regard to the American 21st century, Gaddis’s favorite novelists and philosophers perhaps argue against both optional intercessions abroad and moralistic lead-from-behind recessionals. The better course is to marshal American power to prepare for the often unavoidable existential crises on the horizon, with the full expectation that we do not have to be perfect to be good.
“On Grand Strategy” is many things — a thoughtful validation of the liberal arts, an argument for literature over social science, an engaging reflection on university education and some timely advice to Americans that lasting victory comes from winning what you can rather than all that you want.