O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Mestrado em Direito do Uniceub: aulas de Economia Política - curso de férias - Paulo Roberto de Almeida

Minha oferta de um curso de férias no Uniceub, onde sou professor de Economia Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito:


Mestrado em Direito do Uniceub, Dezembro de 2019, Janeiro-Fevereiro de 2020
Horas/aulas: Carga total: 45 horas; Calendário em regime especial
Dias fixados, de 5/12/2019 a 6/02/2010, das 19 às 22 hs

Calendário e Programa das aulas:
Data
Conteúdo da Matéria
05/12/2019
Aula 1: Primeira parte: economia brasileira e mundial
O desenvolvimento econômico brasileiro em perspectiva histórica: da economia primário-exportadora à industrialização, séculos XIX e XX; América Latina e Brasil no contexto da economia mundial: da primeira revolução industrial à quarta revolução tecnológica: fases
Aula 2: Crises econômicas e políticas econômicas: transformações estruturais; Por que os países exibem níveis de desenvolvimento tão diferentes?
Aula 3: Desenvolvimento em perspectiva comparada: a grande divergência; Grandes crises econômicas mundiais e seu impacto no Brasil
Aula 4: Escolas de pensamento econômico e políticas econômicas nacionais; Socialismo e capitalismo: duas realidades não equivalentes na prática; Marxismo, liberalismo econômico, keynesianismo, desenvolvimentismo
Aula 5: Mecanismos e requerimentos de um processo de crescimento sustentado; Políticas macroeconômicas e setoriais e seus efeitos práticos
Aula 6: Contas nacionais e balanço de pagamentos: indicadores e funcionamento; Comércio mundial, finanças internacionais e globalização
Aula 7: Crises e flutuações nas economias nacionais e sua propagação mundial; A trajetória econômica do Brasil no século XX: progressos e fracassos; Por que o Brasil é um país em desenvolvimento?; a armadilha da renda média
Aula 8: Finanças internacionais e movimentos de capitais: histórico e cenário atual; Do padrão ouro, ao padrão ouro-dólar e o atual sistema financeiro; As crises financeiras e seu impacto nos diferentes países; O Brasil como país devedor e como país credor: o Clube de Paris
Aula 9: A coordenação econômica mundial: possível, viável, eficiente?; As relações econômicas internacionais, do liberalismo ao protecionismo; A OCDE e o atual G-20: como funcionam?; O Brics e sua relevância para a economia mundial: o peso da China
Aula 10: Existem receitas fáceis para o desenvolvimento equilibrado?; Um processo de crescimento sustentado com transformações estruturais; Estabilidade macroeconômica e competição microeconômica; Boa governança e capital humano de alta qualidade; Comércio internacional e investimentos diretos estrangeiros
Aula 11: Segunda parte: comércio internacional e integração econômica
A construção do mundo econômico contemporâneo: instituições e estruturas; A ordem econômica criada em Bretton Woods: princípios e funcionamento; A criação do Gatt e seu papel no comércio internacional: rodadas multilaterais
Aula 12: A grande divisão política da economia mundial: capitalismo e socialismo; Geografia econômica da era contemporânea: primeiro, segundo e terceiro mundo; A implosão do socialismo e a retomada da globalização; Existe uma economia global, ou superposição de economias centrais e periferias?
Aula 13: A formação de blocos econômicos e a fragmentação do multilateralismo; O papel do comércio internacional no desenvolvimento; Exceções aos princípios de não discriminação e cláusula de nação mais favorecida; Limitações do multilateralismo e o apelo ao minilateralismo
Aula 14: Integração econômica regional: histórico e funcionamento; Tipos e modalidades de integração econômica: das preferencias à união monetária; A integração econômica na América: da Alalc à Aladi; o Mercosul e os demais; a União Europeia e o Mercosul: acordo birregional de 2019
Aula 15: O desenvolvimento da economia brasileira no período recente; Liberalização e reformas depois da crise da dívida externa; A economia política nos últimos 15 anos: da euforia à recessão; O planejamento econômico e o intervencionismo estatal; Problemas atuais do Brasil: crescimento, equidade, educação, produtividade; O problema da desigualdade: solução via Estado ou via mercados?; Economia de transição para a modernidade: educação e produtividade


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23/10/2019
Mestrado e Doutorado em Direito

domingo, 22 de abril de 2018

Cairu: a Brazilian Adam Smith - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente artigo publicado: 

A Brazilian Adam Smith

Cairu as the Founding Father of Political Economy in Brazil at the beginning of the 19th century

  • Paulo Roberto AlmeidaUniceub; IPRI-Funag/MRE
Keywords: Adam Smith, José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, economic thought

Abstract

Adam Smith’s seminal work, The Wealth of Nations, was introduced to Brazilian readers by an autodidatic “economist”, José da Silva Lisboa, at the beginning of the 19th century. The paper intends to reconstruct the reception of Smith’s ideas in Brazil (and Portugal), through the early works of José da Silva Lisboa. He was a remarkable intellectual, liberal by instinct besides a government official, who was largely responsible for the “economic opening” of Brazilian ports to foreign trade (decreed by the Portuguese Regent, Prince D. João, in 1808, at his arrival in Brazil). He was honored with the title of Viscount of Cairu (who became the patron of the Brazilian economists in the 20th century). He translated, incorporated, copied and transformed many Smithian ideas in his books (published in Portugal and Brazil, by Imprensa Régia), adapting them to a colonial economy and a backward agricultural environment. He suggested, among other original features, the existence of a fourth factor of production (besides land, labor and capital): knowledge, which could be considered an anticipation of modern conceptual evolution in economic thinking.

Author Biography

Paulo Roberto Almeida, Uniceub; IPRI-Funag/MRE
Paulo Roberto de Almeida, Brasília, Brazil (pralmeida@me.com) Director, International Relations Research Institute (IPRI, Min. of Foreign Affairs) Professor of International Political Economy at the Graduate Studies in Law, University Center of Brasília (Uniceub) (www.pralmeida.org; http://diplomatizzando.blogspot.com)

References

ALMODOVAR, António. Introduction to: Lisboa, José da Silva. Escritos Económicos Escolhidos, 1804-1820. Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, Lisboa, 1993.
ARRIGHI, Giovanni.. Adam Smith in Beijing: Lineages of the Twenty-First Century. Londres, 2007.
______. The winding paths of capital. Interview with David Harvey. New Left Review, n.56, Mar-Apr/2009, p.61-94. Avaible em: or . Acessed at: 5 dec. 2016.
CAIRU, José da Silva Lisboa. Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no Brasil (1810). Senado Federal, Coleção Biblioteca Básica Brasileira, Brasília, 1999. 
FENELON, Dea Ribeiro. Cairu e Hamilton: um estudo comparativo. Tese de doutorado apresentada à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais; Belo Horizonte, 1973.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil (1959). Fundo de Cultura.Rio de Janeiro, 1963. 
LIMA, Heitor Ferreira. História do Pensamento Econômico no Brasil. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1976.
LISBOA, José da Silva. Escritos Económicos Escolhidos, 1804-1820. Banco de Portugal, Coleção de Obras Clássicas do Pensamento Económico Português, Lisboa, 1993.
OLIVEIRA, Luis Valente de; RICUPERO, Rubens (orgs.). A Abertura dos Portos. Senac-SP, São Paulo, 2007.
SMITH, Adam. An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Londres, 1791.

Published
2018-04-17

How to Cite
Almeida, P. (2018). A Brazilian Adam Smith. MISES: Interdisciplinary Journal of Philosophy, Law and Economics6(1). https://doi.org/https://doi.org/10.30800/mises.2018.v6.64

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Aula Virtual: America do Norte rica, America Latina Pobre - Paulo Roberto de Almeida

Duas semanas atrás, dei uma aula virtual, ou seja, pela internet, para alunos da Paraíba (mas eventualmente para quem se conectou alhures), sob convite e com a liderança técnica do professor Cleofas Jr., da UEPB, a quem agradeço a confiança.
O texto que eu preparei como guia, previamente distribuído (mas não lido, obviamente), é este aqui:

2800. “Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?”, Hartford, 28 março 2015, 19 p. Notas para aula virtual. Disponibilizado no Academia.edu (link: https://www.academia.edu/11712694/2800_Por_Que_a_Am%C3%A9rica_Latina_%C3%A9_Pobre_e_a_Am%C3%A9rica_do_Norte_Rica_2015_).
Para apoiar a aula, preparei um PowerPoint, transmitido na ocasião, mas que também esteve e está disponível no seguinte canal:

2801. “Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?”, Hartford, 29 março 2015, 63 slides. Apresentação em PowerPoint para a aula virtual. Disponibilizado no Academia.edu (link: https://www.academia.edu/11712721/2801_Por_Que_a_Am%C3%A9rica_Latina_%C3%A9_Pobre_e_a_Am%C3%A9rica_do_Norte_Rica_2015_).
Na ocasião, e depois, os alunos fizeram várias perguntas, que eu respondi oralmente, outras pelo Facebook criado para isso na ocasião, e outras me foram enviadas posteriormente. Coletei todas as perguntas e fiz respostas agrupadas, que agora seguem abaixo, para quem tiver interesse.
Apenas retirei os nomes completos dos perguntadores, deixando apenas as iniciais.
Paulo Roberto de Almeida



Magistro Institute
Estimulando a Inteligência e a Sabedoria

Aula ao Vivo com o Doutor Paulo Roberto de Almeida
17/04/2015
Respostas em 29/04/2015

Perguntas sobre Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica?

1.              Sobre o Brasil e América Latina
a)             Economia

AM
Até que ponto a privatização de setores e aplicações de investimentos estrangeiros seria benéfico para a economia brasileira?
            PRA: Existe uma verdade quase axiomática em matéria de políticas econômicas que pretende que se você quiser maior eficiência, economia, fiabilidade, qualidade de bens ou serviços, e sobretudo a melhor relação custo-benefício, você tem de obter tudo isso do lado do setor privado, não do lado do governo. Empresas públicas e serviços prestados pelo Estado, de maneira geral, são ineficientes, custosos, não guardam nenhuma relação com os insumos (ou seja, os bens e serviços usados para sua prestação ou fabricação) e tendem a ser objeto de desperdício, corrupção, desvio de recursos e muita ineficiência. Concordo com a tese, em gênero, número e grau. Como se diz popularmente, o que engorda o gado é o olho do dono. Serviços coletivos em geral, como não pertencem a ninguém em particular, e como não usam critérios de mercado – ou seja, concorrência pelo menor preço e maior qualidade – tendem a ser de pior qualidade do que os mesmos serviços prestados por empresas privadas, isso por definição, e desde que o setor seja aberto à competição, e não objeto de monopólios e carteis – como são certos serviços, como bancos, telefonia, etc. – e desde que as regras para investimento sejam claras e estáveis. Não é preciso ir muito longe: é evidente que uma única estatal de telefonia não poderia NUNCA oferecer a profusão de aparelhos e de serviços de que se dispõe hoje na telefonia celular. Antes de o setor ser privatizado, vivíamos em monopólios telefônicos, e o custo de uma LINHA residencial era absurdo – podendo chegar a 2 mil dólares no mercado negro, uma vez que não existia oferta suficiente – e isso quando havia disponibilidade. É evidente, portanto, que quanto maior o número de serviços privados, isso tende a melhorar a oferta a preços satisfatórios para os consumidos, e quando não houver possibilidade de ter concorrência – eletricidade, saneamento, afins – o ideal é que a oferta se aproxime o mais possível das soluções de mercado (eficiência, relação qualidade-preço, etc.).
            Quanto ao capital estrangeiro, a resposta é muito simples: apenas um nacionalismo tacanho pretende que certos serviços devem ser reservados apenas ao capital nacional. Se estamos falando de mercados cada vez mais integrados, nos planos nacional, regional e mundial, não deveria haver NENHUMA distinção entre capital nacional e capital estrangeiro. TODAS as empresas deveriam ser tratadas nas mesmas bases, uma vez que a maior competição sempre é melhor para qualquer bem ou serviço que você consuma. Quer uma prova muito simples: imagine você viver num socialismo sob o regime do capital nacional. Entre num supermercado, qualquer supermercado, e vá à seção dos iogurtes. Lá você encontra dezenas, virtualmente, de tipos e marcas para todos os gostos. Se fosse unicamente nacional, essa oferta seria reduzida a menos da metade, e se fosse estatal, se teria unicamente um ou dois tipos de iogurte. Simples assim. Devemos a variedade de bens e produtos disponíveis em nossos supermercados à existência de marcas estrangeiras, que disputam com as marcas nacionais as preferências do consumidor. Melhor assim, não é mesmo?


No Brasil haveria um setor de produção ou setores de produções que poderiam alavancar o desenvolvimento econômico de maneira acelerada, ao ponto de transformar positivamente o cenário econômico atual?
            PRA: Respondo imediatamente por um NÃO, um grande não, pois não é possível, numa economia livre, e concorrencial, aberta a todos os talentos, ficar selecionando setores para serem beneficiados por burocratas governamentais, com base em critérios políticos muito duvidosos. Aponto apenas um exemplo: o governo emprestou, ou aplicou, bilhões de nossos recursos – pois os do BNDES são de todo o povo brasileiro, com base no FGTS e outras transferências do Tesouro, ou seja, nossos impostos – nas empresas do grupo OGX, do famoso empresário Eike Batista, que tinha sido apontado como o brasileiro mais rico, e que pretendia estar entre os mais ricos do mundo. Supostamente porque ele iria aplicar em setores prioritários, ditos estratégicos, e isso apenas por indução autoproclamada. Deu no que deu: todos perdemos e bilhões de recursos que poderiam estar sendo aplicados em outras áreas foram parar nas mãos, e nos bolsos, quando não nos cofres de bancos no exterior, de um capitalista promíscuo, que deve ter dado muito dinheiro a políticos e burocratas, e ao partido do governo, para conseguir esses favores.
            Eu só um ÚNICO setor que merece receber apoio para alavancar o desenvolvimento nacional e ele é a EDUCAÇÃO, simples assim. Falo da educação primária, elementar, universal, obrigatória, em primeiríssimo lugar. Depois falo da educação secundária, que também deveria ser compulsória e aberta a todos. Em último lugar vem a educação superior, que deve ser uma opção familiar, e apoiada pelo governo UNICAMENTE no que se refere à pesquisa e projetos aplicados. Considero que a educação superior deva ser paga, e quem não puder pagar receberá ou uma bolsa (de acordo com os seus resultados do secundário), ou fará um empréstimos para pagamento futuro, na vida profissional.
            Sou contra, terminantemente, contra qualquer política indústria, que significa geralmente dar dinheiro para quem já é rico.

TA
Qual seria as práticas essenciais para que a economia brasileira possa sair da estagnação?
            PRA: Já escrevi muito sobre isso. Estamos atolados no baixo crescimento, na alta inflação, no baixo investimento e no desequilíbrio de contas públicas. O mais importante, porém, é o intervencionismo do governo, que tira confiança do setor privado – que é quem pode investir – sobre a transparência e estabilidade de regras na economia. Então, em primeiro lugar, se tem de fazer o tal ajuste, que não é para retomar o crescimento, apenas para evitar que a situação piore ainda mais.
            Depois, como regras gerais, para o crescimento, eu recomendaria: 1) estabilidade macroeconômica (inflação baixa, contas púbicas equilibradas, juros e câmbio de mercado, não manipulados pelo governo); 2) competição microeconômica (extinção de monopólios e carteis, abertura da economia à competição, inclusive estrangeira, tarifas baixas, impostos baixos, sobretudo sobre o emprego e o lucro, regras estáveis); 3) governança de boa qualidade (parlamento não corrupto, justiça funcionando, rapidamente, transparência em todos os procedimentos, baixo intervencionismo do Estado no setor privado, etc.); 4) alta qualidade dos recursos humanos (o que significa simplesmente uma revolução na educação, que é catastrófica); 5) finalmente, abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros.
            Estas são as minhas regras básicas para um processo sustentado de crescimento econômico.

JK
Que reformas do processo orçamentário no Brasil melhorariam a transparência e a qualidade do gasto público?
            PRA: Existem dezenas de medidas a serem tomadas em relação ao nosso absurdo processo orçamentário. Para não ter de tocar em detalhe nesses aspectos, que são muito complexos e mereceriam longas respostas, eu recomendaria ler o livro de Marcos Mendes (org). Gasto Público Eficiente (Fundação Fernand Braudel). Recomendo, igualmente, seu outro livro: Por que o Brasil cresce pouco? Desigualdade, democracia e baixo crescimento no país do futuro (Elsevier).

LL 
Visto que a taxa de inflação está em alta, há uma maneira do governo reduzi-la? Como seria possível essa redução sem atrapalhar a economia brasileira drasticamente?
            PRA: Sim, a única forma de o governo reduzir a inflação seria não fazer o que ele faz continuamente: criar crédito e injetar dinheiro na economia. O que cria a inflação é a disponibilidade de dinheiro, e infelizmente esse governo – como todos os outros aliás – gasta mais dinheiro do que deve, sobretudo gasta o dinheiro que não é seu, e sim nosso, retirado dos nossos bolsos com os impostos.
            Todo processo de ajuste anti-inflacionário impõe certos custos momentâneos, pois as pessoas gostam de ter crédito para poder gastar mais do que deveriam. Uma vez adaptado o meio circulante (quantidade de dinheiro na economia) às necessidades efetivas do sistema produtivo, a economia poderia crescer sem pressão inflacionária.


Kaline Renaly
Há alguma saída prática pra correção da economia mediante o cenário atual?
            PRA: Já respondi a essa pergunta para Thuanne Angelo, veja acima.

Como se avalia o ato de redução das rotas comerciais do Brasil com os países desenvolvidos?
            PRA: Rotas comerciais já dizem a que vieram: para atender a uma demanda de mercado: quando esse mercado não comporta os custos incorridos pelas despesas fixas implícitas a uma oferta determinada por acordo político – como são os acordos de navegação aérea entre países – as empresas fazem o que têm de fazer, adaptar a sua oferta à demanda efetiva. Não deve ser uma área determinada pelo governo, mas sim aberta a total concorrência, TOTAL, ainda que a operação possa ser controlada por razões de segurança.

GV (respondida na aula do dia 17).
O plano real foi o melhor ate hoje criado? Houve outro melhor?
            PRA: No Brasil nunca houve nada melhor, o que não quer dizer que seja perfeito. Recomendo a leitura de dois livros sobre isso. Maria Clara Prado, A Real História do Real.  Miriam Leitão, Saga, a luta do povo brasileiro em defesa da moeda.
            Todos os demais planos se baseavam em medidas artificiais, como controles de preços, salários, câmbio, o que só gera desequilíbrios e penúria, quando não distorções enormes. O melhor plano é aquele que amplia as liberdades econômicas para que todos possam trabalhar e ganhar dinheiro no mercado. Existe algum sentido nos monopólios de transportes (ônibus e taxis)? Nenhum. Total liberdade de oferta melhoria o serviço e diminuiria os preços.
 
JL (respondida na aula do dia 17).
Os outros países investiram em maquinário e mão de obra, estamos fadados a essa "pobreza" "eternamente" ou é possível reverter à situação, mesmo levando em consideração, que nos países desenvolvidos temos o império da lei, enquanto no Brasil as leis são desrespeitas, principalmente pelo Estado?
            PRA: Uma coisa precisa ficar muito clara. NÃO SÃO os países que investiram em maquinário e mão-de-obra, e sim pessoas, empreendedores, empresários, trabalhadores, simples indivíduos que queriam melhorar de vida. Governos, no máximo podem investir em educação, mas isso também é falso, pois eles o fazem com o dinheiro das pessoas, que poderiam, elas mesmas criar serviços nessa área, como já existe atual e concretamente; mais da metade da oferta educacional é feito pelo setor privado.
            Quanto ao problema do “rule of Law”, o respeito à lei, esse é realmente um problema cultural de nossa formação ibérica. Nos países anglo-saxões, houve a Magna Carta (1215), que diz que nem o rei está acima da lei, e só pode impor medidas (impostos, justiça, etc.) no respeito do devido processo legal, com o consentimento dos governados. No Brasil ainda não chegamos na Magna Carta...

CF
A vinda de italianos para o Brasil foi uma medida para tentar “branquear” a população e resultante da situação econômica da Europa, em particular na Itália?
            PRA: Os movimentos migratórios do final do século 19 e início do 20 foram um fenômeno universal, ou se quisermos europeu e atlântico, pois implicou no deslocamento de milhões de europeus para as Américas, o Novo Mundo. Esse desejo de “branqueamento” existiu realmente, pois correspondeu a um estágio do desenvolvimento do pensamento “científico”, de base racialista, a partir do predomínio da civilização europeia sobre o resto do mundo – o que é apenas um fato histórico – em que se identificou a “raça branca” (na verdade europeia) como superior, o que também era uma constatação de fato a partir do avanço da tecnologia e do conhecimento científico, que deu a esses povos maior domínio sobre processos produtivos. Sugiro ler Jared Diamond – Armas, Germes e Aço – sobre o desenvolvimento diferenciado das sociedades humanas, ler David Landes – A Riqueza e a Pobreza das Nações –, sobre o desenvolvimento desigual das economias, e ler Stephem Jay Gould – A Má Medida do Homem – sobre as ideologias racialistas do século 19.

Qual seria a definição mais correta do Programa Bolsa Família: uma medida de emergência em curto prazo ou uma manipulação política? Quais países adotaram programas semelhantes?
            PRA: Vários países adotam medidas paliativas desse tipo, que implicam em distribuição de subsídios à população mais pobre. Não considero esse tipo de medida mais eficaz, e sim o investimento direto na educação dos mais pobres e em sua qualificação técnica e profissional, para que eles possam trabalhar e ganhar o seu dinheiro. Se trata de um paliativo, não de uma solução, se não vem acompanhada pelas medidas corretas.
            Mas políticos em geral são populistas e demagogos, e tiram dinheiro de uns para dar a outros, e com isso recolhem votos.
            Repito: não diminui a miséria, apenas subsidia o consumo dos mais pobres. 

AB
No caso do Brasil o pobre passou a ser uma solução, voltando a ser um problema para econômica e por isso não se meche nestas políticas públicas voltadas a eles?
            PRA: Isso é inevitável se o objetivo é, como foi no Brasil, criar um curral eleitoral, que na verdade perpetua a pobreza e a dependência. Qual é o país sério que pode sentir orgulho de ter UM QUARTO de sua população na dependência de transferências governamentais? Isso é um fracasso completo, não uma glória.

HN
Quais são os principais motivos que os brasileiros que tem a experiência de viver ou apenas visitar outro pais como o Estados Unidos e Alemanha, de não possuir o desejo voltar ou permanecerem no Brasil?
                        PRA: Muito simples: oportunidade de melhorar de vida, de ter segurança, de viver num país sem corrupção, com melhores serviços. Milhões de miseráveis de todo o mundo procuram desesperadamente chegar à Europa e viver nos EUA. Por que será?

b)             Política Externa Brasileira

GV (respondida na aula do dia 17).
Na atualidade, como o Brasil esta sendo visto no cenário internacional? Qual foi a melhor fase?
            PRA: O Brasil está sendo visto como sempre foi: como aquele país que realiza certos avanços e depois recua novamente. Poderíamos estar melhor, certamente, e só não estamos devido à inépcia e incapacidade de nossos governantes. Infelizmente é simples assim: eles não conseguem manter o país crescendo, com políticas corretas. A melhor fase foi a de FHC, quando finalmente estabilizamos e tínhamos um presidente sensato, aberto, e depois com o Lula, na primeira fase, que gerou um entusiasmo exagerado e totalmente indevido, porque a casa estava em ordem para crescer, porque a demanda chinesa trouxe crescimento ao Brasil, e porque parecia a história ideal de todo país pobre: ter um dirigente saído dos meios populares que finalmente realiza justiça social, o grande problema do Brasil. Sabemos hoje que foi tudo ilusão, mas as pessoas – sobretudo os estrangeiros mal informados – acreditavam que fosse verdade.

AR
Você citou o Petrolão em um dos exemplos de como enriquecer até em um tom de brincadeira. Diante de vários escândalos por parte do governo em relação ao dinheiro público, como se avalia a imagem do Brasil nos países desenvolvidos? Qual a sua credibilidade? É missão de a diplomacia agir para mudar essa imagem negativa e buscar recursos para o país, ou apenas analisar esse cenário sem ter interferência direta?
            PRA: Essa imagem é a pior possível, pois ficamos sendo equiparados a esses países africanos notoriamente corruptos, e talvez não esteja longe disso. A diplomacia não pode fazer boa propaganda de uma realidade deplorável e esconder fatos que estão sendo veiculados na imprensa internacional. A missão da diplomacia não é fazer propaganda enganosa, e sim informar o governo brasileiro sobre o que se diz do Brasil lá fora, de bem ou de mal.

PF (respondida na aula do dia 17).
Nas ideias apresentadas, um grande passo para crescimento econômico e social da AL parece ser a repetição de modelos asiáticos. Essas sociedades regem não apenas politicamente/economicamente a população, mas principalmente de modo cultural. E pensar em mudança cultural no Brasil ainda esta nos patamares de uma utopia.
O professor acredita que uma evolução econômica eficaz seria mais eficiente se boas condutas em questões culturais fossem amplamente incentivadas?
            PRA: Já disse que seria impossível repetir modelos, quaisquer modelos, sobretudo os asiáticos. Não acredito em mudanças culturais vindas do alto, por fiat. Isso não existe simplesmente, só se processa no longo prazo, lentamente. A única solução é a elevação contínua, intensa, extensa, dos padrões educacionais da população. Não existem milagres fora do crescimento da produtividade, e este só vem com boa educação para todos. Eu nunca tentaria mudar a cultura, pois isso é impossível e um sonho equivocado. Simplesmente eduquemos a população: ela verá o que é melhor para si mesmo, sem que ninguém precise dizer. Já estamos vendo, aliás: por que é que as pessoas estão indo embora do país? Porque são bem informadas, e reconhecem que o Brasil é um país fracassado, com políticos corruptos. Elas preferem recomeçar a vida em outros lugares, nos quais não tenham a sensação de estar sendo roubadas todos os dias por mentirosos no poder.

AA
Pode-se dizer que o gasto excessivo por parte de algumas nações da América Latina torne suas economias fragilizadas ou pobres por ultrapassarem suas receitas?
            PRA: Não apenas da América Latina: estamos vendo isso agora mesmo na Europa, e não apenas em países fracassados como a Grécia, mas também em países aparentemente prósperos como a França. A França recolhe 45% da riqueza nacional em impostos e gasta mais de 53% em despesas, ou seja, produz déficits contínuos. Tem um futuro um país assim? Obviamente que não: estão indo para uma inexorável decadência.


AB
Grande parte dos países da América Latina foram colonizados e explorados, por Portugal e Espanha. Por isso seguiram passos diferentes dos Estados Unidos no Século XVIII?
            PRA: Estes são fatos históricos que não podemos mais mudar. O que podemos fazer, para suprir as desvantagens de termos sido colonizados – a palavra certa é criados, pois não existiam sociedades antes dele, e sim tribos primitivas, esparsas – por ibéricos, e fazer o que fizeram outros povos: construir riquezas através do trabalho duro, apenas isso. Não há condenação eterna por termos nascido pobres e deseducados. Basta nos educarmos e nos tornarmos ricos. Muitos o fizeram, aqui mesmo, com base no seu  próprio trabalho. O governo atrapalha um bocado, mas isso é possível corrigir também, bastando que as pessoas tomem consciência disso. O governo não facilitar nada, e ele só retira dinheiro das pessoas e obstrui o nosso desenvolvimento.

CF
Existem teorias que explicam o baixo desenvolvimento do Brasil por causa do caráter explorador da colonização portuguesa e o pouco investimento no crescimento do país. O senhor concorda?

            PRA: Apenas em parte, mas veja a resposta acima. Nada é eterno...

FC
Até que ponto pode comparar as explicações para pobreza da América Latina com a África?
            PRA: Não se pode comparar coisas incomparáveis. Somos de formações totalmente distintas. Leia Jared Diamond para saber como exatamente.

2.              Sobre os EUA e Países Desenvolvidos

FC
 Pode-se dizer que a crise de 29 foi uma ruptura do super desenvolvimento dos EUA? E até que ponto afetou a sociedade americana, mais precisamente a classe média?
            PRA: Crises econômicas são inevitáveis em sistema abertos: se você gastar todo o seu dinheiro em loterias, estará criando uma crise para você mesmo também. Foi um pouco o que fizeram as pessoas nos anos 1920: apostaram muito dinheiro nas bolsas, pretendendo ficar ricos rapidamente, pois as ações estava, subindo exponencialmente. Ora, não existe possibilidade física de ganhos exponenciais continuamente: um dia, se tem o limite. Afetou enormemente todos naquele país. Mas ele se recuperou, e se tornou ainda mais rico, com base nas mesmas regras, o que significa novas crises, que sempre são o resultado de bolhas especulativas. As pessoas são assim...

EM
O liberalismo clássico prega uma economia livre, sem intervenção do estado. Prega um estado mínimo. A minha dúvida é, diante da situação econômica atual no Brasil. Como conseguiríamos ter no Brasil, uma economia mais livre? O que deveríamos fazer para o Brasil adotar essa política de livre-mercado? É possível o governo brasileiro sair totalmente da economia?
            PRA: É possível, sim ter uma economia mais livre. Basta comparar o Brasil com outros países e ver o que fazemos de errado. Muita coisa. Recomendo a leitura atenta do relatório do Banco Mundial, Fazendo Negócios, Doing Business, para ter um retrato do nosso inferno empresarial e regulatório. Depois tem o relatório Economic Freedom of the World, talvez exista em português, mas também indica tudo o que fazemos de errado. Nenhum país no mundo é inteiramente livre, laissez-faire, mas certamente os EUA, por exemplo, são infinitamente mais livres do que o Brasil em termos econômicos. Até a China comunista é economicamente mais livre do que o Brasil.

 Professor, vemos que países com uma política liberal econômica tiveram um maior desenvolvimento de suas economias em relação a países que não empregou tal política; quais seriam, se caso existam, as questões negativas em relação a política econômica liberal?
            PRA: Existem dezenas e dezenas, e recomendo a leitura dos relatórios citados acima, bem como o do World Economic Forum sobre Competitividade. Estamos sempre nos mais baixos escalões. Isso é uma praga? Certamente que não. Se outros países tem outras regulações, mais efetivas para o crescimento, isso significa que nós também podemos fazer. Basta ver o que funciona e o que não funciona Simples assim.
            Começo por um exemplo muito simples: por que a Anvisa tem de proibir farmácias de vender chiclete? Existe uma razão ponderável para isso? Nenhuma.
            Isso se chama fascismo.
            As pessoas precisam descobrir que vivemos num país fascista, submetidos a ordem de burocratas idiotas.

IF

Os EUA teme a criação do banco do BRICS?
            PRA: Isso é bobagem. Podem até temer, no que estarão errados. Vejamos: quanto mais concorrência, melhor, correto? Então, maior número de bancos, competindo entre si para emprestar dinheiro para bons projetos deveria ser positivo, até para empresas americanas que podem fazer esses projetos. Mas, seria muito ruim, para TODOS, mas sobretudo para os POVOS dos países do Brics, que esse banco passasse a financiar projetos por critérios políticos, e não técnicos. Simples assim: de onde vai sair o dinheiro? Dos governos (ou seja nosso)? Ou de investidores privados? Acho que se o dinheiro do banco dos Brics sair do mercado, e os projetos forem sólidos, está bem. Se o banco for político, vamos perder dinheiro, todos nós.

CF
Se os americanos não tivessem envolvidos na Segunda Guerra, os russos conseguiriam reverter a situação de conquistas da Alemanha?
            PRA: Talvez, mas com um sacrifício muito maior em termos de mortos e destruição material. Napoleão perdeu a guerra contra o inverno, e a falta de alimento. Não contra o exército russo. Os alemães poderiam ter avançado ainda mais, conquistado Moscou, Leningrado, etc. Mas seria difícil converter milhões de russos em escravos e eles acabariam sendo derrotados mais cedo ou mais tarde. Mas sem dúvida alguma que a ajuda dos EUA e da GB salvou Stalin de uma derrota vergonhosa. Se tivesse perdido, naquela fase, teria sido simplesmente eliminado do cenário, e teriam sido outros líderes russos a fazer a reconquista, como ocorreu, aliás.
            Os alemães também perderam não tanto por incapacidade de seus militares, mas por erros estratégicos dos nazistas, de Hitler, em primeiro lugar, que se julgava um grande líder militar. Cometeu muitos erros e isso apressou sua queda, pois do contrário, a derrota do nazismo teria sido muito mais difícil e muito mais longa.
            Da mesma forma, se pode dizer que as bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki apressaram o fim da guerra e SALVARAM vidas. Sem bombas atômicas, a guerra no Pacífico demoraria talvez um ano mais, ou talvez seis meses, com muito mais mortes, igualmente horríveis, de japoneses e americanos. Eles não se renderiam, e os americanos teriam muito mais perdas para conquistar as várias ilhas.
            Estou lidando com fatos, apenas isto.

                                    Paulo Roberto de Almeida
                                    Hartford, 29 de abril de 2015