O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Relatorios do Ministerio dos Negocios Estrangeiros e das Relacoes Exteriores, 1830-1960

Todos os relatórios do velho ministério dos Negócios Estrangeiros, do Império, desde 1830, e do Ministério das Relações Exteriores, da República, até 1960, encontram-se digitalizados e disponíveis no quadro do Projeto LAMP (Latin American Microform Project), do Center for Research Libraries (CRL), no seguinte endereço:

http://www.crl.edu/brazil/ministerial/rela%C3%A7oes_exteriores

A consulta é um tanto lenta, página a página em formato TIFF, online, mas pode-se achar a íntegra de todos os relatórios.

Exemplo de um índice relativo ao ano de 1890, trazendo os resultados da primeira Conferência Internacional Americana, realizada em Washington, de 1889 a 1890, enquanto o Brasil deixava de ser uma monarquia e passava a ser uma república:

INDICE

PAG.

Conferencia dos Estados independentes da America em Washington

6  União monetaria7  União aduaneira8  Direito de porto10  Systema metrico12  Emolumentos consulares12  Bancos13  Nomenclatura commum de mercadorias estrangeiras13  Estrada de ferro intercontinental14  Escriptorio commercial das Republicas Americanas16  Tratados sobre propriedade litteraria e artistica, sobre patentes deinvenção e sobre marcas de commercio e de fabricas celebrados no Congresso deMontevidéo22  Tratados de direito penal internacional firmados no Congresso deMontevidéo23  Tratados de direito civil. direito commercial e processo judicial assignadosno Congresso de Montevidéo24  Regulamentos sanitarios24  Direitos do estrangeiro25  Navegação dos rios26  Legalisação de documentos27  Bibliotheca latino-americana27  Linhas de navegação a vapor e Telegraphos27  Conquista30  Profissões liberaes30
2
PAG.

Propriedade litteraria e artistica:

  Accordo com Portugal32

União Internacional para a protecção da propriedade industrial

32

Convenção para a troca de documentos officiaes e outros

33

Convenção telegraphica Internacional

33

Convenção Internacional para a protecção dos cabos submarinos

34

Conferencia maritima Internacional em Washington

34

Congresso Internacional dos caminhos de ferro

34

Relações commerciaes com os Estados Unidos da America

35

União Internacional para a publicação das tarifas aduaneiras

35

Limites com a Republica Argentina

35

Secretaria de Estado, Corpo Diplomatico e Corpo Consular

35

Orçamento para 1891

36

Creditos

36

Paraguai, parceiro estratégico - Rubens Antonio Barbosa

Paraguai, parceiro estratégico

RUBENS BARBOSA *

O Estado de S.Paulo, 13/08/2013

Em momento delicado para as relações com os parceiros do Mercosul, assume no Paraguai, no próximo dia 15, um novo presidente: Horacio Cartes.

Os presidentes dos países-membros do bloco, em recente reunião em Montevidéu, decidiram cancelar, a partir desse dia, a suspensão do Paraguai do Mercosul. Cartes, contudo, por meio de comunicado oficial, já informou que o seu país, enquanto a Venezuela ocupar a presidência rotativa do bloco, não retomará o seu lugar no Mercosul nem participará de nenhuma reunião, por considerar que o ingresso de Caracas não ocorreu "de acordo com as normas legais". Por pressão da opinião pública e do Parlamento paraguaios, Cartes endureceu sua posição e diz não abrir mão da defesa da dignidade e da soberania de seu país, exigindo respeito ao império do Direito no tocante às circunstâncias do ingresso da Venezuela.

Tudo indica que o Paraguai vai privilegiar a normalização de suas relações bilaterais com o Brasil, a Argentina e o Uruguai, mas vai boicotar o Mercosul até dezembro, quando outro país, a Argentina, passará a coordenar o grupo. Caso isso efetivamente ocorra, os entendimentos com a União Europeia para fazer avançar as negociações de acordo comercial, que se arrastam há mais de dez anos, terão de avançar sem o Paraguai. O Brasil havia prometido definir a lista comum de produtos a ser entregue aos países europeus até setembro. No último trimestre, os entendimentos seriam retomados antes de expirar o mandato da Comissão Europeia, em dezembro, evitando a interrupção das negociações.

O relacionamento com o Paraguai é exemplo de desacertos recentes na área externa e mostra como a ideologização pode ser contrária ao interesse nacional. É longa a sequência de equívocos. O então presidente Fernando Lugo conseguiu de Lula um aumento na sobretaxa paga ao Paraguai pela energia de Itaipu, com custo de bilhões de dólares para a sociedade brasileira. Enquanto negociava, Lugo permitiu, se é que não incentivou, uma perseguição impiedosa aos brasiguaios, apesar de a imensa maioria daquela comunidade ter nascido no Paraguai e possuir cidadania guarani.

Quando o Congresso paraguaio, por imensa maioria e de acordo com as regras definidas em sua Constituição, destituiu Lugo por "mau desempenho de suas funções", a decisão foi referendada pela Corte Suprema e pelo próprio ex-presidente. O Brasil e seus vizinhos do Mercosul, no entanto, alegando violação da cláusula democrática, resolveram que nem as instituições nem o povo paraguaio - que em sua maioria apoiou a decisão - sabiam o que era legítimo ou melhor para eles, trataram de suspender o país do bloco e de retirar seus embaixadores do Paraguai. Com a sanção política ao parceiro estratégico, a Venezuela pôde ser aceita como membro pleno do Mercosul, já que o Senado paraguaio era (e continua sendo) o único a não aprovar a entrada do novo membro no bloco. Talvez o mais irônico seja que esse exemplo de ingerência nos assuntos internos do Paraguai tenha sido feito com a desculpa de "resguardar a democracia", como se Argentina, Bolívia e Venezuela fossem exemplos a ser seguidos.

O vazio político-diplomático deixado por esse episódio só não causou um mal maior porque os setores privados brasileiro e paraguaio se articularam e avançaram numa agenda de interesse mútuo, visando a aumentar os investimentos brasileiros no Paraguai, estimulados pelo diferencial de competitividade entre os dois países (lá o custo de produção é cerca de 35% mais baixo do que no Brasil) e pela construção em fase final de linha de transmissão levando a energia de Itaipu até Assunção. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) promoveu na capital paulista seminário sobre oportunidades de negócios no Paraguai e planeja encontros entre empresas dos dois países após a posse do novo presidente.

Nos últimos anos o Brasil definiu uma série de parcerias estratégicas com outros países. Poucas, no entanto, podem ser mais relevantes do que aquela com o Paraguai: 350 mil brasileiros lá vivem e trabalham, ajudando o país a tornar-se um grande produtor agrícola; 20% de toda energia consumida na região mais industrializada de nosso país depende da potência gerada por Itaipu, inclusive a não consumida pelo Paraguai.

O que ganhou a sociedade brasileira com o abandono dos princípios de respeito aos contratos e de não ingerência nos assuntos internos de outros países, para defender um governo como o de Lugo? A opção preferencial pela Venezuela e pela Argentina deixa em segundo plano nossos interesses mais permanentes com o Paraguai e lega um custo a ser arcado e administrado por nossos futuros governos.

O relacionamento com os países da América do Sul, em razão desse e de outros equívocos, será o maior problema que o Itamaraty deverá enfrentar nos próximos anos.

Não resisto uma referência à opinião do então ministro do exterior, barão do Rio Branco, sobre as relações Brasil-Paraguai. De forma lapidar, o patrono da diplomacia brasileira, com clara percepção dos interesses brasileiros e com visão de futuro, definiu qual deveria ser o tom das relações bilaterais. Em 1903, num contexto que ainda tinha bem presente os acontecimentos militares e as disputas na Bacia do Prata, Rio Branco deixou registrado para a História que "o Brasil é e será sempre amigo do Paraguai, quaisquer que sejam seus governantes". É importante resgatar essa percepção, no momento em que altos funcionários do governo de Assunção recordam a formação da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) contra o Paraguai no conflito do século 19, repetida, por coincidência, agora na questionável punição ao Paraguai pelo Mercosul.

Cem anos depois, o ensinamento de um dos maiores estadistas brasileiros foi esquecido em nome de afinidades ideológicas e de uma agenda que não favorece o Brasil.
* RUBENS BARBOSA É PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP.

Deputados entram no espirito do "endoidou geral": orcamento dito impositivo

O que comentar depois de mais uma demonstração de suprema irracionalidade legislativa?
Eu fico achando que o Brasil já recuou demais na inteligência para nos surpreender com novas demonstrações de estupidez legislativa, e não é que me surpreendo mais uma vez com mais uma (não será a última, certamente) comprovação de que o que mais recua, neste país, é de fato a inteligência.
Até um deputado que se poderia considerar de "direita" (mas qual a diferença com a "esquerda" nesta matéria?) acha que transformar os deputados em vereadores federais é uma afirmação de independência e de alforria.
Os nobres parlamentares confirmam nossos piores prognósticos: o país recua no plano mental, cada vez mais...

Câmara aprova PEC do Orçamento impositivo

Aprovado por 378 votos favoráreis, projeto seguirá para apreciação dos senadores; governo Dilma queria alterações no texto, que ainda podem ser feitas no Senado


Daiene Cardoso e Ricardo Della Coletta
O Estado de S. Paulo, 13 de agosto de 2013
BRASÍLIA - O plenário Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira, 14, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que obriga a União a executar 1% das receitas correntes líquidas das emendas individuais dos parlamentares, a chamada PEC do Orçamento Impositivo. Bandeira de campanha de Henrique Eduardo Alves (PMDB/RN) à presidência da Casa, a PEC foi aprovada por 378 votos favoráveis. O projeto agora seguirá para apreciação dos senadores.
Durante o dia, o governo condicionou o apoio à proposta se pelo menos 50% das emendas fossem destinadas ao investimento e ao custeio da área da Saúde. No entanto, os deputados concluíram que seria possível destinar até um terço das emendas para o setor. No final do dia, os líderes concluíram que não poderiam fazer alterações no texto aprovado na Comissão Especial e dar espaço para um futuro questionamento judicial. Para um plenário cheio, Alves ressaltou que não havia omissão da Casa para com a Saúde, mas uma "preocupação regimental".
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) chegou a dizer que o governo não tem interesse em judicializar o assunto se metade das emendas forem realmente destinadas à Saúde. Segundo Ideli, os senadores já sinalizaram que vão encampar os 50% das emendas para o setor. O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), já anunciou hoje que a bancada pretende apoiar a alteração que deve ser feita no Senado.
Na votação, os deputados aprovaram um destaque do PMDB que suprimiu do texto o trecho que obrigava a liberação das emendas que estivessem dentro do Anexo de Metas de Prioridades da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
"É o maior ganho que essa Casa teve nos últimos 19 anos que aqui estou", disse o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), que classificou o projeto de "alforria do Poder Legislativo " em relação ao governo.

A creche marxista de uma universidade brasileira: sim, fica melhor trocando...

Um leitor do meu site, e deste blog, me escreve a respeito de uma postagem que fiz aqui tempos atrás a propósito da seleção de professor de "ciência política marxista, I e II", para uma das mais famosas universidades públicas do estado de São Paulo.
Sim, ciência marxista, pois tudo o que se exigia era um curso ex-cathedra em stalinismo teórico e prático.
Troquei mensagens com a direção da Faculdade, mas eles, obviamente, se refugiam na famosa (e estúpida, no caso) autonomia acadêmica, para deixar os companheiros contratarem um companheiro marxista desempregado, ou em busca de uma sinecura acadêmica.
Bem, o leitor em questão me escreve sobre um curso que estão oferecendo em outra instância acadêmica, e me permito transcrever sua mensagem, seguida de minha sugestão, ao final...
Paulo Roberto de Almeida

[Mensagem recebida:]

On 13/08/2013, at 23:13, Sxxxxxxxx Cxxxxx <xxxxxx@gmail.com> wrote:
Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Sxxxxxxxx Cxxxxx
Cidade: Xxxxxxxx
Estado: XX
Email: xxxxxx@gmail.com
Assunto: Sem assunto

Mensagem: Prezado Prof. Dr. Paulo R. de Almeida,
Tomei conhecimento dos escritos do senhor, por meio da leitura de um comentário sobre um concurso público de um dos departamentos da Universidade xxxxxxxxxx. O escrito motivou-me a não perder a esperança no futuro do Brasil, pois \"pelo menos um acadêmico brasileiro\" tem a lucidez suficiente para dar um “puxão de orelha (cuidado com a Lei da Palmada!)\" sobre as \"investidas marxistas e marcianas\", alertando-nos ainda \"de que esse pessoal não brinca em serviço nunca\"! Gostaria que o senhor tomasse conhecimento do convite abaixo. Se achar que não vale à pena, depois de ler, por favor, delete. Solicito a gentileza de não citar quem enviou por motivos óbvios.
Em tempo: peço \"licença\", por ter imprimido vários dos seus escritos, principalmente as falácias, os quais permitem uma visão atual refutando teorias e ideologias que não frutificaram em nenhum País sério do mundo! Atenciosamente, 
Sxxxxxxxx Cxxxxx

[Mensagem transmitida:]

De: cspconlutas-sp@cspconlutas.org.br [mailto:cspconlutas-sp@cspconlutas.org.br] 
Enviada em: segunda-feira, 12 de agosto de 2013 11:08
Assunto: Últimas Vagas - Curso de Economia Marxista - Introdução ao Capital de Marx. - 17 e 18 de AGOSTO

Às Entidades e Movimentos que participam da CSP Conlutas Central Sindical e Popular.
   Para contribuir com a formação política dos ativistas que participam das entidades e movimentos ligados a nossa central. Como parte do processo de formação estamos oferecendo o Curso de Economia MarxistaIntrodução ao Capital de Marx, que será ministrado pelo ILAESE – Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-Econômicos nos dias 17 e 18 de agosto (sábado e domingo) de 2013 no horário de 9 horas às 17 horas, no Sintrajud – Rua Antônio de Godoy, 88 – 15º andar, próximo a Igreja de Santa Efigênia – Metrô São Bento.
O curso é destinado para os sindicatos, oposições, movimento estudantil e popular, não haverá nenhum custo, os interessados deverão fazer sua inscrição até o dia 14 de agosto através do e-mail: cspconlutas-sp@cspconlutas.org.br , informando nome, RG, e-mail e telefone, as vagas são limitadas para 40 participantes.

Os companheiros (as) que precisarem de creche, devem informar na inscrição para o curso, nome da criança e idade. A creche será destinada para crianças com até 12 anos de idade.

Conteúdo: 
1. Mercadoria  
a. Valor de uso, valor de troca; trabalho concreto e trabalho abstrato
2. Dinheiro
3. Capital 
4. Mais – valia
a. Mais - valia absoluta e mais – valia relativa 
5. Processo de acumulação do capital 
a. Exército industrial de reserva
6. Queda tendencial da taxa de lucro
7. Teoria das crises.

Monitor
Fulano de Tal, da Coordenação Nacional da ONG companheira
Mestre em Sociologia pela Unicamp e professor do XXXX. Autor dos livros Marx e a (Ops) (Editora "Um treco" Popular, 2005), organizador dos livros Introdução à Teoria Econômica Marxista (ONG companheira/Editora Stalinista, 2006) e Marx sobre as Crises Econômicas no Capitalismo (Editora Stalinista, 2009) e contribuiu com a Enciclopédia Latinoamericana (Boitempo, 2006).

CSP Conlutas São Paulo (11) 3107-3303

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Minha sugestão (PRA):
Sxxxxxxx,
Grato pelo contato. Sua mensagem indica que nem tudo está perdido na academia brasileira, mas o quadro é realmente desolador, pelo que vejo no anúncio.
Ele não deixa de ser irônico. 
Eu proporia uma troca: aulas de marxismo para as crianças até 12 anos, e creche para os adultos. 
Acho que estaria mais conforme...
O abraço do
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Paulo Roberto de Almeida 
www.pralmeida.org
diplomatizzando.blogspot.com



terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um pais atrasado, mais mentalmente, do que materialmente. Qual seria?

Augusto Nunes, 13/08/2012

Em sua coluna na última página de VEJA, o jornalista Roberto Pompeu resumiu no trecho reproduzido abaixo o julgamento do mensalão:
Entre a glória e a desmoralização, o Supremo Tribunal Federal equilibra-se num estreito fio. Da denúncia do Ministério Público, em abril de 2006, à sua aceitação pelo relator do processo do mensalão, em agosto de 2007, transcorreram dezesseis meses. Entre a aceitação da denúncia e o início do julgamento, em agosto de 2012, foram cinco anos. Mais quatro meses e, em dezembro de 2012, o julgamento chega ao fim, com 25 condenados. Alívio. Enfim, conseguimos. Não, não conseguimos. Falta a publicação do acórdão. Como ninguém é de ferro, é preciso calma para que cada ministro reveja o texto de seus votos, medite, pondere. Mais quatro meses se escoam.
Em abril, aleluia, o acórdão é publicado. Abre-se o prazo para os réus apresentarem seus recursos. O.k., é rapidinho: só dez dias. Agora, é só marcar o julgamento. Passa um mês, passam dois, passam três, e só no último dia de julho o presidente do Supremo marca para 14 de agosto, esta quarta-feira, o início da nova fase. Os réus já não foram condenados? Foram. As penas já não lhes foram atribuídas? Foram. O que pode mudar, então, com os embargos declaratórios e, quem sabe, se forem aceitos, mesmo com os que atendem pelo assustador nome de infringentes? É o que a plateia gostaria de saber, mas mesmo quem está no palco não sabe responder. Vá explicar a um estrangeiro que um processo se arrasta por seis anos, enfim chega ao fim, mas o fim não é o fim, é um fim que prenuncia um recomeço, e o recomeço sabe-se lá quando terá seu fim. Já nós brasileiros estamos acostumados. É absurdo, claro, mas não é chocante. O Supremo acompanha o passo habitual do país: nada é urgente.
Na abertura do texto, Pompeu de Toledo constata que “o frenesi e o sentido de urgência trazidos pelas passeatas de junho parecem se ter dissipado ao morno solzinho de agosto”. Iniciado o que costuma ser o mais cruel dos meses na política brasileira, exemplifica, “a presidente Dilma proclama seu respeito ao ET de Varginha, e a única questão que mobiliza o Congresso é o projeto de tornar obrigatório o pagamento de emendas apostas por parlamentares ao Orçamento”. E o comportamento da maioria dos ministros ratifica a afirmação do colunista: o tribunal incumbido de julgar o maior escândalo político-policial desde o Descobrimento segue flertando simultaneamente com a glória e a desmoralização.
Na semana passada, o STF decidiu por unanimidade que o senador Ivo Cassol, do PP de Rondônia, merece 4 anos, 8 meses e 26 dias de cadeia pelas patifarias em que se meteu quando foi prefeito de Rolim de Moura. Vitória da luz: pela primeira vez, um inquilino da Casa do Espanto foi condenado à prisão. Mas também ficou resolvido por 6 votos a 4 que ─ ao contrário do que se decidiu no julgamento do mensalão (ou no início da pausa que precederia  outro recomeço) ─ não compete ao STF, e sim ao Congresso, deliberar sobre cassação de mandatos. Vitória da treva: foi oficializado o nascimento do parlamentar presidiário.
O mais recente assombro da fauna tropical pode ser visto há quase dois meses no presídio da Papuda, em Brasília. Chama-se Natan Donadon e começou a cumprir em junho a pena de 13 anos, 4 meses e 10 dias de gaiola, em regime fechado, que lhe foi imposta pelo STF. Mas ainda é deputado eleito pelo PMDB de Rondônia. Nesta segunda-feira, Sérgio Zveiter (PSD-RJ), relator do caso na Comissão de Constituição e Justiça, concluiu o parecer favorável à cassação de Donadon. Até porque está impedido fisicamente de participar das sessões no Congresso, o prisioneiro não demorará a perder o direito de exigir dos vizinhos de cela o tratamento de Vossa Excelência. Nem por isso estará extinta a subespécie que Ivo Cassol vai representar na Casa do Espanto se for absolvido pelos parceiros.
O senador não ficará só. Mesmo depois de oficializada a perda do direito de ir e vir, sobram motivos aos mensaleiros João Paulo Cunha, José Genoino, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry para acreditar que continuarão indo e vindo numa Câmara dos Deputados que não pune sequer serial killer de filme americano. Caso sejam forçados a dormir num catre, serão consolados pelo dia a dia de pai-da-pátria. Os parlamentares presidiários ganharão, por exemplo, os maiores salários do sistema carcerário. E trafegarão entre a Praça dos Três Poderes e o presídio a bordo de carros oficiais. Fora o resto.
Nesta quarta-feira, o Supremo começará a examinar os chamados embargos declaratórios. Sem correria. Assim que possível, será a vez dos embargos infringentes. Sempre com a ausência de pressa de quem julga uma pendência entre vizinhos na Suécia, os ministros decidirão se aceitam ou não as manobras protelatórias e as trucagens de bacharel remunerado em dólares. Os quadrilheiros confiam na generosidade dos novos ministros. Se a votação confirmar o otimismo, se alguns réus forem julgados de novo, sobretudo se vier a redução de penas, o Brasil será agredido pela sensação de que a era da impunidade não tem prazo para terminar.

A menos que os manifestantes de junho resolvam estender ao Judiciário, nos atos de protesto programados para o Sete de Setembro, o sentido de urgência que, há poucas semanas, induziu o Executivo e o Legislativo a redescobrirem a cautela revogada pela arrogância. A revolta da rua mostrou-se capaz de fazer qualquer deus de araque criar juízo. Não custa lembrar que sob a toga de ministro do Supremo existe um homem ─ nada além de um homem obrigado a deixar claro que ninguém está acima da lei.
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Da coluna do jornalista Carlos Brickmann, 13/08/2013:


É mas não é. Ou não.

Um grande político baiano, Octavio Mangabeira, cunhou uma frase fantástica: "Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente". Poderia ser mais ambicioso: se o absurdo for realmente absurdo, no Brasil há precedente. Pois não é que o Supremo Tribunal Federal inicia o estudo, hoje, da possibilidade de transformar a última instância em penúltima? Oito meses depois de determinar a sentença dos réus condenados no processo do Mensalão, o Supremo discute se pode ou deve rever a decisão da qual não cabe recurso - mas, se o recurso se chamar embargo, recurso talvez possa haver. Enfim, seja qual for o nome do que está sendo debatido, onze dos 25 condenados podem ter a sentença reduzida. E penas de prisão em regime fechado serão, no caso, modificadas para regime semiaberto.

E assim terminará o caso? Não: o deputado Nathan Donadon foi condenado à prisão em regime semiaberto e já está cumprindo pena. Mas, como o Supremo decidiu que quem pode cassar mandatos é o Congresso, enquanto o Congresso não tomar sua decisão o nobre parlamentar pode exercer a função de deputado durante o dia e virar presidiário à noite, dormindo na cadeia. Dos onze condenados pelo Mensalão cuja sentença pode ser reduzida - ou não - José Genoíno e João Paulo Cunha são deputados. E talvez consigam trabalhar em meio período.


A FEB, os pracinhas e o legado de cidadania dos "pracinhas" - Pesquisa Fapesp

Em busca da “guerra boa” dos pracinhas

Historiadores advertem que a FEB deixou legado de cidadania
CARLOS HAAG
Pesquisa Fapesp, Edição 210 - Agosto de 2013

© ACERVO ICONOGRAPHIA
A FEB parte para a Itália e soldados se despedem de suas famílias, em foto de abril de 1944
A FEB parte para a Itália e soldados se despedem de suas famílias, em foto de abril de 1944
Há exatos 70 anos, no dia 13 de agosto de 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB). As tropas saíram para o combate no dia 2 de julho de 1944. Pouco antes de o navio-transporte General Mann partir, com 5.075 soldados a bordo, Getúlio Vargas despediu-se dos “pracinhas”: “Soldados da Força Expedicionária. O chefe do governo veio trazer-vos uma palavra de despedida, em nome de toda a nação. O destino vos escolheu para essa missão histórica de fazer tremular nos campos de luta o pavilhão auriverde. É com emoção que aqui vos deixo os meus votos de pleno êxito. Não é um adeus, mas um ‘até breve’, quando ouvireis a palavra da pátria agradecida”.
No retorno, em 1945, a promessa não foi cumprida. “A gestão da desmobilização dos pracinhas foi politicamente conservadora a fim de evitar a participação dos expedicionários nos conflitos de poder do Estado Novo com um progressivo esquecimento social dos expedicionários. Os veteranos foram abandonados pelas autoridades civis e militares e a legislação de benefícios foi apenas praticamente ignorada e houve uma apropriação crescente dos benefícios destinados apenas aos combatentes por não expedicionários”, explica o historiador Francisco César Alves Ferraz, da Universidade Estadual de Londrina e pesquisador visitante da University of Tennessee. Ferraz trabalhou a reintegração social dos pracinhas em A guerra que não acabou (Editora da Universidade Estadual de Londrina, 2012) e, mais recentemente, nas pesquisas A preparação da reintegração social dos combatentes estadunidenses da Segunda Guerra Mundial (1942-1946) e A reintegração social dos veteranos da Segunda Guerra Mundial: estudo comparativo dos ex-combatentes do Brasil e dos Estados Unidos (1945-1965).
Segundo o pesquisador, diferentemente dos ex-combatentes da Europa e da América do Norte, que fizeram de suas expressões públicas movimentos sociais organizados (o que tornou possível a conquista de benefícios e de reconhecimento social), os veteranos, também pelo seu pequeno número, tiveram pouco sucesso em chamar a atenção da sociedade e do aparelho estatal para seus problemas. Ferraz, que analisou a diferença da reintegração dos ex-combatentes americanos e brasileiros, lembra que, já em 1942, foram encomendados estudos, realizados por diversos órgãos do governo dos EUA, Forças Armadas, comissões do Congresso e iniciativa privada. “Um dos resultados mais expressivos foi o conjunto de leis chamado de G.I. Bill of Rights, que concedia estudo técnico e superior gratuito aos veteranos, transformava o governo federal em fiador de empréstimos bancários e concedia auxílio-desemprego e assistência médica gratuita para os que estiveram em serviço ativo em guerra por pelo menos 90 dias.
Por isso o Departamento de Guerra americano enviou, em 6 de abril de 1945, correspondência ao general comandante das forças do Exército dos EUA no Atlântico Sul, sob as quais os brasileiros estavam subordinados, alertando para a inconveniência da desmobilização imediata da FEB quando do seu retorno ao Brasil. “Uma vez que é a única unidade do Exército brasileiro, inteiramente treinada pelos EUA, considera-se que tem grande valor como um núcleo para o treinamento de outros elementos do Exército brasileiro e como uma contribuição potencialmente valiosa do Brasil à defesa hemisférica”, observa o documento. O aviso já refletia os rumores, iniciados a partir de março de 1945, de que as autoridades militares brasileiras pretendiam desmobilizar sumariamente a FEB, o que aconteceu efetivamente.
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Tomada de Monte Castelo pelo Regimento Sampaio, em imagem de fevereiro de 1945
Tomada de Monte Castelo pelo Regimento Sampaio, em imagem de fevereiro de 1945
“O Exército fez o possível para marginalizar e desconsiderar quem esteve na linha de frente. Havia enorme preconceito e inveja daqueles que estiveram com a FEB. Toda a experiência adquirida foi desprezada, contrariando o conselho dos EUA para que se vissem os expedicionários como núcleo de um esforço de modernização e renovação do nosso Exército”, analisa o historiador Dennison de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que trabalha o tema, entre outros, na pesquisa atual Reintegração social do ex-combatente no Brasil: o caso da Legião Paranaense do Expedicionário (1945-1980). “Na ânsia de se livrarem da FEB, tida como politicamente não confiável pelo Estado e pelos militares, os pracinhas foram rapidamente desmobilizados sem que tivessem se submetido a exames médicos, que mais tarde seriam fundamentais para que obtivessem pensões e auxílios no caso de doenças ou ferimentos adquiridos no front, lembra o professor. Havia temores políticos: a ameaça que representava para o Exército de Caxias esse novo tipo de força militar, mais profissional, liberal e democrático; o medo de que os oficiais febianos pudessem se tornar o fiel da balança político-eleitoral e fossem cooptados pelos comunistas; acima de tudo, temia-se que os expedicionários, entre os quais Vargas tinha grande popularidade, pudessem apoiá-lo e empolgar a população para soluções diferentes daquelas do pacto conservador das elites políticas para a sucessão do antigo líder do Estado Novo.
O Comando Brasileiro, no Aviso Reservado de 11 de junho, emitido pelo Ministério da Guerra e assinado pelo ministro Dutra, observava que: “Não obstante reconhecer o interesse do público, fica proibido, por motivo de interesse militar, aos oficiais e praças da FEB fazer declarações ou conceder entrevistas sem autorização do Ministério da Guerra”. Para Ferraz, a proibição de falar sobre o histórico das ações é um ato de censura, não de segurança. O objetivo parece ter sido “quebrar o impacto” da chegada da FEB, evitar as declarações que pudessem embaraçar a instituição militar ou envolvê-la nas questões políticas que fermentavam naquele momento.
Isso, segundo ele, fica mais evidente quando se compara com as instruções emitidas ao Grupo de Caça da FAB, enviadas pelo Comando Americano: “Quando você chegar à sua cidade natal, provavelmente a imprensa local desejará entrevistá-lo. Você terá liberdade de falar de suas atividades aos jornalistas, mas não deve especular sobre o futuro de nossas unidades. A guerra continua no Oriente Próximo. Estamos interessados, porém, que a sua história seja contada várias vezes, nos EUA e no Brasil. Boa sorte no futuro”, assinado Charles Myers, brigadeiro do ar.
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A luta que levou à vitória de Monte Castelo
A luta que levou à vitória de Monte Castelo
A FEB não era bem-vinda também por boa parte dos membros do Exército, os militares de carreira que conseguiram, de alguma forma, escapar da ida à guerra. “O envio de expedicionários, os cidadãos-soldados, era motivo de piada nos quartéis. Quando eles voltaram com prestígio popular, muitos sentiram que poderiam ‘ficar para trás’ em suas carreiras e se iniciou uma conspiração surda da maioria que temia ser ultrapassada em suas promoções e cargos”, observa Dennison Oliveira.
Ferraz, na comparação entre americanos e brasileiros, mostra como um dos pontos importantes na reintegração de veteranos dos dois países foi como lidar com o passado, que trazia justamente essas questões políticas associadas aos ex-combatentes. No caso nacional, a última guerra externa em que houve mobilização de jovens que não eram militares regulares foi a Guerra da Tríplice Aliança (1856-1870), cujo retorno à sociedade foi longe do satisfatório, com a maioria dos veteranos indo parar no Asilo de Inválidos da Pátria. “Uma consequência não planejada pelo Império foi o crescimento da participação ativa de oficiais, inclusive de baixa patente, na política do país. O legado disso foi mais o receio das autoridades pelo protagonismo político dos combatentes do que o reconhecimento dos deveres da sociedade e do Estado com os veteranos de guerra, nota Ferraz. Nos EUA, as mobilizações da Guerra Civil e, em especial, na Primeira Guerra Mundial”, quando os veteranos tiveram suas questões potencializadas com a Depressão e explodiram distúrbios nas ruas americanas, ensinaram as autoridades como fazer a reintegração de seus jovens.
“Eles viram que o perfil dos combatentes recrutados influi diretamente na reintegração social: as chances de sucesso na reentrada da vida profissional e da cidadania aumentam com o maior grau de formação escolar e qualificações profissionais. E também quanto mais igualitário e socialmente distribuído for o recrutamento, melhores as condições de uma recepção positiva da sociedade”, explica Ferraz. No caso da FEB, lembra o pesquisador, todo um arsenal de “jeitinhos” foi utilizado para tirar da unidade filhos de classes mais abastadas. Mesmo assim, apesar da maioria pobre e de baixa escolaridade, a força brasileira exibiu uma amostragem melhor que a média do país.
© ACERVO ICONOGRAPHIA
Desfile de pracinhas na Itália, em 1945
Desfile de pracinhas na Itália, em 1945
“Sargentos, cabos e soldados eram majoritariamente de origem urbana, alfabetizados, e apresentavam robustez e resistência física, a ponto de a FEB precisar confeccionar uniformes maiores que os do fardamento normal do Exército”, observa o historiador Cesar Campiani Maximiano, pesquisador do Núcleo de Estudos de Política, História e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), autor, entre outros, de Barbudos, sujos e fatigados: soldados brasileiros na Segunda Guerra (Grua, 2010). “Do total de praças, 80,7% eram originários das regiões Sul e Sudeste do país. Os convocados oriundos do Nordeste, escolhidos por suas ótimas condições de saúde e grau de instrução, eram, na maioria, estudantes que serviram como cabos e sargentos, incorporados para suprir a deficiência de graduados experientes”, nota o autor.
Nos EUA, dos primeiros 3 milhões convocados, 47% estavam abaixo dos padrões; entre 1942 e 1943, dos 15 milhões de examinados, 32,4% foram rejeitados por causas físicas ou psiquiátricas e um terço considerado “inaptos para aproveitamento em qualquer grau”. Os americanos queriam apenas o melhor e adotaram critérios rigorosos para isso. A diferença mais gritante, porém, é que não houve distinção de classe no recrutamento para a guerra e um rigoroso controle no sistema de insenções, ao lado de campanha de mobilização da opinião pública, fez com que se recrutassem até o final da guerra mais de 16 milhões de soldados. “Praticamente cada ramo familiar americano tinha um combatente entre os seus, o que ajudou na compreensão dos deveres da sociedade para com aqueles que lutaram”, avalia Ferraz.
No Brasil, apesar das festas, os expedicionários foram rapidamente desmobilizados. “A razão foi política: tanto as autoridades do Estado Novo em decadência quanto as forças políticas de oposição temiam o pronunciamento político dos expedicionários, no que poderia ser a repetição do envolvimento político dos militares no século anterior após a Guerra da Tríplice Aliança”, fala Ferraz. A pressa foi tão grande em acabar com a FEB que os pracinhas já saíram da Itália com seus certificados de baixa e quando chegaram ao Brasil já não estavam mais sob a autoridade do comandante da FEB, mas do comandante militar do então Distrito Federal, não exatamente simpatizante dos febianos.
“A partir de então estavam à própria sorte. Traumas psicológicos de todo o tipo e rotina da luta de sobrevivência no mercado de trabalho dificultaram o retorno dos milhares de brasileiros que estiveram nos campos de batalha. As primeiras leis de amparo só foram aprovadas em 1947”, afirma Dennison de Oliveira. A maioria delas não foi sequer cumprida. Algumas, por sua vez, caíram mal entre os ex-combatentes, como o decreto-lei assinado por Vargas em julho de 1945 que concedia anistia aos militares da FEB, cujo efeito prático foi anistiar aqueles que desertaram no Brasil ao período anterior à campanha militar. Para Oliveira, o ápice foi a chamada Lei da Praia, assinada em 1949 por Dutra. “De acordo com ela, qualquer pessoa enviada à ‘zona de guerra’ tinha direito aos auxílios e pensões. A lei incluía vias navegáveis e cidades no litoral brasileiro que se encontravam nessa ‘zona de guerra’. Assim, seja o soldado que corria perigo e lutava no frio dos Apeninos, seja o bancário que fora transferido para uma cidade litorânea, todos recebiam o mesmo”, diz o historiador.
“Claro que nos EUA também houve dificuldades de reintegração, mas houve um esforço da sociedade em receber os milhões de retornados da guerra. Os seus combatentes seriam conhecidos como a ‘boa geração’, aquela que garantiu a vitória contra a barbárie. Para os veteranos brasileiros, esse reconhecimento não aconteceu”, observa Ferraz. Segundo o historiador, a busca por apoio institucional às necessidades dos veteranos levou-os à aproximação com as Forças Armadas e, logo, com suas práticas políticas, inclusive o golpe de 1964. Transformados em símbolos e apoiadores do regime militar, viraram alvo dos críticos da ditadura do pós-64. “Ao invés de colocar em questão essa identidade entre Exército, governo militar e FEB, esses críticos preferiram investir contra a memória expedicionária, o que só reforçou os laços entre o Exército e os veteranos”, observa Ferraz.
Não se pode negar, é claro, que muitos pracinhas apoiaram o regime militar, até porque na primeira geração dos golpistas tinha alguns febianos, como o primeiro presidente do regime militar, Castello Branco, cuja ascensão ao poder deu a esperança aos veteranos de que seriam “vingados”. Mas as memórias desses combatentes revela outras histórias, como verificou o historiador e brasilianista israelense radicado nos EUA Uri Rosenheck, da Emory University, que pesquisou a FEB em Fighting for home abroad: remembrance and oblivion of World War II in Brazil. Entre os seus objetos de estudo estão as memórias dos ex-combatentes e os monumentos que celebram os expedicionários em “espaços cívicos” das cidades.
© REPRODUÇÃO / HISTÓRIA DO BRASIL NAÇÃO:1808-2010
As tropas da FEB são recebidas na avenida São João em 1945
As tropas da FEB são recebidas na avenida São João em 1945
“No caso dos pracinhas, as memórias são apenas lembranças do passado, mas, por meio de um olhar analítico, elas se revelam como instrumentos de crítica política contemporânea. No caso brasileiro, ler as memórias de guerra é ver como esses homens desafiavam a ditadura militar e condenavam a política armada”, explica Rosenheck, que passou em revista as 150 memórias escritas sobre a FEB. Segundo ele, apesar de publicamente defenderem as suas lideranças, os cidadãos-soldados criticam os militares.
“A maioria das observações tem a ver com a ineficiência do Exército brasileiro, comparado com o similar americano, e o contraste entre os oficiais regulares e reservistas. Critica-se a falta de logística, como eles sofriam no frio por falta de uniformes apropriados, como tiveram que pagar por suas passagens de trem enquanto esperavam para embarcar para o Rio e mesmo a carência de identificações, as dog-tags, que não eram dadas a eles”, conta o brasilianista. As críticas mais ácidas vão para os oficiais do Exército regular, ou seja, o Exército de Caxias em oposição aos voluntários combatentes da FEB. “Eles lembram como esses primeiros tinham percepções antiquadas sobre as relações entre pracinhas e oficiais, sobre a ética e a moral do corpo de oficiais e sobre o profissionalismo em combate real.” Alguns recordam que foram roubados por seus superiores e que decisões eram arbitrárias e baseadas em que tipo de presente poderiam dar para seus oficiais.
O mesmo acontecia quando o assunto era racismo. “Em muitas memórias, os soldados se dizem horrorizados com o racismo dos militares americanos, mas em muitos casos nessas memórias se pegam ‘lapsos’ em que se percebe o racismo dos próprios pracinhas. Mas o importante é se perceber que eles preferem atribuir casos de preconceito a ‘ordens de superiores’. Assim, tudo fica como sendo ‘coisa de americano’ ou ‘dos superiores’, separando ‘os soldados’, ‘a FEB’ e por extensão ‘os brasileiros’ dos outros responsáveis por tais atos horríveis, seja pessoas domésticas ou estrangeiras.” Para Rosenheck, as acusações contra comandantes como racistas e incompetentes podem ser entendidas como um ataque implícito sobre as Forças Armadas e seu papel na sociedade. “A crítica não precisa ser explícita para ser efetiva. O fato de que veteranos da maior força de combate militar desde a Guerra do Paraguai critiquem o Exército dá a suas observações credibilidade e força. Tudo está centrado nos militares, não no governo político, na sociedade civil, o que só reforça essa leitura.”
Rosenheck também estudou os monumentos dedicados à FEB, com conclusões semelhantes. “Apesar de dizerem que os pracinhas foram esquecidos, há 192 monumentos dedicados à FEB, com 451 mortos, ou seja, quase três monumentos para cada sete mortos”, conta. São construções que não celebram mortos, mas celebram os vivos, os que voltaram, uma visão pouco militarista. As Forças Armadas estão quase ausentes nos textos que acompanham esses monumentos, com escritos que destacam a democracia, a liberdade, o civismo. Dos 192, 120 foram construídos entre 1945 e 1946, e 32 antes da instalação da ditadura militar. São poucos os que mostram soldados (a maioria é de obeliscos) e a representação visual deles não é de combate. “A narrativa não comunica a importância do Exército ou seu papel na construção da nação, mas os valores de uma sociedade civil”, diz o historiador. “Temos que reconhecer que as ligações da FEB com a história militar são importantes, mas há outras narrativas. É preciso criar ligações entre a história da FEB e outros aspectos da história e sociedade brasileira como um todo”, avisa.

Interesse ampliado pela diplomacia no Brasil - Revista Fapesp

Gosto pela diplomacia

Cresce o interesse de brasileiros pelos rumos da política externa
CARLOS HAAG
Pesquisa Fapesp, Edição 210 - Agosto de 2013

© CATARINA BESSELL
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Mesmo com um papa argentino, os brasileiros acreditam que o país está muito bem colocado no plano internacional e nem precisa do trono de São Pedro para se projetar: 85% afirmam que o Brasil conseguiu firmar uma imagem de independência perante o mundo. Aliás, o fato de o pontífice vir de uma nação vizinha impressiona pouco, pois menos de 20% dos brasileiros se consideram latino-americanos ou sul-americanos. Além disso, pode-se admirar o lado espiritual, mas cerca de 85% dos brasileiros se animam mesmo é com os resultados econômicos da globalização e com os efeitos da abertura comercial.
Esses são resultados da pesquisa Brasil, as Américas e o mundo, coordenada pela professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, com uma equipe do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IR-USP) composta também pelos professores Janina Onuki e Leandro Piquet Carneiro, e que contou com apoio da FAPESP. Segundo o estudo, cada vez mais cresce o interesse nacional pela política externa, na contramão de consensos passados. “Não se pode mais falar de uma suposta indiferença das lideranças e da população e, apesar do Ministério das Relações Exteriores continuar ocupando uma posição central no comando da política externa do Brasil, é um engano continuar a pensar que o Itamaraty seja um caso bem-sucedido de insulamento burocrático”, explica a pesquisadora. O estudo é parte do projeto colaborativo Las Américas y el mundo, capitaneado por pesquisadores do Centro de Investigación y Docencia Económicos (Cide – México) e reúne vários países latino-americanos para analisar a ligação entre a opinião pública e temas centrais de política externa e relações internacionais.
“Esse estudo é uma resposta às necessidades crescentes de informação numa área estratégica para o desenvolvimento e estabilidade dos países da região que em geral acabam dependendo de dados pouco confiáveis e dispersos. Num contexto democrático, os tomadores de decisões precisam contar com as informações sobre o que pensam os cidadãos para desenhar suas políticas externas”, afirma Guadalupe González González, diretora-geral do projeto do Cide. “O Brasil, no novo cenário mundial, aumentou seu peso dentro e fora da região, se posicionando como o agente de ligação latino-americano com o grupo dos Brics de economias emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), e o principal promotor da cooperação Sul-Sul e da integração sul-americana”, analisa a pesquisadora, para quem Brasil e México se configuram como os líderes potenciais da região latino-americana.
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Nesse novo quadro, para Maria Hermínia, a política estatal para pensar o país e o mundo não pode mais depender apenas da capacidade e disciplina duma elite burocrática como a do Itamaraty, mas também do consenso sobre o mundo e do lugar do país nele por parte de uma comunidade mais envolvida na discussão política. Apesar do crescimento do número de interessados em discussões de questões internacionais, que os pesquisadores denominam de público interessado e informado (PII), o papel ativo na contribuição de ideias cabe à chamada comunidade de política externa (CPE): há um grande diferencial entre o interesse dos seus membros (91%) mesmo se comparado com o PII (22%).
No público “comum”, os quesitos “pouco” e “nenhum” interesse chegam a, respectivamente, 25% e 20%. Em boa parte isso decorre do pouco contato do público comum com o exterior: 88% nunca saíram do país. No caso da amostra brasileira, foram entrevistados 200 líderes políticos e sociais e uma amostra aleatória de 2.400 pessoas representativa da população urbana brasileira entre o final de 2010 e 2011. A equipe pretende repetir a pesquisa em 2014 para comparar os resultados.
“Ninguém havia feito uma pesquisa com o público até então. A novidade é revelar que não se pode mais falar numa política externa insulada no MRE ou na Presidência. Embora não tenham impacto eleitoral, não significa que as relações internacionais não sejam importantes para as pessoas e tema de discussões”, diz Maria Hermínia. Mas a pesquisadora avisa que os resultados mostram percepções e não necessariamente verdades. “Basta ver o entusiasmo exagerado com o papel do Brasil no mundo ou a visão de que países desenvolvidos não vão ter importância no futuro, uma aposta algo exagerada nos emergentes”, fala.
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Prova disso é a comparação entre os dados obtidos nessa pesquisa recente com os conseguidos pelo cientista político Amaury de Souza (falecido em 2012), nas duas versões da pesquisa O Brasil na região e no mundo: percepções da comunidade brasileira de política externa que fez para o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) nos anos de 2001 e 2008.
Para se ter ideia de como a percepção da CPE cresceu, em 2001, 74% acreditavam no crescimento do papel internacional do Brasil em 10 anos; em 2008, o percentual passou para 85%; e, agora, em 2010, chegou aos 97% de visões otimistas. Esse otimismo se estende também ao cenário internacional como um todo. “O otimismo cresce com a informação e o interesse pelas questões mundiais. Por isso a CPE mostra altas porcentagens, 85%, de satisfação com a capacidade do Brasil de se afirmar autonomamente na cena internacional”, nota a autora. Já entre o público dos desinteressados e desinformados, essa satisfação cai para 37%.
Outro dado que chamou a atenção da pesquisadora: menos de 15% dos entrevistados da comunidade e do público informado acreditam que os Estados Unidos serão mais importantes no futuro, enquanto a esmagadora maioria afirma que o futuro pertenceria à China, ao Brasil e à Índia. “Claro que já se pressentia um mundo onde o poder estivesse mais descentralizado, mas eu esperava ao menos da CPE uma visão mais matizada”, analisa Maria Hermínia.
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Outro fato notável para a pesquisadora é a existência de um consenso entre a comunidade de política externa e o público interessado e informado. Na pesquisa de Amaury de Souza, nos anos de 2001 e 2008, os Estados Unidos ainda eram vistos por 49% dos entrevistados da comunidade de política externa como um ator global respeitável na década seguinte, percentual que caiu para 15% em 2008 e permanece o mesmo em 2010. Outros países de peso como Alemanha, Rússia e Japão também perderam força como nações importantes para o Brasil, segundo a percepção da comunidade.
A queda de 30% no caso americano, a despeito das crises financeiras recentes, observa Maria Hermínia, revela uma percepção pouco realista das relações internacionais e do papel que os EUA e seus aliados ocidentais ainda manterão por muito tempo. Além disso, os EUA despertam atitudes e sentimentos complexos de admiração e desconfiança entre todos os grupos de entrevistados e, ainda que a admiração pelos americanos seja mais elevada entre a CPE do que entre os setores do público, existe uma parcela importante de membros da comunidade de política externa que não gosta deles.
“Parece existir um antiamericanismo entranhado nos brasileiros e os dados mostram que ele é inversamente proporcional ao interesse, conhecimento e envolvimento em questões internacionais”, nota Maria Hermínia. Enquanto o país se esforça em se aproximar dos EUA, a comunidade de política externa, na contramão do esperado, ainda mantém ressalvas. Efetivamente o insulamento da política externa vem caindo.“Desde a década de 1990 há indícios importantes na alteração desse padrão tradicional e pressões crescentes para que o processo se torne mais permeável às articulações, interesses e demandas de uma diversidade de outros atores”, observa o cientista político Carlos Aurélio Pimenta de Faria, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) e autor do artigo “Opinião pública e política externa: insulamento, politização e reforma na produção da política exterior do Brasil” (2008).
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Para o pesquisador, a falta persistente de preocupação do Itamaraty com a opinião pública não se liga apenas ao caráter público da diplomacia nacional, mas a uma demanda, até há pouco, muito baixa da sociedade brasileira por maior prestação de contas dos agentes estatais. “Era quase uma delegação da produção da política externa ao Itamaraty que, com a globalização, que fazia as relações internacionais impactarem diretamente na sociedade, estaria se convertendo em abdicação”, nota.
Mas, passados os primeiros impactos, o Brasil agora é amplamente favorável à globalização, com a CPE (84%) e o PII (82,1%) muito mais otimistas do que a parcela do público pouco interessada e informada sobre política externa (60%). O mesmo vale para a atração de investimentos como sendo um benefício para o país. A única ressalva é sobre a questão do meio ambiente: 42,2% da CPE considera o livre-comércio bom para o meio ambiente, algo superior aos 58,9% do PII e os 50,3% do público desinformado. “Em função das políticas protecionistas, o país viveu fechado durante muito tempo. Nos anos 1990 isso mudou, abrimos para o mundo e não há volta”, analisa Maria Hermínia. Segundo ela, o ideal que o Brasil está se integrando ao mundo tem apoio quase integral dos brasileiros pesquisados, para além dos discursos que são contrários à globalização.
“Essa atitude afirmativa diante do mundo vem do governo Fernando Henrique e foi reafirmada no governo Lula, que deu corda ao otimismo”, observa a pesquisadora. A visão para fora parece não incluir a vizinhança latino-americana e a identidade regional é ambivalente. “A autoidentificação dos brasileiros como latino-americanos sempre foi tênue. A percepção de pertencer a uma nação diferente da dos seus vizinhos, por causa da experiência colonial distinta, língua e trajetória particular como país independente, sempre caracterizou o pensamento das elites e do público de massas”, fala Maria Hermína.
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Recentemente, a política externa, lembra a professora, definiu a América do Sul, e não a América Latina, como espaço para o exercício da liderança política brasileira. Segundo a pesquisa, apenas um quarto da comunidade de política externa se reconhece como latino-americana, apenas 18,5% como sul-americana e é irrisória a porcentagem daqueles para os quais serem do Mercosul é uma identidade importante (1,5%). A grande maioria (90%) se vê como brasileiros.
Isso se reflete, no caso do comércio, diante de várias estratégias de inserção na economia mundial, a CPE privilegia a atuação multilateral na Organização Mundial do Comércio (OMC) e, secundariamente, a realização de acordos comerciais bilaterais, em detrimento de estratégias envolvendo coordenação regional, no âmbito do Mercosul ou da vizinhança sul-americana. Quando questionados em que região o Brasil deve prestar mais atenção no mundo, pouco menos da metade da CPE (48%) e uma parcela ainda mais reduzida do PPI (32,4%) respondem América Latina.
Sobre o papel do Brasil na América do Sul há uma divisão precisa na CPE: metade afirma que o país deveria liderar sozinho e outra metade que deveria compartilhar a responsabilidade com os vizinhos. A maioria (55,1%) do PII pensa que o Brasil deveria liderar. Embora não vejam problemas futuros com os vizinhos, os brasileiros da PII apontam Venezuela (21%) e Colômbia (24,6%) como países como fonte potencial de conflitos.
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A integração regional, tema importante da agenda internacional, é apoiada por 71,5% da CPE, que quer que ela seja feita de forma aprofundada. Mas quando se vai a fundo nisso os pesquisadores verificaram que o comércio, investimentos e infraestrutura são as dimensões que têm apoio expressivo. Seria até esse ponto que deveriam ir os esforços para aprofundar a integração. “O discurso era de que, justamente por causa dessa distância, o Mercosul era importante para construir uma plataforma de cooperação. Mas os resultados mostram que a região, para o Brasil, é mais uma plataforma para falar para o mundo do que um espaço para manter diálogos ou exercer protagonismo. Essa visão é muito diferente da que se encontrou nas pesquisas feitas em outros países.”
Efetivamente, nota Guadalupe González, para a Colômbia, Equador e México o mundo se limitaria quase exclusivamente ao continente onde concentram suas aspirações internacionais e a sua participação internacional. Apenas Brasil e Peru têm uma visão mais global de seus interesses que abarcam outras regiões do mundo, em especial a Ásia, vista como novo motor da economia mundial.
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Por fim, a surpresa maior da pesquisa feita pelo IR-USP é que o novo interesse vem na forma de um consenso entre especialistas e o público informado. “Assim, apesar de os analistas terem chamado a atenção para uma real ou suposta ‘partidarização’ recente da política externa e, em consequência, para o surgimento de divergências que indicariam a perda de seu caráter de política de Estado, a verdade é que o consenso no interior da CPE e do PII é muito extenso, como é extensa e significativa a convergência entre os dois grupos”, fala a professora.
Naturalmente, observa Maria Hermínia, existem temas mais controversos que afastam os dois, mas, no geral, apesar das críticas abertas às políticas governamentais, a discussão não dividiu os segmentos. “Será necessário verificar isso numa segunda amostra em 2014 para confirmar se essa observação procede”, avisa.
076-081_Relac-Interncaionais_210-6Essa proximidade entre as visões das elites e da população informada e interessada vai na contramão do observado nas pesquisas americanas. “Isso indica uma maior politização do público, ao contrário do que diz a literatura tradicional, ainda que essa nova posição seja resultado do enraizamento das percepções geradas dentro da comunidade de política externa, uma opinião formada, de certa forma, de maneira exógena”, analisa a cientista política Janina Onuki, também do IRI-USP e da equipe do projeto. “Mas estudar essa opinião permite entender o grau de consenso social sobre a política externa e perceber que há uma demanda por uma maior abertura do Ministério das Relações Exteriores”, analisa a pesquisadora.
No geral, seja por visão própria, seja pelo consenso com a CPE, há uma visão de que o Brasil tem condições de ser um ator global, consequência natural da sua inserção no mundo globalizado. “A parcela mais informada da população apresenta um otimismo que não é muito visto no público que possui meios menos reduzidos de acompanhar os noticiários”, diz Maria Hermínia. “Isso revela um desafio para a diplomacia brasileira: fazer com que o sentimento otimista sobre as ações internacionais passe para uma população que as vê como intangíveis, diante de uma situação econômica mais próxima que desnorteia os cidadãos”, avisa a professora.
Projeto
Brasil, as Américas e o Mundo – política externa e opinião pública 2010 (2010/06356-3); Modalidade Linha Regular de Auxílio a Projeto de Pesquisa; Coord. Maria Hermínia Tavares de Almeida/USP; Investimento R$ 242.291,24 (FAPESP).

Passeios de fim de semana, 2: Winslow Homer em Williamstown, upperstate MA

Masterpieces by Winslow Homer on View at the Clark This Summer

‘Making Art, Making History’ to Showcase Almost 200 Works

Williamstown, MA—The greatest collection of works by Winslow Homer (American, 1836–1910) assembled by one person since the artist’s death—and one of the leading collections of any art museum in the United States—will be featured this summer at the Sterling and Francine Clark Art Institute. Winslow Homer: Making Art, Making History explores the artist’s career with a special focus on his role in chronicling scenes of American life. The exhibition is complemented by the first complete catalogue of the Clark’s Homer collection, Winslow Homer: The Clark Collection, authored by Homer scholar and exhibition curator Marc Simpson. Simpson examines Sterling Clark’s decades-long pursuit of Homer’s works and his passion for creating what is now one of the most important collections of the artist’s work.  
“Sterling Clark considered Winslow Homer one of the greatest artists of the nineteenth century,” said Michael Conforti, director of the Clark, noting that Clark purchased his first Homer painting in 1915 at a time when he was living in Paris and focusing on purchasing Italian Renaissance art. “From that moment on, he maintained a passion for the artist throughout his collecting career, creating an archive so rich and varied that it provides us with a unique foundation upon which to build this consideration of the many sides of Winslow Homer.”
On view June 9 through September 8, 2013, Winslow Homer: Making Art, Making Historyshowcases some sixty oil paintings, watercolors, drawings, and etchings, as well as approximately 120 rarely seen wood engravings. Drawing upon the resources of the Clark’s own holdings of nearly 250 works by Homer (dating from 1857 to 1904), the exhibition provides a variety of distinctive perspectives on this important American artist.
“Our visitors will be immersed in Homer’s works, considering his aesthetic achievements in all media, as they examine the changing critical perspectives of his work over the last one hundred and fifty years,” Conforti said.
“Winslow Homer: Making Art, Making History is first and foremost an opportunity to see and enjoy the achievement of this great artist,” said exhibition curator Marc Simpson. “It also explores how Homer's work inspires different stories—about him, his place in the art world, the impact of an expanding art market, and the quest for a national style.”
Winslow Homer: Making Art, Making History presents the full range of the Clark’s Homer collection, including works on paper that are rarely on view due to their light-sensitive nature. In addition to works from the Clark, a selection of loaned works is also presented.
The paintings in the Clark collection are recognized as being among Homer’s finest and offer insight into Homer’s thematic and technical development throughout his career. The presentation ofUndertow (1886), along with six preparatory drawings accompanying it, gives an intimate look at the artist’s design process and offers insights into how Homer developed one of his most important figural works.
Among the best-known of the Clark paintings is Two Guides (1877), depicting two identifiable Adirondack guides in the wilderness. Another visitor favorite, West Point, Prout’s Neck (1900) was deemed by the artist in 1901 as “the best thing I have painted.” Panned by one New York critic who called it “simply the worst picture” in that year’s Society of American Artists exhibition, it is now considered by most art historians to be one of his greatest achievements.
The wood engravings included in the exhibition, designed by Homer for such periodicals as Harper’s Weekly and Appleton’s Journal, illustrate news of the day: the Civil War, the rise of various leisure activities, changing fashions, the shifting role of women in society. The transformation of some of these engravings from ephemera to valued artworks is evident throughout the galleries.
Although rarely shown, the Clark’s watercolors by Homer are among the most popular and appealing works in the collection; they help illustrate not only the collecting priorities of founder Sterling Clark, but also the rise of the status of watercolors in the American art world. Highlights include the simple but enigmatic Lemon (1876), the glowing but ominous Adirondack scene An October Day (1889), and the whimsical but powerfully abstract Fish and Butterflies (1900). The Clark’s watercolors are supplemented by Children on a Fence (1874) and Four Boys Bathing (1880) on loan from the Williams College Museum of Art, as well as four works on loan from a New York private collection, including a Key West scene of schooners at anchor.
A group of etchings, heliotypes, and chromolithographs by or after Homer reveals the methods in which the artist used to make his art more accessible to the collecting public. Among the high points of these is the etching Perils of the Sea (1887), which hangs beside the Clark’s watercolor of the same subject from 1881. The exhibition also features some of Homer’s illustrations of popular literature and poetry, including The Courtin’ by James Russell Lowell (1874). Another “marketing strategy” Homer developed was to work up drawings—generally seen as preparatory studies—into finished, saleable works. Two of these fully realized drawings, Fisher Girl with Net (1882) andSchooner at Anchor (1884), are included in the exhibition.
The exhibition is organized by the Sterling and Francine Clark Art Institute and is curated by Marc Simpson, associate director of the Williams College Graduate Program in the History of Art.Winslow Homer: The Clark Collection will be published by the Clark and distributed by Yale University Press in conjunction with the exhibition. More than thirty entries in the catalogue discuss the role of individual works in Homer's oeuvre and their larger significance to the art world. An illustrated checklist provides information on titles, dates, and media for the entire collection.
Winslow Homer: The Clark Collection is a long overdue history of Sterling Clark’s rich collection of the artist’s works,” Conforti said. “Making Art, Making History celebrates this important achievement.”
About the Clark
Set amidst 140 acres in the Berkshires, the Clark is one of the few major art museums that also serves as a leading international center for research and scholarship. The Clark presents public and education programs and organizes groundbreaking exhibitions that advance new scholarship. The Clark’s research and academic programs include an international fellowship program and conferences. Together with Williams College, the Clark sponsors one of the nation’s leading master’s programs in art history.
The Clark is located at 225 South Street in Williamstown, Massachusetts. The galleries are open Tuesday through Sunday from September through June (daily in July and August), 10 am to 5 pm. Admission is free through June8, 2013; free year-round for Clark members, children 18 and younger, and students with valid ID; and $15 June 9, 2013 through September 8, 2013. For more information, call 413 458 2303 or visit clarkart.edu.