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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 9 de agosto de 2014

Petrobras: governo frauda sua propria CPI (Veja)

Quando começou uma e depois a outra CPI da Petrobras, eu tinha certeza de que não iria dar em nada, mas isso devido basicamente à maioria aplastante dos governistas. Eu não contava com que o governo mafioso fosse, além disso, recorrer à fraude, às tramoias e ao crime,  mas isso está perfeitamente conforme à sua natureza mafiosa.
Ou seja, o governo dos companheiros é capaz de montar uma corrupção em cima de outra corrupção, ou várias em cima de muitas outras, e tem especialistas no assunto, como parece, pois continua montando fraudes e tramoias em ritmo industrial, uma linha de montagem inteira de "malfeitos" operados por seus servos obedientes, a partir do próprio centro do poder.
Nunca antes...
Paulo Roberto de Almeida

Revista VEJA, 09/08/2014 - 16:35

A farsa da CPI, quadro a quadro

A chegada da caneta com a câmera à sala de reuniões, a combinação para entregar as perguntas dos parlamentares aos investigados, os cuidados para não ser pegos em flagrante e atender à ordem “lá de cima”. Em quase vinte minutos, o vídeo conta a história de uma tenebrosa transação para enganar o Congresso, desmoralizar a CPI e ludibriar a opinião pública

Daniel Pereira, Adriano Ceolin e Hugo Marques
A presidente da Petrobras, Graça Foster, durante audiência conjunta no Senado em Brasília, na manhã desta terça-feira (15), para prestar esclarecimentos sobre denúncias envolvendo a estatal
A presidente da Petrobras, Graça Foster, durante audiência conjunta no Senado em Brasília, na manhã desta terça-feira (15), para prestar esclarecimentos sobre denúncias envolvendo a estatal (Givaldo Barbosa /Agência O Globo/VEJA)

Na edição passada, VEJA revelou uma fraude perpetrada por funcionários graduados da Presidência da República e da Petrobras, em parceria com a liderança do PT no Senado, para desmoralizar a CPI que investiga a empresa e engambelar a opinião pública. Documentada em um vídeo com cerca de vinte minutos de duração (que pode ser visto na íntegra abaixo), a trapaça funcionava da seguinte forma: os investigados recebiam as perguntas dos senadores com antecedência e eram treinados para responder a elas, a fim de evitar que entrassem em contradição ou dessem pistas capazes de impulsionar a apuração de denúncias de corrupção na companhia. Pegos de surpresa e sem poderem negar o conteúdo do vídeo, os governistas trataram de interpretá-lo a seu favor. O relator da CPI da Petrobras no Senado, José Pimentel (PT-CE), negou a existência de armação entre investigadores e investigados. Funcionários do Planalto admitiram a parceria com a Petrobras e os parlamentares, mas sustentaram que ela foi feita em benefício do bom funcionamento dos trabalhos da CPI, e não para fraudá-la. Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, saiu-se com a tese de que a combinação de depoimentos em CPIs “vem desde Pedro Álvares Cabral”. Seria, portanto, um trabalho corriqueiro, normal. Normal não é. É crime. Pode até ser prática antiga, ninguém sabe, mas esta é a primeira vez que a malandragem vem a público em som e imagens.
Integrante da base governista, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) afirmou que, durante a CPI dos Correios, os investigados jamais receberam as perguntas previamente nem foram ajudados pela equipe técnica da comissão nas respostas. Por um simples motivo: para avançar, uma apuração precisa surpreender seus alvos e forçá-los a revelar aquilo que querem esconder, justamente o contrário da meta perseguida pela fraude governista. “Uma investigação de verdade pressupõe pegar o investigado de surpresa”, disse Serraglio. “Como falar em investigação se já se sabe tudo o que será perguntado e respondido. Imagine um promotor ou um delegado alertando o investigado sobre quais questionamentos serão feitos a ele. Isso é ridículo.” A indignação do deputado é plenamente justificada. Ele conhece o poder depurador que uma CPI bem conduzida pode ter na vida política brasileira. Serraglio, que é advogado, foi relator da CPI dos Correios, que investigou o mensalão e cujo relatório final serviu de prova para a cassação de deputados e a prisão de petistas, como o ex-ministro José Dirceu. Se durante a CPI dos Correios houvesse distribuição de gabarito e acordo clandestino entre investigadores e investigados, o marqueteiro Duda Mendonça dificilmente teria admitido que recebera no exterior, via caixa dois, o pagamento pelos serviços prestados à campanha presidencial de Lula em 2002. Outras confissões também seriam contidas nos bastidores. “A CPI dos Correios fez com que o pessoal se blindasse. Desde então, houve um desvirtuamento das CPIs. Não adianta nada a Constituição garantir à minoria o direito de investigar se a maioria se acha no direito de fechar as portas para a investigação”, declarou Serraglio. Escaldado pelos resultados da CPI dos Correios, o ex-presidente Lula sempre ordenou ao PT que tratorasse as comissões parlamentares seguintes. Foi assim com a CPI do Cachoeira e com a CPI da Petrobras de 2009. Em abril deste ano, Lula mandou o PT “ir para cima” da nova CPI da Petrobras. Missão dada, missão cumprida.
Graça Foster, presidente da Petrobras, e Sergio Gabrielli, seu antecessor no cargo, receberam o gabarito antes de prestar depoimento. Um dos envolvidos contou a VEJA que o chefe do escritório da companhia em Brasília, José Eduardo Barrocas, que dizia falar em nome de Graça, fez saber a Marcos Rogério de Souza, secretário parlamentar do bloco governista no Senado, que não seriam toleradas perguntas sobre os contratos firmados entre a Petrobras e uma empresa do marido dela, Colin Vaughan Foster. Graça foi inquirida durante três horas e, efetivamente, nenhuma pergunta a respeito do marido foi formulada. Isso é disciplina partidária. Isso é intolerável em uma democracia.
O vídeo revela quem eram os autores dos questionamentos, os beneficiários da trama e até a preocupação com a forma de consumar a fraude. Durante a reunião, houve um debate sobre qual seria o melhor meio para encaminhar o gabarito aos investigados e como evitar que a imprensa descobrisse a presença de Nestor Cerveró nas dependências da Petrobras horas antes de seu depoimento. Ex-diretor da área internacional da companhia, Cerveró era o principal motivo de preocupação do governo porque tinha sido acusado por Dilma de elaborar o parecer que embasou a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, operação que resultou em prejuízo bilionário. Demitido e sacrificado em público, Cerveró insinuou constranger a presidente no depoimento aos senadores. “Qual o acesso mais discreto aqui pra ele (Cerveró)? Não tem muita alternativa, não, né?”, indaga Leonan Calderaro Filho, do departamento jurídico da Petrobras. “O antes é que eu acho perigoso”, responde José Eduardo Barrocas, chefe do escritório da empresa em Brasília. Se tivesse sido uma operação normal, não haveria preocupação em encontrar “alternativas” para conseguir um “acesso mais discreto” a Cerveró. Se tivesse sido um jogo limpo, não haveria por que o “antes” ser “perigoso”. Em processos republicanos, o antes, o durante e o depois não oferecem perigo a seus autores. O processo que o vídeo obtido por VEJA revela é uma tenebrosa transação feita longe dos olhos do povo, da polícia e da Justiça com o objetivo de fraudar o funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito no Senado e, de resto, desmoralizar essa instância investigativa que já colocou um presidente para fora do Palácio do Planalto (Fernando Collor), saneou o processo orçamentário no Legislativo (CPI dos Anões do Orçamento) e mandou para a penitenciária da Papuda a cúpula do partido no poder (CPI dos Correios). Desmoralizar as CPIs só interessa a corruptos contumazes.
A seguir, assista ao vídeo na íntegra.

Como a caneta espiã chegou à sala

  • 00:00 a 00:30
    Uma funcionária da sede da Petrobras em Brasília pega um calhamaço de documentos e avisa a um colega, a quem chama de Dudu, que está indo entregar o material a Bruno Ferreira, advogado da estatal. Bruno estava em reunião em outra sala. Foi o próprio advogado quem pediu à funcionária que levasse o material até ele. A caneta-gravador está junto com os papéis. E já em funcionamento.
  • 00:31 a 02:26
    A funcionária caminha pelos corredores do prédio da Petrobras em Brasília. A caneta está ligada. A mulher se dirige para a sala onde Bruno Ferreira estava reunido com o chefe do escritório brasiliense da Petrobras, José Eduardo Barrocas, e o coordenador do departamento jurídico, Leonan Calderaro Filho. Bruno Ferreira estava aguardando a funcionária à porta.
  • 02:27 a 02:39
    A funcionária chega à sala onde Bruno está. Ele recebe das mãos dela os papéis — e a caneta-gravador, ligada. “Dá uma conferida se era esse arquivo... Eu tô vendo aqui falando da história do Gabrielli, aí... Só que é no fnal que vêm as perguntas, né?”, diz a moça. “Obrigado, querida”, responde Bruno.

A fraude se desenrola

  • 02:40 a 03:55
    Bruno volta para a reunião. A caneta é manuseada o tempo todo por ele. Por isso, na maior parte do tempo as imagens são trêmulas. O áudio, porém, é captado com clareza. Barrocas está ao telefone tratando da visita de um grupo de parlamentares a uma refinaria que está sendo construída no Maranhão. Enquanto isso, Bruno e Calderaro folheiam os papéis. Eles conversam sobre as perguntas.
  • 05:00 a 07:10
    Barrocas sai do telefone e passa a conversar com Bruno e Calderaro sobre o assunto da ligação. É interrompido pelo telefone celular. E diz para a pessoa do outro lado da linha que não podia falar porque estava atarefado com assuntos relativos à CPI: “Ô Cristina, me dá um tempo aí. Eu tô com a CPI aqui nas minhas costas que tá danado”. Em seguida, retoma a conversa com Bruno e Calderaro.
  • 07:11 a 07:47
    O grupo passa a falar da CPI. Eles estavam comparando as perguntas que seriam feitas a Cerveró com as que haviam sido feitas ao ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli, ouvido na véspera pela comissão. “E aí, o que você está achando aí?”, pergunta Barrocas. “Na verdade, estão repetindo bastante as perguntas em relação ao Gabrielli”, afirma Bruno. “Bastante, bastante pergunta repetida, assim como para a Graça vão repetir também”, dizBarrocas.
  • 07:48 a 08:30
    Barrocas revela a origem das perguntas preparadas para o depoimento de Cerveró e expõe a fraude: “Eu perguntei da onde, quem é o autor dessas perguntas. Oitenta por cento é o Marcos Rogério (assessor da liderança do governo no Senado). Ele é o responsável por isso aí. Ele disse hoje que o Carlos Hetzel (assessor da liderança do PT) fez alguma coisa, o Paulo Argenta (assessor da Presidência da República) fez outras”, relata Barrocas.

A ajuda a Cerveró

  • 08:31 a 10:47
    Barrocas quer saber quais advogados o departamento jurídico da Petrobras mobilizaria para acompanhar o depoimento de Cerveró à CPI, no dia seguinte. O grupo continua falando das estratégias para o depoimento.
  • 10:48 a 12:50
    A exemplo das perguntas, outros detalhes do depoimento haviam sido previamente acertados. “Me pediram para falar para o Cerveró não fazer apresentação. O Marcos Rogério falou: ‘Vocês têm como falar para o Cerveró para ele não fazer a apresentação? Para entrar direto no assunto...’”, diz Barrocas.
  • 12:51 a 13:37
    Aqui a prova da combinação. O advogado Bruno Ferreira consulta o chefe Barrocas sobre as orientações que deveriam ser dadas a Cerveró. Uma reunião com o ex-diretor estava marcada para aquele dia, também na sede da Petrobras em Brasília. “Barrocas, qual a estratégia em termos de orientação ao Cerveró?”, perguntou. “A gente vai prestar o apoio possível”, diz Calderaro.
  • 13:38 a 14:10
    O nome do senador petista Delcídio Amaral (MS) aparece na trama. Amigo de Cerveró, Delcídio fora escolhido como um dos canais de comunicação com o ex-diretor. “Como nós soubemos que a gente não podia fazer contato com ele (Cerveró), o pessoal do Senado pediu pro Delcídio fazer. Aí ao Delcídio eu falei: é o seguinte, compacta aí. Chamaram ele, deram curso pra ele, media training...” Calderaro reforça: “Ontem a tarde toda. E o Jurídico da Petrobras do lado”. “O pessoal não queria fcar de conversa com ele. Nós pedimos ao Delcídio pra conversar com ele”, afrma Barrocas.

O medo de serem descobertos

  • 14:11 a 14:46
    O grupo passa a discutir a forma mais segura de enviar à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, as perguntas a Cerveró. “Vou passar pro Salles (Jorge Salles Neto, assessor direto de Graça Foster), pra ele...”, diz Barrocas. (...) As do Gabrielli eu digitalizei e passei pra Graça. Por quê? Porque eu não sabia que aquilo era o ‘gabarito’, vamos chamar assim. Eu achei que o Dutra (o petista José Eduardo Dutra, também ex-presidente e atual diretor da Petrobras) tinha trazido aquilo pra ele (e dito), como em escola: ‘Estuda aí’. Depois que eu vi que era o gabarito”, relata Barrocas.
  • 14:58 a 17:48
    Os funcionários da Petrobras estão preocupados com o sigilo. “Qual o acesso mais discreto aqui pra ele (Cerveró)? Não tem muita alternativa, não, né?”, indaga Calderaro. É o próprio Barrocas quem defne a gravidade da situação: “O antes é que eu acho perigoso”. “A questão do preparo, né?”, engata Calderaro. “Não tem como, só tem uma entrada aqui”, lembra Calderaro.

A ordem de cima

  • 17:49 a 19:25
    Na última parte da reunião, o grupo narra que houve uma ação para afastar o advogado de Cerveró. “O pessoal deu uns toques nele que o advogado dele estava atrapalhando”, diz Barrocas. O advogado de Cerveró havia ameaçado envolver mais gente no escândalo de Pasadena. Era, portanto, uma voz dissonante do enredo que estava sendo montado. O vídeo termina com os advogados falando de como operacionalizar a orientação “lá de cima”.
Para ler outras reportagens compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet, no iPhone ou nas bancas.

Cartografia historica: mapas antigo digitalizados

Para quem, como eu, adora mapas, história, geografia, viagens, livros, cultura, etc.
Paulo Roberto de Almeida 




Viagem no tempo on-line e de graça
Mapas não são apenas registros geográficos. Com o passar dos anos, tornam-se importantes artefatos históricos, memórias feitas de papel e tinta de certas configurações locais, regionais e mundiais que nunca mais serão as mesmas. Por isso, todo projeto que disponibiliza acervos de mapas na rede para acesso público contribui para resgatar parte da história de nosso mundo. 
Um exemplo recente foi dado pela Biblioteca Pública de Nova York, que disponibilizou na internet para download e sob uma licença Creative Commons sua coleção de mais de 20 mil mapas, todos em alta resolução. As cartas podem ser acessadas na plataforma Map Warper. A coleção conta com registros elaborados do século 16 às primeiras décadas do século 20 que retratam a Europa, a América do Sul e os Estados Unidos, além, é claro, de uma grande coleção de mapas da própria ‘grande maçã’.
A plataforma digital também conta com recursos muito interessantes: permite combinar parte de seu acervo com coordenadas geográficas reais, recriando os registros antigos como espaços virtuais, que podem ser percorridos e complementados com informações adicionais, como fotos históricas – tudo isso de forma colaborativa. Vale conferir! 
Abaixo selecionamos alguns exemplos de mapas disponibilizados on-line pela iniciativa: 
Viagem no tempo on-line e de graça
Mapas não são apenas registros geográficos. Com o passar dos anos, tornam-se importantes artefatos históricos, memórias feitas de papel e tinta de certas configurações locais, regionais e mundiais que nunca mais serão as mesmas. Por isso, todo projeto que disponibiliza acervos de mapas na rede para acesso público contribui para resgatar parte da história de nosso mundo. 
Um exemplo recente foi dado pela Biblioteca Pública de Nova York, que disponibilizou na internet para download e sob uma licença Creative Commons sua coleção de mais de 20 mil mapas, todos em alta resolução. As cartas podem ser acessadas na plataforma Map Warper. A coleção conta com registros elaborados do século 16 às primeiras décadas do século 20 que retratam a Europa, a América do Sul e os Estados Unidos, além, é claro, de uma grande coleção de mapas da própria ‘grande maçã’.
A plataforma digital também conta com recursos muito interessantes: permite combinar parte de seu acervo com coordenadas geográficas reais, recriando os registros antigos como espaços virtuais, que podem ser percorridos e complementados com informações adicionais, como fotos históricas  tudo isso de forma colaborativa. Vale conferir! 
Abaixo selecionamos alguns exemplos de mapas disponibilizados on-line pela iniciativa: 

Declaração de voto: um manifesto pessoal - Paulo Roberto de Almeida


Declaração de voto: um manifesto pessoal

Paulo Roberto de Almeida

Dez pequenas regras eleitorais
Não! Contrariamente ao que diz o título, não vou declarar o meu voto nas próximas eleições, para qualquer candidato que seja dentre a dezena de pretendentes ao cargo supremo na nação. Não é esse o objetivo a que aspira este texto, cuja única intenção é a de fixar alguns parâmetros pelos quais eu vou decidir o meu voto, independente de qual seja ele. Não vou definir quais são meus candidatos preferenciais, nem pretendo influenciar os leitores ou lhes sugerir um nome ou outro dentre os candidatos em liça. Trata-se apenas e tão somente de uma declaração de cunho moral.
Os que me leem habitualmente, neste espaço ou em outro qualquer, e os que por acaso passarem por aqui ou vierem a tomar conhecimento deste ensaio, podem ficar seguros de que não faço, nunca fiz, jamais farei propaganda para alguém, para qualquer candidato, de qualquer partido, tanto porque nunca pertenci a qualquer um deles, jamais pretendo ingressar em algum, nem milito por alguma causa política institucional. Meus poucos objetivos na vida cívica são: os de querer a política da verdade e o simples respeito à lógica; de manter um compromisso intransigente com a honestidade – acima de tudo intelectual, mas também política –, metas que podem ser complementadas pelo engajamento na causa das liberdades democráticas e pela luta sem qualificativos pelos direitos humanos, sem qualquer concessão a ditaduras, ou a ditadores, caudilhos, líderes populistas, aos embromadores políticos habituais e outros patifes eleitorais. Pode parecer antiquado, mas é o que me basta.
Sendo assim – certo de que o que vai acima ficou muito claro – devo talvez começar por dizer, não exatamente quais são os meus parâmetros de escolha eleitoral (pois existem muitas variáveis envolvidas), mas quais são os padrões concretos e quais são as situações políticas que rejeito absolutamente, pois esses elementos já fornecem uma base de julgamento sobre o quê, exatamente, vai determinar o meu voto e as minhas escolhas eleitorais no próximo escrutínio. A rejeição de certos “pecados” políticos já representa um começo razoável para o estabelecimento ulterior de uma plataforma de acolhimento do que eu chamaria de “boas virtudes” na vida cívica.
Pretendo, portanto, oferecer uma lista negativa do que entendo serem os critérios que me guiam na recusa de vários candidatos e na escolha de um, preferencialmente a todos os demais, numa espécie de coleção de reflexões de ordem geral sobre o que me parece importante no jogo eleitoral. Sabendo exatamente o que eu não desejo que continue na política brasileira posso assim descartar o que me parece inconveniente desse ponto de vista. Que fique claro que estou sendo o mais realista possível. Partilho, como muitos de meus leitores, ou com todas as pessoas de minha condição – ou seja, classe média bem informada, incluída digitalmente – o sentimento de rejeição a tudo o que vemos de errado na política brasileira. Mas não sou ingênuo, ou desinformado, a ponto de acreditar que o meu voto de protesto contra isso que vemos se expressaria melhor por uma das três formas de “negatividade” que muitas pessoas tendem a escolher: a abstenção, ou ausência do processo eleitoral, ou o voto nulo ou branco.
Esse tipo de atitude só consegue fortalecer o péssimo sistema já existente, ao ser um protesto absolutamente inconsistente. A abstenção ou os votos nulos ou brancos podem favorecer quem já está na frente – que é usualmente quem detém o poder e pode assim distribuir favores – e o “protestatário” acaba elegendo quem ele menos pretendia que continuasse, pela diminuição do quociente eleitoral. A minha negatividade, expressa nas regras que agora exponho, se destina a uma boa escolha eleitoral, não a uma omissão do processo político.

1. Sou contra os simplismos eleitorais
Muitos políticos pensam que os eleitores são, de modo geral, idiotas, ou então ingênuos. Embora muitos possam sê-lo, em virtude do baixo nível educacional da maioria de nossa população, em particular de uma débil educação política, que nada mais é do que o reflexo da primeira, os brasileiros costumam ser espertos, capazes de captar de modo relativamente rápido se alguém é sincero ou não. Acontece que a grande massa dos cidadãos eleitores carece de informações fiáveis e suficientes, de modo a poder formar uma opinião fundamentada sobre as origens dos problemas sociais – e todo mundo sabe que eles abundam – e sobre os meios para resolvê-los.
A prática habitual dos candidatos, em época de eleição, é prometer desenvolver ações contra isso e mais aquilo, e a favor de todos os brasileiros, dizendo que vão criar programas para isso e mais aquilo, eventualmente através de um novo órgão estatal ou ministério. Nunca vi um político dizendo claramente: “para resolver o problema ‘x’ são necessários ‘y’ de recursos; examinando-se o orçamento brasileiro constata-se que não há mais espaço para aumentos da tributação; cumpriria portanto diminuir os gastos com a rubrica ‘z’ para liberar recursos para esse programa”. Ou então, dizer simplesmente: “não creio que cabe ao governo resolver esse problema, que pode ficar a cargo da própria sociedade, por meio da iniciativa privada; para isso, vamos eliminar essa tributação absurda que pesa sobre os empresários, e abrir espaço para o investimento privado, o único capaz de criar renda e riqueza para a sociedade”.
Invariavelmente, todos prometem aumentar a oferta de empregos, embora poucos o fazem de verdade. Nunca vi nenhum deles reclamar da alta carga que pesa sobre os salários no Brasil – sobre os lucros também – ou dizer que a legislação laboral (e sindical) é anacrônica, e que com elas vamos continuar exibindo baixas taxas de emprego formal e altas taxas de desemprego aberto e disfarçado; jamais algum deles vai dizer que a rigidez do salário mínimo simplesmente impede o emprego de milhões de trabalhadores de baixa qualificação técnico-profissional.
De modo geral, a simplificação do debate político no Brasil é extrema e os candidatos continuam se esforçando para torná-lo ainda mais simplista e enganador. Talvez seja por recomendação dos responsáveis da campanha, que tendem a nivelar por baixo; mas o fato é que os discursos e as propostas estão sendo veiculadas como se destinassem a crianças da quarta série, ou a pessoas incapazes de compreender o modo de funcionamento de uma economia moderna. As campanhas eleitorais deveriam justamente servir para educar o eleitorado, não para idiotizá-lo ainda mais.

2. Sou contrário aos reducionismos políticos
O que leva um político a responsabilizar a falta de ação do Estado, a ausência de “vontade política” ou o descaso dos antecessores pela existência de um problema qualquer em determinada área? Provavelmente essa mesma atitude que estava presente no comportamento indicado no item anterior: a tendência ao simplismo, que caminha de mão dada com o reducionismo, ou seja, a atribuição de um problema qualquer a uma causa única, geralmente equivocada, mas que passa a servir de motivo presumido para a falência em questão.
O desemprego, por exemplo, já mencionado acima, costuma ser atribuído à ausência de investimentos. O que faz então o político candidato? Ele promete a criação de um programa qualquer, no âmbito do ministério setorial, para “estimular” a criação de empregos, com algum anúncio de apelo popular. Tal foi o caso, por exemplo, do programa “Primeiro Emprego”, lançado pelo governo Lula desde o primeiro ano de seu governo: definhou até que ninguém mais mencionasse sequer a sua existência. Por que falham esses programas voluntaristas? Porque justamente tendem a atribuir a uma causa simples a inexistência de empregos, deixando de focar no conjunto de condições do mercado de trabalho que simplesmente desestimulam os empresários a empregar mais jovens: ausência de educação profissional e capacitação técnica, excesso de tributação e de regulamentação sobre o mercado de trabalho, rigidez das normas trabalhistas e tendência da “justiça trabalhista” – uma excrescência brasileira que nem deveria existir – a sempre dar ganho de causa ao trabalhador, penalizando a cada vez o empregador.
Não me lembro de ter ouvido qualquer candidato, em qualquer época, discutir esse conjunto de problemas que afeta milhões de brasileiros e impede o crescimento do emprego e, portanto, da renda. O mesmo tipo de reducionismo figura em várias outras questões da mesma espécie: candidatos preferem encontrar uma causa simples, geralmente equivocada, em lugar de se munir de análises técnicas isentas, e baseadas em dados fiáveis, para expor o problema em toda a sua complexidade.

3. Sou contra populismos e demagogias
“Soluções” de grande apelo popular são comuns em épocas eleitorais, geralmente com a transferência dos custos para o conjunto da sociedade, mais diretamente contra os empresários. Um exemplo típico, aliás, já em curso de utilização no Brasil, é essa tendência de prometer algum benefício social para categorias específicas, jovens ou velhos, por exemplo. A multiplicação dos benefícios para idosos – como passagem reduzida nos ônibus interurbanos ou gratuita em ônibus urbanos – ou para estudantes – com a disseminação de meias entradas, inclusive para professores, nos ingressos de espetáculos – apenas transfere para o conjunto da sociedade os custos de uma medida demagógica que os políticos querem empurrar para os empresários e os trabalhadores, de modo geral.
No mesmo sentido vai a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, o aumento da licença-maternidade para trabalhadoras grávidas, ou a promessa de transporte gratuito para mulheres no transporte coletivo: o único resultado só pode ser a diminuição da empregabilidade para o conjunto de trabalhadores, em especial para as mulheres em idade reprodutiva. Ocorre, também, o aumento preventivo – e a corrupção, como é previsível – no sistema de transporte coletivo em zonas urbanas, o qual, aliás, já funciona em condições inaceitáveis de cartelização e de deformação dos regimes de concorrência e de concessão (o mesmo parece acontecer no caso da coleta de lixo).
Os maiores abusos dos candidatos se prendem geralmente a promessas de aumento do salário mínimo, de construção de escolas e hospitais, de ampliação dos serviços públicos e compromissos do mesmo gênero. Não existe, obviamente, qualquer correspondência dessas promessas com a existência de estudos técnicos vinculados aos anúncios efetuados, em típicas atitudes de palanque.

4. Sou contra os exercícios de mistificação política
A mistificação política, muito associada à mentira, ocorre quando o candidato deforma as políticas dos adversários, se atribui feitos que não lhe são de direito (ou seja, se torna um usurpador), se arvora em criador de todas as coisas e patrono de todas as bondades a serem promovidas pelo Estado (ou seja, com o dinheiro de todos nós). Mistificação política ocorre quando o candidato divide a sociedade em “membros da elite”, de um lado – à qual ele diz, obviamente, que não pertence, mesmo sendo manifestamente parte da tropa, qualquer que seja o seu nível de renda – e, de outro, essa categoria mítica que se chama “povo”, que são todos os que votam, de preferência em favor do candidato. Mistificação existe sempre e quando o candidato pretende encarnar todas as virtudes e seus opositores possuiriam todos os defeitos. Mais ainda: apenas ele e suas políticas têm o poder de satisfazer os desejos e as necessidades do “povo”, sendo que os adversários – ou “inimigos” políticos, como esse tipo de personagem vê seus concorrentes eleitorais – trabalhariam em favor das “elites”. O bom mistificador vem de uma longa carreira de enganação, inclusive no sentido de se iludir a si mesmo e seus companheiros de luta política, tendo construído uma carreira quase toda na base da embromação e da enganação. Ele começa por apropriar-se de tudo o que lhe parece conveniente, mesmo de propostas e realizações de seus adversários, aos quais e às quais antes criticava e se opunha, mas que se apressa em adotar na nova conjuntura, por puro oportunismo político.

5. Sou contra os imitadores e falsificadores de todo tipo
Imitar é um recurso de quem se inicia numa nova atividade, sendo muito comum nos processos de industrialização e de modernização tecnológica. Ou seja, está muito afeto ao mundo empresarial, à concorrência entre ofertantes de produtos no mercado. Pode ser que o jogo político também seja regido pelas leis da oferta e da procura, onde tem sucesso quem consegue entregar aos “clientes”, ou eleitores, aquilo que eles demandam como “bens ou serviços”: obras, segurança, empregos, maior renda, perspectivas de um futuro melhor, etc. De fato, o jogo eleitoral se dá geralmente numa arena aberta, com poucas barreiras à entrada, embora algumas sejam necessárias, como a lei da “ficha limpa”, por exemplo, que equivaleria a cassar o registro da empresa que frauda sobre a sanidade dos produtos ofertados ou pratica mentira deliberada sobre suas qualidades intrínsecas.
No jogo político, como na vida empresarial, é inevitável alguma imitação do que faz sucesso, embora eu seja contrário a esse tipo de apropriação indébita. Ruim mesmo é a falsificação de qualidades que pertencem manifestamente a outrem em benefício próprio, o que se aproximaria de roubo consciente. Pior ainda quando o candidato se utiliza do legítimo sucesso conquistado em outra esfera da vida pública – um radialista muito escutado, por exemplo, um artista muito admirado de novelas ou do cinema, um cantor campeão de vendas – para tentar vender a imagem de que também seria estupendo no parlamento ou em algum cargo executivo. É muito frequente a imprensa consultar um prêmio Nobel qualquer – geralmente das ciências ou da literatura – para saber sua opinião sobre um aspecto qualquer da vida política ou social: o resultado costuma ser um completo desastre, com raras exceções. Se até prêmios Nobel em economia costumam abusar de sua condição para oferecer “soluções” arrevesadas aos problemas econômicos de um país distante ou para dar a sua “receita” para “acabar com a crise”, por que personalidades públicas de outras esferas que não a política não poderiam tentar sua sorte nessa arriscadíssima profissão? O resultado costuma ser medíocre, o que justifica minha oposição a esses imitadores e falsificadores de uma nova espécie. Mas atenção: eles também existem, e em abundancia, no próprio meio que lhes é costumeiro, dai meu alerta para se ficar vigilante.

6. Sou contra a lei dos benefícios imediatos, sem pesar os custos no futuro
Um dos efeitos mais tenebrosos da atividade política está justamente no conceito central desta frase: as consequências que essa atividade provoca como resultado de ações pensadas no plano imediato, tendentes a produzir resultados eleitorais em dois ou três anos apenas. Candidatos sempre prometem mais do que podem cumprir, mas algo da plataforma eleitoral eles têm de atender, sob risco de descrédito nas próximas eleições: geralmente são obras vistosas, aumento de salário mínimo ou de pensões e aposentadorias, construção disso e mais aquilo, enfim, tudo o que for mais visível e propriamente físico, como são costumeiramente as obras de infraestrutura.
O problema desse tipo de imediatismo eleitoral e político é duplo: por um lado ele compromete o equilíbrio das contas públicas, caso a soma das promessas seja superior às disponibilidades orçamentárias (e ela sempre é, por definição); por outro, ele atua sobre o visível e imediato, justamente, em detrimento do que é menos vistoso ou de longo prazo. Exemplificando o segundo aspecto: não existe dúvida de que políticos oportunistas adoram inaugurar obras – em alguns casos exagerados, se “inaugura” até pedra fundamental ou anúncio de um novo programa – deixando de lado obras menos visíveis como saneamento básico ou a melhoria da qualidade da educação, que é uma tarefa de longo prazo e notoriamente difícil de ser realizada (por envolver categorias corporativas como podem ser os sindicatos de professores, sempre atentos ao nível de seus salários nominais, mas bem menos em relação à qualificação de seus associados, ou à sua produtividade).
No primeiro aspecto, também é notório o crescimento da dívida pública e da carga tributária, sem falar dos juros nominais, elementos vinculados entre si, quando não provocadores de uma quarta consequência que é a erosão do poder de compra da moeda, caso o governo decida incorrer no pecado emissionista. Exemplificando com o caso brasileiro, a carga tributária vem aumentando continuamente, desde a promulgação da Constituição de 1988 – pela esquizofrenia garantista de direitos que perpassam quase todos os seus artigos -- e de forma consistente desde 2003, em termos reais, ou seja, acima da inflação e acima do crescimento do PIB, e isso independentemente dos níveis de déficit fiscal (primário ou nominal, isto é, final) e do tamanho da dívida interna. Não se pode dizer, por outro lado, que os juros brasileiros, sendo em média o dobro ou o triplo dos níveis mundiais, tenham sido reduzidos significativamente, devendo ocorrer justamente o contrário, a partir da elevação da dívida bruta total. Estas são as “heranças malditas” a serem deixadas ao próximo governo, qualquer que seja ele.

7. Sou contra a embromação, a mentira, a propaganda enganosa
Toda propaganda é, por definição, enganosa, destacando as qualidades de um produto qualquer, escondendo aspectos eventualmente menos interessantes. Governos não deveriam fazer propaganda, apenas prover informações; e mesmo assim não por meios próprios e, sim, utilizando-se dos canais habituais do mercado. Em épocas eleitorais, a propaganda fica ainda mais enganosa, chegando ao nível da desfaçatez. Governos desprovidos de valores democráticos consistentes abusam da sua capacidade financeira em encomendar e fazer suas própria propaganda, tanto quanto candidatos sustentados por fortes interesses econômicos. Exageros são esperados em campanhas eleitorais, até as mentiras habituais. Mas existem, obviamente, diferenças de grau.
A combinação de candidaturas oficiais com governos sem princípios oferece a oportunidade para a exacerbação da propaganda maciça, feita de recursos públicos, com a utilização descarada da máquina pública para a consecução do objetivo principal. Uma legislação eleitoral mais consistente e a circunstância de juízes eleitorais atentos poderiam representar algum constrangimento; mas, como sempre, a justiça eleitoral é tarda e falha: ela não age por motivação própria, apenas quando provocada. Na ausência, portanto, de fortes contrapesos institucionais ou de freios morais – o que, contudo, pode ser raro em personalidades megalomaníacas  –, todas as características indicadas no título desta seção podem ser levadas ao seu ponto máximo de abuso continuado. A rigor, elas poderiam ser hipóteses meramente plausíveis da presente conjuntura política; inexistindo, porém, os contrapesos institucionais, elas se tornam não apenas possíveis, como inevitáveis.

8. Sou contra paternalismos e pretensas familiaridades
Sistemas políticos pouco evoluídos podem apresentar essa característica de suposta familiaridade entre os candidatos e seus eleitores, com mensagens de cunho pessoal sendo veiculadas pelos candidatos e líderes políticos. Nessa visão, os eleitores são tratados, não como cidadãos dotados de direitos e deveres correspondentes aos dispositivos constitucionais, mas como seres dependentes de favores públicos, num esquema primitivo de vínculos afetivos que mascara o sentido republicano do relacionamento político. Numa versão exagerada dessas falsas intimidades, o candidato diz pretender ser um “pai”, ou uma “mãe” para todos os “filhos” do país, e tratá-los com todo o “carinho” que um pai ou uma mãe dispensaria aos seus próprios filhos. Trata-se, obviamente, da mais pura hipocrisia política, ou então reflexo, mais uma vez, de personalidades megalomaníacas, que pretendem ser donos dos desejos e vontades dos cidadãos e eleitores do país. O que se espera de um candidato não são gestos hipócritas de quem pretende afagar a cabeça de eleitores ingênuos, com palavras mentirosas denotando essa falsa aproximação e intimidade, mas a exposição clara de quais são suas propostas de governo e como pretende implementá-las. Adotar a atitude paternalística significa infantilizar todo um povo.

9. Sou contra políticos de duas faces e que praticam ambiguidades
Atitudes muito comuns, também, em candidatos camaleões: como o eleitorado de uma sociedade complexa, multicultural e religiosamente diversa, é feito de diferentes estratos sociais, com comportamentos opostos e até conflitantes, candidatos “espertos” pretendem ficar bem com todas essas correntes de opinião, adotando a atitude que mais lhes convém para ser aceito por um grupo específico de opinião. Não é raro um candidato ateu, ou simplesmente descrente, fazer profissão de fé e até cortejar adeptos de uma dada religião que, por acaso, possui certa expressão política no parlamento; as bancadas “confessionais”, aliás, apresentam tendência à expansão no cenário político, como a própria “indústria religiosa” que lhes serve de motor e de alavanca eleitoral. A mesma hipocrisia se revela, com os tons da ambiguidade, em relação a assuntos controversos como podem ser o aborto ou o casamento gay.
Mesmo em assuntos estritamente políticos, candidatos camaleões pretendem conservar apoios regionais ou setoriais, mantendo um discurso para cada público, ou fingindo “raízes” ou “influências” sabe se lá de que vertente cultural popular ou regional, ou desta ou daquela categoria profissional. Muitas vezes, essas tentativas são apenas patéticas, mas também podem se aproximar do ridículo, quando não da desonestidade política, pura e simples. Em outras ocasiões, a dupla face tem uma dimensão diacrônica, que é representada por alianças correntes que eram consideradas impróprias ou imorais, em épocas anteriores; ou então pela defesa atual de posições que o candidato atacou ou abominou no passado, ou vice-versa, não importa: não existe a mínima preocupação em se explicar ou se escusar, basta seguir em frente.

10. Sou contra a utilização de símbolos populares para fins de exploração política, inclusive a religião, supostos artistas populares, figuras do passado, etc.
Pode ser apenas oportunismo político, esperteza conveniente, ou ainda cálculo utilitário, mas é muito frequente essa “promiscuidade” com figuras, símbolos, imagens dotados de certo apelo popular, não importando muito a trajetória anterior do candidato. Procissões, dias consagrados, templos e memoriais, falsas amizades, tudo serve para tentar contabilizar mais alguns votos a favor. Ar compungido, sorriso amarelo, falso interesse naquele “milagreiro” criado pelas crendices locais, todos os trejeitos são esperados do candidato convertido oportunamente ao primitivismo das tradições populares para fins imediatistas. Muitas vezes é preciso deixar o cérebro descansando enquanto se frequenta o novo (e desconhecido) ambiente, já que dificilmente o candidato possui a familiaridade com o tal “ícone popular” que sua propaganda mentirosa diz que ele tem.

Voilà, já alinhei as minhas rejeições ou objeções de natureza política (na verdade, bem mais de ordem moral) quanto aos perfis ou condutas que possam ser adotados pelos candidatos, e que me fazem rejeitá-los por princípio. Não preciso, portanto, declarar minhas preferências eleitorais. Qualquer cidadão medianamente educado politicamente pode fazer suas escolhas em total autonomia de pensamento.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 9/08/2014

Empresarios mandam "recado" ao governo, em nome do "povo" - Comentario PRA

Não, ainda não é a Fronda Empresarial que eu venho propondo. Se trata de um simples "recado" ao governo, supostamente em nome do povo, o que é duvidoso.
As reivindicações são puramente empresariais, o que faz supor que se o governo atender às reivindicações desse "povo", eles ficarão contentes e deixarão de falar em nome do "povo".
A carta é parcial, mal escrita, enganosa, deformada, carente de sentido e apenas reclamatória.
Lamento constatar que nossos empresários também são medíocres e pouco preparados para liderar uma mudança real nos destinos do país.
Falta substância analítica, falta consistência prescritiva, falta coerência nas propostas, falta unidade de conjunto, falta sequência lógica, ou seja, esse manifesto, chamado de Carta, não tem nenhuma solidez intelectual.
Mas já é um começo.
Seria melhor se esses mesmos líderes empresariais não alimentassem a fantasia trilionária de Brasília, deixando de dar dinheiro a partidos e políticos que manifestamente estão atuando contra a nação, em seu próprio benefício.
Sou muito crítico, e provavelmente muito cáustico, como visto acima. Tenho razões para isso. Voltarei ao assunto.
Paulo Roberto de Almeida 

Carta do Povo Brasileiro
Durante um evento promovido pelo Movimento Brasil Eficiente (MBE) em parceria com o LIDE, na última terça feira, empresários apresentaram uma carta dirigida ao governo brasileiro pedindo mudanças na gestão do país. O documento, elaborado com base em uma pesquisa nacional encomendada pelo MBE ao Instituto Datafolha, em fevereiro, foi lido pelo economista Paulo Rabello de Castro em seu discurso de encerramento. A ocasião debateu o tema "Simplificação Tributária e Gestão Pública Eficiente" e contou com a presença de representantes dos candidatos a presidência Aécio Neves e Eduardo Campos. Dilma Roussef não mandou representante .

O MBE divulgou a seguinte nota:
Carta do Povo Brasileiro
Brasil, agosto de 2014
Sr.(a) Governante:
Quem aqui se manifesta é o coletivo que chamamos de Brasil. Nossa voz aprendeu a reconhecer, a respeitar e a defender a terra onde escrevemos nossa história e a transmitimos à geração seguinte. Esse é o Brasil que fala agora ao Governante. 
Dessa vez é o povo que manda o recado. Um recado mais do que necessário, porque o velho monólogo dos marqueteiros do governo, soprando crenças no ouvido do povo, não funciona mais. O povo que lê e escreve nas redes sociais não precisa de intérpretes de pensamento. O governante que queremos é aquele que vai governar com o povo. O governante moderno aprende porque escuta, em seguida planeja suas ações e as executa como combinado. Governo sem plano é desgoverno.
Chegamos ao ponto-limite. Brasília virou uma fantasia bilionária, de fato trilionária, cercada de desperdícios e ineficiências. O poder que manipula trilhões de reais nos orçamentos públicos ainda tem a petulância de afirmar ao povo que “faltam recursos”. Não! Recursos abundam. Fizemos, nas ruas, essa denúncia, em junho de 2013. O recado deveria ter sido suficiente, mas caiu no vazio. 
Nesta Carta, retomamos a luta de Tiradentes, nosso maior manifestante civil: não aceitamos mais carregar no lombo um governo que aplica uma tributação impiedosa sobre o bolso do contribuinte indefeso. O empresário, que poderia estar gerando empregos, virou um proletário do governo. Este está sempre cobrando sua fatia na frente; não espera nem o lucro acontecer. E o povo continua carregando uma das cargas tributárias mais onerosas do planeta: trabalha até a metade do ano só para sustentar o governo e os governantes.
O povo brasileiro quer treinamento e trabalho. Quer aposentadorias e pensões compatíveis com os aportes que faz ao longo da vida. O povo brasileiro não precisa de salvadores; precisa mesmo é de gestão séria e confiável, rotativa e verificável, em todos os níveis de governo. 
Chega de burocracia e de roubar descaradamente o tempo e a saúde do povo nas filas do atendimento médico e nas paradas de ônibus; ou queimar o futuro dos jovens com classes sem bons professores, com a falta de um computador por aluno. Esta Carta marca um ponto de virada. O povo brasileiro só precisa de condições e ambiente adequado para trabalhar, para empreender seus negócios, para desenvolver sua pesquisa, se educar e cuidar do ambiente.
Perdas são pedagógicas. Perdemos, um dia, a democracia, para aprendermos a não perdê-la nunca mais; com a inflação, perdemos o sentido e o valor do dinheiro para, hoje, darmos todo o valor à moeda estável. Temos perdido tempo e energia demais com governos que governam mal e nos custam cada vez mais caro. Nossa paciência não tem o tamanho da vida inteira. O povo brasileiro exige ser senhor do seu tempo. 
Para o Brasil se projetar como líder em sua região e como um exemplo de nação próspera, moderna e justa, perante o mundo.
Queremos de volta a ordem no governo, para termos de volta o progresso, que perdemos.

O "Nobel" da matematica e a Guerra Fria - Michael J. Barany

SundayReview

How Math Got Its ‘Nobel’

Michael J. Barany
The New York Times, August 10, 2014

ON Wednesday in Seoul, the International Congress of Mathematicians will announce the winners of the Fields Medal. First awarded in Oslo in 1936, the medal is given every four years to two to four mathematicians. It is considered the “Nobel Prize” of mathematics (even the organizers of the congress call it that), filling a gap left by Alfred Nobel, who did not include mathematics among the prizes endowed on his death in 1896.
Many mathematicians will tell you that Nobel omitted mathematics from his prizes to spite the Swedish mathematician Gosta Mittag-Leffler, a rival, and that the Canadian mathematician John Charles Fields created the award that bears his name to correct the omission. But this is a myth that needs debunking. First of all, there is no good evidence of a feud between Nobel and Mittag-Leffler. Nobel omitted mathematics simply because it was not as important to him as other endeavors were.
As for Fields, he proposed his award not as a substitute for the Nobel Prize but as a symbol of international unity. In the aftermath of World War I, the scientific community was fractured by national rivalries. When the International Mathematical Union was first founded, in 1920, it explicitly banned representatives of the former Central Powers. Fields so wanted “to avoid invidious comparisons” among candidates for his award that he suggested it be presented “with a view to encouraging further achievement” rather than just honoring past accomplishments. (This remark would later be used to justify the award’s age limit of 40, though Fields never intended the medal just for the young.)
For decades the Fields Medal was relatively obscure. In 1950, neither of the two recipients had heard of the award before being told that he had won it. So how did it become the Nobel Prize of mathematics? The true story helps illuminate the often neglected intersection of mathematics and politics.
On Aug. 5, 1966, The San Francisco Examiner reported that Stephen Smale, a mathematician at the University of California, Berkeley, who had been subpoenaed to appear before the House Un-American Activities Committee in connection with his anti-Vietnam War activism, had fled to Moscow. But Mr. Smale hadn’t fled. The subpoena hadn’t even reached him, for he was already in Europe. As Mr. Smale’s colleagues hurried to clarify to the press, he was on his way to attend the International Congress of Mathematicians, in Moscow, where he was to receive the Fields Medal on the day he was meant to testify.
Some saw Mr. Smale’s award as evidence of Communist affinities. “U.S. Math Teacher Wins Soviet Award” announced The Gettysburg Times. But The San Francisco Chronicle and The New York Times saw things differently. They credited Mr. Smale’s colleagues’ account, quoted in The Associated Press, that he was abroad to accept “mathematics’ closest award to the Nobel Prize” — an exaggeration that, by enhancing Mr. Smale’s stature, helped insulate him from criticism. The scandal faded.
The following year, Mr. Smale returned to the headlines. It appeared that his funding from the National Science Foundation had been blocked by parties unhappy with his antiwar activism. But once again, the claim that Mr. Smale held the equivalent of a Nobel Prize helped to protect his cause, and he retained his funding. The close association between the Fields Medal and the Nobel Prize, an artifact of Cold War politics, would persist to this day.
Because mathematics seems remote from “real world” concerns, people tend to overlook how intertwined mathematics and politics can be. In Mr. Smale’s case, his mathematical work was not directly tied to his political activities (though his renown as a mathematician created opportunities for his political engagement). But mathematics itself can be political, too. After World War II, the United States military funded elite mathematical research in areas ranging from topology and differential equations to operations research and game theory.
Mathematicians have been some of the military-industrial complex’s biggest beneficiaries, but also some of its fiercest critics. Today, in the wake of the controversy about the National Security Agency’s surveillance, mathematicians are debating how they should relate to the agency, one of their largest employers and a longtime funder of their work. The Stanford mathematician Keith Devlin expressed the frustration of many of his peers when he said recently that mathematicians “should refuse to work for the N.S.A. until they both follow the U.S. Constitution and demonstrate responsible use of mathematical tools.”
Mr. Smale is not a mathematician who merely happened to oppose the Vietnam War, just as others are not mathematicians who merely happen to work for (or oppose) the N.S.A. Mathematics is a critical part of who they are and what they do, for better and sometimes for worse.
To say mathematics is political is not to diminish it, but rather to recognize its greater meaning, promise and responsibilities.

Politica economica companheira: uma assemblagem de slogans utopicos

Talvez os professores, por serem professores, tenham lido esses livros de economistas, talvez. O mais provável é que tenham lido artigos sobre os economistas keynesianos e socialistas e ficado por aí.
Mas certos alunos, por serem mais militantes da causa do que estudantes, nunca lerem os originais, e se contentaram com o que ouviram dos professores em salas de aula.
Muitos não aprenderam nada, e preferiram continuar na militância política.
Para nossa infelicidade, foram justamente esses que não aprenderam nada, que apenas retiveram alguns slogans "de orelha", foram esses que chegaram ao poder e que começaram a fazer política econômica com base em dois ou três slogans aprendidos de orelha...
Eles fazem parte daquela tribo que eu chamo de keynesianos de botequim, talvez mais de botequim do que keynesianos...
Paulo Roberto de Almeida 

Minsky: o entusiasta do intervencionismo que tem inspirado Dilma

Teórico de pensamento heterodoxo que inspirou a escola desenvolvimentista, ele teve seu auge durante a crise de 2008; para a presidente Dilma, contudo, seu momento é agora

Ana Clara Costa
Veja, 9/08/2014
Hyman Minsky
O economista que acredita no 'socialismo de mercado' tem inspirado a presidente (Levy Economics Institute of Bard College/VEJA)

Recentemente, a coluna Radar, de VEJA, revelou que o economista americano Hyman Minsky (1919-1996) tem rondado o pensamento da presidente Dilma Rousseff. Segundo a nota, ela “tem usado muito a expressão ‘isso é Minsky’ sempre que faz um diagnóstico econômico ou justifica determinada ação do governo na economia”. É bom saber o que vai pela cabeça de quem manda. Mas esse conhecimento pode ser um pouco assustador – como por certo é o caso na ligação entre Dilma e esse adepto inveterado do intervencionismo estatal.
Durante a vida, Minsky, que foi orientando de Joseph Schumpeter em Harvard, desfrutou de uma fama não mais do que moderada. Com a crise de 2008, ele foi subitamente incensado, por causa de escritos que pareciam proféticos em relação ao que estava acontecendo. Minsky formulou uma certa Hipótese da Instabilidade Financeira, que assevera que a dinâmica interna do capitalismo contemporâneo, no qual o sistema financeiro desempenha um papel preponderante, implica necessariamente a alternância entre turbulência e tranquilidade. Períodos prósperos trariam as sementes de seu próprio desmonte por tornar irresponsáveis tanto aqueles que emprestam quanto aqueles que tomam dinheiro emprestado. Necessário para o vigor do capitalismo, o sistema financeiro tenderia por natureza ao excesso. Com o tempo, haveria o surgimento de uma bolha especulativa, uma acumulação desgovernada de dívidas sem lastro – até o momento em que a fragilidade de todo o edifício seria notada. Aí ocorreria uma reversão brusca do ciclo econômico, aquilo que acabou sendo batizado como “momento Minsky”.
Uma vez iniciado um cataclisma desse tipo, Minsky prescrevia a adoção de remédios como estímulos fiscais e intervenções do Banco Central como “emprestador de última instância”, que dessem algum alento à economia. Insistia também na necessidade de regulamentação dos mercados financeiros. No pós-crise, seu receituário foi debatido nas páginas do Wall Street Journal e da Economist, bem como em relatórios do banco central americano, o Federal Reserve – um deles assinado por Janet Yellen, atual presidente da instituição.
Mas, perguntava Minsky, como evitar que tudo recomece? Como atacar a suposta doença central do capitalismo, o fato de que nele a estabilidade é iminentemente desestabilizadora? Como diz o título de um de seus últimos textos, o economista tinha “um programa positivo para um capitalismo bem sucedido”. Que consistia, basicamente, em transformá-lo em uma forma de socialismo.
Minsky afirmou certa vez que o pensamento teórico deveria ser guiado por uma visão, por um “mapa da Utopia”. Ele nunca fez segredo de aonde o seu mapa levava. Seus pais haviam se conhecido durante a celebração dos 100 anos de nascimento de Karl Marx, numa festa organizada pelo Partido Socialista de Chicago. Ele mesmo se engajou muito cedo. E foi num seminário organizado pelo partido, em 1939, que ele decidiu mudar o rumo de seus estudos universitários da matemática para a economia. O palestrante era o polonês Oscar Lange, que preconizava, justamente, a criação de uma espécie de socialismo de mercado em que houvesse controle social e planificação do investimento, mas não da produção de bens.
Em 1985, Minsky redigiu um ensaio autobiográfico no qual apontou Lange como a maior influência no seu início de carreira, acrescentando que seu programa de pesquisa, apesar de tanto tempo decorrido, ainda se mantinha coerente com as ideias do velho mestre. Ou seja, o mapa da utopia estava traçado desde sempre – ele apenas havia tornado os seus contornos mais nítidos, recorrendo, sobretudo, às obras do inglês John Maynard Keynes, sobre quem escreveu extensivamente e em quem também se amparou para defender um projeto de sociedade em que o Estado fosse grande e “salvasse o capitalismo de suas ineficiências”, tomando em sua mão visível, e pesada, as rédeas das decisões de investimento.
Minsky reservava ainda outro papel ao Estado: o de “empregador de última instância”.  Sua tese era que o governo deveria garantir o pleno emprego, pagando salário mínimo a qualquer um que estivesse apto a trabalhar. A criação direta de postos de trabalho deveria ter precedência, nas políticas públicas, quer sobre programas de assistência social, quer sobre programas de treinamento e especialização dos trabalhadores. A estratégia deveria ignorar o grau de qualificação do desempregado. “Acolha-os do jeito que forem, e adeque os postos às suas capacidades”, dizia Minsky. Essa é sua proposta mais extravagante, e até os entusiastas hesitam em levá-la a sério. A primeira coletânea de seus escritos sobre emprego foi lançada apenas no ano passado.
Como todo socialista, Minsky afirmava que suas preocupações eram a eficiência econômica, a justiça social e a liberdade individual. Há quem diga isso sem acreditar por um segundo nas próprias palavras. Minsky aparentemente pertencia ao grupo mais honesto, mas não menos perigoso, daqueles idealistas que acreditam que a equação socialista pode realmente ser benigna. “O que importa não é se a propriedade é privada, mas que a sociedade seja democrática e humana”, escreveu. Ele assistiu à derrocada da União Soviética e analisou o fenômeno, mas nem por isso perdeu a fé. Em boa parte, porque seus escritos nunca descem do plano da abstração econômica para estudar como, na prática política, a centralização de poder num Estado hiperdimensionado e dotado de poderes de planificação corrói o processo democrático.
No Brasil, o principal reduto de estudiosos de Minsky é a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde a presidente Dilma fez seus estudos em Ciências Econômicas. Ele se faz presente, em especial, na área de Pós-Graduação em Economia Política, de onde saíram muitos dos economistas da linha desenvolvimentista filiados ao PT — e onde lecionou Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Coutinho é grande conhecedor da obra de Minsky no país, classificando-a como “genial” em artigos redigidos quando era professor universitário. Dilma foi sua aluna na pós-graduação e herdou dele a admiração pelo americano. Outro economista oriundo da Unicamp que lecionou sobre o autor a uma classe que tinha entre seus alunos a presidente foi Otaviano Canuto, atual consultor para os assuntos dos Brics no Banco Mundial. Ele era diretor do Instituto de Economia e professor da universidade quando Dilma cursou suas quatro disciplinas de doutorado, entre 1992 e 1994. Mas ele não acredita que o interesse da presidente por Minsky tenha surgido em suas aulas. "Dilma teve aulas sobre Minsky com Coutinho, Luiz Gonzaga Belluzzo e Gilberto Tadeu Lima. Quando lecionei macroeconomia para ela, já vinha formada", afirma.
Outros economistas que orbitam em torno do PT, além da turma da Unicamp, leem com admiração as obras de Minsky. Há Márcio Pochmann, por exemplo, ex-presidente do Ipea e atual chefe da Fundação Perseu Abramo, que tem a função de subsidiar governos petistas com propostas de cunho econômico-social. Ou Nelson Barbosa, ex-secretário Executivo do Ministério da Fazenda e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mas o que de Minsky, afinal de contas, tem sido posto em prática no governo Dilma Rousseff? “Nada”, diz Luiz Fernando de Paula, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e fundador da Associação Keynesiana no Brasil. “Não há sinais de sua obra na política econômica conduzida pela presidente”. Ao que tudo indica, é charmoso citar Minsky em certos círculos – talvez por causa do seu “mapa da utopia”. E só. A notícia é tranquilizadora. Só não é melhor porque até algumas ideias do autor seriam um avanço em relação à política econômica atual. No seu entusiasmo pelo big government, por exemplo, o economista tinha lá suas preferências. Para ele, governos que gastam dinheiro em infraestrutura e formação de capital são muito melhores do que aqueles que gastam apenas para incentivar o consumo, como tem feito Dilma com suas políticas. Pois é. Isso não é Minsky.