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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

A nova hegemonia do agronegócio no Brasil atual - Stephen Kanitz (junho 2020); comentário Paulo Roberto de Almeida

O texto é do Kanitz (de junho último), é interessante, mas impressionista, e foi feito, como vários outros dele, para impactar, de forma enganosa, aqueles que não conhecem verdadeiramente o completo primário-industrial-científico e de serviços do agronegócio brasileiro. 

Isto se deve em parte à passagem da agricultura atrasada  do Brasil tradicional a uma baseada em produtividade na era militar (em grande medida identificada com a Embrapa, hoje menos relevante) e em grande medida aos NOVOS BANDEIRANTES, que são os gaúchos que passaram a ocupar as área de fronteiras agrícolas do vasto interior brasileiro. 

Em nossa infância, era uma vergonha ouvir que o Brasil era um país "essencialmente agrícola", preconceito contra o qual se batia Eugênio Gudin, que lutava para que o Brasil explorasse suas vantagens comparativas absolutas e relativas, pela modernização da agricultura. Ganhou teoricamente o debate com Roberto Simonsen, mas perdeu na prática para o grupo dos industrialistas protecionistas e militares estatizantes, todos eles partidários do stalinismo industrial (para os ricos) que tivemos desde JK e intensificado na era militar. 

Mas não nos iludamos; o vibrante agronegócio brasileiro, vitorioso como é na competitividade externa, é tão, ou mais, protecionista do que seus colegas industriais, que estão na base da nossa "indústria infante", hoje com 70 anos. A visão desenvolvimentista de muitos economistas brasileiros se identifica em parte com o stalinismo industrial dos militares, ao passo que Xico Graziano (ver postagem anterior neste blog) é propenso a esconder o protecionismo agrícola dos capitalistas do campo. O Brasil continua a ser um país avestruz.

Paulo Roberto de Almeida

Entenda Essa Crise Política. É o Poder Mudando de Mão.

Essa súbita polarização na política, que deve estar assustando muita gente, é na realidade um fim de ciclo.

O poder reinante nesse país nos últimos 25 anos está sucumbindo, lutando com todos os seus meios para impedir o inevitável.

Usam jogo sujo sim, mas é por puro desespero. Acreditem.

Quem está perdendo miseravelmente nesses últimos 30 anos são as indústrias, os sindicatos, os trabalhadores de chão de fábrica, as grandes cidades, os industriais cada vez mais falidos e subsidiados.

Quem está crescendo e ganhando é a Agricultura.

A agricultura já representa 25 % do PIB, contra 10% anos atrás.

Coloca mais serviços de advocacia, transporte, bancos e seu poder econômico passa a 30% mais ou menos.

Significa crescente poder político, que ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, o setor Agrícola ainda não tem.

Foi sempre a agricultura que gerou exportações e superavit no câmbio, foi sempre a indústria que usou esses superavit importando máquinas estrangeiras.

A Indústria sempre foi muito mais forte politicamente do que a Agricultura, mas agora ela definha, não apresenta lucros, não tem mais poder financeiro.

Foi sempre a Indústria que indicava os Ministros da Fazenda, normalmente economistas ligados a Fiesp como Delfim Netto e Dilson Funaro, por exemplo.

Foi esse total descaso pela nossa Agricultura que resultou no enorme êxodo rural, que tanto empobreceu o país e fortaleceu justamente partidos que atendiam as demandas dos bairros pobres.

Nada menos que 45% de nossa população teve que abandonar a agricultura, abandonada que foi pelos Ministros da Fazenda.

Que nem sabem mais o significado de “Fazenda”, apropriado para um país destinado à agricultura, como o Brasil e a Argentina.

Foi Raul Prebisch, que convenceu economistas argentinos e brasileiros como Delfim, Celso Furtado, José Serra, FHC e toda a Unicamp, a esquecer nossa agricultura a favor da “industrialização” para o mercado interno, a famosa “substituição das importações”.

Por isso investir fortunas em “incentivos”, leis Kandir, subsídios via o BNDES em indústrias antigas, mas que “substituiriam as nossas importações”, importações que geralmente eram dos mais ricos, produzir produtos populares para classe C e D, nem pensar.

Somente a partir de 1994 é que passaram a produzir para a Classe C e D, movimento do qual fiz parte.

Além das milícias que invadiam terras, a luta por reservas, contra a ampliação de terras produtivas, destruição de pesquisas de aprimoramento genético.

Nossos industriais perceberam tardiamente que foi justamente essa “substituição das importações” que iria gerar nossa estagnação e não inovação, e lentamente destruímos a nossa indústria nascente a partir de 1987.

De 27% do PIB, a indústria entrou numa espiral descendente para 11% hoje.

Os advogados contratados são na maioria de recuperação financeira. Que reviravolta!

Essa atual crise política no fundo é a crise da indústria e das famílias ricas desesperadas, empobrecidas, mas ainda com certo poder político.

É a crise dos sindicatos trabalhistas que viviam dessas contribuições sindicais.

Perdem poder econômico e percebem que estão perdendo o político, do qual nunca mais se recuperarão a curto prazo.

Quem acha o contrário, que pense nos números.

Isso explica o desespero da imprensa, dos artistas subsidiados, dos intelectuais das grandes cidades.

Ele é violento, por ser desesperado.

Mas é simplesmente o canto da sereia desse grupo que vivia da indústria e de seus impostos.

Os números que apontei são inquestionáveis e só tendem a crescer.

A Agricultura, justamente por ter sido esquecida pelo Estado, venceu a Presidência e 15 Estados.

Ronaldo Caiado, representante eterno dos agricultores, vence em Goiás. As grandes cidades foram contra, elegendo Doria e Witzel.

“Bolsonaro é quase unanimidade no setor”, disse Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).

Mais Brasil Menos Brasília, é na realidade o brado “mais campo e comunidade e menos cidades gigantes e em decadência moral”.

Bolsonaro não foi eleito pelos liberais nem pelos conservadores das grandes cidades, que hoje se sentem enganados e só falam mal dele.

Com o Covid, haverá uma fuga das grandes cidades para o campo, dos apartamentos para casas, dos escritórios para o Zoom.

E em mais quatro ou cinco anos, a Agricultura terá provavelmente o poder político que merece, elegerá quem quiser, com ou sem Bolsonaro candidato em 2022.

E todos sabemos que no Brasil “dinheiro é poder”.

“Follow the money”, como diria Sérgio Moro.

Na cidade Agronômica, Bolsonaro ganhou com 79% dos votos.

Na cidade de Sorriso teve 74% dos votos.

Na cidade Rio Fortuna teve 68% dos votos.

Em Mato Grosso do Sul teve 61% dos votos.

Vejam os mapas da fronteira agrícola e os votos dados ao Bolsonaro em 2018.

Quem elegerá os nossos Presidentes em 2022, 2026, 2030 será provavelmente a bancada agrícola, não a bancada industrial, sindical, nem a urbana.

A tese de que Bolsonaro não foi eleito, mas que foi Haddad que foi rejeitado não se sustenta numericamente.

Haddad tinha 41% de rejeição contra 40% de Bolsonaro. Ou seja, a diferença era de somente 1 ponto percentual.

Ricardo Salles é que está dando um chega para lá aos ecologistas que querem destruir nossa agricultura, e foi quem ajudou termos esse superavit colossal em 2020.

Nesse caso a agricultura demonstra que consegue colocar pessoas além do Ministério da Agricultura, dando suporte a essa tese.

Bolsonaro colocou uma engenheira agrônoma como Ministra da Agricultura, em vez de um político e advogado como Wagner Rossi, indicado por Lula e Dilma.

Será o constante crescimento do Comunitarismo da pequena cidade daqui para a frente, em detrimento das ideologias do passado que fracassaram.

É o crescimento do interior Comunitário e Solidário.

Sem dúvida, uma batalha que será violenta nos próximos anos, mas tudo indica que o Brasil agrícola será o vencedor.


A evolução tecnológica do agronegócio - Xico Graziano

Xico Graziano demonstra como o agronegócio não é só moderno, mas indispensável igualmente. 

Xico Graziano destaca evolução tecnológica do agronegócioa Brasil

XICO GRAZIANO
Poder360, 25.set.2020 (sexta-feira) - 6h00


Todos os municípios líderes de polos agrícolas no Brasil têm IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) acima da média dos Estados onde se localizam. Vejam algumas referências:

  1. Rondonópolis tem IDH de 0,755 e Sinop tem IDH de 0,754, contra 0,725 do Mato Grosso.
  2. Balsas tem IDH de 0,687, contra 0,639 do Maranhão.
  3. Luiz Eduardo Magalhães tem IDH de 0,716, contra 0,660 da Bahia.
  4. Rio Verde tem IDH da 0,754, contra 0,735 de Goiás.
  5. Dourados tem IDH de 0,747, contra 0,729 do Mato Grosso do Sul.
  6. Araçatuba tem IDH de 0,788, contra 0,783 do Estado de São Paulo.

O IDH superior dos municípios líderes do agronegócio comprova que o efeito multiplicador das atividades geradas no agro beneficia toda a sociedade. A renda agregada se distribui, os empregos indiretos crescem, o comércio se dinamiza. Basta ver o ânimo dos shoppings centers, das revendas de veículos, das oficinas, escritórios, dos inúmeros serviços associados ao mundo rural.

Esse dinamismo econômico provocado pelos modernos polos de agronegócio não é ainda bem entendido pela economia clássica. Nesta, divide-se a economia de um país em 3 setores: primário (agricultura), secundário (indústria) e terciário (comércio). Tal esquematização servia, antigamente, para analisar as economias onde a agricultura era tradicional, a indústria puxava e os serviços começavam.

Acontece que, no Brasil, desde os anos de 1980, as cadeias produtivas ligadas ao agro foram se tornando mais e mais complexas, envolvendo outros setores, de processamento, de insumos e máquinas, de crédito, de tecnologia, chegando até o consumo da população com marcas nas gôndolas do supermercado.

Esse movimento contemporâneo que gerou o atual agronegócio agrega muito valor aos produtos finais. Quando uma tonelada de soja, ou de carne, sai para a distribuição interna, ou é exportada pelo porto, nela está contida elevada dose de tecnologia. Poderosos investimentos em conhecimento foram capazes de elevar a produtividade dos fatores de produção rural, na média dos últimos 40 anos, em cerca de 3,4% ao ano.

Ou seja, não vivemos mais no mundo separado entre indústria e agricultura, e nem esta é mais, como se dizia, primária. Segundo o Cepea/Esalq/USP, o PIB do agronegócio sobre o PIB brasileiro cravou 21,4% em 2019. Esta é a fatia da riqueza brasileira gerada a partir da produção rural.

Nesta fatia, a produção rural, propriamente dita, representa apenas 22% do valor total do agronegócio. Ou seja, lavouras e pecuária, atividades que se praticam dentro da porteira das fazendas, já é parte menor do agronegócio. Incrível.

A agroindústria de processamento (frigoríficos, lacticínios, usinas de açúcar, celulose, torrefação de café) gera valor maior, de 30%, dentro do agronegócio como um todo. Já os chamados agrosserviços (assistência técnica, transporte de cargas, varejo, açougues, quitandas, restaurantes, finanças, propaganda, exportação, etc.), lideram o PIB do agronegócio com peso de 42%.

Resumindo: a produção da roça, hoje em dia, faz movimentar uma roda gigantesca de atividades econômicas, gerando renda e empregos que se espalham pelo país. No século 21, o rural dinamiza o urbano.

Certos economistas tradicionais ainda pensam a agricultura como antigamente. Este é o erro, grave, cometido por Luis Piemonte, em seu artigo publicado aqui no Poder360, intitulado “País focado no agronegócio será sempre desigual”.

Piemonte pensa que ainda praticamos… “a milenar agricultura, aprendida nos primórdios da humanidade (cujo) caminho normal é confiar apenas na ajuda da mãe terra, jogando nela sementes e esperando que se desenvolvam para colher, ensacar e vender”.

Meu Deus, será que o professor nunca leu nada sobre a evolução tecnológica recente do agro? Já ouviu falar na Embrapa? Em que mundo vive Luis Piemonte?

O Brasil ainda não descobriu a força de seu agro, pois se apega ao raciocínio econômico tradicional e vê apenas rasas commodities onde existe profundo valor agregado. Invertendo o raciocínio de Piemonte, eu diria: o grão de soja agrega tecnologia a cada safra, tal qual o telefone celular agrega funcionalidades ano a ano.

Em termos globais, a Austrália e a Nova Zelândia, países fortemente agrícolas, mostram elevado IDH, ocupando respectivamente o 6º e o 14º lugar no ranking mundial de qualidade de vida.

Conclusão: não é verdade que um “país focado no agronegócio será sempre desigual”. Cqd.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Sob Bolsonaro, fundação do Itamaraty vira palco de fake news sobre covid-19 - Carolina Marins (Uol)

Sob Bolsonaro, fundação do Itamaraty vira palco de fake news sobre covid-19

Carolina Marins

Vinculada ao Ministério de Relações Exteriores, a Funag (Fundação Alexandre de Gusmão) tem realizado, durante a pandemia de covid-19, uma série de seminários questionando evidências científicas e colocando em suspeição a palavra de cientistas, médicos e jornalistas. Há ainda críticas às instituições internacionais como a OMS (Organização Mundial da Saúde), questionamento das medidas de proteção e críticas a prefeitos e governadores.

Os eventos semanais têm como objetivo discutir os desafios e perspectivas para o Brasil no pós-pandemia. Especialistas em política internacional ouvidos pelo UOL, contudo, veem uso político do Itamaraty e uma tentativa de politizar a pasta como já ocorreu com outros ministérios. Os vídeos são transmitidos nos canais da Funag e retransmitidos por blogs de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Em uma palestra no dia 3 de setembro, um dos palestrantes diz que máscaras são perigosas para pessoas saudáveis: "A máscara não só é inócua no combate à pandemia mas ela é também nociva, causa problemas de saúde". A informação é falsa: o uso correto das máscaras reduz a quantidade de partículas virais expelidas e, portanto, ajuda a conter o avanço da pandemia.

Em outro momento no mesmo seminário, outro convidado diz que a pandemia foi "instrumentalizada por comunistas e globalistas para controle político" e elogia o termo "comunavírus" cunhado pelo chanceler Ernesto Araújo. A obrigatoriedade de vacinas, o socialismo e engenharia social são temas também comuns nos eventos.

O globalismo, como já mostrou o UOL Confereé um tema recorrente em fake news, assim como a informação de que o vírus teria sido criado em laboratório, o que também não é verdadeiro.

Os convidados são sempre oriundos de sites e blogs conservadores e não há nomes ou mesmo outros eventos com pontos de vistas diferentes. Durante as transmissões, o presidente da fundação, Roberto Goidanich, tende a concordar e incentivar os palestrantes.

UOL procurou o Itamaraty e a Fundação Alexandre de Gusmão nos dias 24, 25 e 30 de setembro via e-mail, mas não obteve um posicionamento até o fechamento desta reportagem. Se enviado, ele será publicado neste texto.

Politização do ministério

A Fundação, criada em 1971, tem por objetivo difundir os temas relacionados à política externa brasileira. Entre as suas atribuições estão a publicação de livros e a realização de debates, seminários e cursos. Mas a agenda fortemente ideológica e com apelo popular chama a atenção em uma instituição historicamente considerada mais pragmática.

"O trabalho da Funag é tentar romper com o isolamento do Itamaraty e trazer a sociedade para uma política externa mais democrática", explica o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, David Magalhães.

[A Funag] Não é para virar um bunker de ideias da nova direita, o que se tornou com Ernesto Araújo, com aqueles blogueiros que nunca teriam espaço na Funag porque não têm publicação, não têm inserção em comunidade científica, não tem nada. São ideólogos que vivem de guerra virtual e cultural nas redes sociais"David Magalhães, professor da PUC-SP

Magalhães ressalta que mesmo no governo Lula, quando houve acusações de partidarização do Itamaraty, a instituição foi utilizada dessa forma. Já o professor da FGV Oliver Stuenkel diz que é normal o uso do Ministério de Relações Exteriores para mobilizar a base eleitoral e que os governos Lula e FHC já o fizeram, porém não de forma tão propagandista.

"A política externa é uma política pública do governo, então é normal que pense sobre qualquer política pública em termos eleitorais, agora o grau e a intensidade com a qual a política externa está se transformando em uma ferramenta da propaganda bolsonarista é sem precedentes."

Ex-chanceler dos governos Lula e Dilma Rousseff, Celso Amorim concorda com o pesquisador. "Nunca houve essa coisa obscurantista que está ocorrendo agora. Eu acho que isso é um comportamento negativo. Além de não servir para nada do ponto de vista prático, desmoraliza a própria instituição. O Itamaraty nunca teve uma reputação tão baixa", diz.

"Essa atitude atual é totalmente irracional. Ao mesmo tempo em que você defende uma política comercial ultraneoliberal que seria totalmente ligada a uma ideia de globalidade, você faz tudo em defesa da soberania nacional. É um poço de contradições e irracionalidade. E eu acho que isso não é uma coisa por acaso, porque se forma uma cortina de fumaça que permite a esse governo tomar as decisões mais contrárias ao interesse nacional", completa Amorim.

O professor da FGV, Oliver Stuenkel, explica que há uma pressão sobre o Itamaraty em meio a um processo de politização das instituições públicas. "O Itamaraty é o único ministério que tem um processo seletivo meritocrático e que, portanto, não se deixa politizar com tanta facilidade. Então, o governo Bolsonaro enxergou no Itamaraty uma ameaça ao projeto de politizar a máquina pública."

Esses eventos que estão acontecendo agora buscam dar algum verniz de substância intelectual às ideias articuladas pelo chanceler Ernesto Araújo. O problema obviamente é que não há um pensamento que tenha uma coerência teórica por trás."Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV

UOL solicitou entrevista sobre o tema ao ministro Ernesto Araújo, que não respondeu aos pedidos da reportagem.

Trechos estratégicos

O professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Pedro Feliú, explica que, embora o Itamaraty seja visto como mais pragmático ao longo dos governos, ele ainda é muito dependente do presidente da República e de suas ideologias.

É essa lógica do governo de contato com uma parcela da opinião pública e, aí, talvez o curioso seja usar o Itamaraty para isso. No fundo, o que se quer é mobilizar a opinião pública, convencer, persuadir, numa questão absolutamente bem doméstica. A pandemia é global, mas você decide internamente se vai ter máscara, se vai ter isolamento, etc."Pedro Feliú, professor da USP

O professor chama atenção para o fato de, após o fim dos seminários ao vivo no YouTube, os vídeos serem recortados em trechos estratégicos e com títulos chamativos para a base bolsonarista. "Máscaras são nocivas", "O avanço do comunismo 2.0", "O que fazer com a OMS", "Como destruir um país" e outros títulos são comuns.

"A ideia é ocupar espaços e confrontar o que eles chamam de hegemonia progressista ou de esquerda na mídia, nas universidades, nas editoras, e fazer uma espécie de confrontação", completa David Magalhães.

Confrontações e respostas

A postura do Itamaraty já causou pedidos de esclarecimentos por deputados do Psol, que enviaram ao chanceler Ernesto Araújo um requerimento exigindo explicações acerca da presença olavista na política externa.

O chanceler respondeu justificando a execução dos seminários devidos aos "likes" que eles geram. Segundo o documento obtido pelo UOL via o colunista Jamil Chade, os participantes de eventos são definidos "conforme o potencial interesse e relevância para a sociedade brasileira" e que a "Funag se esforça para que seus eventos contribuam para o pluralismo do pensamento [...], o que significa também incluir visões conservadoras".

Em resposta, o Instituto Diplomacia para Democracia, comandado pelo diplomata Antonio Cotta, tem realizado seminários questionando os temas abordados pela Funag e trazendo acadêmicos para a discussão. O professor David Magalhães, que coordena o Observatório da Extrema Direita, já foi um dos convidados desses eventos.

"A ideia é procurar fazer um contraponto, ampliar o debate sobre os temas que têm sido discutidos, sobre as polêmicas que têm sido levantadas, as releituras históricas e as tentativas de doutrinação ideológicas que têm sido feitas ali. E em segundo lugar, ampliar o entendimento e reflexões sobre o que esse pessoal vem formulando, as narrativas que eles têm criado", explica o diplomata.


domingo, 11 de outubro de 2020

Fauci says Trump campaign ad twists his words on virus (AFP)

Fauci says Trump campaign ad twists his words on virus 

(AFP) Top government scientist Anthony Fauci said Sunday that an ad aired by Donald Trump's reelection campaign was edited to make him seem to endorse the president's handling of the coronavirus pandemic.

"In my nearly five decades of public service, I have never publicly endorsed any political candidate," Fauci, the longtime director of the National Institute of Allergies and Infectious Diseases, said in a statement sent to AFP.

The 30-second campaign ad cites Trump's personal experience with the virus — "President Trump is recovering from the coronavirus, and so is America," it says — before including a brief clip in which Fauci appears to praise the president's response to the pandemic.

"I can't imagine that anybody could be doing more," Fauci is shown as saying, creating the clear impression he is referring to Trump.

But a complete clip of Fauci's comments, made during an interview in March with Fox News, shows the doctor saying: "I have been devoting almost full time on this. I'm down at the White House virtually every day with the task force. It's every single day. So, I can't imagine that under any circumstances that anybody could be doing more."

In his statement Sunday, Fauci said, "The comments attributed to me without my permission in the GOP campaign ad were taken out of context from a broad statement I made months ago about the efforts of federal public health officials."

Trump defended the clip, and his handling of pandemic, and rebutted the doctor's criticism.

"They are indeed Dr. Fauci's own words. We have done a 'phenomenal' job, according to certain governors," the president wrote in a tweet.

As a leading member of the White House task force on the coronavirus, the 79-year-old doctor has frequently had to walk a fine line in attempting to clarify — or correct — the Trump's often incautious assertions about the disease or the treatments and vaccines being developed against Covid-19.

Fauci has at times aroused Trump's ire, as when the president in April retweeted a message containing the hashtag #FireFauci — before publicly insisting the doctor was doing a great job.



Roberto Campos: uma frase infeliz e os liberais brasileiros - Paulo Roberto de Almeida

Roberto Campos: uma frase infeliz e os liberais brasileiros 


 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivocomentário sobre uma frasefinalidadeesclarecer pensamento de Roberto Campos]

 


No dia em que se comemoravam os 19 anos do falecimento do diplomata e economista Roberto Campos, o site do Livres publicou, e depois retirou, debaixo de críticas, uma frase sumamente infeliz do grande estadista brasileiro falecido em 2001, depois de uma vida profícua a serviço do Brasil, como diplomata, como economista, como ministro e como parlamentar, tendo deixado uma imensa obra absolutamente incontornável para quem precisa entender o Brasil da segunda metade do século XX. 

A frase, uma das muitas frases provocadoras com que ele enfeitava seus artigos semanais nos grandes jornais brasileiros, foi esta aqui: “Há três saídas no Brasil: o aeroporto do Galeão, Cumbica e o liberalismo”. Abaixo do nome, o Livres esclareceu: “Economista e diplomata liberal”. Nem a frase é representativa do personagem, nem a caracterização corresponde inteiramente à verdade, ou melhor, não pode ser usada para identificar toda a trajetória da vida, da obra, do pensamento do grande homem de Estado, nascido em lar humilde e que ascendeu na elite do pensamento e da governança do Brasil graças a seu próprio empenho nos estudos e nas atividades diplomáticas e como grande tecnocrata do Estado brasileiro, durante toda a fase de desenvolvimentismo (e de crises econômicas e políticas) da segunda metade do século XX. 

Mas, as reações dos “liberais” que, aparentemente, determinaram a retirada dessa postagem do site do Livres denotam uma incompreensão quanto às realidades de cada um dos momentos turbulentos da vida brasileira, quando políticos eleitos, burocratas e servidores públicos não eleitos, intelectuais independentes ou a serviço de alguma das correntes políticas em que se divide normalmente o eleitorado e a opinião pública, são levados a sustentar, apoiar e defender, ou a atacar, denegrir e até a derrubar (tarefa dos militares) os sucessivos governos que ocuparam o Estado nos últimos 70 anos de vida política. 

Os presidentes que foram eleitos e que passaram o poder a seus sucessores sob as mesmas regras políticas e eleitorais são extremamente raros, menos do que os dedos de uma única mão. Nesse longo período, servidores públicos estiveram sob o comando de dirigentes e se submeteram a políticas que foram ortodoxas, heterodoxas, liberais, intervencionistas, dirigistas, monetaristas, desenvolvimentistas, estabilizadoras, inflacionistas, alinhadas ao “Ocidente”, neutralistas (ou praticando diplomacias independentes), esquerdistas, golpistas, e toda sorte de combinações e misturas entre todas essas tendências políticas e econômicas, juntas, separadas e confundidas, não cabendo agora separar estritamente cada uma em função dos sucessivos mandatos eleitorais (vários não concluídos, por suicídio, golpe, impeachment, morte, golpe dentro do golpe ou qualquer outro evento fortuito ou fabricado). 

O que deveriam fazer os servidores públicos em face de todas essas turbulências, instabilidades e fatalidades de um sistema político-partidário tendencialmente fragmentado e esquizofrênico? Demitir-se a cada vez? Evidentemente que não: burocratas e burocracias são como as baratas, resistem até a ataques nucleares, e conseguem sobreviver às mais virulentas “surpresas” que possam surgir a partir do próprio sistema político ou, até frequentemente durante a maior parte do século XX, a partir das intervenções dos militares (supostamente, mas equivocadamente, o “poder moderador” da República, depois do Imperador sob a monarquia do século XIX). Quem não consegue compreender essas realidades da história política e econômica brasileira condena-se a repetir banalidades, ou ficar com generalidades de conceitos abstratos, como essas dicotomias alimentadas por militâncias políticas. 

Quais são essas dicotomias, frutos de maniqueísmos ideológicos mais frequentes nos grupúsculos políticos do que nas grandes agremiações pragmáticas? São as que geralmente dividem esquerda e direita a partir de absolutos conceituais, sem grande significado para a maioria dos cidadãos que se situam no meio do espectro político, da centro-direita à centro-esquerda, com alguma extensão para liberais e conservadores no primeiro bloco e para socialistas no segundo. Salvo períodos muito delimitados da nossa história, raramente o Brasil descambou para algum extremo do leque político: o Estado Novo (uma espécie de reação à tentativa de tomada violenta do poder pelos comunistas), os anos de chumbo da ditadura militar e poucos outros episódios extremamente raros nessa longa trajetória.

Bem considerado, desde a República de 1946, só tivemos um governo extremista, de fato e de direito: a Junta Militar de 1969 e os anos de vigência do AI-5. Nem o golpe de 1964 – que foi o resultado de um profunda crise político-militar –, nem o governo “esquerdista” dos anos lulopetistas e menos ainda o atual governo de extrema-direita do inepto capitão fracassado na carreira militar, e que se converteu em político extremamente medíocre, podem ser chamados de extremistas, uma vez que apoiados em diferentes forças políticas, dotados de orientações econômicas combinando diversas orientações macroeconômicas e setoriais, e combinando, portanto, os impulsos materiais – agrários, industrias, financeiros, etc. – em que se divide uma sociedade urbanizada e complexa como a brasileira. Cabe compreender essas realidades quando se contempla uma personalidade igualmente complexa como a de Campos.

Em primeiro lugar, ele não era um diplomata liberal, ao início de sua carreira, e só pode ser identificado com essa corrente já na etapa madura de sua vida, depois de ter exercido diferentes cargos a serviço do Estado desenvolvimentista que foi o que se exerceu no Brasil desde o imediato pós-guerra e que, aliás, continuou assim durante toda duração do regime militar, e mais ainda na redemocratização, com as turbulências econômicas e políticas que se conhecem nas cinco décadas em que ele foi ativo na diplomacia, na economia e na política brasileira, com uma contribuição inigualável para a história do pensamento e da ação prática em política econômica em política externa em nosso país. A despeito de ter elaborado uma dissertação de mestrado – considerada nada menos que equivalente a um doutoramento por ninguém menos do que Joseph Schumpeter – razoavelmente situada no mainstream do pensamento econômico de sua época (a segunda metade dos anos 1940, ainda não dominada inteiramente pelo keynesianismo triunfante dos anos 1950 e 60), Roberto Campos poderia ser considerado um típico burocrata da época do New Deal e da reconstrução, adepto da ação planejadora do Estado e mesmo de sua intervenção ativa nos assuntos econômicos privados, em face da imensa destruição dos anos 1930 e da Segunda Guerra. 

Oswaldo Aranha, que chefiou a Delegação do Brasil junto à ONU naqueles anos, chegou a considera-lo quase um “comunista”, em função da ênfase de Campos no papel do Estado, nas áreas do planejamento econômico para sustentar o crescimento. Depois ele participou de um exercício de “keynesianismo aplicado” – que foi a Comissão Econômica Mista Brasil-Estados Unidos – a despeito de que os governos respectivos dos dois países fossem identificados teoricamente como de direita ou de centro direita (democratas e republicanos nos EUA, de Truman a Eisenhower, e de direita ou nacionalista no Brasil, de Dutra a Vargas). O resultado da Comissão foi a criação do BNDE, a recomendação do estabelecimento de um Banco Central, e fundação da Petrobras e da Eletrobras, entre outras medidas intervencionistas. Pouco depois, Eugênio Gudin, breve ministro da Fazenda do governo Café Filho (1954-55), convidou-o para substituí-lo como professor de Economia Monetária na então Universidade do Distrito Federal, mesmo considerando-o “estatizante”, como demonstrado por sua participação no Plano de Metas, do candidato JK. 

Ao opor-se ao aventureirismo econômico do presidente JK, demitindo-se da presidência do BNDE por considerar que a política econômica confrontacionista do presidente, em relação às medidas de estabilização econômica preconizadas pelo FMI – o Brasil não conseguia honrar seus compromissos externos e começava a recrudescer no emissionismo inflacionário –, Roberto Campos passou a ser conhecido como Bob Fields, supostamente porque também preconizava, como Gudin, a aceitação do capital estrangeiro e dos investimentos diretos externos, em geral, como complemento indispensável ao processo de industrialização do Brasil. Tanto JK quanto Roberto Campos passaram a ser considerados, pela esquerda, como pertencentes ao grupo dos “entreguistas”, que supostamente estariam sufocando a emergência de um “capitalismo nacional” no país. Ainda assim, depois de algum ostracismo no setor privado – ele já não era bem visto no próprio Itamaraty, devido ao mesmo “entreguismo” que horrorizava os “nacionalistas” de centro, de direita e de esquerda do Brasil –, ele foi escolhido pelo presidente Jânio Quadros para, com pouco mais de 40 anos, servir como embaixador em Washington, em virtude de seu extenso conhecimento de economia e por seu papel como negociador da dívida externa do Brasil. 

Esses anos cruciais da profunda crise econômica e política brasileira correspondem, provavelmente, à sua conversão teórica e ideológica ao liberalismo, a despeito de servir como representante de um governo nacionalista – o de João Goulart – junto a um outro governo, o de Kennedy, declaradamente keynesiano e reformista (partidário de reformas progressistas na América Latina: agrária, educacional, administrativa, política, etc.). A despeito de já se colocar como intimamente contrário às políticas de Goulart – que inclusive dificultavam seu trabalho em Washington, como a lei de remessa de lucros e a nacionalização de subsidiárias americanas no Brasil –, continuou sustentando o governo junto ao Executivo e ao Congresso dos EUA, até onde conseguiu. Num determinado momento, porém, resolveu solicitar sua dispensa do cargo: foi em meados de 1963, na ignorância completa do que se tramava entre os futuros “golpistas” militares e civis no Brasil. O Itamaraty, provavelmente a pedido do presidente Goulart delongou uma reposta, que só veio depois do assassinato, em novembro, do presidente americano, o que o obrigou a ficar um pouco mais no posto. 

Liberado, finalmente, do pesado encargo diplomático, empreendeu uma longa viagem, de janeiro a fevereiro de 1964, por diversos países asiáticos, entre os emergentes “tigres”, que ainda não conhecia. Só retornou ao Brasil em março, mas totalmente alheio aos preparativos do golpe, que foi em parte forçado por líderes civis e pela impetuosidade de um general sem maior expressão na “política militar”. Foi só depois da escolha do general Castelo Branco como presidente “provisório”, em 9 de abril de 1964, que foi convidado para ser ministro de Estado do Planejamento, encarregado, junto com o ministro da Fazenda Otávio Gouvêa de Bulhões, de empreender um ambicioso programa de estabilização e de reformas econômicas estruturais, que veio a ser o PAEG (Programa de Ação Econômica do Governo, de estabilização gradual, e não recessiva, como recomendava o FMI). A despeito de seu liberalismo já plenamente estabelecido como filosofia política e da relativa ortodoxia das políticas monetária e fiscal, o período de 1964 a 1967 corresponde ao mais profundo processo de modernização da economia brasileira, talvez até mais amplo do que foi o Plano Real, que foi basicamente um programa de estabilização e de desindexação.

Pode ter sido uma dessas ironias da História o fato de que dois economistas identificados com um ideário amplamente liberal, Bulhões e Campos, tenham sido os agentes involuntários de uma das mais profundas intervenções do Estado na vida econômica do país, embora com intenções reformistas racionalizantes (nos aspectos tributários, monetário, fiscal, de administração pública, de modernização agrária e indústria, na política comercial, etc.) e não necessariamente estatizantes. A estatização, de fato, começou depois, a partir de 1967, com o governo novamente desenvolvimentista de Costa e Silva e do ministro Delfim Netto, quando começa a febre de criação de estatais e o furor de novos empreendimentos estatais que levaram às crises inflacionárias, de endividamento e de balanço de pagamentos dos anos 1970 e 80. “Exilado” na embaixada em Londres desde o governo Geisel – a quem ele já se tinha oposto quando o general era presidente da Petrobras –, Campos se converte, finalmente, num publicista liberal, com seus artigos vitriólicos contra a política econômica aventureira de seus sucessores, baseada numa espécie de “pau na máquina” que levaria o Brasil à longa década perdida dos anos 1980 até meados da década subsequente.

Por duas vezes, na passagem para o último governo da ditadura, o de Figueiredo, em 1979, e na eleição de Collor, em 1989, Campos foi sabotado deliberadamente pelo próprio Itamaraty (e pelos “nacionalistas epidérmicos”) nas preferência de ambos presidentes para tê-lo como chanceler de seus respectivos governos. Campos já era um liberal declarado na área econômica e um opositor também aberto da política “terceiro-mundista” do Itamaraty, sobretudo no terreno da não-proliferação nuclear e do nacionalismo substitutivo, que sempre foi a ideologia da política externa, desde a era Vargas pelo menos. Ele nunca foi um apoiador da ditadura militar, sempre se pronunciou por um transição para um governo civil, e quando ministro votou contra a cassação dos direitos políticos de Juscelino Kubitschek, a quem se tinha oposto como um dirigente irresponsável na condução da política econômica. 

Seus artigos semanais, sempre provocantes, eram objeto de ativos comentários no parlamento – onde serviu como senador por Mato Grosso, sua terra natal, e duas vezes como deputado pelo Rio, onde morou desde que ingressou no Itamaraty, em 1938 – e nos meios políticos, econômicos e intelectuais do país, despertando tanto adesão irrestrita dos seus admiradores, quanto a oposição acerba dos seus detratores. Teve a sorte, sobre seu amigo Raymond Aron, de ter assistido à derrocada do socialismo e das economias estatizantes, ainda que no ocaso de sua vida, quando foi homenageado pelos amigos e premiado com o ingresso na Academia Brasileira de Letras. Considerar algumas frases soltas em seus artigos provocadores na imprensa, ou seus poucos anos como ministro reformista, e progressista, do regime militar, como critério avaliativo de sua obra e pensamento representa um extremo reducionismo e um simplismo indigno de sua obra como economista pragmático e como defensor das liberdades políticas e do regime democrático. 

O Livres e os “liberais” puros da academia precisariam ler todas as obras de Roberto Campos, desde a fase dirigista e planejadora dos anos 1950, passando pelo reformismo ativo dos anos 1960-70, até chegar no liberalismo explícito dos anos 1980-90, sem esquecer seu monumental livro de memórias, Lanterna na Popa (1994), que serve como uma monumental história econômica do Brasil no século XX, ademais de constituir um percurso pela política, pela economia e pela diplomacia mundiais. De minha parte já preenchi meu papel intelectual de “espectador engajado” da obra e do pensamento de Roberto Campos, desde minha postura marxista juvenil, passando pelo socialismo light dos anos 1980, até meu liberalismo meio anarquista dos anos maduros. Qual atitude devem os liberais manter em relação a Roberto Campos? Creio que a mesma que ele sempre manteve em todas as etapas de sua vida: uma grande tolerância compreensiva em relação às posturas muito rígidas dos seus companheiros de jornada na vida econômica e política, um ecletismo intelectual na absorção contínua de novos ensinamentos retirados do estudo e da experiência e, finalmente, um ceticismo sadio no tocante aos grandes projetos nacionais de reformas radicais da sociedade e do Estado.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3769, 11 de outubro de 2020

Autor, organizador e colaborador das obras: 

Paulo Roberto de Almeida (org.), O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Editora Appris, 2017); Paulo Roberto de Almeida, A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018); três capítulos no livro: Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro (orgs.), Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100 (São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017).

 


The Swamp That Trump Built - Nicholas Confessore, Karen Yourish et alii (The New York Times, October 10, 2020)

 'The Swamp That Trump Built - Nicholas Confessore, Karen Yourish et alii (NYT)' 

https://www.academia.edu/44275428/The_Swamp_That_Trump_Built 

Donald Trump é um presidente mafioso, que atua como chefe de gangue, para recuperar seus negócios falidos, usando desavergonhadamente a presidência para enriquecer.

Os EUA NUNCA conheceram um presidente assim.

Por motivos diversos, o Brasil tampouco teve a experiência do chamado "Trump dos trópicos".

Paulo Roberto de Almeida

The Swamp That Trump Built

The New York Times, October 10, 2020

 

By Nicholas ConfessoreKaren YourishSteve EderBen ProtessMaggie HabermanGrace AshfordMichael LaForgiaKenneth P. VogelMichael Rothfeld and Larry Buchanan

Graphics and production by Rumsey TaylorDerek Watkins and Bill Marsh

 

A businessman-president transplanted favor-seeking in Washington to his family’s hotels and resorts — and earned millions as a gatekeeper to his own administration.

 

IT WAS SPRINGTIME at President Trump’s Mar-a-Lago club, and the favor-seekers were swarming.

In a gold-adorned ballroom filled with Republican donors, an Indian-born industrialist from Illinois pressed Mr. Trump to tweet about easing immigration rules for highly skilled workers and their children.

“He gave a million dollars,” the president told his guests approvingly, according to a recording of the April 2018 event.

Later that month, in the club’s dining room, the president wandered over to one of its newer members, an Australian cardboard magnate who had brought along a reporter to flaunt his access. Mr. Trump thanked him for taking out a newspaper ad hailing his role in the construction of an Ohio paper mill and box factory, whose grand opening the president would attend.

And in early March, a Tennessee real estate developer who had donated lavishly to the inauguration, and wanted billions in loans from the new administration, met the president at the club and asked him for help.

Mr. Trump waved over his personal lawyer, Michael D. Cohen. “Get it done,” the president said, describing the developer as “a very important guy,” Mr. Cohen recalled in an interview.

Campaigning for president as a Washington outsider, Mr. Trump electrified rallies with his vows to “drain the swamp.”

 

But Mr. Trump did not merely fail to end Washington’s insider culture of lobbying and favor-seeking.

He reinvented it, turning his own hotels and resorts into the Beltway’s new back rooms, where public and private business mix and special interests reign.

 

As president-elect, he had pledged to step back from the Trump Organization and recuse himself from his private company’s operation. As president, he built a system of direct presidential influence-peddling unrivaled in modern American politics.

 

Federal tax-return data for Mr. Trump and his business empire, which was disclosed by The New York Times last monthshowed that even as he leveraged his image as a successful businessman to win the presidency, large swaths of his real estate holdings were under financial stress, racking up losses over the preceding decades.

 

The tax records — along with membership rosters for Mar-a-Lago and the president’s golf club in Bedminster, N.J., as well as other sources — reveal how much money this new line of business was worth.

Ler a matéria neste link:

The Swamp That Trump Built - Nicholas Confessore, Karen Yourish et alii (NYT)