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segunda-feira, 10 de junho de 2024

Maria da Conceição Tavares (1930-2024) marca debate econômico de JK ao TikTok - Danilo Thomaz (Folha de S. Paulo); comentário Maurício David

FSP, domingo, 9 de junho de 2024 (reproduzindo material antigo)

Maria da Conceição Tavares (1930-2024) marca debate econômico de JK ao TikTok


Danilo Thomaz* / Folha de S. Paulo (15.10.22)

Maria da Conceição Tavares marcou o debate público brasileiro das últimas décadas, tanto por suas ideias quanto por sua figura teatral. Referência central nos estudos sobre crescimento e planejamento econômico, formou três gerações de economistas. No plano pessoal, sua postura inconformada, enérgica e desbocada inspirou até personagem de programa de humor. Aos 92, é redescoberta por novas gerações após virar meme na internet.

Não poderia haver melhor momento para o Instituto de Economia da Unicamp, que começou a funcionar em agosto de 1968, comemorar seus 40 anos. Era 2009, e os países ricos estavam recolhendo os destroços do que havia restado da crise de 2008, fruto de quase três décadas de desregulação financeira.

Já o Brasil, que nunca embarcara com a mesma intensidade no que se convencionou chamar de neoliberalismo, via a economia se recuperar rapidamente com a ação dirigida estatal. Como, aliás, já vinha acontecendo naquele segundo governo Lula. Era a vitória política e ideológica da chamada Escola de Campinas, mais voltada à participação do Estado na economia.

Uma das principais formuladoras da tradição dessa escola estava na celebração da Unicamp: a economista Maria da Conceição Tavares. Convidada a falar no evento, não se limitou a ser mera espectadora enquanto não chegava o dia e a hora de sua palestra.

Se um convidado dizia algo de que discordava, rebatia, "não é assim!". Se alguém falasse uma besteira, dizia "é uma bobagem!". Se errasse, corrigia no mesmo instante: "Está errado!".

A única poupada de críticas foi a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Eu não gosto de brigar com mulher", a própria Conceição já dissera antes, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1995.

Fumante inveterada difícil de conter, Conceição sentou-se em uma cadeira na entrada do auditório, lugar reservado a ela pela organização do evento, onde poderia fumar sem incomodar a plateia, ouvir e, claro, intervir nos debates.

Até que chegou o momento de sua fala. Conceição começou citando o romance "O Retrato de Dorian Gray", do escritor irlandês Oscar Wilde. No clássico, um aristocrata faz um pacto demoníaco para ter a juventude eterna, enquanto um quadro com seu retrato envelhece.

A economista tinha o receio de que o Brasil terminasse como o aristocrata hedonista: horrorizado ao encarar o próprio retrato. No plano pessoal, seu receio era ter nascido em uma crise, na Europa, e morrer em outra, no Brasil —após toda uma vida contra a corrente.

NASCIMENTO E EXÍLIO

Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu em Anadia (Portugal) em 1930, a pouco mais de 50 km de Coimbra, mas cresceu e estudou em Lisboa. Mudou-se para o Brasil em fevereiro de 1954, junto do primeiro marido, Pedro Soares.

"Cheguei aqui e levei um susto. Porque o Getúlio morreu logo depois. Julguei que era uma democracia, vindo lá do Salazar, e me enganei", disse no Roda Viva.

Nesse instante, a então deputada federal pelo PT abriu um sorriso que contraiu os olhos, um dos raros momentos de suavidade em suas manifestações públicas. "Mas depois tivemos Juscelino, lembra? Aí íamos construir Brasília, uma democracia nos trópicos, o desenvolvimento."

O primeiro emprego de Conceição foi como estatística do Inic (Instituto Nacional de Imigração e Colonização), hoje Incra, onde deu-se conta da desigualdade no país.

Essa consciência a levou a estudar economia. Ingressou no curso em 1957, quando adotou a cidadania brasileira, na Universidade do Brasil, hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro.

SUPERANDO O SUBDESENVOLVIMENTO

No ano seguinte, tornou-se analista matemática do que hoje se chama BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), à época presidido pelo economista Roberto Campos, um dos criadores e articuladores do Plano de Metas de JK, que buscava dar um salto no processo de desenvolvimento. Mas como era possível um liberal, como Campos, defender o planejamento estatal da economia?

Conceição, Campos, Celso Furtado, colegas de ambos no BNDES, e o sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros, são representantes de uma geração que tinha por objetivo compreender e superar a problemática do subdesenvolvimento nacional.

"Nós criamos a noção de desenvolvimento", afirma FHC à Folha. "Estávamos no mesmo clima que se respirava no Brasil. Então mesmo que não estivéssemos próximos [no terreno das ideias], nós ‘brigávamos’ pelo contexto de compreensão mútua. Eu li quase todos os textos que ela escreveu. Eu posso ter discordado dela mais de uma vez, mas tenho que reconhecer que ela foi uma grande idealista."

DITADURA

O período ditatorial fez erodir os sonhos da geração que buscava um desenvolvimento em bases reformistas para o Brasil. "Virei brasileira achando que isso aqui seria uma democracia nos trópicos, e tome 21 anos de ditadura, tome concentração de renda, tome milagre econômico", disse, estalando os dedos, no Senado.

É deste período o ensaio "Além da Estagnação", presente no livro "Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro", que completa 50 anos, o mais importante de sua obra.

Escrito em parceria com o hoje senador José Serra (PSDB), o ensaio é considerado um dos marcos da obra da autora dentro de seu período na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), órgão que defendia a adoção do planejamento econômico e de medidas protecionistas pelo Estado.

No texto, Conceição e Serra contestam a tese de Furtado sobre a derrocada da economia brasileira em meados dos anos 1960, presente no artigo "Desenvolvimento e Estagnação na América Latina: um Enfoque Estruturalista".

"O ensaio ‘Além da Estagnação’ teve por contribuição principal mostrar como, infelizmente, o crescimento do período do chamado milagre se fazia de forma perversa, com concentração da renda. Ao contrário do que postulavam os estagnacionistas, estava sendo possível crescer concentrando a renda —e pior ainda, a concentração de renda alimentava um processo de crescimento acelerado", afirma o economista Ricardo Bielschowsky, autor de "Pensamento Econômico Brasileiro" e colega de Conceição na UFRJ.

"O Furtado foi o grande intérprete do subdesenvolvimento, e a Conceição, da dinâmica econômica", completa ele. "A obra dela pode ser dividida em dois grandes períodos: até as proximidades de 1980, na era desenvolvimentista, e depois dela. Ou seja, o primeiro gira em torno da presença do crescimento, e o segundo trata de elementos que causam sua ausência."

À época da publicação do ensaio, o Ministério da Fazenda era comandado pelo economista Delfim Netto. "Nossos pensamentos frequentemente diferiam, mas sempre considerei as suas críticas. Foi a inteligência mais barulhenta que conheci", afirma ele hoje.

Conceição considera o ex-ministro uma das melhores cabeças do país. Embora crítica da concentração de renda, reconhece que tanto Delfim quanto o segundo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), do governo Ernesto Geisel, conferiram certa pujança ao capitalismo brasileiro.

VIDA ACADÊMICA

De volta ao Rio, em 1972 —após um período no Chile, onde trabalhou no governo Allende—, Conceição reassumiu sua cadeira na UFRJ. Três meses depois, foi convidada pela Unicamp a coordenar a pós-graduação de economia da instituição.

"Zeferino Vaz [fundador da universidade] nos levou para lá", conta o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. "[Ele dizia]: ‘São todos esquerdistas, mas são bons’."

A dupla de economistas se conheceu em 1966, quando Belluzzo era estudante e assistiu a uma palestra de Conceição. O reencontro, sete anos depois, marcou o início de uma amizade e uma troca intelectual que perdura até hoje. "Era um estímulo. Ela não briga com as pessoas, briga com as ideias, se empolga", conta ele.

Conceição passou a conciliar aulas na Unicamp e na UFRJ, onde fundou o IEI (Instituto de Economia Industrial), um dos centros mais vibrantes do pensamento econômico brasileiro nos anos 1970 e 1980.
Em sua trajetória acadêmica, a professora ajudou a formar três gerações de economistas. Entre eles, Serra, Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda de FHC, e a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em 1975, às vésperas de um embarque para Santiago, foi presa pela ditadura no Galeão. Passou alguns dias desaparecida.

Liberta por intervenção do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, Conceição mandou-lhe a seguinte mensagem: "Olá, Mário, tudo bem? Nem vou agradecer porque você não fez nada mais do que sua obrigação".

REDEMOCRATIZAÇÃO E INFLAÇÃO

Em 1980, Conceição tornou-se membro da Executiva Nacional do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ao qual havia se filiado em 1978. Tinha como seus principais interlocutores dentro da legenda Ulysses Guimarães, uma das lideranças civis da redemocratização, e Fernando Henrique.

"Foi uma influência muito grande, mas não era uma pessoa propriamente ligada ao partido, era muito mais por ideias. Era uma ligação, como tudo que estava acontecendo na época, conflituosa, mas havia uma grande identidade de ponto de vista, sobretudo no que concerne a um pensamento comprometido com a dinâmica da política brasileira", afirma o ex-presidente.

Em 1986, Conceição ganhou destaque fora do meio acadêmico e político ao comentar com a voz embargada e lágrimas escorrendo, na TV Globo, o Plano Cruzado, que pretendia dar fim à inflação. "Eu estou muito contente de ver uma equipe econômica que redime este país, que dá uma contribuição política, que ajuda o governo a encontrar seu rumo."

Baseado no congelamento de preços, o Cruzado resultou de uma equipe que incluía Belluzzo e o economista André Lara Resende. O plano foi elaborado em sigilo, mas Conceição teve acesso a ele, por meio de Ulysses Guimarães, pouco antes de ser submetido à aprovação.

PLANO REAL

Em julho de 1994, Conceição despede-se de seus leitores da Folha, onde ajudava a balizar o debate econômico em suas colunas, para dar início a uma nova fase como política profissional, candidata a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PT do Rio. Havia se desligado do MDB em 1989, após a derrota de Ulysses nas eleições presidenciais.

Em 1994, Conceição era uma das principais críticas do Plano Real. Disse que se tratava de um "Cruzado dos ricos" e que criaria uma realidade paralela, na qual a classe média baixa e os pobres não poderiam medir as perdas sofridas. "Ela fez uma crítica equivocada", afirma Belluzzo.

Ao longo do governo FHC, ela opôs-se também à abertura econômica, à desproteção de setores produtivos nacionais e à financeirização da economia.

"Hoje eu acho que ela tinha razão. Houve uma financeirização em relação ao capital produtivo. A teoria macroeconômica do neoliberalismo era a posição hegemônica. Agora está começando a haver uma revisão", afirma o economista André Lara Resende, um dos pais do Real e ex-presidente do BNDES no governo FHC.

O economista tem sido voz dissonante e solitária contra essa hegemonia no debate econômico brasileiro, por meio de livros como "Consenso e Contrassenso - Por uma Economia não Dogmática".

Em 1995, Conceição partiu para Brasília como a segunda deputada federal mais votada do PT pelo Rio. Apesar do sucesso eleitoral, não guardou boas lembranças. "Foi uma estreia política formal triste. Foi a única vez que fui ao sacrifício político", declarou.

Uma vez no poder, FHC deu a si mesmo a missão de encerrar o legado estatal de Getúlio Vargas. Para isso, era necessário abrir a economia e diminuir o peso do Estado por meio de privatizações.

Dar fim a todo aquele aparato que os então deputados Conceição, Delfim e Roberto Campos —embora este último há muito já estivesse convertido em ardoroso pregador liberal e crítico do estatismo— ajudaram a construir décadas antes. "Roberto Campos e eu nos divertíamos com a grossa pancadaria que ela aplicava no ilustre Fernando Henrique Cardoso", conta Delfim.

Integrante da Comissão de Finanças e Tributação, ela tentou passar uma reforma tributária. "Não tive o menor sucesso. Nem eu, nem ninguém, como é óbvio", disse ela no Senado.

O fracasso foi estendido a outras comissões. "Perdi na de Energia. Doutor Roberto Campos estava lá. Chamava de ‘dinossauro’ a Petrobras. Perdi a paciência. Disse que era melhor ser dinossauro que ser lagartixa. Ele ficou aborrecido." A congressista explicou que não se referia a ele. Depois, complementou: "O senhor também, à sua maneira, é um dinossauro… rex".

Na audiência que votou o fim do monopólio da Petrobras na extração do petróleo, Conceição foi escolhida pelo PT para representar o partido. Vestida de preto, com uma fitinha verde e amarela, deu seu voto contrário. "Foi uma tristeza. Ali eu quase chorei."

"O FHC passou o que quis e o que não quis [no Congresso]. A Conceição viveu isso de dentro. Ela cumpriu um papel importante, era a professora da bancada do PT. A maior parte dos quadros do partido não tinha a menor noção de nada [do que estava em votação]", afirma a economista Gloria Maria Moraes da Costa, que foi aluna da deputada e coordenadora de sua campanha.

Uma das derrotas de Conceição foi a não aprovação de um imposto para grandes fortunas, de autoria de FHC quando senador (1983-1992). Hoje o ex-presidente diz que teria sido importante a aprovação desse projeto. "A grande fortuna no Brasil ficou intocável, e isso não é bom."

Embora a esquerda tenha convencionado referir-se ao governo FHC como um período neoliberal, é importante entender que havia tensões dentro da área econômica de sua gestão, simbolizadas pelos então ministros Pedro Malan, da Fazenda, e José Serra, do Planejamento.

O primeiro era mais voltado à abertura e à internacionalização da economia; o segundo, às ideias de proteção de determinados setores. "Isso [tratar o governo como neoliberal] é uma caricatura. Mas a caricatura guarda alguma relação com a realidade", afirma Lara Resende.

"Os dois [Malan e Serra] mencionavam a Maria Conceição [nas reuniões]. Notei que ela era realmente muito influente", afirma FHC.

"Em algumas coisas, ela poderia ter alguma razão, mas, de qualquer maneira, o que nós fizemos era o que nós podíamos fazer. Naquele momento, era o que se aconselhava fazer, era o possível. E o resultado está aí, o Brasil cresceu."

O ex-presidente, em seus diários, afirma que a professora o tratou de "modo desabrido" durante a campanha eleitoral. Conta que, em jantar no qual Celso Furtado também estava presente, a tratou friamente, queixando-se de que ela não foi "nem desleal, foi atrevida, não tem o direito de dizer o que disse durante a campanha, uma mulher que me conhece a vida toda".

Questionado, FHC diz não se lembrar a que se referia. "Eu não me lembro, mas provavelmente porque apoiou algum adversário meu", afirma. "Eu não me lembro de ter rompido [com ela], muito menos de ter reatado [risos]. Não sou uma pessoa de guardar rancores."

LULA LÁ

Conceição celebrou muito a vitória de Lula em 2002. Afirmou, no início, que o governo tinha pouco "raio de manobra", em razão do endividamento do Estado e das altas taxas de juros. A "pax", todavia, durou pouco.

Em abril de 2003, em entrevista à Folhasoltou o verbo contra a opção do PT por políticas focalizadas na área social —ou seja, políticas que atingem determinados grupos—, em detrimento de programas universais.

"Tive de ouvir o dr. Delfim Netto defender a Constituinte de 1988, onde estão consagrados os direitos universais nas três áreas: saúde, assistência social e Previdência Social. Isso vinha sendo construído como políticas universais desde o tempo da ditadura; logo, não é um problema de ser conservador. É um problema de ser pateta ou de má-fé."

Suas críticas, porém, foram escasseando ao longo do governo Lula. Chegou aos 80 anos, em 2010, otimista, apesar do alerta feito um ano antes, no evento da Unicamp. "Espero não me equivocar, mas, se me equivocar, não estarei viva para ver."

Na eleição que opôs seus dois ex-alunos, Dilma e Serra, declarou apoio à primeira, que saiu vitoriosa. Ambos foram procurados pela reportagem em mais de uma ocasião, mas, mesmo manifestando interesse, não deram retorno.

EPÍLOGO

Em 2019, o Brasil parecia ter cumprido o vaticínio de Conceição de dez anos atrás: o país, que antes decolava na capa da revista The Economist e crescia com distribuição de renda em um mundo em recessão e aumento da desigualdade, acabava de entrar para a lista das democracias liberais em crise com o início do governo de Jair Bolsonaro (PL).

Uma união de militares, extrema direita e milicianos fez boa parte do Brasil achar feio o que era espelho.
Um pouco antes disso a participação de Conceição no debate público já começava a rarear, embora tenha se manifestado contra o impeachment de Dilma e a prisão de Lula.

Em 2019, ainda vivendo no bairro do Cosme Velho, no Rio, lançou sua última obra, "Maria da Conceição: Vida, Ideias, Teorias e Política", um compilado de ensaios.

No final de 2021, após uma fratura, Conceição mudou-se para Nova Friburgo (RJ). Aos 92 anos, ocupa seus dias com visitas de amigas economistas, do casal de filhos e de familiares, e telefonemas de Belluzzo. Desde a queda, sumiram com seu cigarro. Após 70 anos de vício, ela deixou de fumar. Por motivos de saúde, não pôde dar entrevista para esta reportagem.

Em uma das visitas, Conceição foi informada de que volta e meia se tornava um dos assuntos mais comentados na internet, por causa de trechos de suas aulas na Unicamp e da entrevista do Roda Viva veiculados no YouTube e em redes sociais.

Sua fala enérgica e sem pudores inspirou diversos memes, que tiveram o efeito imprevisto de formar uma nova geração de admiradores de sua obra. Antes da internet, no começo dos anos 1990, ela já havia inspirado uma personagem da "Escolinha do Professor Raimundo" (Globo), dona Maria da Recessão Colares, fumante, com sotaque português, que esbravejava sobre a economia do país.

Conceição, que nem sequer tem celular, divertiu-se ao saber que sua lição nas salas de aula, como o exemplo a seguir, ainda sobrevive.

"Nós não somos da elite dominante desse país. A não ser que vocês tenham alguma pretensão a ser. Eu não tenho. Então não é chá e simpatia. Isso é um curso rebelde! Nós perdemos! Nós somos derrotados! Se vocês não fossem derrotados, não vinham para esta universidade [Unicamp], iam pra USP, pra PUC [Rio]. Ou pra Harvard. Estamos lutando pela hegemonia? Imagine! Estamos lutando apenas pra não ficar malucos. Para não dizer besteira demais."

*Jornalista e mestrando em ciência política pela UFF (Universidade Federal Fluminense)

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Comentário Mauricio David:

Muitos me contactaram querendo saber sobre o velório da nossa amada Conceição. A família decidiu que a cremação da Ceiça será uma cerimônia privada, fechada e reduzida apenas aos familiares. Melhor assim, mas ainda acho que ela merecia um funeral como o do também muito querido Darcy Ribeiro, que teve o seu corpo conduzido da Academia Brasileira de Letras até o Cemitério de São João Batista, em Botafogo, levado o caixão por um carro do Corpo de Bombeiros seguido a pé por uma multidão imensa. Não sei não, acho que a Conceição merecia um funeral assim. Por que não no antigo Salão da Reitoria da antiga Universidade do Brasil (UB), hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde a Conceição fez seu curso de Economia, foi assistente do seu antigo professor Octávio Gouveia de Bulhões e ajudou a criar (e foi depois Professora Titular e Emérita) o Instituto de Economia, e a seguir conduzida para a cremação acompanhada por sua legião de amigos e admiradores ? Família tem cada coisa...

MD

P.S.1 :  A Conceição era impagável (em todos os sentidos do termo “impagável”...). Jamais, em seus 94 anos de vida, prestou-se a “vender” as suas idéias e pensamentos... Considero que uma das coisas mais valiosas de Ceiça foi ter dito certa vez : “ "Nós não somos da elite dominante desse país. A não ser que vocês tenham alguma pretensão a ser. Eu não tenho. Então não é chá e simpatia. Isso é um curso rebelde! Nós perdemos! Nós somos derrotados! Se vocês não fossem derrotados, não vinham para esta universidade [Unicamp], iam pra USP, pra PUC [Rio]. Ou pra Harvard. Estamos lutando pela hegemonia? Imagine! Estamos lutando apenas pra não ficar malucos. Para não dizer besteira demais."

Ora, dizer “Nós perdemos ! Nós somos derrotados !” é a coisa mais fenomenal que já ouvi um(a) economista dizer. Só ouvi algo semelhante com o Darcy Ribeiro dizendo na Sorbonne, em Paris, quando recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”, algo assim (estou dizendo de memória) “Perdemos, fomos derrotados, mas eu não gostaria de ter estado do lado dos que venceram !” (Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazú e Geisel, no Brasil, Pinochet, no Chile, Videla e cia, na Argentina...MD). 

OK, Ceiça ! Divirjo radicalmente desta sua auto-avaliação tão negativa. Ao final das contas, você venceu ! Você é o nosso El Cid Campeador, que depois de morta vencerá todos os seus adversários... Você, a nossa Cid Campeadora, no final das contas venceu, vence e vencerá...

P.S.2 : Que asco me provoca em ver toda esta gente que tanto maltratou a Conceição agora querer faturar a amizade da nossa pura donzela portuguesa que se apaixonou pelo Brasil...

(1) Por que insistem tanto em dizer que a Dilma e o Serra “foram alunos” da Conceição... Quando ? Onde ?

E o Mercadante, dizendo que a Conceição foi alta funcionária do BNDES... Menos,Aloizio, menos... Dá uma olhada na folha funcional do BNDES... Alta funcionária, quando ? Elogiar está bem, mas mentir exageradamente é indevido...

(2) E o Lula e a Dilma, tão oportunistas, esparramando fotos dela com eles e se derramando em elogios... A Conceição era unanimemente reconhecida como a maior ( e supostamente a mais influente) economista do PT. Lula governou por dois períodos e agora reina pelo terceiro. A Dilma por um período e meio. Em total, estiveram mais de 14 anos no Poder. Quantas vezes chamaram a Conceição (deputada do PT entre 1995 e 1998) para tomar sequer uma cafezinho no Palácio do Planalto ou do Alvorada ? Sequer foi cogitada para algúm cargo ou posto nos 4 governos petistas. Quando voltei do meu doutorado, em Paris, e fui trabalhar com o Bresser em Brasília, certo dia a Conceição me convidou para tomar o café da manhã com ela no hotel em que residia em Brasília (já não me lembro bem, mas creio que ela ficava no Kubistchek Plaza...). Era 1995 ou 1996, Conceição estava no primeiro ou segundo ano do seu mandato. Ali, na conversa na intimidade, pude ver a sua relativa mágoa com o ostracismo que lhe impunham, os supostos amigos petistas... Certo que a Conceição esculhambava a tudo e a todos, o Palocci, por exemplo, sofreu horrores nas suas mãos. O Fernando Henrique, então, não se fala... O Delfim Netto – que foi sempre tão bombardeado por ela, nas suas aulas e entrevistasse artigos de jornal – sempre dizia que se divertia muito, junto com o Roberto Campos (os dois czares da Economia nos governos militares...) com o bombardeio dela ao Fernando Henrique nos seus dois períodos de governo. Conceição desistiu de renovar o seu mandato de deputada, alegando um incômodo nas costas que lhe impunha grande sacrifício em viajar de aviões ou em ficar longas horas debatendo no plenário e nas comissões da Câmara de Deputados. Elegante como era ela no fundo, estou certo de que ela ocultou sempre o verdadeiro motivo : o ostracismo que lhe impuseram os seus “companheiros” do PT... A derradeira humilhação foi quando ela tentou falar com a Dilma, várias vezes, quando a “ex-aluna” (até nisso tentaram faturar o prestígio militante da velha guerreira...) se elegeu em 2010 ou se reelegeu em 2014). Lembro-me que, estando no exterior, li em jornais brasileiros que ela chegou a “suplicar” com o Emir Sader (prócer petista também posto para escanteio...) que conseguisse que ela fosse recebida pela Dilma... Em vão, como podem adivinhar... Cáspite ! Como é a natureza humana... Agora viraram todos ex-alunos, agora reconhecem todos os “companheiros” a sua genialidade e combatividade, agora tiram do fundo do baú velhas fotos com a velha guerreira para exibir pela imprensa afora... 

P.S.2 : Quero frisar que nunca fui aluno da Conceição, mas simplesmente seu amigo e admirador (sem ser seguidor fanático) por muitos anos... Gostava mais do seu jeito meio dramático e teatral, da sua militância, da sua “portas abertas” para todos, das suas lições de engajamento militante e de luta perseverante por tudo aquilo em que acreditava... Estas são as suas melhores lições deixadas para seus filhos Laura e Bruno, seus netos e bisneto, e para a sua legião de ex-alunos (os verdadeiros, não os inventados pela imprensa desinformada...) e admiradores. Espero que ela seja mesmo a nossa Cid Campeadora, que depois de morta possa continuar inspirando a todos que ficaram para atrás no penoso trajeto da vida...

MD

 

Mario Henrique Simonsen, um dos pais do Plano Real - Coriolano Gatto (Brazil Journal); comentário Maurício David

 BRAZIL JOURNAL

Simonsen, um precursor discreto do Plano Real 

Coriolano Gatto


Brasil Journal, 9 de junho de 2024 


Às vésperas de completar 30 anos, o Plano Real foi defendido logo no nascedouro por um dos maiores economistas brasileiros que, ainda nos anos 70, já demonstrava preocupação com a inflação crescente e a indexação da economia.

Mais ainda: uma década antes do Real, Mario Henrique Simonsen já apoiava a tese de desindexação de Persio Arida e André Lara Resende, que era o pilar central do plano.

Matemático refinado, arquiteto de grandes projetos, engenheiro, economista e professor por vocação, Simonsen foi o primeiro expoente do governo militar a mencionar o processo de realimentação da inflação, causado pela indexação introduzida pelo próprio regime em 1964. 

“Apesar da ortodoxia, o Simonsen pensava na formação keynesiana dentro da equação de preços: demanda, choques autônomos e a realimentação. Eu comecei a pensar na teoria inercial da inflação com ele,” me disse o economista Francisco Lopes em seu apartamento em Copacabana. “O Roberto Campos dizia que o Simonsen nunca foi um liberal ou um monetarista como ele e o Eugênio Gudin, e era mais um keynesiano, modestamente intervencionista.” 

Lopes conheceu Simonsen na adolescência. Aos 19 anos, levou seu pai – Lucas Lopes, um dos grandes artífices do desenvolvimento no governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) – e o próprio Simonsen até a estação de trem, no Rio, dirigindo o carro de sua mãe. Eles iam para São Paulo por conta da Consultec, a primeira empresa de projetos do Brasil, da qual fazia parte também Roberto Campos. 

Mais tarde, Lopes seria estagiário da Consultec e teria um grande convívio na academia com Simonsen, que fundou em 1965 a pós-graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas, a tradicional FGV EPGE, a primeira do Brasil – antecedida, quatro anos antes, pelo Centro de Aperfeiçoamento de Economistas. 

À época, Simonsen tinha 30 anos. Ele deu uma contribuição decisiva para a redação do PAEG – o Plano de Ação Econômica do Governo, criado por Roberto Campos, então ministro do Planejamento do primeiro governo militar. Mais tarde, Simonsen foi ministro da Fazenda de Geisel (1974-1978) e por seis meses ministro do Planejamento de Figueiredo (1979-1985). 

Em um artigo publicado em novembro de 1984 pela revista Conjuntura Econômica, Simonsen propôs criar a UMB, a Unidade Monetária Brasileira. 

Em seu estilo criativo e muitas vezes ferino, Simonsen resumiu ali a ideia de combater a inflação por meio heterodoxo, em vez de insistir nos choques monetários defendidos por Octavio Gouvêa de Bulhões, o ministro da Fazenda de Castello Branco (1964-1967), que se baseava na teoria quantitativa da moeda. 

“A ideia central do projeto, a da desindexação pela própria indexação da moeda, parece mais pertinente a um libreto de ópera wagneriana do que a uma proposta de teoria econômica,” Simonsen escreveu no artigo acadêmico. “Sem dúvida, a ideia da criação da UMB deve ser objeto de muita discussão e meditação.” 

Nos parágrafos seguintes, Simonsen dá seu aval à proposta em gestação pelos economistas André Lara Resende e Persio Arida. Ainda corria o ano de 1984 – dez anos antes do Real.

Simonsen sabia que o processo de desindexação – em contraponto ao arrocho monetário que causaria uma recessão elevada e o aumento exponencial da taxa de desemprego – era anátema à ordem econômica vigente, que insistia em um gradualismo para frear a inflação. Mas aquele modelo já havia fracassado nos anos 80 e levou o país à beira da hiperinflação, desorganizando o processo produtivo. 

“Pelos padrões internacionais, o passo errado é o do sistema brasileiro, que gerou formidável inflação inercial, e que a política monetária combate com eficiência igual à dos soldados americanos na guerra do Vietnã. O Brasil precisa acertar o passo, e a ideia da UMB talvez forneça o mapa da mina,” Simonsen escreveu na revista.

De fato, dez anos depois seria criada a URV (Unidade Real de Valor), definida de forma precisa pelo advogado José Luiz Bulhões Pedreira (1925-2006): “moeda de curso legal sem poder liberatório.” 

Eram sete palavras mágicas que descreviam o DNA da URV, que foi convertida para o real em 1º de julho de 1994, finalmente quebrando a inércia da inflação brasileira.

“A inflação não volta,” Simonsen proclamou no início de fevereiro de 1996 durante um longo depoimento ao Jornal do Brasil. “Tradicionalmente, o Brasil achava que o político desejava inflação. A eleição de Fernando Henrique deixou claro o seguinte: ele foi um político que não quis a inflação, fez o Plano Real e virou presidente”.

No livro Conversas com Economistas Brasileiros (Editora 34, 1995), Simonsen dizia estar convencido desde o Governo Geisel de que uma terapia apenas ortodoxa, inspirada pelo FMI, não liquidaria a inflação. 

Por ocasião da preparação do Plano Real, ainda em 1993, foi figura de destaque nos debates que precederam e sucederam o programa de estabilização. Era próximo da equipe de economistas da PUC-Rio, a quem chamava, carinhosamente, de “EPGE do B”.

O economista Daniel Valente Dantas, considerado o melhor aluno de Simonsen na EPGE, ressalta a pluralidade no pensamento do seu mestre, que quebrou dogmas e rompeu com o padrão clássico da economia.

“O mais importante dos seus ensinamentos era tratar a economia como ciência. Ensinou a observar, a medir e a não deixar as preferências, as conveniências, ideologias ou crenças ocuparem o espaço da observação. Não confundir conhecimento com crença, axiomas com dogmas; contudo, ao mesmo tempo, era implacável e rigoroso na única evangelização que suas aulas continham, que eram os limites do conhecimento.”

Coriolano Gatto é jornalista

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Comentário de Mauricio David:  

Sou de uma geração que pouco pode pode conviver com o Simonsen, porque tive (tivemos) a vida meio cortada por longos anos de exílio. Mas sempre tive um olhar à distância para o Mário (como o chamavam pelo prenome figuras mais velhas e mais jovens da minha geração, como a Conceição e José Alexandre Scheinkman, ambos produtos de uma Faculdade Nacional de Ciências Econômicas que, para o bem ou para o mal, era o que tínhamos no Brasil...). Quando voltei do exílio, em 1979, fui a um Seminário na EPGE, da Fundação Getúlio Vargas, creio que a meados de 1980 com o meu amigo e ex-colega José Alexandre, para assistir a uma palestra do Simonsen. Uma conferencia brilhante, como acontecia quando o Simonsen discorria sobre economia (ou sobre óperas e sobre o jogo de xadrez, pois era apaixonado por ambas). Nesta conferencia o Simonsen falou do porque a inflação havia “sky-rocketed” no Brasil e no mundo. Correu um frisson entre os jornalistas que cobriam o evento, todos saíram correndo para reproduzir parte da conferencia do Mário Henrique, em especial a expressão “sky-rocket” por ele utilizada.  Eu mesmo, chegando da Suécia, nunca tinha ouvido falar daquela expressão (propulsar, subir como um foguete, apurei depois). O Simonsen era assim... Eu também tinha um ex-colega do Pedro II que foi campeão brasileiro de xadrez (e o Simonsen, como já mencionei, era apaixonado por xadrez) que era amigo do Simonsen. Pois hoje compreendo em parte porque o Geisel tanto se afeiçoou a êle (foram até morar em casas próximas, em Teresópolis, quando saíram do governo).  Até hoje me lembro de duas fotos do Simonsen que vi em algum momento da vida : uma dele tomando banho de mar em Ipanema, quando saiu do governo e voltou de Brasília para o Rio, e outra dele que foi capa da revista VEJA, com êle completamente careca, fazendo quimioterapia, às vésperas de morrer aos 62 anos !!! 62 anos, tão ingrata a vida quando leva luminárias como o Simonsen numa idade em que a maioria ainda nem começou a curtir uma aposentadoria... O Simonsen era um liberal, liberal das antigas... Fundou a EPGE na FGV, a primeira pós-graduação de economia do Brasil. Quando saiu da EPGE para assumir as pastas da Fazenda (com o Geisel) e do Planejamento (no começo do governo Figueiredo), comenta-se que a escola caiu muito... Também se comenta a boca pequena que ele procurou o Geisel, quando a Conceição esteve presa por 48 horas nos porões da repressão, e pediu pela Conceição. Já outros dizem que foi o Veloso (talvez tenham sido os dois, nunca se saberá ao certo). Dois liberais – Simonsen e Veloso – que talvez tenham salvo a vida da nossa valente guerreira (no bom sentido da palavra, porque a Conceição nunca se meteu em aventuras guerrilheiras que seduziram a muita gente, como a Dilma e etc, no período. Era uma revolucionária da linha pacífica, incapaz de matar uma mosca...Mas o fato que o Geisel atendeu ao pedido dos dois e mandou liberar a Ceiça...

O Simonsen fumava como um tresloucado. E isto talvez o tenha levado ao câncer que o matou precocemente (se tivesse vivido 32 anos mais, teria completado o mesmo ciclo vital que a Conceição). O que teria passado então se a vida lhe tivesse proporcionado mais estes 32 anos, com a mente em seu apogeu ? Por ironia, me lembro de ter lido ou ouvido que o Simonsen, ao deixar o governo, teria assumido cadeiras nos Conselhos de Administração do City Bank e da British America Tobacco, ambas cotadas na Bolsa de Nova York. Cadeiras em conselhos de grandes bancos em geral não matam seus ocupantes cedo, já as de companhias de cigarro... são fulminantes (lembro que o Simonsen, assim como a Conceição, era fumantes inveterados, acendendo um cigarro atrás do outro. Um morreu com 62, a outra com 94. O cigarro mata ?

MD

P.S.: Uma anedota divertida : quando o general Costa e Silva foi “eleito” pelo sistema militar para suceder ao general Castelo Branco na Presidência da República, o Brasil foi tomado por centenas e centenas de piadinhas sobre a proverbial burrice do sucessor do Castelo Branco. O Costa e Silva, para amenizar talvez as piadas que o colocavam na berlinda, resolveu convidar o Simonsen para lhe dar umas aulas de economia. (É verdade sim, basta consultar os jornais da época...). Imaginem que o Simonsen tinha 30 anos na época ! Podem crer: 30 anos ! Todos achavam que o Costa e Silva ia nomear seu “professor de economia” para Ministro. Me imagino que o Simonsen tenha perdido a paciência com o general e em algum momento o chamado de “burro”, porque de fato o Simonsen chamou o Hélio Beltrão para ministro do Planejamento e o Delfim para a Fazenda. Estupor generalizado ! Eu tinha um amigo e professor aqui no Rio, vindo da UnB onde havia entrado na lista negra que me dizia : “Este tal de Simonsen deve ser muito incompetente, Mauricio... Ter dado aulas de economia para o Costa e Silva e não ser chamado para ministro...”. Mas acho que o incompetente era o Costa e Silva mesmo... Se bem que o Brizola me contou, em Montevidéu, onde eu e a Beatriz fomos visita-lo na nossa viagem para o Chile, quando eu, jovem estudante repeti o deboche que os estudantes do Rio tinham com relação ao general : “não creia nisto, em 1961, quando uma ligação telefônica caiu por engano no aparelho do então governador do Rio Grande, do outro lado da linha estava o general... Pude sentir na ocasião, disse-me o Brizola, a voz de autoridade e comando do outro lado da linha... Não era tão burro assim o general, agora promovido a marechal...”. Se bem que continuo achando, tantos anos depois, que o velho marechal era uma besta quadrada mesmo...

MD


Morre Conceição Tavares, um ícone do desenvolvimentismo - Mauricio David

Morre Conceição Tavares, um ícone do desenvolvimentismo

Nascida em Portugal, e no Brasil desde 1954, lecionou na UFRJ e colaborou com a Cepal. Faleceu em Nova Friburgo (RJ), aos 94 anos

 

Talvez um dos maiores méritos da economista Maria da Conceição Tavares, que faleceu sábado (8) em Nova Friburgo, aos 94 anos, tenha sido sua inesgotável capacidade de provocar polêmica e conseguir levar adiante debates sobre política e economia que, de outra forma, poderiam ficar restritos a pequenos grupos ou mesmo passar desapercebidos, sem influenciar políticas públicas e decisões governamentais.

Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) durante muitos anos, inclusive depois de aposentada, autora de livros adotados em muitos cursos de economia e de artigos publicados durante 12 anos pelo jornal "Folha de S. Paulo", Conceição Tavares teve entre seus alunos alguns dos economistas que dirigiram as finanças do país desde a redemocratização do Brasil depois do regime militar. Com alguns desses ex-alunos e colegas, manteve polêmicas públicas e ferozes, sobretudo com economistas liberais.

Dona de uma personalidade marcante, com tom de voz e sotaque inconfundíveis, controversa, debatedora incansável, ao mesmo tempo em que ganhou adversários na economia e na política, ela também colecionou admiradores, economistas em sua maioria, que prezavam a agudeza das suas críticas e a fidelidade às suas convicções, desprezando modismos do pensamento econômico.

Conceição Tavares - chamada simplesmente de Maria por alguns dos amigos mais próximos - conviveu com a maior parte dos economistas de renome do país durante a segunda metade do século XX e os primeiros anos deste século e deixou sua marca não apenas como uma espécie de "agitadora" de ideias, mas também pelo seu pioneirismo em estudar temas como a industrialização no Brasil e a ênfase, que ela considerava exagerada, no mercado financeiro.

Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu na cidade de Anádia, em Portugal, no dia 24 de abril de 1930. Licenciou-se em matemática na Universidade de Lisboa. Um ano depois de formada, em 1954, mudou-se para o Brasil, tendo se naturalizado brasileira poucos anos depois, em 1957.

Em uma entrevista à revista "Praga", explicou sua decisão de migrar: "Quando saí de Portugal, em 1954, os problemas lã eram democracia, humanismo, terror. Já no Brasil, eram a injustiça social, o atraso e a presença do imperialismo. Quando entrei para o (então ) BNDE, aluna de economia ainda, deparei-me com as estatísticas: esse país é uma desigualdade só. Compreendi, então, as dificuldades das tentativas de construção de uma democracia nos trópicos."

No banco que é hoje o BNDES, ela trabalhou como analista, entre 1958 e 1960 
(na verdade, como estagiária e um curto período como analista, não como afirmou errônea e mentirosamente o Aloizio Mercadante como “ocupando altas funções no Banco” (MD) - ano em que terminou a Faculdade de Ciências Econômicas na então Universidade do Brasil. Imediatamente, passou a dar aulas ao mesmo tempo em que fazia seu curso de pós-graduação em desenvolvimento econômico na Comissão Econômica para América Latina (Cepal). (Na verdade, o curso era na Comissão Mista CEPAL/BNDES, aqui no Rio de Janeiro, então dirigida pelo grande economista chileno e cepalino Aníbal Pinto (MD)”.

Foi colaboradora da Cepal entre 1961 e 1974. Em 1973, foi uma das fundadoras do primeiro curso de pós-graduação em economia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Obteve doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1975, defendendo a tese "Acumulação de capital e industrialização no Brasil". Com a aposentadoria de Octavio Gouvêa de Bulhões, três anos depois, tornou-se professora titular na UFRJ.

Também foi uma das criadoras do Instituto de Economistas do Rio. Em 1980, formalizou sua participação política filiando-se ao PMDB. Na entrevista à revista "Praga", comentou da seguinte forma sua decisão de entrar no partido:

"Minha militância no PMDB durou de 1978 a 1988 e está indissoluvelmente ligada a duas personalidades públicas deste país: Ulysses Guimarães e Fernando Henrique Cardoso. O primeiro, Deus levou antes de testemunhar a ruína do seu partido e o apodrecimento da grande frente democrática que liderou durante tantos e tantos anos, nessa travessia infindável para a democracia. O segundo foi meu companheiro da luta político-intelectual por décadas. Quando saiu para fundar o PSDB não o acompanhei porque o grupo de economistas do PMDB permaneceu fiel a Ulysses, já que era sob sua serena condução que nos movíamos. Foi na sua ala, a Travessia, que nos reuníamos para discutir, organizar programas econômicos e debater com os quadros técnicos e cúpulas políticas do partido."

No governo de FHC - a quem Conceição Tavares continuava a tratar como Fernando, mesmo durante seu tempo na Presidência da República - ela foi dura crítica da política econômica, em especial no que se referia à decisão de manter as taxas de juros elevadas e o real, sobrevalorizado.

Na época em que o então presidente do Banco Central, Gustavo Franco, saiu do governo, Conceição Tavares, então deputada, fez em discurso no Congresso em que afirmou que o presidente Fernando Henrique deveria ter demitido Franco quando disse que não subiria os juros e acabou aumentando a taxa, em setembro, para 50%.

"Ali ele tinha que ter demitido esse menino", disse. Concluiu seu discurso de protesto no plenário afirmando que a "desvalorização cambial decretou a falência da política econômica do governo".


Na primeira metade dos anos 1980, Conceição Tavares ganhou maior notoriedade fora dos meios acadêmicos ao publicar uma série de trabalhos criticando a política econômica do governo. São dessa época seus livros "A economia política da crise: problemas e impasses da política econômica brasileira"* ( na verdade, de minha co-autoria junto com a Conceição. Nesta época, a Conceição resolveu assumir a Presidencia do Instituto de Economistas do Rio de Janeiro- IERJ ( o presidente anterior havia sido o economista Pedro Malan, odiado pelo Delfim porque crítico da política econômica do regime militar) e me convidou para colaborar com a sua gestão. Lá pelas tantas, resolvemos no Instituto organizar um Encontro de Economistas, primeira reunião aberta deste tipo, possível com a abertura política no Brasil) e "O grande salto para o caos: a economia política do regime autoritário", este com José Carlos de Assis.

Apoiou o Plano Cruzado e chorou em uma entrevista à televisão, ao comentar os efeitos que a estabilização monetária poderia trazer para os mais pobres.

Em 1994, ela se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT), elegendo-se deputada federal pelo Estado do Rio de Janeiro, onde sempre morou desde que chegou ao Brasil. Depois de cumprir um único mandato, desiludida com o pouco que conseguiu realizar como parlamentar, ela desistiu de concorrer a outros cargos públicos.

Mas voltou a participar do governo federal, assessorando o senador petista Aloizio Mercadante, de São Paulo, após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo ela influenciou também por meio da indicação do amigo Carlos Lessa, que ocupou a presidência do BNDES até 2004.

Crítica também da política econômica adotada pelo governo Lula, Conceição Tavares resolveu parar de escrever em jornais em setembro de 2004. Em sua última contribuição à "Folha de S. Paulo", ela deixou explícita a determinação do seu caráter: "Depois de mais de 40 anos de luta intelectual no campo da heterodoxia e de militância nas lutas democráticas populares e nacionais, ainda não desisti das lutas maiores." Por isso mesmo, decidira parar de escrever - o que a obrigava a ler "centenas de matérias econômicas" - para "poupar as energias que me sobram para as únicas tarefas a que nunca me neguei".

Legado da economista

Obras de Maria da Conceição

Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Zaliar, 1972
Acumulação de capital e industrialização no Brasil. Tese de livre-docência (UFRJ), 1975, Ed. Unicamp, 1986.
Ciclo e crise. O movimento recente da economia brasileira. Tese de professora titular (UFRJ), 1979.
A economia política da crise (Org). Ed. Vozes/ Achiamé, 1982.
O grande salto para o caos: a economia política do regime autoritário (Coautoria com José Carlos de Assis). Zaliar, 1985.
Aquarela do Brasil: ensaios políticos e econômicos sobre o governo Collor (Org. e introdução). Ed. Rio Fundo, 1991
Japão: um caso exemplar de capitalismo organizado. (Coautoria com Emani Torres Filho e Leonardo Buriamaqui). Ipea/Cepal, 1991
Ajuste global e modernização conservadora. (Coautoria com José Luis Fiori). Ed. Paz e Terra, 1993.
Celso Furtado e o Brasil. (Org.) Fundação Perseu Abramo, 2000.

 

Economistas, ex-alunos e políticos ressaltam legado da professora

Paula Martini e Ricardo Bomfim

 

Economistas, ex-alunos e políticos lamentaram a morte de Maria da Conceição Tavares, no sábado.

Em uma rede social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou Conceição Tavares de "uma das maiores da nossa história". "Foi uma economista que nunca esqueceu a política e a defesa de um desenvolvimento econômico com justiça social", escreveu.

Mercadante, atual presidente do BNDES, onde Conceição Tavares trabalhou, escreveu, em nota, que a economista tinha "densa formação intelectual e profunda coragem". "Não poderia deixar de mencionar a imprescindível contribuição de Conceição para a construção do BNDES, instituição na qual ela entrou concursada em 1958", afirmou.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, escreveu em rede social que a economista "deixa um rico legado" com "seu pensamento, crítica e defesa inegociável da justiça social". "Será sempre uma estrela guia para o pensamento econômico brasileiro", afirmou.

O economista Marcio Pochmann, presidente do IBGE, disse que Conceição Tavares deixa "uma trajetória exemplar de educadora engajada no que de melhor o pensamento crítico gerou no Brasil".

O diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Frederico Leão Rocha, ex-aluno de Conceição Tavares, atribui a ela o desenvolvimento de um pensamento econômico de esquerda no país. "Pegou o legado do Celso Furtado e criou duas escolas de economia. Ela tem artigos fantásticos", disse.

Para a economista Laura Carvalho, diretora global da Open Society Foundations, Conceição Tavares, que também foi sua professora, esteve à frente de seu tempo como mulher e acadêmica.

"Sempre foi muito aguerrida, mas nunca teve medo de enfrentar as conversas. E com isso chamava atenção, ainda mais sendo mulher num ambiente tão dominado por homens", afirmou. "Ela oferece esse exemplo que inspira e mostra a possibilidade que nós mulheres temos de fazer análises originais e ocupar espaço no debate."

Luiz Gonzaga Beluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), lembrou que a economista "discutia de maneira muito intensa". "Às vezes, não entendiam que ela não estava brigando com as pessoas, mas com as ideias. Isso faz parte da construção do conhecimento. Ela tinha grande capacidade de compreensão e, inclusive, de abandonar as próprias idéias", afirmou

Beluzzo atribui à energia e ao didatismo particular de Conceição Tavares a capacidade para atrair os alunos, que lotavam disciplinas lecionadas por ela na Unicamp e na UFRJ. Esse vigor, diz, fez com que ela se tornasse conhecida também pelas novas gerações através de trechos de aulas e entrevistas que viralizaram nas redes sociais. "Ela provocava as pessoas e suscitava nelas uma vontade de entender sobre o que ela estava falando."

Um dos criadores do Plano Real, o economista Edmar Bacha disse que a morte de Conceição Tavares é uma "grande perda para o país". "Amiga dileta, professora inspirada, com contribuições fundamentais para a compreensão da economia brasileira", afirmou. "Correntes pouco importam, o que importa é a qualidade da análise. E a da Conceição era excepcional".

O economista Cláudio Considera, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), recordou a convivência com Conceição Tavares no início dos anos 1970, quando foi estagiário dela no escritório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal) no Rio de Janeiro. "Irascível e ácida no debate, era afável no convívio", disse.

Ele sublinhou a atuação da colega contra a desigualdade na ditadura. "Corajosa no combate à política econômica da ditadura que provocou enormes desigualdades sociais, chegou a ser presa por alguns dias. Segundo consta, foi solta graças à intervenção do Simonsen, à época ministro [da Fazenda] de Geisel, que a respeitava."

 

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* "A economia política da crise: problemas e impasses da política econômica brasileira" ( na verdade, de minha co-autoria junto com a Conceição. Nesta época, a Conceição resolver assumir a Presidencia do Instituto de Economistas do Rio de Janeiro e me convidou para colaborar com a sua gestão. Lá pelas tantas, resolvemos no Instituto organizar um Encontro de Economistas, primeira reunião aberta deste tipo, possível com a abertura política no Brasil. Como professor e pesquisador da PUC/RJ, através do seu Instituto de Relações Internacionais-IRI, do qual fui um dos fundadores junto à liderança do pensador ligado “aos padres” da PUC Luiz Gonzaga de Souza Lima, e do Departamento de Economia (hoje célebre após o Plano Real), fiquei encarregado de organizar a reunião e de conseguir que a PUC cedesse seus auditórios e salas para a reunião. Consegui, depois de muitos sacrifícios e lutas, pois os padres ainda estavam receosos de enfrentamentos com os militares, que a PUC cedesse auditório e salas para o evento. Foi aí que tive o primeiro e talvez único encontrão com a Conceição. Explico : durante o evento, que reuniu dezenas de mesas de debate e grandes reuniões plenárias de abertura e encerramento, eu havia tomado a iniciativa de convidar Leonel Brizola e Darcy Ribeiro para participarem do evento. Ambos compareceram e, como é natural, “roubaram” boa parte do evento... A Conceição, apaixonada como sempre e nesta época vivendo um idílio com o PMDB, embora fosse uma democrata radical, perdeu as estribeiras e me desancou com virulência por ter convidado o Brizola e o Darcy (para ela, naquele período, o debate democrático só valia para seus amigos do PMDB...). Engoli em seco e passei uma borracha nas diatribes da Ceiça. Tudo voltou às boas, como solia acontecer nas “brigas” da Conceição... Neste meio termo, propus que aproveitássemos o evento a realizar-se na PUC para publicarmos um livro (não com os resultados do Encontro, porque é sabido que os intelectuais brasileiros são meio “preguiçosos” e difíceis de escrever. Era uma primeira iniciativa deste tipo que se realizava no Brasil pós-abertura. Houve muitas dúvidas sobre a sua viabilidade (a organização e publicação do livro). Como todos aplaudiram a minha idéia e proposição, mas ninguém queria assumir o encargo, por descrença total na sua viabilidade, acabei, como autor da idéia e proposição, encarregado de organizar o livro. Que batalha então ! Primeiro, procurar possíveis autores e incentivá-los a escrever os ensaios. Segundo, encontrar uma editora para publicá-los. Foi uma luta dura, mas afinal os originais foram recebidos (fiquei quase louco, pois ninguém cumpria prazos, a começar pela própria Conceição). Lá pelas tantas, consegui até uma editora (que depois deu um “golpe” no IERJ, editando e reeditando várias vezes o livro sem nunca pagar os direitos autorais ao IERJ). Eu havia sugerido que, para melhor divulgação do livro e como arma de combate, a Conceição aparecesse como autora e organizadora do livro. Idéia aceita, lá pelas tantas o Eduardo Augusto (professor do Instituto de Economia da UFRJ e a quem a Conceição havia convidado para ser a sua Vice no Instituto) disse em uma reunião : “Mas que absurdo, minha gente, a idéia do livro, a sua organização e a batalha por sua edição foi toda feita pelo Mauricio, não é justo que o seu nome não apareça na capa junto do da Conceição”... O Eduardo Agusto era muito respeitado e estava na Vice por indicação da Conceição. A aceitação foi unânime e assim passei a figurar como um dos organizadores do livro. Por modéstia talvez excessiva, eu organizai o livro mas fiquei constrangido em dele participar como um  dos ensaístas... Como a Conceição foi useira e vezeira em dar “carona” em toda a sua vida intelectual a moluscos que colavam a sua pele para aparecerem – e a generosa e bondosa Ceiça sempre dava guarida a estes oportunistas – há gente que até hoje há de pensar que fui um destes caronas...( Serra, José Carlos de Assis, Aluizio Mercadante, José Luiz Fiori, simples moluscos que se agregavam ao casco da brilhante intelectual que era a Conceição para aparecerem colados ao seu nome ( faço excessão ao nome da Hildete, sempre amiga da Ceiça para tudo e sempre, e ao Belluzzo, seu grande parceiro intelectual na Unicamp). Mas a verdade é que, desta vez, quem pegou carona foi a Conceição ! Ela apareceu no livro como Pilatos no Credo... Mas que o meu nome tenha aparecido como co-organizador/autor junto ao do dela, muito me honra e me alegra. Obrigado, Ceiça !, por me dar esta honra... E obrigado, Eduardo Augusto, pela sua dignidade intelectual de sempre...

MD    

 

domingo, 9 de junho de 2024

Arquitetura da Destruição - 1989; a "estética" do nazismo

Um documentário importante sobre a "estética" nazista, toda ela construída em função do conceito de raça. Eliminação de raças inferiores e de pessoas deficientes.

Arquitetura da Destruição - 1989

Legendado (PT-BR)

O Documentário a arquitetura da destruição descreve a trajetória de Hitler e seus aliados durante a ascensão do partido nazista na Alemanha, bem como da eclosão da 2º guerra mundial. Mostrando que Hitler sempre sonhou em ser um grande artista, que após sua ascensão irá utilizar seus projetos arquitetônicos bem como suas teorias, negando consideravelmente a arte modernista. Dessa forma esse documentário relata como se dava a relação dos nazistas, com as obras artísticas existentes na Alemanha e nos países dominados. Destacando, entretanto o nacionalismo e a moral ideológica Alemã em uma época de grandes crises, em que o mundo se recuperava da 1º Guerra Mundial. Onde teóricos e representantes do nazismo, passaram a questionar a arte moderna, relacionando essa arte a grupos revoltosos, sublevadores como os judeus e os bolchevismo da Rússia. Nesta atmosfera o documentário descreve a posição da Alemanha nazista em relação às obras modernistas. Pois nesse período florescia na Europa diversas teorias raciais influenciariam Hitler, fazendo com que ele desenvolvesse uma política de não aceitação da grande maioria das obras modernistas, que segundo ele representavam deformações genéticas existentes na sociedade. O que despertou no regime nazista, um projeto de arte em que se desenvolveria uma nova perspectiva dentro dos projetos, urbanísticos e arquitetônicos das cidades. Assim este documentário trás importantes características da arte do governo Hitler. A qual dá grande enfoque na teatralização, e na grandiosidade, promovendo um nacionalismo coletivo a cada idéia defendida por Hitler e seus comandados.

Ficha técnica: 

Título Original: Undergångens arkitektur 

Gênero: Documentário | Guerra | Histórico 

Ano de Lançamento: 1989 

Duração: 119 min 

País de Produção: Suécia 

Diretor: Peter Cohen 

Elenco: Rolf Arsenius ... Narrator Bruno Ganz ... Narrator Sam Gray ... Narrator Martin Bormann ... Ele mesmo Karl Brandt ... Ele mesmo Arno Breker ... Ele mesmo Hermann Giesler ... Ele mesmo Josef Goebbels ... Ele mesmo Heinrich Himmler ... Ele mesmo Adolf Hitler ... Ele mesmo Wilhelm Keitel ... Ele mesmo Viktor Lutze ... Ele mesmo Jeanne Moreau ... Narrator (French version) Alfred Rosenberg ... Ele mesmo Hans Schmidt-Isserstedt ... Ele mesmo Albert Speer ... Ele mesmo Josef Thorak ... Ele mesmo P.L. Troost ... Ele mesmo


sábado, 8 de junho de 2024

There is NO alternative to the defeat of Putin - Immanuel Niven

There is no alternative to a clear VICTORY FOR UKRAINE.

Immanuel Niven, June 7, 2024

❗️ALBERT EINSTEIN once said "If you can't explain it simply, you don't understand it well enough". He was right. So here is the reality (including political conclusions), simply explained:

1) There is NO WAR without supply routes.

➡️ So of course Ukraine must receive weapons to hit and destroy supply routes.

2) There is NO WAR without an economy which makes this war financeable.

➡️ So of course Ukraine must strike targets which are related to the Russian oil and gas industry.

3) There is NO POSSIBLE APPEASEMENT with Putin (his megalomaniac expansion plans into Eastern Europe are stipulated in his doctrine "Russkiy Mir"), just as there was no possible appeasement with Hitler (his megalomaniac expansion plans into Eastern Europe were stipulated in "Mein Kampf").

➡️ So of course REAL PEACE is only possible through a victory for Ukraine.

4) There is NO REASON FOR BEING NAIVE. Dictators only understand the language of strength.

➡️ So of course, Putin violated the “Budapest Memorandum”, ignored the “Minsk agreements”, invaded Ukraine and started the most brutal massacre on European soil since World War II, because he interpreted the completely naive “friendly behavior” of Western politicians until 2022 as weakness, as an invitation to start his military aggression.

➡️ Conclusion: don't be naive again. Putin cannot be appeased. He cannot be trusted. He can only be defeated. 

5) Putin is a poker player who can only bluff. He can only utter threats, he can be loud and, like a bully in the schoolyard, he can try to intimidate the little ones. But he cannot carry out his threats, because Russia is far too inferior to NATO (besides, herein lies a reason why he must be defeated NOW, because assuming he is not defeated in Ukraine, he can spend the next 2-5 years rearming himself, and when he feels ready for the next war, God help us all).

➡️ So of course there is no reason to pursue a policy which is not aimed at a victory for Ukraine. No reason to believe in a bluff. No reason to be intimidated by the bully.

❗️Russia is big, but Putin is not strong. 

You just have to compare his goals (which he tried to reach within a few weeks) with reality. These are the facts regarding Putin's real "strength":

▪️Does he have air superiority over Ukraine?

No. On the contrary, the extent of his superiority is diminishing.

▪️Is Ukraine "demilitarized"?

No. On the contrary.

▪️ Has he prevented the expansion of NATO?

No. On the contrary.

▪️Has he restored Russia's imperial greatness?

No. On the contrary, he is now just "the little partner of big China".

So in short:

Only a clear victory for Ukraine can

▪️minimize the duration of the war,

▪️prevent a future war on NATO territory,

▪️weaken the China-Iran-Russia axis, and

▪️lead to real peace.

These are the facts, simply explained, just as Einstein's quote encourages us to deal with complex issues. Once we can explain these issues simply, we can draw the right conclusions.

The conclusion of this post is quite clear:

❗️In the best interest of humanity, there is no alternative to a CLEAR VICTORY FOR UKRAINE.


#Russia #Putin

#Ukraine

#UkraineNeverSurrenders  

#ArmUkraineToWin 

#ArmUkraineToWinNOW

O Ocidente ainda está do lado da Ucrânia, mas não contem com o Brasil - Foreign Policy

 ‘We’re Still In’

Foreign Policy

U.S. President Joe Biden talks with Ukrainian President Volodymyr Zelensky at D-Day anniversary events in France.

U.S. President Joe Biden (center) talks with Ukrainian President Volodymyr Zelensky (left) as French President Emmanuel Macron (right) looks on at the start of commemoration events for D-Day in Normandy, France, on June 6.Ludovic Marin/AFP via Getty Images

U.S. President Joe Biden apologized to Ukrainian President Volodymyr Zelensky in Paris on Friday for the monthslong congressional delay in approving the latest U.S. aid package. The meeting, on the sidelines of D-Day commemoration events, was their first face-to-face encounter since Zelensky visited Washington last December to request greater military support.

U.S. Republicans—some who directly opposed sending additional aid to Ukraine and others who wanted the funding package, which also earmarked billions of dollars in aid for Israel, to include additional money for security at the U.S. southern border—had stalled the nearly $61 billion aid deal for months before passing the package in April. “I apologize for those weeks of not knowing what’s going to happen in terms of funding,” Biden told Zelensky, adding that “we’re still in. Completely. Thoroughly.”

Biden also announced a new $225 million tranche to help Kyiv reconstruct its electric grid, which has been decimated by Russian attacks in recent months. The package also includes air defense interceptors, artillery ammunition, and other critical capabilities to strengthen Ukraine’s war effort. Zelensky, in turn, likened U.S. support to Washington’s efforts in Europe during World War II. On Thursday, amid events marking the 80th anniversary of the Normandy landings, Biden gave an interview to ABC World News in which he called Russian President Vladimir Putin “a dictator” and drew parallels between Moscow’s invasion of Ukraine and the actions of Nazi Germany.

“The struggle between a dictatorship and freedom is unending,” Biden said. “To surrender to bullies, to bow down to dictators is simply unthinkable. Were we to do that, it means we would be forgetting what happened here on these hallowed beaches.”

Zelensky and Biden will meet again next week at the G-7 summit in Italy, where they will discuss using frozen Russian assets to provide Kyiv with $50 billion in aid. The United States is by far Ukraine’s biggest military supplier. Last week, Biden granted Kyiv permission to use U.S.-supplied weapons to target military sites inside Russian territory near Ukraine’s Kharkiv region so long as the operations are in self-defense. The decision, which Germany quickly copied, comes as Moscow has renewed attacks on Kharkiv, Ukraine’s second-largest city, in recent weeks. Kharkiv is located around 25 miles from the Russian border.

In response, Putin warned Washington and its allies on Wednesday that he could deploy weapons to countries within striking distance of the West and that the United States should not assume that Russia will always rule out using nuclear weapons. While at the St. Petersburg International Economic Forum on Friday, though, Putin said there was no need for nuclear warfareright now.