domingo, 27 de janeiro de 2008

837) Stephen Jay Gould: o triunfo da razao

The Triumph of Stephen Jay Gould
By Richard C. Lewontin
NEW YORK REVIEW OF BOOKS, Volume 55, Number 2 · February 14, 2008

One of the most interesting developments of the last sixty years in the popularization of intellectual concerns and higher culture has been the appearance of "public intellectuals." They are, for the most part, academics who use a variety of means of access to a wide audience to disseminate ideas that are sometimes an integral part of their expertise, and sometimes very far from their professional field. ...

When I was a boy The New York Times had one science reporter, Waldemar Kaempfert, who wrote an occasional column. It now has a staff that produces an entire ten-page Science Times every Tuesday. Of the twenty-two contributors to the 2007 Fall Books edition of The New York Review, nine were academics. The pages of that edition included twenty-six advertisements from university presses announcing 154 books. Nor are university presses the sole publishers of the work of professional thinkers. Really successful public intellectuals employ a literary agent who places his clients' work with major trade publishers or may even serve as the editor of a collection of articles of his clients, [3] which is then published by a major house.

There is a considerable variation in the degree to which academic public intellectuals stray from their own technical work in their public writings. Even those who begin with both feet planted firmly in their discipline find it hard to resist the seduction of generalizing, especially if they see some relevance of their knowledge to human history and social structure. E.O. Wilson, a great expert on the biology of ants and especially on ant behavior, devoted most of his famous book on sociobiology to the social behavior of "lower" animals, but his status as a public intellectual arose from his extension of those ideas and observations to claims about human nature and human social institutions. After all, Homo sapiens is an animal, so why should we not be able to understand human history as just another example of a general theory about animal behavior?

Some depart entirely from their expertise and build a public career with only the slimmest connection to their professional knowledge. It will not be obvious to the readers of Jared Diamond's Guns, Germs, and Steel that he is, in fact, a physiologist and an expert in tropical biogeography. Still others are public figures concerned with political questions quite separate from the content of their intellectual accomplishment. Noam Chomsky's politics have nothing to do with his theory of universal grammar, although he might gain attention for his political arguments because we already know that he is very smart. It is even possible to become a public intellectual in science with no institutional home in a technical discipline. Richard Dawkins, who was trained as a biologist and who obviously knows a great deal about genetics and evolution, is Professor of the Public Understanding of Science at Oxford.
___

[3] See, for example, What We Believe But Cannot Prove: Today's Leading Thinkers on Science in the Age of Certainty, edited by John Brockman (HarperPerennial, 2006).

836) Realidade do Mercosul: muitas reuniões, pouco resultado

Integração regional: realidade e fantasia
Thiago Marzagão
Instituto Millenium, 21 de Janeiro de 2008
Link

A página oficial do Mercosul – www.mercosur.int – e a da atual presidência do bloco (exercida pela Argentina) – www.mercosur.gov.ar – valem uma visita. Contêm farto e didático material sobre em que consiste, concretamente, isso que chamam de "processo de integração regional" e que, no atual governo, tornou-se o eixo de nossa política externa.
Chama atenção, à primeira vista, a multiplicidade de temas que são objeto de discussão entre os Estados-Partes do bloco. Debatem-se não apenas tarifas de importação e negociações comerciais, mas também questões atinentes a meio-ambiente, segurança, pobreza, saúde, justiça, educação, normas técnicas e infra-estrutura, além de temas relacionados a políticas macro e microeconômica. Para abrigar essas discussões, a estrutura institucional do Mercosul conta com nada menos que 257 fóruns, entre comitês, comissões, grupos de trabalho, foros especializados, órgãos de apoio técnico, etc.
Esses fóruns são, quase todos, compostos por representantes dos quatro Estados-Partes (cinco quando a Venezuela – cuja adesão ainda não foi ratificada pelos parlamentos brasileiro e paraguaio – envia observadores) e se reúnem com bastante freqüência. Apenas para este primeiro semestre de 2008 estão previstas ao todo 96 reuniões, a maior parte das quais a ser realizada em Buenos Aires (as reuniões são, via de regra, no Estado-Parte que esteja exercendo a presidência rotativa do bloco).
Verificando as atas disponíveis na página do Mercosul, descobre-se que para cada reunião o Brasil envia até 20 representantes e raramente menos de três. Tomando por base o salário inicial de um diplomata (R$ 7,7 mil), o tempo de duração de cada reunião (geralmente cerca de três dias, podendo chegar a uma semana) e as despesas com passagens (R$ 700,00 ida-e-volta entre Brasília e Buenos Aires, em classe econômica) e diárias (cada pernoite em Buenos Aires implica uma diária de aproximadamente US$ 250,00 por funcionário em deslocamento), tem-se que as 96 reuniões previstas para este semestre dificilmente custarão menos de R$ 1 milhão.
Um milhão de reais parece pouco, quase nada. Mas é muito em vista do retorno proporcionado por essa despesa. Esse "retorno" é praticamente nulo: a maior parte das discussões intrabloco, como sugerem as atas disponíveis, não produz qualquer resultado concreto além de onerar os cofres públicos. Veja-se, por exemplo, a ata da XVIII Reunião Especializada sobre a Mulher no Mercosul. Dentre as atividades aprovadas no plano de trabalho para 2008 destacam-se as seguintes: “Sensibilização para a prevenção da violência de gênero”; “Fortalecimento da perspectiva de gênero no Mercosul”; e “Promoção dos direitos trabalhistas das mulheres no Mercosul”. O primeiro e o terceiro objetivo, como é fácil perceber, apenas podem ser alcançados por meio de políticas domésticas, sendo portanto inócuo discuti-los no âmbito regional. O segundo objetivo é simplesmente irrelevante, por obscuro – em quê consistiria, afinal, fortalecer a perspectiva de gênero no Mercosul e qual seria o benefício esperado? Nos três casos, os objetivos propostos não se concretizarão.
Outro exemplo é a ata da XXIX Reunião de Ministros da Educação do Mercosul. Nela se descobre que os ministros presentes “[coincidiram] na concepção da educação como direito social e política de estado que garanta o acesso ao conhecimento de todas e todos como cidadãs e cidadãos”; “[reafirmaram] a necessidade de concretizar as metas de universalização do ensino básico e de avançar até a universalização do ensino médio em suas distintas modalidades”; “[reafirmaram] a importância que tem o protagonismo dos docentes no processo educacional, assim como a necessidade de gerar mecanismos de participação da sociedade civil na política educional”; e outras platitudes do gênero. No único ponto dotado de alguma concretude, os ministros presentes “[reafirmaram] no marco das negociações sobre serviços da Organização Mundial do Comércio a posição de que a educação é um bem público e um patrimônio coletivo de nossas nações” e “[sublinharam] a importância de garantir as competências do estado em matéria de regulamentação de suas políticas educacionais, as quais seriam severamente limitadas no caso de nossos governos assumirem compromissos de abertura comercial nesse setor”. Ou seja, quando as discussões no Mercosul fogem ao plano puramente retórico, é pior para nós.
Dá-se o mesmo em praticamente todos os demais duzentos e tantos fóruns do Mercosul: as discussões são imprestáveis e delas resultam apenas declarações vagas e ociosas. Nas reuniões de cúpula do bloco, essas discussões ocupam boa parte da agenda. Como resultado, sobra pouco tempo para a discussão dos temas realmente importantes: liberalização do comércio intrazona (tarefa até hoje incompleta), harmonização da tarifa externa comum (tarefa ainda menos completa que a liberalização do comércio intrazona) e a negociação de acordos comerciais com terceiros países e blocos (os acordos firmados até hoje são pouco abrangentes e/ou têm contrapartes pouco relevantes). Faz-se necessário, portanto, que o Mercosul sofra uma reformulação profunda, que compreenda um enxugamento drástico de sua estrutura institucional e permita a ênfase necessária aos assuntos centrais. Apenas depois de resolvidos esses assuntos e consolidada a união aduaneira é que se deveria pensar em expandir o espectro temático do bloco. Infelizmente, porém, o que se nota atualmente é o movimento inverso, com a estrutura institucional do Mercosul se expandindo de forma descontrolada.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

835) Conferência da International Law Association, no Rio de Janeiro, em agosto de 2008

73a. Conferência da ILA - international Law Association
17 a 21 de agosto, Rio de Janeiro.
Site: http://www.ilabrasil.org.br/hotsite/pages/programacao.php?lang=pt

Programação
Internacional Law on Natural Resources and Sustainable Development

International Law on Biotechnology
The Biodiversity Convention, Regional and National Instruments, and Access to Bio-Resources
Biodiversity: The Concept of Traditional Knowledge and Unfair Competition
Intellectual Property Rights upon Live Organism Products: Different Approaches
International Law on Sustainable Development
The Shared Management of Natural Resources
Revisiting Sovereignty over Natural Resources: the Latin American intellectual legacy and the taking of new directions
The Kyoto Protocol and the International Capital Markets
Outer Continental Shelf
Access of Non-Party States to the International Commission on the Outer Limits of the Continental Shelf
The Human Person in International Law

International Family Law
Rights of Children: International Cooperation in the Fields of Maintenance, Adoption, Custody and Abduction
New Models of Family Units: Same-Sex Marriages and Unwed Relationships
International Human Rights Law
The Mis(use) of the Human Right Argument and Preemptive Intervention in the Contemporary International Arena
Violence as a Denial of Human Rights
Implementation of International Systems of Human Rights Protection into National Legal Systems
Rights of Indigenous Peoples
Indigenous Rights on Land and Natural Resources
Indigenous Rights in International Law and Domestic law: Conflicting Approaches
Compensation for Victims of War
Justice for Victims of War
International Criminal Law
National, International and Universal Criminal Jurisdiction: Aspects of Antagonism and Complementarity
The Rights of Victims in International Criminal Jurisdiction
International Law on Business and Trade

Consumer Law
The Protection of Consumers in a Globalization Era
Relations between International Law and Consumer Law
Electronic Law
Cyber Criminality: National and International Rules
Contracts over the Internet: the Interplay Between National Laws and International Law
The Role of Civil Society in the International Regulation Process: ICANN as a Case Study

International Law on Foreign Investment
Bilateral Investment Protection Treaties: Recent Development
The ICSID Convention and the Settlement of Disputes in Economic Emergencies
International Securities Regulation
Mergers and Acquisitions in the Global Market and Compliance with National Law and Regulations
Regulation and Regulatory Accountability in an Era of MegaFunds and MegaMarkets
International Trade Law
Coherence Between Human Rights and International Economic Law?
How to Promote a Human Rights Culture in International Economic Institutions?
International Commercial Law
Soft Law Instruments in the Harmonization of International Contract Law: Achievements and Difficulties
The CISG and the Expansion of World Trade
International Private Dispute Resolution

International Commercial Arbitration
International Arbitration: Autonomy v. Territorialism
Public Policy and Mandatory Rules: Influence on the Applicable Law
The Influence of Cultural Factors on the Choice of the Arbitrator
Distortions in Contemporary Arbitration: The Problems of Becoming Popular
International Civil Litigation
Towards World Cooperation Standards: Prospects for the Hague Convention
The Realities of Regional Judicial Cooperation: Existing Experiences
Law on International Security

Nuclear Weapons, Non-Proliferation and Contemporary International Law
The International Regulation of Nuclear Technology and National Development Aspirations: Conflicting Views
Space Law
Outer Space as a Theater of War: Possible Global Effects
Space traffic Management: The Quest for Improvement of International Cooperation and Security
UN Reform
Where can the Security Council Modify States Human Rights Obligations in International Law?
Proposed Changes and the Security Councils New Challenges
Use of Force
Regional Developments on the Fight on Terrorism: Different Approaches
Armed Conflict of Non-International Character

Domingo, 17 de Agosto: 10h - 14h - Visita à cidade do Rio de Janeiro, incluindo o estádio do Maracanã, Sambódromo e visita panorâmica ao centro da cidade

834) Curso de Inverno de Direito Internacional - 2008

Curso de Pós-Graduação em Direito Internacional - 2008
ÚLTIMOS DIAS PARA A INSCRIÇÃO

As inscrições para a pós-graduação lato sensu em Direito Internacional - CEDIN e Faculdades Milton Campos - se encerram dia 8 de fevereiro. As aulas terão início no dia 15 do mesmo mês. Os interessados devem conferir os detalhes no site do CEDIN, ou entrar em contato por telefone, no número (31) 3223-3058.

Curso de Inverno de Direito Internacional-2008
O Centro de Direito Internacional (CEDIN) realizou na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, nos anos de 2005, 2006 e 2007, o Curso de Inverno de Direito Internacional. O evento é uma referência em Direito Internacional e conta com a participação de renomados professores oriundos das principais Universidades da Europa e América. Grandes nomes já estão confirmados, para a edição de 2008 do Curso. Confira:
Martti Koskenniemi - Professor da Academy of Finland e da University of Helsinki, e Diretor do Erik Castrén Institute of International Law and Human Rights
Tema: a definir
Roy Lee - Professor da Columbia University e da Yale University, e Secratário Executivo na Conferência das Nações Unidas para Estabelecimento do Tribunal Penal Internacional, em Roma
Tema: Law of the United Nations: Non-use of force; Peacekeeping; settlement of disputes
Jorge Cardona Llorens - Professor da Universitat Jaume I, na Espanha, Diretor dos Cursos Euromediterráneos Bancaja de Derecho Internacional, e presidente do Instituto Mediterráneo de Estudios Europeos
Tema: La administración de territorios por entes distintos del Estado titular de la soberanía
Fausto Pocar - Professor da Universidade de Milão, na Itália, e juiz do Tribunal Penal Internacional para a Ex-Iugoslávia
Tema: a definir
Geneviève Bastid Burdeau - Secretária-geral da Academia de Direito Internacional da Haia e Professora da Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne
Tema: Maritime security : current issues and new challenges
Mathias Forteau - Professor da Lille II, na França
Tema: La contribution de la jurisprudence arbitrale transnationale au développement du droit international général

73ª Conferência Bienal da ILA
O Ramo Brasileiro da International Law Association (ILA-Brasil) tem o prazer de informar que estão abertas as inscrições para a 73ª Conferência Bienal da ILA, no site www.ilabrasil.org.br.
A temática central da conferência será "Direito para o Futuro", com o foco em Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentável, Direito da Pessoa Humana, Solução de Conflitos Privados Internacionais, Direito dos Negócios e do Comércio Internacional, e Segurança Internacional.
O evento ocorrerá no Hotel Continental, no Rio de Janeiro, entre os dias 17 e 21 de agosto de 2008. Confira a programação no site.

Revista Eletrônica de Direito Internacional - Volume II
O CEDIN anuncia que a próxima edição da Revista Eletrônica de Direito Internacional será publicada em fevereiro de 2008. Os artigos já estão sendo avaliados e o resultado da seleção será divulgado ainda no final deste mês. Confira o primeiro volume da revista.

CEDIN
Centro de Direito Internacional
Rua Fernandes Tourinho, 470
Salas 711/712 Savassi
30112-000 Belo Horizonte MG
Telefax: 55 (31) 3223-3058
De 9 às 12 e de 14 às 18 horas.
www.cedin.com.br

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

833) Nova debilidade vestibular: desta vez a UnB descamba para a burrice...

Depois do besteirol da UFRGS (vejam post 830, abaixo, neste link), a UnB também tem todo o direito de cometer o seu atentado à inteligência.
Apenas me limito a transcrever um post do Blog do Reinaldo Azevedo, 24.01.2008, substituindo as cores do seu blog pela indicação clara de quem escreve: UnB ou RA.

Esquerdopatia e burrice no vestibular na UnB

A Universidade de Brasília vai merecer, um dia, um estudo de caso. Em nenhuma outra instituição de ensino a esquerdização bocó foi tão longe. Basta lembrar que é o território de uma estrovenga chamada "O Direito Achado na Rua". Quem não sabe o que é deve procurar no arquivo do blog. Em síntese, é uma corrente de pensamento do direito que, na prática, manda a lei às favas em nome daquilo que os valentes consideram ser o justo e o legítimo.

A UnB fez vestibular. Trata-se de uma prova toda moderninha — e, com efeito, nada mais velho do que aquilo. Do candidato é cobrado o esforço supremo de dizer se as proposições estão certas (e, então, ele marca "C") ou erradas ("E").

Na página 12, o aluno é convidado a ler um texto. Em seguida, há oito questões (da 100 à 107) de interpretação. Acompanhem. A prova segue em vermelho (UnB), interrompida por observações minhas, em azul (RA).

UnB: O ano de 1979 pode ser tomado como marco da construção de uma nova ordem econômica mundial. Na seqüência, os governos de Thatcher e Reagan adotaram (linha 4) políticas neoliberais — privatização, desregulamentação e desmantelamento das conquistas sociais que estiveram na base do crescimento econômico com distribuição de (linha 7) renda que caracterizou os países do centro nos primeiros trinta anos do pós-guerra. E, com o fim do mundo socialista, elas tenderam a adquirir um âmbito (linha 10) efetivamente mundial. As políticas neoliberais abriram espaço para mudanças muito importantes que deram início a uma nova etapa de internacionalização do (linha 13) sistema capitalista, a fase do capitalismo mundializado.
Brasilio Salloum Jr. In: A condição periférica: o Brasil nos quadros do capitalismo mundial (1945-2000). Carlos Guilherme Mota (org.), op. cit., p.423-24 (com adaptações).

UnB: Julgue os itens que se seguem, tendo o texto acima como referência inicial.

UnB: 100 Na linha 9, o pronome "elas" retoma a idéia de "políticas neoliberais" (R.4).
RA: O aluno deve marcar C se quiser provar que não é um débil mental ou analfabeto. Não há ideologia nesse caso, só estupidez.

UnB: 101 Depreende-se do texto que a "nova ordem econômica mundial", que, como referido, teve no ano de 1979 seu marco inicial, reforçou as bases do Estado de bem-estar social surgido no pós-Segunda Guerra, ampliando-as de maneira global.
RA: O texto não é explícito, mas arreganhado, na afirmação de que a "tal nova ordem" desmantelou as conquistas sociais. O coitado do aluno deve marcar "E". De novo, é um teste de leitura ginasiano, ainda que o candidato ignore o assunto. O mais estupidamente divertido é a afirmação de que as políticas neoliberais só se expandiram com "o fim do mundo socialista" — logo, o mundo capitalista anterior, que o autor parecia até apreciar (aquele do "crescimento e da distribuição de renda") eram também, vejam só, conquistas indiretas do... socialismo!!!

UnB: 102 A China representa uma exceção ao "fim do mundo socialista" ao manter, ainda, seu regime de governo e sua economia alheia à possibilidade de investimentos externos.
RA: Deve ser "E", né, leitor amigo?, já que, como sabemos, a China é chegadita num investimento externo. E aqui surge um outro aspecto problemático da prova. Observem que a questão anterior busca verificar se o aluno entendeu o sentido do que está escrito. Feito isso, ele é conduzido, então, a uma espécie de armadilha, já que o texto de Salloum, por inepto, ignora a realidade chinesa.

UnB: 103 A fase do denominado "capitalismo mundializado", referido no texto, tem, entre seus fatores de expansão, o desenvolvimento da tecnologia da informação, que
propicia, por exemplo, o aumento na circulação de capitais.

RA: É Cêêêêêêê. Adoraria que a UnB definisse num livrinho o que entende, por exemplo, por "circulação de capitais". A tecnologia da informação não nos trouxe nada além dessa facilidade conferida aos capitalistas cúpidos e desalmados?

UnB: 104 No âmbito das mudanças decorrentes do que foi referido no texto como "nova etapa de internacionalização do sistema capitalista", observa-se a diminuição das disparidades socioeconômicas entre os países.
RA: É a mais dolosa de todas as questões. O aluno tem de responder "E" — ou seja, tem de asseverar que a afirmação está errada quando ela, de fato, está CERTA. A disparidade entre os países diminuiu brutalmente. A China saiu da fome para se tornar uma das maiores economias do mundo, aquela que mais cresce hoje. A Coréia do Sul se tornou uma potência econômica e exemplo de eficiência em educação e saúde. A Índia é uma das estrelas do mercado global. Só aí já estamos falando de um terço da humanidade.

UnB: 105 No Brasil, o governo Collor deu início às reformas neoliberais, concluídas nos anos do governo Fernando Henrique Cardoso com as privatizações da Vale do Rio Doce e da Petrobras.
RA: Pegadinha vagabunda. De fato, essa gente acha que Collor e FHC tocaram o projeto neoliberal no Brasil. Isso está em tudo o que é livro didático; isso é afirmado nos cursinhos de maneira obsessiva. Há dias, assistimos a uma campanha dos esquerdopatas para reestatizar a Vale do Rio Doce. Onde está o truque? A Petrobras não foi privatizada. E só por isso o examinador cobra que o aluno marque "E", embora torça para ele marcar "C"...

Unb: 106 Antecipando-se em cerca de uma década ao denominado socialismo do século XXI, do venezuelano Hugo Chávez, os governos de Menem (Argentina) e de Fujimori (Peru) adotaram ideais bolivarianos e teses socialistas.
RA: Está errado, claro! O aluno, aqui, tem de saber que Menem e Fujimori são dois porcos reacionários de direita, que nada têm a ver com o "grande" Hugo Chávez e seus "ideais bolivarianos e teses socialistas". A propósito: o que essa questão tem a ver com o texto?

UnB: 107 A dificuldade material de acompanhar os EUA com seu milionário projeto Guerra nas Estrelas, lançado por Reagan, foi fator significativo para a explicitação da
crise que levou ao desmantelamento da União Soviética.

RA: Que vontade de chorar ou de pegar o chicote! O aluno tem de marcar C, tem de dizer que essa porcaria está certa, embora seja uma mentira tosca, bisonha.
a - o projeto de Reagan não era milionário — pode-se dizer que era, sim, trilionário;
b – nunca existiu nada parecido com "Guerra nas Estrelas". Isso foi um termo criado pela imprensa anti-Reagan para dar um caráter delirante a um projeto de defesa;
c – de fato, o projeto original, bastante ambicioso, nunca saiu do papel;
d – o regime soviético já estava em crise, tanto que deu início à abertura, com Gorbatchev, e isso nada teve a ver com o tal Guerra nas Estrelas.

Por que o Brasil dá vexame em tudo o que é prova internacional? A resposta está no que vai acima. É a Universidade de Brasília, a mais petista das universidades brasileiras.

Por Reinaldo Azevedo, 16:01

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

832) Investindo em acoes da Apple...

Eu sou um macmaníaco fiel desde o começo -- só tive Macs em toda a minha vida informática, e posso dizer, não sei se com alguma ponta de orgulho, que NUNCA comprei um PC, DOS ou Windows based durante todo esse itinerário -- mas NUNCA investi em uma ação da Apple.
Talvez esteja ainda em tempo de fazê-lo, de acordo com os resultados abaixo:

"Announcing financial results for its fiscal 2008 first quarter, which ended December 29, 2007, Apple today posted revenue of $9.6 billion and net quarterly profit of $1.58 billion, or $1.76 per diluted share. These results compare to revenue of $7.1 billion and net quarterly profit of $1 billion, or $1.14 per diluted share, in the year-ago quarter. In attaining its highest revenue and earnings in company history, Apple shipped 2,319,000 Macs, a 44% unit growth and 47% revenue growth over the year ago quarter; sold 22,121,000 iPods, representing five percent unit growth and 17 percent revenue growth over the year-ago quarter; and sold 2,315,000 iPhones in the quarter."

831) Concurso do Itamaraty 2008: Correio Braziliense

Transcrevo abaixo matéria publicada nesta quarta-feira, 23 de janeiro de 2008, no jornal de Brasília, Correio Braziliense:

Diplomacia
Itamaraty espera recorde de inscritos em concurso

Correio Braziliense, 23 de janeiro de 2008, seção "Mundo".

Instituto Rio Branco anuncia novidades na prova de admissão para a carreira e prevê que mais de 8,6 mil candidatos façam o exame
Claudio Dantas Sequeira
Da equipe do Correio

Política de democratização do acesso ao Palácio do Itamaraty recebe críticas de diplomatas

O lançamento do edital do Concurso de Admissão da Carreira Diplomática (CACD) de 2008, na semana passada, reanimou a polêmica sobre o peso ideológico na formação dos novos quadros do Itamaraty. Diplomatas e acadêmicos consultados pelo Correio divergem sobre o caminho escolhido pelo chanceler Celso Amorim para “democratizar” o acesso a uma das carreiras mais elitistas do serviço público brasileiro. Nunca se ofereceram tantas vagas (115), e a cúpula ministerial espera bater o recorde de candidatos, superando os de 2007, quando 13.137 se cadastraram e 8.657 confirmaram a inscrição. Diplomatas estão sendo enviados a 20 capitais onde as provas serão aplicadas, para divulgar o concurso. Com a inscrição a R$ 120, a expectativa é que o Instituto Rio Branco (IRBr) arrecade R$ 1 milhão.

A surpresa também está no formato e no conteúdo das provas. Trata-se da sexta vez que o IRBr propõe mudanças no concurso. Começou com o fim do teste de francês, que voltou após protestos. Em 2005, a prova de inglês deixou de ser eliminatória. Todas as etapas apresentam novidade, como a redução da nota de corte da terceira fase: de 60% para 50%. Há quem diga que baixar a média nivela “por baixo” os candidatos. Outra alteração está no teste de segunda língua estrangeira, no qual o candidato poderá escolher entre sete idiomas.

Se no ano passado foram cobrados apenas francês e espanhol, agora sairá na frente quem tiver conhecimentos de alemão, árabe, chinês (mandarim), japonês ou russo — num esforço para cobrir o déficit de diplomatas com domínio dessas línguas. A primeira fase, ou Teste de Pré-Seleção (TPS), por exemplo, comporta sete matérias, em vez das quatro do ano passado. Recupera, dessa maneira, um perfil de provas aplicado na década de 1990. Na terceira, provas discursivas de história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e direito internacional público, e noções de economia. O candidato poderá ser aprovado com aproveitamento menor em uma disciplina, desde que o rendimento seja compensado em outra.

“As mudanças evitam surpreender os candidatos com exigências que não sejam compatíveis com a própria natureza do certame”, esclarece o diretor do IRBr, embaixador Fernando Guimarães Reis (leia entrevista). A orientação de Amorim é para evitar os “concurseiros de plantão”. “A idéia é afastar quem não conhece a carreira a fundo ou não tem interesse”, avalia o diplomata Fábio Simão Alves, que entrou para o Rio Branco no concurso de 2007. Ele concorda com a democratização da carreira. “O Itamaraty está selecionando pessoas de diferentes origens sociais e de fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília.”

Internet
Simão criou o blog dialogodiplomatico.blogspot.com, com dicas para candidatos. Na internet, os futuros diplomatas têm ferramentas para estreitar experiências. No Orkut, a comunidade “Coisas da Diplomacia” reúne 8,7 mil membros. O principal tópico é o Guia de Estudos, divulgado na segunda-feira pelo Rio Branco. Todos concordam que houve mudanças na bibliografia, algumas para evitar acusações de anti-americanismo ou ideologização contra o ministério. Um exemplo foi a retirada do livro Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula, de Paulo Vizentini. A obra era considerada “petista”.

“Celso Furtado, por exemplo, é uma referência metodológica, mas não serve para fundamentar uma história econômica”, disse à reportagem um diplomata. Doutor em história e professor do curso preparatório Clio, João Daniel Lima de Almeida não vê componente ideológico na escolha dos livros, mas acha que há títulos superados. “Os livros de Edgar Carone sobre história estão ultrapassados, têm mais de 30 anos e já foram revistos por outros historiadores”, avalia. Lima de Almeida considera infundadas as críticas sobre ideologização e cita a presença de autores considerados de direita, como José Murilo de Carvalho.

Entrevista - Fernando Guimarães Reis
Mudanças favorecem aposta na inteligência


Diretor do Instituto Rio Branco, o embaixador Fernando Guimarães Reis tem sido responsável por executar as polêmicas diretrizes emanadas pela cúpula do Itamaraty para a carreira diplomática. Em entrevista ao Correio, ele rebate as críticas às constantes mudanças no concurso de admissão. “O objetivo é tornar o processo mais isonômico, abrangente e democrático”, argumenta. Para Reis, a diplomacia brasileira precisa de “talento e conhecimento”.

O que há de novidade no concurso deste ano?
Ele mantém os traços fundamentais dos concursos anteriores, mas incorpora modificações que visam a torná-lo mais equilibrado e eqüitativo. Incorporaram-se à primeira fase todas as disciplinas cobradas na segunda (português) e na terceira (história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e direito internacional público e noções de economia). As notas dessas provas passaram, a partir de 2005, a ser contabilizadas de forma conjunta. Isso favorece candidatos com formação mais ampla, permite que eventuais debilidades em alguma matéria sejam compensadas por desempenho acima da média em outras. Na terceira fase, houve redução do número de questões, do tempo de duração e da média para aprovação (de 60% para 50%). A prova da segunda língua estrangeira virou uma quarta fase, classificatória. Busca-se estimular e valorizar o domínio de diferentes línguas, sem enfraquecer o critério da isonomia.

Desde 2003, nenhum concurso foi igual ao anterior. Qual o objetivo dessas constantes mudanças?
As mudanças evitam surpreender os candidatos com exigências que não sejam compatíveis com a própria natureza do certame. Assim, pode-se afirmar que o concurso atual mantém alto grau de previsibilidade e, há décadas, concentra-se essencialmente no mesmo núcleo de disciplinas, que não diferem muito das que foram estabelecidas ainda no tempo do Império, no primeiro exame público para ingresso na carreira (1852). Por outro lado, a preocupação em conservar os traços básicos do concurso não deve redundar em imobilismo. As mudanças recentes têm o objetivo de tornar o processo mais isonômico, abrangente e democrático.

O concurso está mais difícil ou mais fácil?
O nível de exigência continua o mesmo. O que se tem buscado é uma sintonia fina na avaliação dos candidatos, de modo a torná-la cada vez mais adequada ao nível acadêmico do Curso de Formação do instituto e às futuras atribuições profissionais do diplomata. Para além da quantidade e da qualidade das informações cobradas nas provas, a avaliação privilegia a capacidade de raciocínio e argumentação dos candidatos, seu espírito crítico e sua maturidade intelectual. Não é por acaso que vem aumentando paulatinamente o número de candidatos com pós-graduação.

Na prática, o que significa “democratizar” a carreira?
A idéia foi a de ampliar o acesso para todos aqueles que tenham talento e conhecimento — é do que precisa a diplomacia brasileira. Exemplo: a ampliação de opções para a segunda língua estrangeira demonstra a importância dessas outras línguas nas atividades diplomáticas, seja como línguas de trabalho das Nações Unidas (árabe, chinês, russo), seja como línguas de importantes parceiros do Brasil no panorama internacional (japonês, alemão). No exame, o candidato deve demonstrar, sobretudo, que é capaz de pensar, isto é, de juntar idéias, que é o sentido etimológico da palavra inteligência. (CDS)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...