O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Salvando criancas do nazismo na Tchecoslovaquia - Madeleine Albright (Delanceyplace)

Prague Winter by Madeleine Albright.
Delanceyplace,  October 26, 2016

On the eve of World War II, many Jews and antifascists tried to escape the rising danger in Czechoslovakia by fleeing to London. The British accepted only a limited number of adults, but accepted all children under the age of seventeen as long as a local family agreed to host them. A stockbroker from New York named Nicholas Winton organized one such flight of children, which was referred to as a kindertransport. He placed photographs in a newspaper called the Picture Post, asking families to host them. Despite his appeals to politicians in the United States, including President Roosevelt, he only managed to get Sweden and Britain to accept these children:

"Nicholas Winton, a British stockbroker who had visited Prague at the invitation of a friend, encountered German thugs everywhere, and returned home determined to save whomever he could, especially children. 'I wasn't allowed to bring anybody in until I had a family and guarantors that would look after them,' Winton recalled, 'and it wasn't always easy to get people to make that commitment because some were very, very young.' To place more youngsters, he made repeated appeals to the United States, but no help was forthcoming. Of the roughly six thousand children whose names were on Winton's list, only one in ten reached England.


Statue at Prague main railway station, by Flor Kent. unveiled on 1 September 2009

"Among those who did was my cousin Dása Deimlová, then eleven, the daughter of my father's sister. She was aboard the second of the four Winton trains, departing Prague at the end of June. Aside from a small suitcase, she carried only a tiny doll: around her neck was a cardboard sign bearing the number 298. There were six in her compartment, all girls, ranging in age from two to fifteen. Dása quickly introduced herself to a child with the same first name as her seven-year-old sister, Milena. As the locomotive pulled out of the station, leaving behind parents and friends, the two girls closed their eyes, held hands, and promised each other, 'We will not cry.' When they reached the German border, the train halted for almost five hours. There had been a mix-up with the paperwork, and proper documents had to be fetched from Prague. The youthful pas­sengers sat, peering anxiously through the windows as Nazis with their fearsome-looking rifles and bayonets marched along the platform. Fi­nally the train resumed its journey westward, passing through Dresden, Frankfurt, and Cologne. The incessant motion upset Dása's stomach; she accepted an older boy's offer of alcohol, the imbibing of which upset her even more. Not until they reached Holland were the children allowed to stretch their legs, given postcards to send home, and treated by the Red Cross to bananas and cocoa.

"From there the children took a ferry to Harwich; most then contin­ued on by rail to Liverpool Street Station. Like her companions, Dása experienced the trauma of sudden separation from parents and home­land. Unlike many, she was old enough to comprehend the reason for leaving and had 'the comfort of a familiar set of faces at her journey's end. Her sister had been on the list to come, too, but their parents had had a last-minute change of heart, thinking Milena too young. Fifty­-seven years later, Dása told a reporter from the Washington Post that the reason Milena had not been on the train was that she had a broken arm. That wasn't true. At the time Dása did not wish to admit, as she did later to me, that she had never forgiven her parents for their fateful decision; many children younger than Milena had been on the train leaving Prague. The unbearable irony is that my little cousin would have her life cut short not because of her parents' indifference but be­cause of the intensity of their desire to protect her.

"My father met Dása in Harwich and brought her to our apartment. 'We took her over in good shape,' my father wrote to her parents, Rudolf and Greta. 'She was one of the few who was not tired .... In a few days we will take her to school... Do not worry, we will take good care of her, and besides I can see that she is a very reasonable little girl.'

He added:
Perhaps I will soon learn if it will work ... it is now harder, be­cause you did not send Milenka. With Canada, Rudo do not have illusions. Kisses -- we have not heard from Mother in 2. weeks.

"Deciphering those words now, I believe that my father was trying to use whatever connections he had to help Dása's parents leave Czecho­slovakia. He worried that their decision to keep Milena might compli­cate the matter and was unsure he would succeed.

"In the summer of 2009, the exodus of the Winton children was reenacted, using the same locomotive and taking the identical route between Prague and London. Among the passengers were Dása, then eighty-one, and her old seatmate. Milena Grenfell-Baines. A young girl, dressed in the style of the 1930s (hat, simple coat and frock) was
also aboard, representing the travelers from long ago. Around the girl's neck was the number 298, Dása's number, on the very piece of card­board that my cousin had worn years before. Waiting to greet them in London was a friend celebrating his one hundredth birthday, Nicholas Winton, the man who -- when others had merely shrugged -- had acted just in time to save their lives.

Prague Winter: A Personal Story of Remembrance and War, 1937-1948
Author: Madeleine Albright
Publisher: Harper Perennial
Copyright 2012 by Madeleine Albright
Pages 122-125

All delanceyplace profits are donated to charity and support children's literacy projects.

Divida Publica: sua real dimensao - Ricardo Bergamini, Gilberto Simoes Pires


INFORMAÇÃO EQUIVOCADA
Gilberto Simoes Pires
Ponto Crítico, XIV - 001/15 26/10/2016

O EQUIVOCADO VALOR DA DÍVIDA FEDERAL
Ontem, todos os meios de comunicação do país deram a mesma NOTÍCIA ERRADA, ao divulgar o valor que a DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL atingiu no final de setembro. De novo: todos, sem exceção, deram a FALSA NOTÍCIA baseada em informação fornecida pelo Tesouro Nacional. 

TRÊS TRILHÕES???
Mais: como todos os leitores certamente perceberam, para gerar maior impacto na opinião pública, os meios de comunicação manchetearam a notícia informando, com letras garrafais, que a DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL ultrapassou, em setembro, a marca dos 3 TRILHÕES DE REAIS.

ESTUDO SÉRIO
Pois, da mesma forma como aconteceu em todas as informações anteriores, fornecidas mensalmente pelo Tesouro Nacional no que se refere ao montante atualizado da DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL, o Ponto Critico tem mostrado sempre o VALOR CORRETO da dívida, através do sério e cuidadoso estudo feito pelo economista e pensador (integrante do Pensar+) Ricardo Bergamini.   

DÍVIDA CORRETA É DE 4,385 TRILHÕES
Portanto, a título de esclarecimento é importante que  fique registrado que o REAL ESTOQUE DA DÍVIDA, em setembro, é R$ 4,385 TRILHÕES. O que o Tesouro Nacional informou, não sei por qual razão, é o VALOR DA DÍVIDA EM PODER DO MERCADO, deixando de fora (também não sei por qual razão) o ESTOQUE EM PODER DO BANCO CENTRAL, que atingiu, em setembro, R$ 1,338 TRILHÃO

IMORALIDADE SEM PRECEDENTES
Essa  parte da dívida em poder do Banco Central, enfatiza Bergamini, é a mais importante, visto que nada mais é do que uma “pedalada oficial” (aumento disfarçado de base monetária) que não existiria se o Banco Central fosse independente.
Detalhe fantástico: o governo, se for financiado por bancos do qual seja o controlador, comete crime, mas se for financiado pelo Banco Central aí é mecanismo de controle de política monetária.
Vejam que essa orgia saiu de 17,86% do PIB em 2010 para 21,97% do PIB em setembro de 2016. Crescimento real, em relação ao PIB, de 23,01%. Uma imoralidade sem precedentes.

PREVIDÊNCIAS
Agora o detalhe ainda mais importante: os dois maiores responsáveis pelo crescimento vertiginoso da DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL, que a imprensa vive omitindo (também não sei por qual razão), estão estampados, com absoluta clareza através dos ROMBOS que carregam, a PREVIDÊNCIA SOCIAL, que reúne: os aposentados do INSS (turma da segunda classe) e aposentados do setor público federal (turma da primeira classe). 

TRAGÉDIA
Vejo que a Rede Globo, por exemplo, insiste, constantemente, com a tragédia de Mariana dizendo que se trata da maior tragédia ambiental jamais vista no nosso país. Ora, ainda que seja uma grande catástrofe, a mesma não tem comparação com o que vem produzindo, mensalmente, a PREVIDÊNCIA SOCIAL, nas  CONTAS PÚBLICAS do país.
Pois, mesmo diante desta imensa catástrofe, há quem continue se posicionando contra a REFORMA DA PREVIDÊNCIA. Pode?

RBPI: 60 anos, seminário em Brasília, 7/11/2016

Estou identificado intensamente com a RBPI, tendo colaborado com um de seus fundadores, Cleantho de Paiva Leite, ainda em sua fase do Rio de Janeiro (1958-1992), liderado o processo de sua transferência do Rio a Brasília (em 1993) e desde então na capital federal, com artigos ocasionais, e justamente nos momentos comemorativos como este.
Vou atualizar minha síntese feita em 2014, compilando grandes momentos e artigos memoráveis.
Paulo Roberto de Almeida 

Seminário celebra 60 anos da RBPI

O Conselho Editorial da Revista Brasileira de Política Internacional e o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais convidam para o Seminário Sessenta anos da Revista Brasileira de Política Internacional, a ser realizado a propósito da abertura das celebrações da publicação do sexagésimo volume da RBPI.

Fundada em 1958 no Rio de Janeiro, e transferida em 1993 para Brasília, a RBPI é uma das mais tradicionais publicações científicas da área de Relações Internacionais da América Latina e uma das mais influentes do Sul Global.

Em 2017 será publicado o sexagésimo volume da RBPI, e esta marca histórica será celebrada entre o final de 2016 e os primeiros meses de 2018, com a realização de várias atividades especiais. O marco inicial desta grande celebração será o seminário nacional que se realizará de acordo com a programação abaixo.

Programação

14h30min – Apresentação

  • Antônio Carlos Lessa, editor-chefe da Revista Brasileira de Política Internacional e professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília

14h40min – Mesa Redonda  – 60 anos em Revista – a inserção internacional do Brasil e a política internacional

  • Coordenação: José Flávio Sombra Saraiva, diretor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília
  • 60 anos em revista: A inserção internacional do Brasil e os desafios da modernização – Amado Luiz Cervo, professor emérito da Universidade de Brasília, ex-editor e presidente de honra do Conselho Editorial da RBPI
  • 60 anos em revista: A evolução da política internacional e a formação do mundo em que vivemos – Henrique Altemani de OIiveira, professor da Universidade Estadual da Paraíba – UEPB e representante do Conselho Editorial da RBPI

16h – Mesa Redonda – 60 anos em Revista – Inovação e renovação na publicação científica na área de Relações Internacionais no Brasil

  • Coordenação: Virgílio Arraes, professor do Departamento de História da Universidade de Brasília;
  • 60 anos em Revista – A trajetória da RBPI – Ministro Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais e editor-associado da RBPI
  • 60 anos em Revista – a  RBPI e a inovação na publicação científica na grande área de humanidades no Brasil – Antônio Carlos Lessa, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília e editor-chefe da RBPI.

17h20min – Encerramento – Programação futura

  • Data e local: 7 de novembro de 2016, a partir das 14h30min, no Auditório do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília – DF).
  • Será emitido certificado de participação. Inscrições podem ser feitas aqui.
  • Informações adicionais podem ser obtidas pelo e-mail secretaria@ibri-rbpi.org .

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Palestras no IPRI-Funag: Japao, comercio e seguranca - 1/11/2016, 16:00hs (MRE)

Palestras no IPRI-Funag: comércio internacional e segurança na Ásia

O presidente da Funag, embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima, e o diretor do IPRI-Funag, ministro Paulo Roberto de Almeida, convidam para as palestras sobre:

International Trade and Security in Asia: Japanese Perspectives

a serem proferidas no dia 1º de novembro, às 16h, no Auditório Paulo Nogueira Batista (Anexo II do Itamaraty), respectivamente pelo:

professor de Economia Política Internacional da Keio University, 
Yorizumi Watanabe,

e pelo Diretor Geral do Japanese Institute of International Affairs, 
Shingo Yamagami.

      Ambos, enviados especiais pelo gabinete do primeiro ministro do Japão, são eminentes especialistas em suas esferas de estudo e de atividades, tendo participado de inúmeras negociações diplomáticas a serviço do Japão.


Diplomatas da Casa comentarão suas palestras, feitas em inglês (sem tradução simultânea), após o que haverá um debate aberto a todos os participantes do evento.

Mini CVs dos palestrantes: 


Mr. Yorizumi WATANABE is Professor of International Political Economy, Faculty of Policy Management of Keio University. Prof. Watanabe’s distinguished career has featured significant engagement in all the major bilateral and multilateral trade negotiations in which Japan has been involved in the past two decades. This included the role of policy advisor to relevant Ministers, and postings to Japan's foreign service such as Deputy Director-General of the Economic Affairs Bureau and Chief Negotiator for the Japan-Mexico Economic Partnership Agreement (EPA).

Ambassador Shingo Yamagami is Director General (Acting) of the Japan Institute of International Affairs which is a private, nonpartisan policy think-tank focused on foreign affairs and security issues in Japan, founded in 1959. He was Ambassador for Policy Planning and International Security Policy, and Deputy Director-General of Foreign Policy Bureau at the Ministry of Foreign Affairs, Japan (MOFA). He has great expertise in international politics and security from his experience including working as Political Minister at the Embassy in London (2009-12).

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Censura na ditadura e na democracia: Paul Samuelson a Ernesto Lozardo - Elio Gaspari


Paul.Samuelson@edu para Lozardo@gov
Gudin e Campos fingiam discutir meu livro, mas o que eles queriam era bajular o governo, tire o Ipea dessa

Elio Gaspari, colunista do Globo, 23/10/2016

Prezado professor Ernesto Lozardo, ilustre presidente Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea
O senhor me conhece, estudou no meu clássico “Introdução à analise econômica” e viu quando ganhei o Prêmio Nobel. Escrevo-lhe para compartilhar um episódio de 1973 que invadiu minha memória quando li a censura pública que o senhor impôs a dois pesquisadores do Ipea que criticaram os efeitos de uma medida proposta pelo governo que lhe nomeou.
À época, não dei maior importância ao que me aconteceu. Hoje, vejo o papelão em que me meteram. No segundo semestre de 1973 a editora Agir, que publicava meus livros no Brasil, estava traduzindo a nona edição do “Economics”. A certa altura, discutindo o fascismo, mencionei o regime militar brasileiro e seu crescimento de 10% ao ano. Lembrei que todos os regimes semelhantes tinham ido à breca.
O diretor da editora escreveu-me dizendo que não publicaria aquilo. Dias depois, outra carta, desta vez do economista Eugênio Gudin, o grande liberal brasileiro. Passaram algumas semanas e veio a terceira, do economista Roberto Campos. Todos reclamavam do meu texto, da comparação e do tom.
Pareceu-me uma tempestade em copo d’água, pois a minha política era de permitir que os editores expurgassem trechos que pudessem criar problemas com as traduções, sobretudo nos países comunistas. Resultado: quem leu a edição americana aprendeu que o Brasil ia quebrar. Quem leu a tradução da Agir comprou Samuelson e levou Gudin-Campos.
Eu achava que as duas cartas poderiam ser reflexões de intelectuais, dirigidas a um professor. Coisa nenhuma, o que eles queriam era alavancar suas posições junto ao governo do general Ernesto Geisel, que tomaria posse meses depois. Queriam me operar, e operaram.
Digo isso porque toda a correspondência enviada a mim, bem como as minhas respostas a Gudin e Campos, foram parar nas mãos do general Golbery do Couto e Silva, conselheiro de Geisel. A minha decisão foi comemorada pelo dono da editora, o banqueiro Candido Guinle de Paula Machado. Num cartão que enviou a Golbery ele sugeriu: “Se puder, dê um telefonema ao Dr. Gudin, pois ele ficaria satisfeito.”
Encontrei o general Geisel num jantar na casa do compositor Richard Wagner (ele estava com o professor Mário Henrique Simonsen) e perguntei-lhe o que aconteceu. Geisel contou-me que Golbery aceitou a sugestão de Guinle e almoçou a sós com Gudin. Impressionou-me a malquerença do presidente com o patriarca do liberalismo econômico brasileiro. O melhor adjetivo que lhe dá é o de “patife”.
Os autores da Nota Técnica excomungada têm a minha solidariedade e saiba que não a li. Era desnecessário dizer que o texto não refletia a opinião do Ipea. Essa informação sempre está no cabeçalho desse tipo de trabalho. O senhor disse que “a posição institucional do Ipea é favorável à PEC 241”. A “posição institucional” de Gudin, Campos e Paula Machado era favorável ao regime. Direito deles, mas o que a trinca queria era outra coisa. Fiz-me entender?
Converse com o Pedro Malan. Ele foi um servidor do Ipea respeitado pela ditadura e ministro da Fazenda na democracia. É um homem correto e muito bem educado. Pode lhe ajudar.
Cordialmente,
Paul Samuelson.
Elio Gaspari é jornalista

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/paulsamuelsonedu-para-lozardogov-20311569#ixzz4O0JSeZpj 

Divida Externa: relembrando o calote da Argentina em 2001

Argentina declara moratória em 2001 e dá o maior calote da História, de US$ 102 bi
Em meio a suspensão do pagamento da dívida externa, confiscos, saques e violentos protestos de rua, colapso econômico fez país perder 20% do PIB em apenas quatro anos

Fonte: Acervo O Globo

Após uma década de estabilidade e aparente prosperidade alcançadas com o câmbio artificialmente fixo, a Argentina declarou moratória em dezembro de 2001. Era o sinal mais evidente de que a lei da conversibilidade, de 1991, do governo de Carlos Menem, estava ruindo. Instituída pelo Plano Cavallo (elaborado pelo ministro da Economia, Domingo Cavallo, para deter a inflação), a paridade dólar-peso — cada peso respaldado por um dólar — estava com os dias contados. A dívida externa do país, pública e privada, havia disparado: de US$ 4,5 bilhões em 1991 para US$ 146 bilhões dez anos depois, segundo o instituto Indec. Acumulando déficits externos, com exportações insuficientes para honrar seus compromissos e parcas reservas cambiais (despencaram para US$ 16 bilhões), o país quebrou.

Abalado por uma grave crise econômica e social, o governo argentino anunciou às vésperas do Natal, no dia 23 de dezembro de 2001, a suspensão por tempo indeterminado do pagamento da dívida externa. A decisão foi tomada pelo novo presidente, Adolfo Rodríguez Saá, do Partido Justicialista (PJ, peronista), escolhido pelo Congresso. O calote da dívida externa pública superava US$ 102 bilhões, o maior da História. O cálculo contabilizava US$ 82 bilhões envolvidos na moratória, além dos juros somados ao principal. Sem conseguir novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Argentina, ao declarar moratória, entrava em rota de colisão com seus credores e o mercado financeiro mundial.

O embate iniciado em 2001 com os credores da dívida externa — renegociada só em 2005 no governo de Néstor Kirchner (sucessor de Eduardo Duhalde) — afeta até hoje a credibilidade do país. Na reestruturação da dívida na gestão Kirchner, o governo acertou pagar só 25% do devido aos banqueiros e fundos internacionais. Não é à toa que, nos últimos anos, o governo argentino se viu em dificuldades para voltar a obter financiamentos externos e estimular a sua economia. O calote também acabou respingando em seus parceiros comerciais no MERCOSUL, como o Brasil.

Após a renúncia do presidente Fernando De la Rúa, e a passagem relâmpago pela Casa Rosada de Ramón Puerta, presidente do Senado, Rodríguez Saá representava a volta do peronismo após dois anos afastado do poder. No dia de sua posse, ele anunciou um pacote de medidas, incluindo a emissão de títulos públicos — o que, na prática, significava a criação de uma terceira moeda (não conversível ao peso e ao dólar). Com isso, também fazia uma desvalorização cambial disfarçada, ao emitir títulos públicos para pagar servidores e impostos. Também anunciou a venda de carros e aviões oficiais, a eliminação de ministérios e o confisco parcial, impedindo o argentino de retirar depósitos bancários a prazo fixo e outros tipos de aplicações. Permitia sacar apenas 250 pesos por semana.

Diante de uma taxa de desemprego que chegava a 18,3%, o pacote, na área social, além de limitar o salário de servidores, previa a criação de 1 milhão de vagas. Após sucessivas greves dos sindicatos, onda de saques a supermercados e protestos de rua, o governo também anunciou a distribuição de alimentos à população. E o Congresso convocou eleições presidenciais para o ano seguinte. Em quatro anos, entre 1998 e 2002, período chamado de “Tragédia Argentina”, o país perdeu 20% do PIB e a renda per capita encolheu em dólares 68%. Em janeiro de 2002, em meio ao colapso econômico, a confusão institucional levou o país a ter cinco presidentes, em apenas duas semanas. Durante os protestos de rua contra o governo, o país registrou mortes e dezenas de pessoas ficaram feridas.

A moratória anunciada pela Argentina em 2001 foi um novo capítulo da história da suspensão do pagamento da dívida externa dos países emergentes, especialmente os da América Latina. Após o salto dos juros nos Estados Unidos, até a metade dos anos 80, a chamada década perdida, a dívida das nações emergentes havia aumentado de US$ 500 bilhões para US$ 800 bilhões, segundo o FMI. A partir dos anos 80, a crise da dívida se alastrou nos países latino-americanos. Em 1983, o México pediu moratória. Também tiveram de renegociar as suas dívidas Chile, Cuba, Honduras e Venezuela. Já o Equador pediu moratória em 1999.

No caso do Brasil, em fevereiro de 1987, no governo Sarney, o ministro da Fazenda, Dilson Funaro, decretou moratória da dívida externa. O país chegava ao fim daquele ano devendo US$ 110 bilhões.

Venezuela: crise terminal de fim do regime - Carlos Malamud (El Cano)

Carlos Malamud: Venezuela crisis

Venezuela y su crisis de fin de régimen

Infolatam
Madrid, 23 de octubre de 2016  
Por CARLOS MALAMUD

(Infolatam).- Con independencia del desenlace de la actual crisis que atraviesa Venezuela, nada en ese país volverá a ser como antes. La movilización popular y la tan temida represión posterior resaltarán una vez más el carácter autoritario del régimen, con la diferencia de que esta vez no habrá marcha atrás y será imposible convencer a los venezolanos y a la comunidad internacional de las enormes virtudes del proceso bolivariano. Los sucesos de la última semana han servido para dejar expuestas todas las vergüenzas del chavo madurismo y para que caiga definitivamente la careta de la revolución bolivariana y del gobierno al servicio de los pobres.

Hoy las cosas no son iguales a lo que ocurría años atrás cuando vivía y reinaba el comandante eterno. Para comenzar Nicolás Maduro no es Hugo Chávez. Y si bien el primero sigue contando con el pleno respaldo de Cuba, el descenso en el precio del petróleo limita los márgenes de actuación de unos y otros. En segundo lugar la Asamblea Nacional está en manos de la oposición. Esto compromete seriamente la posibilidad de seguir emitiendo el mensaje del carácter marginal y antisistema de quienes forman la columna vertebral de los “enemigos” del proceso (los tan denigrados escuálidos y pitiyanquis).

El deterioro de la situación interna es de tal magnitud que el respaldo popular del chavismo se ha contraído dramáticamente. Las opciones electorales del oficialismo son tan bajas que han debido postergar a “finales del primer semestre de 2017” las elecciones regionales del próximo diciembre. La vaguedad de la fórmula muestra las dificultades y limitaciones del Consejo Nacional Electoral (CNE) presidido por Tibisay Lucena. Pese a ser teóricamente un poder independiente, el CNE ha demostrado una vez más su total subordinación al gobierno. Sin embargo, el punto más escandaloso y que ha provocado la actual crisis fue la determinación del CNE de aplazar sine die la convocatoria del referéndum revocatorio.

Cuando el chavismo ganaba una elección tras otra y se erigía en un modelo de democracia, la figura del revocatorio se presentaba como la prueba indudable del compromiso democrático del régimen. La legitimidad de origen de los sucesivos gobiernos chavistas y del de Maduro eran el escudo protector que defendía al movimiento bolivariano de críticas internas y externas. Pero también en el frente internacional (especialmente en América Latina) las cosas han cambiado, y mucho.

Al mando de la “desprestigiada” OEA (Organización de Estados Americanos) ya no está el chileno José Miguel Inzulza, que terminó siendo un cómplice del chavismo, sino el uruguayo Luis Almagro, que contra todo pronóstico se ha erigido en un crítico feroz del madurismo y sus constantes ataques a la democracia. En unas recientes declaraciones, tras la suspensión de la recogida de firmas para permitir el revocatorio, el Secretario General de la OEA llamó a los países de la región a tomar “acciones concretas para defender la democracia”, dado su convencimiento “del rompimiento del sistema democrático”. También dio un paso más en su intento de aplicar la Carta Democrática al señalar que “sólo las dictaduras despojan a sus ciudadanos de derechos, desconocen el legislativo y tienen presos políticos”.

Su actitud es posible por las transformaciones operadas en la región. El fin del proyecto hegemónico cubano venezolano de ámbito regional es evidente. Los nuevos gobiernos de Argentina y Brasil han supuesto un cambio cualitativo en la forma de afrontar el problema venezolano. Del silencio (y hasta la complicidad) de Cristina Fernández y Dilma Rousseff se ha pasado a la actitud mucho menos permisiva de Muricio Macri y Michel Temer. Y quien dice Fernández y Rousseff también dice Kirchner y Lula, por no mencionar a José Mujica y otros mandatarios latinoamericanos. Si bien Evo MoralesRafael Correa y Daniel Ortega siguen siendo férreos defensores del régimen, sus voces suenan mucho más débiles y más aisladas que en el pasado.

En esta ocasión, y con una rapidez inimaginable en el período anterior, 12 de los 35 países que integran la OEA mostraron “su profunda preocupación” por la decisión del CNE de postergar el revocatorio. Lo importante de este comunicado es que 10 gobiernos latinoamericanos (Argentina, Brasil, Chile, Colombia, Costa Rica, Honduras, Guatemala, México, Perú y Uruguay) junto a Canadá y Estados Unidos, sospechosos habituales de intentar deponer al chavismo, se han negado a justificar lo injustificable. Por eso el texto concluye que: “La decisión del Poder Judicial de prohibir la salida de territorio venezolano de los principales líderes de la oposición… afecta la posibilidad de establecer un proceso de diálogo entre el Gobierno y la oposición, que permita una salida pacífica a la crítica situación que atraviesa esa hermana nación”.

Almagro abunda precisamente en este punto cuando considera definitivamente acabada la misión de mediación de UNASUR integrada por Leonel Fernández, Martín Torrijos y José Luis Rodríguez Zapatero. Para el responsable de la OEA, la misión enviada por Ernesto Samper ha terminado ayudando involuntariamente al gobierno de Maduro en sus intentos de impedir que el referéndum revocatorio se celebre antes del 10 de enero de 2017, lo que podría provocar la convocatoria de nuevas elecciones presidenciales.

Mientras Almagro habla claramente de dictadura, muchos latinoamericanos siguen callando frente a lo que ocurre en Venezuela. Las múltiples denuncias de golpe por el juicio político contra Rousseff se han convertido en clamoroso silencio en todo lo que respecta a la mal llamada revolución bolivariana. Pese a ello, el régimen chavista está viviendo su crisis final. El intento ilegal de Maduro y los suyos de perpetuarse en el poder puede tener éxito o, por el contrario, puede saldarse con su salida. En este último caso no sería descartable un gobierno militar de transición que permita la convocatoria de nuevas elecciones. Por el contrario, de concretarse la continuidad del chavismo, con o sin Maduro al frente, el gobierno “popular” habrá devenido lisa y llanamente en una vulgar dictadura, cada vez más aislada internacionalmente.

CARLOS MALAMUD

barra horizontal


Catedrático de Historia de América de la Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), de España e Investigador Principal para América Latina y la Comunidad Iberoamericana del Real Instituto Elcano de Estudios Internacionales y Estratégicos. Ha sido investigador visitante en el Saint Antony´s College de la Universidad de Oxford y en la Universidad Torcuato Di Tella de Buenos Aires y ha estado en posesión de la Cátedra Corona de la Universidad de los Andes, de Bogotá. Entre 1986 y 2002 ha dirigido el programa de América Latina del Instituto Universitario Ortega y Gasset, del que ha sido su subdirector. Actualmente compatibiliza su trabajo de historiador con el de analista político y de relaciones internacionales de América Latina. Ha escrito numerosos libros y artículos de historia latinoamericana. Colabora frecuentemente en prensa escrita, radio y TV y es responsable de la sección de América Latina de la

 

domingo, 23 de outubro de 2016

Documentario Era dos Gigantes (sobre política externa da era Lula), de Mauricio Costa: convite

A coordenadora do curso de Relações Internacionais, Profa. Renata de Melo Rosa, e o diplomata-cineasta Mauricio Costa, diretor do documentário

#ERA DOS GIGANTES 
(122 min., 2016)

convidam para a dupla exibição desse importante documentário sobre a política externa brasileira na era Lula, com material de imprensa, depoimentos primários dos principais atores, e comentários de analistas acadêmicos ou dos meios de comunicação,
no Uniceub, dia 28/10/2016, sexta-feira, em duas sessões: 
às 8:00 no auditório do Campus I de Taguatinga
às 19:30 no auditório do Bloco 3, do campus da Asa Norte (707-907)

O próprio diretor-cineasta Mauricio Costa fará uma breve informação introdutória ao documentário, após cuja projeção os diplomatas Rômulo Neves e Paulo Roberto de Almeida, Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag), farão seus comentários iniciais, abrindo o debate geral com o público presente.

As informações básicas do filme estão disponíveis no seguinte link


SINOPSE: 
#EraDosGigantes retrata o confronto entre os principais personagens da política externa de Lula, seus opositores, analistas e opinião pública na era das redes sociais. Com entrevistas, pesquisa de notícias, imagens de arquivo e inserção de tweets originais, o filme procura responder se a política externa do presidente Lula defendia os interesses do seu partido ou os interesses do Brasil. 
DIREÇÃO de MAURÍCIO COSTA: Diplomata, formado em letras pela Universidade Federal do Rio Grande Sul, com mestrado em literatura comparada pelo programa de pós-graduação em letras da mesma universidade. Cursou cinema na Escola de Cinema de Brasília e na Lights Film School, de Nova Iorque. Primeiro longa do diretor. 
O trailer do filme está disponível no seguinte link:




Documentario Era dos Gigantes (sobre política externa da era Lula), de Mauricio Costa: convite

A coordenadora do curso de Relações Internacionais, Profa. Renata de Melo Rosa, e o diplomata-cineasta Mauricio Costa, diretor do documentário

#ERA DOS GIGANTES 
(122 min., 2016)

convidam para a dupla exibição desse importante documentário sobre a política externa brasileira na era Lula, com material de imprensa, depoimentos primários dos principais atores, e comentários de analistas acadêmicos ou dos meios de comunicação,
no Uniceub, dia 28/10/2016, sexta-feira, em duas sessões: 
às 8:00 no auditório do Campus I de Taguatinga
às 19:30 no auditório do Bloco 3, do campus da Asa Norte (707-907)

O próprio diretor-cineasta Mauricio Costa fará uma breve informação introdutória ao documentário, após cuja projeção os diplomatas Rômulo Neves e Paulo Roberto de Almeida, Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI-Funag), farão seus comentários iniciais, abrindo o debate geral com o público presente.

As informações básicas do filme estão disponíveis no seguinte link


SINOPSE: 
#EraDosGigantes retrata o confronto entre os principais personagens da política externa de Lula, seus opositores, analistas e opinião pública na era das redes sociais. Com entrevistas, pesquisa de notícias, imagens de arquivo e inserção de tweets originais, o filme procura responder se a política externa do presidente Lula defendia os interesses do seu partido ou os interesses do Brasil. 
DIREÇÃO de MAURÍCIO COSTA: Diplomata, formado em letras pela Universidade Federal do Rio Grande Sul, com mestrado em literatura comparada pelo programa de pós-graduação em letras da mesma universidade. Cursou cinema na Escola de Cinema de Brasília e na Lights Film School, de Nova Iorque. Primeiro longa do diretor. 
O trailer do filme está disponível no seguinte link: