O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sábado, 24 de abril de 2010

2072) RBPI: um empreendimento exemplar - Antonio Carlos Lessa

Um empreendimento meritório, ao qual estive associado desde o início de sua etapa brasiliense, e do qual tenho orgulho de participar.
Cumprimentos ao atual editor, Antonio Carlos Lessa, pelo seu relevante trabalho à frente da revista.
Paulo Roberto de Almeida

A Revista Brasileira de Política Internacional e o panorama das revistas científicas da grande área de humanidades no Brasil 1
Antônio Carlos Lessa 2
http://docs.google.com/View?id=ajbzk4m2d33k_213p57456f3

I - RBPI, uma trajetória de meio século


A Revista Brasileira de Política Internacional - RBPI é uma das mais tradicionais publicações científicas brasileiras. Foi criada em 1958, no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais - IBRI, organização estabelecida em 1954 como uma das expressões do ambiente de renovação intelectual que o país experimentava naquele momento.

A Revista foi pensada em seus primórdios como um veículo voltado para a repercussão do pensamento nacional dedicado a um dos temas centrais da modernização do país: a ampliação dos seus horizontes internacionais e a vinculação dessa dinâmica com o desenvolvimento nacional. Logo nas suas primeiras edições, essa marca se assentou de modo claro: as direções e as oscilações da ação internacional do Brasil, as concepções de ordem internacional, os grandes enfrentamentos entre as potências, a ascensão e a queda dos impérios, e os temas centrais da agenda internacional contemporânea foram sistematicamente acompanhados e criticamente analisados nos 108 compêndios que compõem os 52 volumes de publicação ininterrupta. 3

A RBPI repercutiu em suas páginas cada um dos momentos cruciais da história nacional, vistos sob a perspectiva dos seus desafios externos. Temas como o lançamento da Operação Pan-Americana pelo governo Juscelino Kubitschek, os fundamentos da Política Externa Independente, do governo Jânio Quadros, a alternância dos regimes políticos, as relações complexas com os países vizinhos, os rumos da universalização das relações exteriores, os problemas de segurança nacional e as suas conexões com as estratégias de defesa nacional, o destino das relações com os parceiros tradicionais (as relações com os Estados Unidos e com a Europa), a construção de novos relacionamentos, a abertura para a África e para a Ásia, as conexões da agenda externa com a estratégia de desenvolvimento econômico, as mazelas da dependência estrutural, etc. Enfim, a RBPI se formou como o veículo preferencial do grande debate nacional sobre as escolhas internacionais do Brasil.4

Do mesmo modo, os grandes temas da política internacional contemporânea foram objeto da atenção dos analistas que encontraram na RBPI o espaço adequado para repercutir as suas pesquisas e reflexões. Comércio internacional, integração econômica, fluxos financeiros internacionais, desenvolvimento científico e tecnológico, meio-ambiente, direitos humanos, Antártida, cooperação internacional, segurança internacional, desarmamento e não-proliferação nuclear, entre tantos outros assuntos, ganharam tratamento pioneiro no Brasil nas páginas da Revista. 5

A RBPI manteve, pois, ao longo da sua trajetória, extraordinária coerência com os seus propósitos de fundação, e especialmente, com a decisão das equipes que a dirigiram ao longo da sua existência, de mantê-la como um veículo de debate acadêmico, mas também de formação de uma tradição no modo de ver e pensar Relações Internacionais e os temas da contemporaneidade. Talvez a isso se possa creditar a sua sobrevivência no ambiente acadêmico brasileiro, ao tempo em que muitos outros empreendimentos editoriais importantes das ciências sociais no país não passaram dos seus primeiros números. 6

A trajetória da RBPI pode ser compreendida em três grandes fases:

1. de 1958 até 1993: o veículo se faz expressão do pensamento brasileiro aplicado às relações internacionais, de intelectuais, diplomatas e poucos acadêmicos, porque a área de estudo não era contemplada pela Academia. A gestão da revista é feita pelo IBRI, fora da Universidade;
2. anos 90: quando da transferência para Brasília do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, a RBPI foi acolhida em 1993 por grupo de pesquisadores da Universidade de Brasília, onde mantém desde então a sua base operacional. Em sua nova sede se deu início ao processo de consolidação do viés científico da revista, justamente no momento em que a área de Relações Internacionais começava a se expandir no Brasil, com o crescimento e a sofisticação da comunidade acadêmica especializada e com o aumento exponencial do número de cursos de graduação na área. A RBPI tornou-se uma revista eminentemente científica, como outras geridas em centros de estudo de primeira linha no mundo. Por outro lado, a abertura internacional do Brasil transformou as relações exteriores do Brasil objeto de interesse de segmentos novos e diversificados da sociedade, e à essa mudança também a Revista respondeu com a ampliação e a diversificação dos aspectos objeto de análise;
3. no século XXI, dá-se continuidade à fase anterior, porém as tecnologias da informação e as modificações dos modelos tradicionais de comunicação científica penetram a gestão da revista, de modo a equipará-la aos veículos de mesmo gênero e padrão de qualidade existentes nos países de grande tradição na área. Esta fase porta, pois, novas demandas e ambições. Fazia-se necessário ampliar a sua visibilidade internacional, aumentar a sua circulação e atender aos crescentemente exigentes critérios das agências de fomento, tanto para a viabilização econômica do veículo, quanto para ascender sistematicamente nas escalas de avaliação e indexação nacionais e internacionais.

II - A RBPI e o panorama das publicações científicas da grande área de humanidades

A gestão de uma publicação científica no Brasil não é uma responsabilidade simples. Também não é trivial a manutenção e a valorização de um acervo que é a tradução do acumulado científico de uma disciplina desde os seus primórdios. Cabem aqui algumas considerações gerais sobre a natureza do ambiente editorial de ciências sociais brasileiro e sobre como tem impacto na direção de uma publicação como a Revista Brasileira de Política Internacional.

Há um número extraordinariamente elevado de publicações na grande área de humanidades no Brasil, de todos os tipos, formatos e vocações. O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia - IBICT informa que existem atualmente 13.141 publicações científicas das mais diversas áreas no Brasil, entre as quais, 3.550 são da grande área de humanidades. Ainda que esses números escondam imprecisões, dado o fato de que boa parte das publicações científicas naufragam sem que os seus editores informem a sua interrupção ao órgão, temos um cenário editorial bastante fragmentado e também instigante.

Número de publicações científicas da grande area de humanidades constantes nos registros do IBICT-MCT

Ciências Humanas 185
Filosofia 331
Sociologia 214
Antropologia 80
Arqueologia 22
História 307
Geografia 276
Psicologia 402
Educação 1310
Ciência política 230
Teologia 193
Total 3550
Fonte: IBICT, 13/04/2010.
Dados gentilmente cedidos pelo Centro Brasileiro do ISSN – IBICT – MCT.

Por um lado, o treinamento para a ciência passa pelo exercício da publicação científica, pela estímulo à exposição de argumentos, pela iniciação ao debate de alto nível, pela convalidação pelos pares e, por isso, parece ser muito positivo que existam publicações em quantidade e com vocação para suportar o seu crescimento. O advento das publicações em formato digital e em acesso aberto torna isso ainda mais simples e cada vez mais fácil (ainda o IBICT informa que existam atualmente no país 1.821 publicações on line). São muitos os condomínios institucionais de revistas que existem atualmente no Brasil, em geral mantidos por universidades a partir da plataforma do Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER), apesar de que esse não seja o único sistema a facilitar a publicação científica disponível.

Por outro lado, a fragmentação do cenário editorial gera também problemas de certo modo difíceis de serem resolvidos. O primeiro deles são as dificuldades de financiamento, que transferem para as agências de fomento grande responsabilidade pela sobrevivência das publicações científicas brasileiras. Isso aponta para a dificuldade de afirmação de padrões de excelência e de consolidação do mercado editorial científico especializado. São produzidos, assim, muitos veículos com qualidade abaixo da desejável, periodicidade irregular e altos níveis de endogenia.

O segundo grande problema desse cenário de fragmentação diz respeito às condições de competividade e de visibilidade internacional das revistas nacionais, que afligem especificamente as publicações consolidadas. É fato que a grande área de humanidades é a menos internacionalizada do cenário científico brasileiro. Isso entretanto, parece ser próprio da área, e vemos que o mesmo acontece com as comunidades científicas de outros países do mesmo porte do Brasil. Produz-se, pois, ciência para consumo próprio, naturalmente ensimesmada, e quando muito, para circulação em espaços acadêmicos especializados no exterior.

As ciências sociais brasileiras, por exemplo, estão há muito consolidadas no nicho de estudos latino-americanos. São raros os trabalhos publicados em revistas nacionais que informam o mainstream, que por seu turno permanece alheio ao que se passa ao Sul. Para tanto, contribuem as trajetórias de formação e de estruturação dessas comunidades, tanto as do exterior, quanto as nacionais, mas também as suas formas de comunicação científica e os seus veículos.

O problema do idioma da publicação explica parcialmente as dificuldades de repercussão internacional do conhecimento publicado mesmo em revistas nacionais de alto nível, mas isso não diz tudo. Ao lado do problema da comunicação, está a qualidade das pesquisas que inspiram os artigos publicados, o que produz a percepção de ciência pouco séria, e portanto, que pouco repercute e que possui baixo impacto internacional.

Uma medida interessante para se observar adequadamente esse processo pode ser tomada com o número publicações científicas de ciências sociais, por exemplo, que têm fator de impacto, de acordo com os parâmetros do Journal Citation Reports - JCR. Mesmo que essa medida seja polêmica, ela é adequada para mesurar os índices de internacionalização dos veículos nacionais da área. Assim, apenas 3 revistas brasileiras estão elencadas no JCR 2008 de ciências sociais. Um exame mais sistemático do quadro de citações evidencia os graus elevados de auto-referenciamento na área e do quanto é ela paroquiana: grande parte das citações se fazem em publicações brasileiras que, por um motivo ou por outro, estão também nas bases indexadas do ISI Web of Science. Em outras palavras, bem poucas publicações estrangeiras importantes publicam artigos que citam trabalhos veiculados em revistas brasileiras, mesmo aquelas que são percebidas pelas comunidades científicas nacionais como sendo as mais importantes e internacionalizadas da grande área.

O quadro abaixo sistematiza os dados comparativos do JCR 2008.

Número de revistas constantes no JCR 2008 e no ISI Web of Science

JCR Ciências - JCR Ciências Sociais - ISI Web of Science (Todas as áreas)
Número de publicações: 6620 - 1985 - 11259
Estados Unidos: 2506 - 1060 - 4078
Brasil: 28 - 3 - 123
Rússia: 108 - 6 - 154
Índia: 45 - 4 - 109
China: 81 - 6 - 134
África do Sul: 21 - 8 - 64
Argentina: 8 - 2 - 20
Fonte: ISI Web of Science, data de acesso: 19/04/2010

Um outro aspecto que também causa a baixa circulação internacional das grandes revistas nacionais é a falta de cuidado de boa parte das equipes editoriais com algumas medidas simples, e que poderiam amplificar a visibilidade dos seus veículos: referimo-nos especialmente à falta de políticas para a indexação internacional. Com efeito, a internet facilitou não apenas a publicação científica em acesso aberto, mas tornou mais ágeis os processos de candidatura e a inserção das boas revistas nos melhores serviços indexadores, que em geral possuem regras bastante exigentes para a definição dos veículos a serem acompanhados. A concentração do mercado das agregadoras de conteúdo também possibilita que os acervos dessas revistas passem a figurar em bases de dados altamente especializadas e acessíveis para universidades e centros de pesquisa em todos os países do mundo.

Portanto, pelo momento, parece que o destino das publicações científicas da grande área de humanidades é figurar nos segmentos altamente especializados. Não há demérito nessa constatação, mas ela impõe uma necessária adaptação nas estratégias de sobrevivência e de competividade para as publicações que pretendem aumentar a sua circulação internacional, se considerarmos que esse passa a ser o desafio dos principais veículos brasileiros da grande área em geral, e das ciências sociais, em particular. Acresce que as condições de visibilidade internacional acabam tendo repercussões dramáticas para a performance dos veículos e para a sua capacidade de atrair contribuições cienficamente impactantes.

Isso é particularmente importante quando consideramos a escala de classificação Qualis-CAPES, especialmente nos seus estratos superiores, em que imperam os veículos estrangeiros. Por mais polêmicos que sejam os critérios de classificação nos estratos A1 e A2, essa é uma realidade inarredável, que contigencia a ação das equipes editoriais das boas publicações científicas da grande área de humanidades no Brasil. Aqui, o intrigante não é propriamente o número de publicações nacionais no estrato A1, que representa 13,45% do total, mas a sua distribuição francamente desigual. Como se vê na tabela abaixo, ao tempo em que algumas áreas têm até um número razoável de publicações nacionais, outras consideram que em todo o cenário editorial brasileiro não existe uma única revista em condições de atender parâmetros de qualidade provavelmente enviesados demais ou exigentes demais.

Revista nacionais da área de humanidades constantes no estrato A1 do Qualis-CAPES
Área de Avaliação - Estrato A1 - Número de publicações brasileiras
Administração, Ciências Contábeis e Turismo: 70 - 1
Antropologia: 33 - 7
Ciência Política e Relações Internacionais: 33 - 3
Direito: 13 - 2
Economia: 28 - 0
Educação: 59 - 19
Filosofia/Teologia: 33 - 0
Geografia: 20 - 0
História: 26 - 8
Letras/Linguística: 97 - 20
Planejamento urbano: 15 - 2
Psicologia: 50 - 0
Serviço Social: 4 - 2
Sociologia: 42 - 8
Arquitetura e urbanismo: 21 - 0
Ciências sociais aplicadas: 6 - 1
Total: 550 - 73
Fonte: Qualis-CAPES, acesso: 10/04/2010

Nesse caso, a pergunta de ouro é: o problema fundamental é das áreas de avaliação e dos seus processos de decisão, ou das publicações científicas nacionais? A resposta para essa pergunta tem consequências importantes para o cenário editorial brasileiro especializado. Por um lado, as áreas de avaliação podem estar incorrendo no erro de subestimar a qualidade de boas publicações brasileiras, crendo que o estrato superior deve estar reservado principalmente para publicações editadas fora do Brasil, mesmo que por vezes não tenham os mesmos padrões de qualidade de determinadas revistas nacionais. Por outro lado, o problema pode estar também nas revistas, e nesse sentido seria urgente a ação concertada das comunidades científicas, com o apoio das agências de fomento, para redefinir parâmetros de excelência e de competitividade e estimular em novas bases a internacionalização dos seus veículos consolidados. De um modo ou de outro, é fato que a classificação no Qualis-CAPES faz parte de um ciclo vicioso (ou virtuoso) que tem impactos dramáticos para as boas publicações científicas brasileiras.

Os dados acima apresentados têm repercussão evidente para os veículos brasileiros da grande área, especialmente daqueles que se encontram nos limites das possibilidades de reconhecimento internacional. Esse é o caso da Revista Brasileira de Política Internacional.

III - As estratégias de adaptação a um ambiente em mudança

Como a Revista Brasileira de Política Internacional se adaptou a esse cenário que apresenta questões fundamentais para a gestão de um veículo científico de qualidade? Elas passam pelo equacionamento do financiamento, pela busca de visibilidade nacional, pelo aumento da circulação internacional, e especialmente da relevância científica no cenário paroquiano das ciências sociais brasileiras. Uma publicação de corte temático específico, em que coabitam diferentes perspectivas metodológicas (o que de resto, é típico da disciplina Relações Internacionais) como o da RBPI, apesar de largamente consolidada, sofreu por certo tempo com o preconceito de determinadas comunidades científicas. Esse, entretanto, foi percalço menor, que a divulgação adequada do trabalho importante desenvolvido na gestão editorial e na repercussão da Revista permitiu contornar.

Foi tendo em conta a realidade do cenário editorial científico brasileiro, e especialmente os horizontes estreitos da área de ciências sociais, que se buscou o reposicionamento da RBPI, com a definição de uma estratégia que partiu das seguintes constatações:

1. A área é nicho - portanto, a capacidade de escapar dos círculos especializados em estudos latino-americanos é naturalmente limitada, mas isso não é uma fatalidade. É importante aproveitar a especificidade da inserção das ciências sociais brasileiras no cenário científico global para difundir o veículo, mas é fundamental tentar romper esse ciclo, e ensaiar projetos que permitam o aumento da sua visibilidade internacional;
2. As inovações tecnológicas na publicação científica, e em especial a vulgarização do acesso aberto, têm repercussões extremamente positivas, uma vez que proporciona o aumento da visibilidade nacional e internacional da Revista, mas também trazem riscos para as suas condições de financiamento, por exemplo. As possibilidades de maior difusão pela internet (em acesso aberto) ou em bases de dados de agregadoras internacionais trazem também novos desafios, como a necessidade de aprimorar os controles de qualidade e de se contornar com criatividade o problema fundamental do idioma;
3. O nosso conhecimento é patrimônio - é fundamental pôr em perspectiva a trajetória incomum de uma publicação com mais de meio século de existência e, especialmente, valorizar e difundir o seu acervo bibliográfico e o seu significado para a disciplina Relações Internacionais no Brasil.

Para tanto, a estratégia seguida pela equipe da RBPI ao longo dos últimos anos foi basicamente a seguinte:

1. A busca de indexação internacional de alto nível, com a candidatura do veículo aos principais serviços indexadores da grande área de humanidades. Atualmente a Revista está indexada em 23 serviços de primeira linha, e em alguns outros serviços menores, entre brasileiros e estrangeiros. Esse processo se desenvolveu a partir de 2004 e ainda há algumas candidaturas importantes em aberto, que devem se concluir até 2011, quando ela passará a figurar em todos os mais importantes serviços indexadores e em algumas das mais prestigiosas bases de dados do mundo; 7
2. A inclusão do veículo em importantes bases de dados internacionais, mantidas por grandes agregadoras como a EBSCO e a Cengage Gale, que incluem a publicação nos pacotes comercializados para universidades do mundo inteiro (pode-se testar a eficiência dessas ferramentas no Brasil por intermédio do Portal Periódicos CAPES). Ou seja, a Revista é também acessível em universidades nos cinco continentes e foi a primeira publicação brasileira da área de humanidades a atingir esse nível de difusão. Isso se faz sem prejuízo da manutenção de uma política de acesso aberto irrestrito;
3. A candidatura à Coleção Scielo Brasil, onde a RBPI foi incluída em 2007, teve grande impacto para a visibilidade nacional e internacional da publicação. Além disso, o seu acervo desde 1995 foi publicado na Coleção (http://www.scielo.br/rbpi), o que garante visibilidade adicional em acesso público e gratuito;
4. Digitalização e publicação da série histórica (ou seja, de todos os números publicados entre 1958 e 1992), em acesso público e gratuito (publicados integral e gratuitamente na iniciativa de divulgação científica Mundorama - http://www.mundorama.net);
5. A composição de conselhos com profissionais influentes da grande área, de diferentes perspectivas metodológicas e de várias comunidades científicas, que são acionados para as atividades corriqueiras da gestão da política editorial, mas sobretudo para auxiliar na divulgação internacional da Revista;
6. A manutenção de uma política de divulgação dinâmica, seja nos grandes congressos e eventos internacionais da área, ou em inserções constantes nas principais listas de discussão nacionais e internacionais especializadas;
7. A adaptação das normas de contribuição, com a admissão de artigos também em inglês e em espanhol (e a publicação nos idiomas em que foram submetidos), permitiu a ampliação internacional dos colaboradores;
8. Uma política de doações orientada para a manutenção das coleções de importantes centros de referência no Brasil e na América Latina e de todos os principais centros de estudos latino-americanos dos Estados Unidos, Europa e Japão. Além disso, a RBPI é enviada para os principais pesquisadores brasileiros e para uma seleção de profissionais estrangeiros, que são considerados formadores influentes e em condições de divulgar adequadamente a publicação em suas instituições. A base de cortesias atinge 38 instituições estrangeiras e 27 brasileiras e 150 pesquisadores estrangeiros e 98 brasileiros;
9. A atenção à classificação na escala Qualis-CAPES, onde a Revista é sistematicamente bem avaliada, mas não figura ainda no estrato A1 da sua área de avaliação natural, que é Ciência Política e Relações Internacionais. Em outros comitês, a publicação tem avaliação com vieses considerados neutros, o que é motivo para a intensificação da divulgação da missão do veículo e das suas abordagens multidisciplinares. Busca-se promover o debate franco e aberto sobre os critérios de classificação e, especialmente, esclarecer que a publicação há muito atende a critérios ainda mais exigentes e competitivos como, por exemplo, os de alguns dos mais influentes indexadores internacionais.

Alguns projetos especiais que estão em desenvolvimento têm o potencial de aprimorar o ciclo virtuoso que se produz a partir da maior visibilidade nas comunidades científicas especializadas, que traz melhores contribuições e que por seu turno aumentam o impacto científico da publicação. A equipe editorial tem trabalhado particularmente em três grandes projetos:

1. Procura-se aproveitar a nova onda de interesse pelo Brasil que se tem verificado nos últimos meses, especialmente pelas características da sua inserção internacional. Nesse sentido, está em organização um número especial sobre a Política Externa Brasileira a partir de 2003, que será publicado inteiramente em inglês, com lançamento previsto para setembro do corrente ano. A depender do sucesso da experiência, cogita-se em repetí-la com frequência, com a produção mais constante de números especiais nos quais se repercutirá a visão da comunidade científica brasileira sobre os temas candentes da agenda internacional contemporânea;
2. É fundamental valorizar o acervo da RBPI. Assim, está em organização uma série de livros em formato digital que trará seleções contextualizadas de artigos publicados ao longo dos mais de cincoenta anos de existência da Revista, versando sobre temas da agenda internacional e da história da política exterior do Brasil. A intenção é que esse material possa ser utilizado como recurso paradidático em cursos de graduação de Relações Internacionais e pelas comunidades acadêmicas interessadas nessa disciplina, no país e no exterior;
3. Em 2010 a Revista estreará o seu blog, repercutindo os artigos publicados em um formato mais leve e dinâmico e ampliando as possibilidades de interação e de debate entre os autores e os seus leitores. Esse novo mecanismo permitirá a produção de entrevistas com os autores, a serem veiculadas em vídeo, e a publicação de fontes e recursos adicionais para o aprofundamento de pesquisa sobre os temas dos artigos publicados.

IV - Breve conclusão: RBPI, tradição e inovação

Há uma máxima comumente utilizada pelos diplomatas brasileiros para se referir às tradições internacionais do país que diz que a política externa nacional se renova na continuidade. Cremos que ela é válida também para sintetizar, com breve adaptação, a trajetória de sucesso da Revista Brasileira de Política Internacional. Assim, poderíamos afirmar que a RBPI é um veículo que soube se RENOVAR mas também INOVAR na sua extraordinária CONTINUIDADE e PERENIDADE.

Notas:
1 Paper preparado para o Seminário RBPG "A Capes e os Novos Paradigmas da Comunicação Científica", Brasília, 25-26/04/2010. O autor agradece os comentários de Amado Luiz Cervo, Estevão Chaves de Rezende Martins, José Flávio Sombra Saraiva e Virgílio Caixeta Arraes. As opiniões expressas neste trabalho são exclusivamente as de seu autor.

2 Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília - iREL-UnB e editor da Revista Brasileira de Política Internacional - RBPI (alessa@unb.br).

3 A propósito, ALMEIDA, Paulo Roberto de. Revista Brasileira de Política Internacional: quatro décadas ao serviço da inserção internacional do Brasil. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 41, n. spe, 1998 . Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73291998000300004&lng=en&nrm=iso. access on 20 Apr. 2010. doi: 10.1590/S0034-73291998000300004.

4 LESSA, Antônio Carlos. Há cinquenta anos a Operação Pan-Americana. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 51, n. 2, Dec. 2008 . Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292008000200001&lng=en&nrm=iso. access on 20 Apr. 2010. doi: 10.1590/S0034-73292008000200001.

5 LESSA, Antônio Carlos. RBPI: cinqüenta anos. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 50, n. 2, dez. 2007 . Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292007000200001&lng=pt&nrm=iso. acessos em 23 abr. 2010. doi: 10.1590/S0034-73292007000200001.

6 LESSA, Antônio Carlos; ALMEIDA, Paulo Roberto de. Editorial - O Ibri e a Revista Brasileira de Política Internacional: tradição, continuidade e renovação. Rev. bras. polít. int., Brasília, v. 47, n. 1, June 2004 . Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-73292004000100001&lng=en&nrm=iso. access on 20 Apr. 2010. doi: 10.1590/S0034-73292004000100001.

7 Atualmente a RBPI está indexada nos seguintes serviços: Academic One File; Academic Search Alumni Edition; Academic Search Complete; Academic Search Elite; Academic Search Premier; America: History & Life with Full Text; América: History and Life; Clase - Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades; Current Abstracts; DataÍndice; Directory of Open Access Journals; Fonte Acadêmica; Fuente Acadêmica; Fuente Académica Premier; Handbook of Latin America Studies - Library of Congress; HAPI - Hispanic American Periodicals Índex; Historical Abstracts; Historical Abstracts with Full Text; Informe Académico (Cengage Gale Learning); International Bibliography of the Social Sciences; International Political Science Abstracts; Journal Citation Reports - Social Sciences Edition; Periodicals Index OnLine; Political Science Complete; Public Affairs Índex; RedAlyc – Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal; Scielo Brasil; Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal – Catálogo Latindex; Social Sciences Citation Index - ISI Web of Knowledge; Social SciSearch; Social Services Abstracts; Sociological Abstracts; World History Abstracts; Worldwide Political Science Abstracts database; Open J-Gate; Journal Tables of Contents - Journal TOCS.

2071) Da (i)moralidade na coisa publica: um comentario de leitor

De todos os posts que "cometi" neste blog, a maior parte permaneceu obscura, alguns tiveram alguma repercussão, mas só um alcançou, por assim dizer, "sucesso absoluto", e isso por razões absolutamente estapafúrdias, que não tem nada a ver com seu objeto próprio. Inclusive, até hoje, não se obteve esclarecimento cabal quanto ao fundo da questão, que é este:
QUANTO GANHAM, POR MÊS, OU POR SESSÃO, OS CONSELHEIROS DA PETROBRAS?

Reproduzo aqui o link original do post, para saber do que estou falando (se alguém conseguir encontrar ordem, racionalidade, informação fiável, debate ordenado, na barafunda que se criou em torno dele):

quinta-feira, 18 de junho de 2009
1165) Conselheiros da Petrobras: 76 mil por mes

Quem desejar voltar a esse assunto horripilante, e frustrante (para todos aqueles que desejam ter uma informação fiável e não conseguem), que o faça por sua própria conta e risco, sabendo que sempre haverá um sabujo da Petrobras disposto a fazer uma cortina de fumaça sobre o assunto, e a esconder os dados reais.
Aliás, uma pergunta se impõe: tendo a candidata oficial ao cargo presidencial deixado o posto de Ministra-Chefe da Casa Civil, ela permanece como Conselheira da Petrobras? Ou foi substituída pela sua preposta e braço direito, que entende tanto de petróleo quanto eu de ictiologia?

Bem, sem mais delongas, pretendo apenas postar aqui o comentário mais recente encaminhado a esse fatídico post de "sucesso", que na verdade se dirige mais à moralidade na vida pública em geral do que ao caso específico da Petrobras, e é nessa condição e com esse objetivo que eu estou retirando-o da relativa obscuridade de uma nota de rodapé para este destaque de postagem independente.
Transcrevo em itálico:

Antonio Salles disse...
Ao buscar confirmar a autenticidade da informação sobre conselheiros da Petrobras, descobri este Blog. Li, atentamente, os comentários postados e percebi que aqui estão representados, boa parte de nossos cidadãos. Um jornalista que repassa uma informação sem ter buscado esclarecer adequadamente sua veracidade, alguns que se indignam com a aparente “verdade” que, por mais escandalosa que seja, seria apenas mais uma das inúmeras imoralidades cometidas por nossos atuais governantes e outros que rapidamente passam, deixando recados de indignação, seja com a notícia não confirmada, seja com a imoralidade apontada, além de todos aqueles que não se deram ao “luxo” de comentar, pois, afinal, “não mudaria nada”. Até aí, tudo bem, mas o que incomoda é um “anônimo”, certamente pouco letrado, seguidor do ignorante mor deste país, querendo se fazer passar por um cidadão pensante e de espírito crítico que, mesmo diante do “mea-culpa” nas entrelinhas do jornalista, descarrega sua raiva (típica de sua “classe”) e expõe sua completa falta de senso moral, atentando para os números e não à IMORALIDADE deste e de outros atos cometidos por essa “corja” que tomou de assalto o planalto, com a cumplicidade do voto da classe mais ignorante do país, aliada a banqueiros, empresários e outros corruptos (ou ingênuos) que visavam “lucrar” algo com essa nova onda esquerdista que colocou bandidos e terroristas no poder. O que mais me espanta nos últimos anos é perceber que aquela imagem do povo brasileiro “bom, trabalhador e honesto”, é um mito, criado há décadas, pois, independente da classe social, quase a totalidade desse povo, somente é “honesta” por falta de oportunidade. Quem vota em corrupto, troca voto por “bolsa-família”, etc... é tão corrupto quanto! E, como médico, devo informar ao ex-anônimo Alexandre Kleim que, o que o matará não é a raiva de ver comentários como esse, mas o desleixo e a falta de cuidado com sua pessoa.É preciso dar um basta nesta leva de ignorantes que passou a se julgar acima da lei e da moral!
Antonio Salles – Campo Grande - MS


A propósito dessa questão, permito-me remeter a um antigo trabalho meu:
1340. “A Ética na (e da) Política: Existe alguma diferença entre a esquerda e a direita?
Brasília, 13 outubro 2004, 9 p. Ensaio sobre a moralidade na política.
Espaço Acadêmico (nº 43, dezembro 2004).

2070) Narcisismo governamental pago com o seu, o meu, o nosso dinheiro

Normalmente, sou avesso a qualquer tipo de propaganda governamental, de todo tipo em qualquer tempo. Simplesmente extinguiria qualquer órgão voltado para comunicação, que de comunicação tem muito pouco, servindo sempre para bajular o governo. Se o governo tem algo de importante a dizer, que o faça pelos porta-vozes habituais, que os meios de comunicação privados transmitirão à população se o assunto for realmente de interesse dos cidadãos.
Só posso ser contra o festival de gastança como relatado abaixo.

Gasto de Lula com publicidade sobe 48% em 6 anos
Rodrigo Rangel / BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo, 24 de abril de 2010

Desde 2003, início do governo, houve aumento de 1.300% no número de meios de comunicação com propaganda oficial

A propaganda do governo Luiz Inácio Lula da Silva chegou, no ano passado, a 7.047 veículos de comunicação de todo o País. O número é 1.312% superior ao de 2003, primeiro ano do governo Lula, quando 499 veículos receberam verba para divulgar a publicidade oficial.

De 2003 a 2009, a Presidência da República, ministérios e estatais gastaram R$ 7,7 bilhões com propaganda. Os gastos do ano passado, de R$ 1,17 bilhão, superaram em 48% os R$ 796,2 milhões investidos no primeiro ano de governo.

O aumento expressivo do número de órgãos em que a publicidade oficial é veiculada se deve a uma mudança de estratégia da comunicação do Palácio do Planalto: desde que Lula chegou ao governo, a ordem é regionalizar a propaganda e diversificar as maneiras de fazer o marketing governamental chegar à população. Os veículos que divulgaram publicidade federal em 2009 estão espalhados por 2.184 municípios, contra 182 em 2003.

Valor triplicado. Só com a publicidade institucional da Presidência da República, destinada a difundir a marca e os feitos do governo, foram gastos R$ 124 milhões no ano passado.

O volume é três vezes superior ao de 2003, mas não acompanha, proporcionalmente, a ampliação do número de veículos escolhidos para divulgar a propaganda federal. Isso significa que veículos de comunicação de abrangência nacional tiveram de dividir a verba que recebiam antes com órgãos regionais - alguns deles de pequeno porte, o que inclui rádios e jornais de interior sob controle de políticos de partidos aliados.

Televisão, jornal, rádio e revistas, nesta ordem, foram os meios que mais receberam recursos em 2009. Para emissoras de TV, foram destinados R$ 759,5 milhões, 64% do total. Jornais receberam R$ 115,4 milhões e rádios, R$ 104 milhões.

Maior crescimento. A internet aparece em quarto lugar em valores absolutos, mas é o veículo que registrou o maior crescimento no volume de verbas sob Lula: os gastos do governo com publicidade na rede mundial de computadores saltaram de R$ 11,4 milhões em 2003 para R$ 36, 3 milhões em 2009.

As despesas com propaganda em outdoor são as mais inconstantes nas planilhas da Secom. Curiosamente, de 2003 para cá, os picos de investimento nesse tipo de mídia se deram em 2004 e 2006, anos eleitorais.

Em 2006, quando o presidente Lula concorreu à reeleição, o governo gastou R$ 19,9 milhões com publicidade em outdoors - no ano anterior, 2005, a despesa fora de R$ 7,7 milhões e no ano seguinte, 2007, de R$ 3,4 milhões.

Sete anos. Em 2004, ano em que houve eleições municipais, há outro ponto fora da curva: as despesas chegaram a R$ 21 milhões. Somados, os gastos com publicidade oficial em outdoors nos anos eleitorais de 2004, 2006 e 2008 chegam a 60% da despesa total com esse tipo de mídia ao longo dos sete anos de governo Lula.

2069) Dia do Diplomata: discurso do presidente Lula

Sem comentários (estou, literalmente, sem palavras, para comentar seja o estilo, isto é, a gramática, seja o conteúdo, ou a substância da nossa política externa).
Chegamos ao último discurso de Lula nos dias do Diplomata, posto que sua presidência acaba este ano, e ele ainda não fez nenhum gesto de que pretenda ficar.
Inch'Allah, como diriam alguns...
Seria interessante retomar todos os discursos de Lula, nos oito dias do Diplomata que presidiu, e fazer, sei lá, uma dissertação de mestrado sobre discurso político, usando muito todos aqueles filósofos franceses do desconstrucionismo. Deve ficar bárbaro, no sentido da gíria jovem, claro.
Fica a sugestão...
Paulo Roberto de Almeida
24.04.2010

Presidente da República Federativa do Brasil
Palácio Itamaraty, Brasília, 20/04/2010
Discurso durante cerimônia em comemoração ao Dia do Diplomata

Companheira Marisa Letícia,
Meu caro companheiro Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores,
Senhores embaixadores estrangeiros,
Embaixatriz Ana Maria,
Embaixador Patriota,
Meus caros formandos,
Amigos e amigas,
Meu caro orador dos formandos,
Meu caro diretor do Instituto Rio Branco,

Bom, como eu não sou diplomata e nem estou me formando hoje, eu vou quebrar um protocolo aqui, que é o seguinte: eu estou com um discurso muito bem feito, bonito, mas vai demorar meia hora. E eu penso que o Celso, um dia, o Itamaraty publicará isso aqui, ou quem sabe, a [o] Rio Branco mesmo publicará, como peça de estudo dos alunos. Vale a pena.
Mas eu queria dizer duas palavras, porque já é uma e meia, a emoção que os familiares estão aqui, dos seus formandos, daqui a pouco começa a virar raiva, porque a fome não permite que ninguém... a fome não permite que ninguém seja carinhoso com ninguém.
E eu queria dizer, Celso, duas palavras. Primeiro, eu acho que os nossos meninos e meninas que estão se formando hoje, eles vão entrar no mundo da diplomacia brasileira certamente vendo o mundo um pouco diferente daquilo que a tua geração estava habituada a ver. Aliás, a gente, quando olhar o Mapa Mundi, a gente vai perceber que o Norte não é tão grande como eles pensam que seja e o Sul não é tão pequeno como eles pensam que seja, ou seja, vamos começar a olhar o mundo mais igual, para que a gente comece a se entender e a ser respeitado no mundo.
Eu gostaria de dizer para vocês uma coisa que marcou a minha passagem pela Presidência da República. Nós estamos chegando a um momento difícil porque, daqui para frente, todo ato que eu participar será o último, tudo vai ser o último: foi o último Bric, o último Unasul, o último Nações Unidas, ou seja, daqui a pouco eu tenho nove meses de despedida constante e essa é a minha última participação aqui, como Presidente, na formação dos nossos diplomatas.
E dizer para vocês que eu disse um dia para o Celso: “Ô Celso, você precisa tomar muito cuidado, porque o Brasil começou a ficar importante. E quando um país começa a ficar importante, começa a gerar ciúmes. E quando começa a gerar ciúmes, nós começamos a arrumar inimigos. Porque aqueles que não foram capazes de fazer o que você está fazendo, vão começar a ser contra. Até porque, durante muito tempo, nós fomos induzidos a ter complexo de vira-latas neste país. O importante era a gente não ser ninguém, ser alguém era um privilégio de outros e não nosso”.
O Celso poderia contar para vocês a primeira reunião que nós fizemos com o G-8. Eu lembro, lembro em Evian, eu com seis meses de mandato, com muito orgulho, porque eu sabia quem eu estava representando lá, eu sabia de onde eu tinha vindo, e nós chegamos em uma reunião, já estavam lá quase todos os presidentes da República, faltava chegar apenas o Presidente dos Estados Unidos. E nós estávamos sentados em umas mesinhas, no hotel em que ia ser a reunião, aí, quando o Bush entra, todo mundo levanta. Eu falei para o Celso: Celso, eu vou ficar sentado, ninguém levantou quando eu cheguei. Qual é a subserviência de a gente levantar porque chegou o Presidente dos Estados Unidos? E não era arrogância não, era apenas respeito. O Kofi Annan estava conosco, ficou muito incomodado, não sabia se sentava ou se levantava, mas... E, humildemente, o Bush foi lá na nossa mesa, nos cumprimentou e sentou conosco. Não aconteceu nada de anormal. O anormal seria se nós tivéssemos levantado como, habitualmente, as pessoas faziam. Essa é uma coisa que me marcou muito.
Outra coisa que marcou a diplomacia brasileira era a quantidade de críticas que a gente recebia quando a gente ia para a África. Eu vi, aqui, que a nossa premiada aqui está no Gabão. Você não sabe quantas críticas nós recebemos porque fomos ao Gabão, porque as pessoas estavam acostumadas que, diplomacia, a gente tinha que ir para Nova York, para Washington, para Paris, para Londres, para Roma, para Madri, para Buenos Aires, que era muito importante, ou para o Paraguai, que tinha conflitos políticos conosco. Mas para a África? Era descabido. “O que um presidente vai fazer indo para a África?”. Pois bem, eu vou terminar o meu mandato visitando 25 países africanos e ainda vou sair devendo mais 20 que eu deveria visitar e que eu espero visitar quando eu não for mais presidente da República.
A mesma coisa era para a Ásia. Eu lembro da crítica – e vocês são muito jovens. Eu lembro da crítica que nós recebemos quando nós fizemos uma feira em Dubai. Gastamos US$ 500 mil para fazer uma feira. Ninguém nunca perguntou quanto a gente vendeu, só queriam saber quanto que nós tínhamos gastos. Gastamos 500 mil e vendemos US$ 50 milhões.
Eu lembro de quanto nós fomos vítimas aqui quando compramos um avião. Pergunte para o Celso se não melhorou substancialmente ele agora poder fazer uma viagem em um avião da FAB, chegar, com muito orgulho, com um avião fabricado pela Embraer em qualquer país do mundo e não ter que ir para São Paulo, para pegar uma ponte aérea, para ir não sei para onde, para chegar em Nova York, tirar o sapato para poder entrar lá. Pergunta se não é muito mais orgulhoso. Quando inventaram a história de tirar o sapato, eu disse para o Celso: ministro que tirar o sapato deixará de ser ministro. Se tiver que tirar o sapato, volta para o Brasil, porque nós não exigimos que ninguém tire o sapato aqui, por que tem que exigir da gente? Nós temos que... e ainda o cidadão com um passaporte vermelho. Diplomata. Antigamente era chique, hoje não é mais tão chique ter passaporte... Hoje tem muita gente, hoje tem muita gente que desconfia mais dos vermelhos do que dos azuis. Mas de qualquer forma eu tenho um vermelho e vou dá-lo para o ...
Bem, eu queria dizer para vocês que o Brasil vive um outro momento. Há uma... há uma coisa... o Celso estava falando de um artigo. Há uma coisa que vocês vão perceber: que o Brasil poderia ter feito as coisas diferente. Por exemplo, o Brasil não precisaria ter intercedido para fazer um acordo na Venezuela. E graças ao Brasil aquele acordo saiu e as coisas voltaram a normalidade da forma mais democrática possível. Todos vocês acompanharam como alguns queriam que eu partisse para a garganta do Evo Morales, que esganasse ele quando ele disse que o gás era dele. E eu não fiz porque achei que o gás era dele mesmo, e que nós tínhamos que pagar o preço justo pelo gás. Todo mundo queria que eu pulasse na garganta do Lugo e esganasse ele quando ele queria um pouco mais de dinheiro de Itaipu. E eu acho que eles precisam. E por que eu acho que eles precisam? Porque um país como o Brasil, que é a maior economia desse continente, o Brasil tem que ser o lado generoso. O Brasil tem que ser aquele que estende a mão, aquele que ajuda, aquele que permite que haja um avanço dos outros. O Brasil não pode ser o grande país e os outros os pequenos países. Até porque não haveria espaço para felicidade, para tranquilidade se a gente não fizer uma outra maneira de tratar os nossos vizinhos e fazer com que o crescimento do Brasil sirva para eles crescerem.
Vocês certamente terão muito mais orgulho, muito mais orgulho. E quando a gente começa a ganhar muito, Celso, a gente começa a incomodar. Talvez nem tanto os presidentes, mas talvez a burocracia intermediária que negocia. Eu tenho orgulho do que o nosso país fez, com a coordenação do Celso, na Organização Mundial de Comércio. Eu tenho orgulho quando países como os Estados Unidos, quando países como a União Europeia toda me procuravam: “Lula, está nas suas mãos, você é que decide”. Quer dizer, se eu decidisse do jeito que eles quisessem. Mas, como nós tínhamos o nosso próprio jeito, terminamos por não ter um acordo, depois de um trabalho imenso. E não fizemos o acordo porque paralisou na divergência entre Estados Unidos e Índia. Divergência eleitoral, porque tinha eleição nos Estados Unidos em 2008 e tinha eleições em maio na Índia. E o Kamal, que era o negociador da Índia, era candidato na sua região, no mês de maio. E o governo americano, pensando em ganhar as eleições, não queria mexer [em] nada de comércio. O que é triste é que já faz dois anos, e nunca mais ninguém tocou no assunto. Como se não tivesse uma necessidade de resolver a crise econômica negociando a rodada de Doha.
Tem muita gente que não gostaria que o nosso querido Brasil fizesse retaliação nos Estados Unidos por conta do algodão. Ora, se a OMC tem regras, elas valem para o Gabão e valem para os Estados Unidos. Não podem valer apenas para um, tem que valer para todos. O que o Brasil fez? Exercitou um direito universal: regras estabelecidas pelos participantes. Graças a Deus, concluímos o acordo, e o algodão vai perder o subsídio que tinha, e os pobres da África, países como o Benin, que produz 400 mil toneladas de algodão, vai poder viver mais tranquilamente, mandando o seu algodão para o mercado internacional.
Então, Celso, eu quero que você compreenda e esses meninos e meninas compreendam que o Brasil ganhou muita importância por isso. Muitas vezes, o Itamaraty é criticado pelas coisas boas que faz. Ninguém critica um embaixador porque ele só gosta de participar de coquetéis toda noite. Se convocar alguém da imprensa para ir junto, não vai ter crítica nenhuma. Criticam é quando ele tem posição política definida. Criticam é quando ele tem posições de autoestima e defender o seu país. Aí nós recebemos críticas, como recebemos quando colocamos a China como parceiro comercial nosso, como parceiro estratégico; quando decidimos fortalecer o Mercosul; quando decidimos criar a Unasul; quando decidimos criar a Comunidade da América Latina e Caribe. Então, tudo que une os iguais, nós temos críticas. Porque na verdade, viu Celso, eu acho que o Itamaraty, por todo trabalho prestado ao Brasil... algumas pessoas ainda pensam que o Itamaraty foi criado para ser uma coisa de relações de G-10, G-15, G-20, só coisa dos mais ricos, e não como um país que criou 34 embaixadas no nosso governo. E eu quero dizer que é com muito orgulho, muito orgulho, quando eu vejo um menino ou uma menina, e passou por São Tomé e Príncipe e por Gabão. E hoje é muito importante, porque muitos diplomatas brasileiros pedem para ir para esses lugares, numa demonstração de que a gente começa a ter mais orgulho, não apenas da nossa profissão, mas do nosso país. E a gente sabe que ninguém vai respeitar a gente se a gente não se respeitar.
Está aqui um companheiro que estava na Venezuela, e é com muito orgulho que, quando a gente quando cria uma comunidade de nações do Caribe e da América Latina, que um companheiro presidente da República de outro país vem pedir: “Lula, pelo amor de Deus, manda o seu embaixador para me ajudar a redigir o documento, que nós não temos condições de fazer”. Além da relação de confiança, é a relação da competência, e é isso que faz com que o Itamaraty seja essa casa de excelência que nós somos...sempre fomos, historicamente fomos. Mas é importante combinar essa excelência com autoestima do nosso corpo de diplomatas, com o orgulho de saber que nós poderemos discutir em igualdade, sabe, de igual para igual, com o Sarkozy, com o Obama, com o Hu Jintao, com o Medvedev, com o primeiro-ministro Singh, se não existe grau de país de primeira e país de segunda. Um pode ser mais rico do que o outro, mas a nossa terra é tão importante quanto a deles e a nossa ação tem que ser tão importante quanto a deles. É isso que vai nortear a carreira de vocês: é vocês dormirem tranquilos sabendo que vocês fizeram aquilo que tinha que ser feito, e é por isso que é importante a importância que a gente deu à diversificação da relação do Brasil. Recebemos muitas críticas.
Eu fico vendo, Celso, o mundo... Eu, muitas vezes, acho que as pessoas me tratam bem porque, como eu sou um operário de fábrica, então, todo mundo: “Lulinha” daqui, “Lulinha” de lá, sabe? E eu também trato todo mundo muito bem. O Celso sabe que eu respeito todo mundo. Eu acredito na relação humana como ninguém acredita. A Marisa até não gosta muito que eu fique passando a mão nas pessoas, abraçando, ela até não gosta muito, mas é assim que eu me relaciono. E eu acho que eu estabeleci uma relação de amizade com os presidentes, uma relação de companheiros. Mas sempre com a antena ligada de que o Brasil estava colocando o pé em espaços que outrora não colocava o pé.
Então, de repente, acontece Copenhague. Nós já tínhamos perdido três vezes as Olimpíadas. As pessoas acham que nós ganhamos o direito de fazer as Olimpíadas por sorte. Por sorte, não, foi dedicação exclusiva do Itamaraty durante dois anos; foi dedicação dos nossos embaixadores em cada país em que tinha delegado; foi dedicação minha de conversar com todos os presidentes e pedir voto, mandar carta para todos os delegados, mandar carta para todos os primeiros-ministros, mandar carta para todos os presidentes durante dois anos; do governador do Rio de Janeiro; do prefeito do Rio de Janeiro; do presidente do COI. Foi a dedicação de um país para ganhar Copenhague, não foi a sorte.
Eu lembro da última conversa que eu tive, em Copenhague. Eu fui lá dois dias antes para conversar com um delegado votante. E eu lembro que eu fui conversar com um companheiro da imprensa... não, companheiro da Itália, não vou dizer o nome dele aqui, mas eu fui conversar. Aí, o cara nem me cumprimentou, já começou a botar defeito no Brasil: “Eu acho que o Brasil não vai ganhar por causa disso, eu acho que o Brasil não vai ganhar por causa daquilo, eu acho que o Brasil não vai ganhar por causa da violência no Rio, eu acho que o Brasil não vai ganhar por causa disso”. Ou seja, o cara não me conhecia, sentou na minha frente e ditou regras para mim durante meia hora.
Aí, quando ele terminou de falar, o nosso querido João Havelange queria se retirar da reunião, o Prata estava com mais uns 50 caras no escritório que eu estava, cada um com uma má vontade maior do que a outra, falando alto. Eu levantei e dei um berro, pedi para quem não quisesse ouvir, caísse fora da reunião. Aí, o italiano se assustou, e eu falei: olha, companheiro, vou dizer uma coisa para você. “Qualquer delegado, qualquer delegado do COI, qualquer pessoa que tiver voto no Comitê Olímpico, pode votar contra o Brasil. Você não pode, você não pode. Você tem obrigação moral e política de votar no Brasil, porque é lá que tem a maior comunidade italiana fora da Itália. Então, se você não pode fazer a Olimpíada de Roma, faça no Brasil, para os italianos verem”. Bem, eu não sei se eu ganhei o voto dele, mas eu sei que quando terminou a votação, ele foi o primeiro a vir me abraçar. Ele foi o primeiro.
Porque é assim. As pessoas chegam em um lugar, as pessoas querem dizer. Ô Celso, sabe aqueles negociadores europeus? Agora nos tratam com deferência. Mas, no começo, quando você é novato no pedaço, chega lá um cara de quarto escalão, que você nem sabe, e vai ditando regras, e vai impondo condições: “A Europa pensa isso, a Europa quer que faça isso”. Ora, quer, não! Quer saber se nós queremos? Vamos baixar o facho e vamos sentar em igualdade de condições. É assim que deve ser a diplomacia brasileira: sermos, todo mundo, generosos, bondosos, humildes, mas orgulhosos de sermos brasileiros e defender os nossos interesses.
Agora, em Copenhague, no COP 15... A Marisa já está reclamando ali, dizendo para a Ana Amorim: “Se ele tivesse lido o discurso, já tinha acabado”. Isso é a experiência de 36 anos de casado, é isso que...
Mas eu vou contar, a última, essa da COP 15. Na COP 15, estava desenhada uma coisa extraordinária. Outros países ricos queriam acabar com o Protocolo de Quioto, porque ninguém queria compromisso com metas, e ninguém queria compromisso com financiamento. E estavam os países, todos, combinados para jogar todo o peso da responsabilidade em cima dos países em desenvolvimento, sobretudo da China. Nós mandamos uma boa delegação para lá, o Brasil, sabiamente, tomou uma decisão de que a gente iria diminuir a emissão de gases de efeito estufa de 36 a 39% até 2020; que nós iríamos reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020, então o Brasil chegou lá com autoridade moral – que está esse menino dos Santos, agora, que todo mundo quer que convoque ele para a Seleção, esse menino Neimar –, o Brasil chegou com essa autoridade moral. Todo mundo queria ver qual era a “paradinha” que o Brasil ia dar e para que lado que o goleiro ia cair. Vamos lá. Cheguei lá, tivemos bilaterais com todos os países europeus, todo mundo queria saber o que o Brasil estava pensando, o que o Brasil ia fazer, o que o Brasil... Bom, foi ficando claro para eles que nós não íamos prejudicar a China; e foi ficando claro para eles que nós não queríamos acabar com o Protocolo de Quioto; e foi ficando claro para eles que nós queríamos que todos tivessem responsabilidade, porém, diferenciada, e que cada um pagasse pelo estrago que cometeu ao planeta. Isso posto, pediram para que eu... Imagina, pediram para eu convocar uma reunião depois das 10 horas da noite. E fomos para um jantar com a Rainha, estou eu convidando todo mundo: vamos para a reunião, vamos para a reunião. Eu não fazia isso nem no tempo em que eu era dirigente sindical. Mas às 3 horas da manhã, a gente estava apinhado em uma sala apertada, que não tinha cadeira para todo mundo sentar, discutindo palavras e artigos. Chegou uma hora que eu levantei e falei: “Olha, companheiros, quero dizer uma coisa para vocês: nós, no meu país, já fizemos a lição de casa”. O embaixador Figueiredo estava conosco, não é? Aliás, um craque, viu Celso, um craque. Um craque na arte de negociar, na arte de flexibilizar e na arte de endurecer quando é necessário endurecer.
Então, estávamos lá, aí, 3h da manhã, eu falei: “Sabe de uma, gente, olha: nem no tempo em que eu era dirigente sindical eu ficava discutindo artigos e palavras. Eu vou embora”. Levantei e fui embora. Dia seguinte, às 9h, começamos outra vez. Quando foi meio-dia: “Não vai dar acordo”. Levantamos. Aí, ninguém conversava com ninguém mais. Ficou aquele “samba do crioulo doido”. Ficou aquele negócio assim...
Quando foi 5h da tarde, nós pedimos uma reunião: Brasil, China, Índia e África do Sul. Basic. Porque, também, o Itamaraty é que nem o governo: sempre que tem só uma palavra, já faz uma sigla. Então... É verdade. Começamos a reunião, não tinha sigla, já saímos com um tal de “Basic”. Aí, qual não é a nossa surpresa, que Brasil, China e Índia estavam bem afinados. E África do Sul. Brasil, China, Índia e África do Sul. Bem afinados, o G-77, os países africanos todos conosco. O nosso companheiro Chávez, o Evo Morales, mais radicalizando.
E aí, lá pelas tantas, entra o presidente Obama. Primeiro, chegou a Hillary Clinton, os chineses não quiseram deixar ela entrar. E ela dizia: “Eu sou Secretária de Estado”. Acho que os chineses não entendiam, mas ela terminou... Ela entrou na reunião do Basic, e daqui a pouco estava a Europa reunida em um canto, chega o Obama e fala: “Olha, eu vim aqui para conversar, se precisava fazer um acordo”. Então, sentou o Obama lá, depois de uma hora, uma hora e pouco, fizemos um acordo, ele fez algumas propostas, algumas nós aceitamos, outras nós recusamos, fizemos um acordo. E depois acabou a reunião sem ter o sucesso que tinha, nós vamos ter que trabalhar para o COP 16.
Por que eu estou dizendo isso? Na história política da Humanidade, toda vez que aqueles que têm similaridades se juntarem, eles ganham muita força. O problema sério é quando os iguais se juntam aos diferentes – e sobretudo aos ricos, nunca se juntam aos pobres – para formular políticas de unidade, políticas que permitam a coesão entre os países.
Então, quando a gente começa a ganhar esses espaços, nós vamos arrumando adversários. Então, o Brasil na OMC teve um problema, o Brasil em Copenhague teve outro problema, o Brasil nas Olimpíadas teve outro problema. E assim a gente vai arrumando, ou seja, a gente vai chegando em um baile que tinha três caras bonitos, 50 mulheres, de repente, chega mais 50 bonitos e as mulheres vão rareando, as pessoas não querem. E vale de mulher para homem também.
Ou seja, o dado concreto é que o Brasil não é mais coadjuvante. O dado concreto é que o Brasil cresceu, o dado concreto é que o Brasil virou importante. E não virou importante apenas porque temos 200 milhões de habitantes, oito milhões e meio de quilômetros quadrados. Viramos importantes porque temos políticas importantes. E eu falo sem medo de errar, porque temos na figura do Celso, liderando a diplomacia brasileira, talvez, o melhor diplomata em ação hoje de todos os que eu conheço, de todos. Isso vai criando ciúmes para quem está fora e eu acho que deve criar orgulho para vocês. Muito orgulho, porque vocês estão entrando na carreira diplomática em um momento auspicioso da história deste país. E não pode ter retorno, não pode ter retorno. Ou seja, a gente não pode voltar aos tempos em que o Brasil... E eu defendo mais embaixada, defendo mais dinheiro para o Itamaraty, ou seja, acho que a gente não tem... Eu, quando chego em um lugar qualquer eu vejo a Embaixada da França, a Embaixada da China, a Embaixada Americana, é do tamanho da Esplanada dos Ministérios. Tem mais gente do que todo o Itamaraty. Às vezes, a gente chega na nossa e tem dois funcionários. Não se queixam do salário por respeito ao Presidente, mas a gente sabe que a gente precisa melhorar muito. E eu sei que nós já melhoramos, eu sei. Nós já duplicamos quase o número de funcionários, já melhorou salário, mas eu sei que é pouco. Pela excelência que é a nossa diplomacia, nós precisamos estar em todos os países, com embaixadas preparadas com muitos especialistas para fazer intervenção em todos os assuntos, Celso.
Eu não tenho dúvida nenhuma de que dentro de quatro, oito anos, nós iremos ter muito mais orgulho do Itamaraty. Itamaraty deixou de ser aquela coisa bonita, inteligente, para poucos. Nós queremos continuar bonitos, inteligentes para todos e para muitos. É esse o nosso papel. Por isso, meninos e meninas, que Deus dê força para vocês, se depender do discurso, do que se falou em nome de vocês, eu acho que essa turma tem tudo para ser uma turma vencedora.
Um abraço, que Deus abençoe todos vocês e parabéns aos familiares.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

2068) Outra interrupcao para o misterioso caso do frango homossexual (Morales dixit...)

OPINIÓN
El pollo homosexual
PILAR RAHOLA
La Vanguardia Internacional, 22/04/2010

Evo Morales debe de tener razón, porque en épocas en que comía pollo notaba que me crecían las tetas

Sé que tendría que resistirme al artículo y dedicar este preciado espacio a gente con algo más de cerebro. Pero la carne es débil y un espíritu malévolo como el mío no puede sustraerse a la poderosa tentación. Cuando alguien que preside un país, intenta revolucionar a toda una región y pretende salvar el mundo y dice que la ingesta masiva de pollo convierte a los europeos en homosexuales y en calvos, y cuando esto lo dice en una conferencia titulada “Conferencia Mundial de Pueblos sobre Cambio Climático”, entonces merece algo de atención.
La teoría, según el aludido, señor Evo Morales, presidente de Bolivia, amigo de Ahmadineyad y Chávez, y revolucionario de bolsillo, es simple. Los pollos están cargados de hormonas femeninas, ergo, la ecuación está hecha. Dejemos en propia boca tan sabia reflexión: “El pollo que comemos está cargado de hormonas femeninas. Por eso, cuando los hombres comen esos pollos, tienen desviaciones en su ser como hombres”. Y como además el pollo también produce calvicie, y como los europeos comemos mucho pollo, pues ya está, se disparan los gays y los calvos. La verdad es que, ahora que lo pienso, debe de tener razón, porque en las épocas en que comía pollo notaba que me crecían las tetas. Y desde luego, al pollo con el que estoy casada no le voy a poner pollo nunca más, no vaya a ser que mire con demasiado cariño a Jesús Vázquez.
Resuelto, pues. La malvada desviación carnal de los hombres que aman a los hombres no es el resultado natural de su orientación sexual, sino la conjura judeo-yanqui- transgénica contra los pueblos indígenas, cuya alimentación con quinua los salva de caídas de pelo y alas de mariposa. Ya ven ustedes, dos mil años de teorías cristianas para combatir la homosexualidad y resulta que era cuestión de pollos.
Conocedores, pues, de la verdad de la homosexualidad, quedan por resolver algunas preguntas tontas, de esas que nacen para incordiar a las grandes ideas bolivarianas.
Por ejemplo: ¿qué pasa con las mujeres?, ¿se vuelven lesbianas porque se hinchan de comer pollo?, y ¿qué pasa con los bolivianos homosexuales que no ingieren las maldades cárnicas capitalistas?, ¿lo suyo son ganas contrarrevolucionarias de molestar?, y ¿cómo es que existen homosexuales desde el principio de los tiempos? Esta me la sé: el mundo no existía hasta que lo descubrieron los bolivarianos.
Por supuesto, hay más maldades capitalistas. Por ejemplo, “la patata holandesa” (sic) o la Coca-Cola, que todo el mundo sabe que es un invento de opresión. Y suma y sigue, chillando sus barbaridades al sol de un congreso con 20.000 personas escuchándolo. ¿Nos reímos? Nos reiríamos si no fuera porque estos cómicos, ridículos, delirantes e incultos personajes gobiernan a millones de personas. Lo peor es que quieren salvar el mundo. ¡Dios! Esperemos que el mundo nos salve de sus locuras.

2067) Interrupção para ganhar um premio (eu tambem mereco...)

Bem, eu tinha fechado para balanço, ou melhor, para reforma cosmética deste blog -- desculpem, mas sou um incompetente técnico, e a única coisa que eu sei fazer é escrever, não exatamente com todos os dedos -- quando algumas surpresas me aconteceram:
1) pessoas me escreveram para tentar me ajudar nas minhas tribulacoes com a numeração do blog, uma bobagem que insisto em fazer...
2) acabo de ser premiado (não sei bem com o quê), o que me cabe anunciar, ao que parece, e premiar outros.

Em função da distinção, comunicada por um comentário nesse post "reformista", sou levado a publicar aqui o post original que conferiu tal distinção, inclusive com a repodução da imagem do prêmio. Depois, penso em quem vou premiar de minha parte. Mas como já são quase três horas da madrugada do sábado 24/04 aqui em Shanghai, que eu voltei ontem de uma longa viagem pelo interior da China (até quase a Mongólia), vou deixar para outro dia a continuidade das instruções abaixo relatada, esperando que um raio não caia na minha cabeça...
Paulo Roberto de Almeida

Blog Route 777

And the Dardos goes to...
sexta-feira, 23 de abril de 2010

"Com o Prêmio Dardos se reconhece os valores que cada blogueiro mostra cada dia em seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras."

Coincidentemente, no primeiro aniversário do meu blog ganhei um Prêmio Dardos da Camila Castanho, editora do blog Formiguinha Atômica.

Relembrando histórias, lugares e sabores, neste um ano, tenho escrito sobre de tudo um pouco. Cidades e países que visitei e visitarei, sobre restaurantes e a gastronomia que dá aquela sensação de puro prazer de bem estar, sobre carreira e tudo que envolve o ganha pão de cada dia atrelado à questão mais importante que é estar plenamente satisfeito, mesmo que para isso você tenha que repensar em n variáveis e caminhos a tomar; algo como atingir o topo da pirâmide de Maslow.

Faz algumas semanas que não escrevo, eu estou mudando de departamento na empresa (finalmente voltei à uma posição estratégica), com isso estou aprendendo a nova responsabilidade, e treinando a pessoa que ficará na minha atual posição. Tenho nadado muito (3x por semana média de 2200m por treino), e continuo meus estudos e leitura de obras para ano que vem, se o Ministro do Planejamento e Deus quiserem, que eu possa estar bem preparado para consolidar tudo o que eu sempre busquei desde adolescente. Com toda essa vida corrida, faltaram algumas horas para buscar matérias e continuar atualizando, falha que será resolvida imediatamente.

Aos que sempre visitam, fica aqui meu agradecimento. Que os mais de 59 mil visitantes que o blog recebeu, até hoje, tenham gostado e aproveitado o que leram; prometo muito mais emoção e passaportes virtuais carimbados a todos!

De volta aos trabalhos!

Esses selos, do Prêmio Dardos, foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar atenção e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à web.

É ideal que, quem recebe o “Prêmio Dardos” e o aceita, siga algumas regras:

1. exibir a distinta imagem do prêmio;
2. apontar o blog pelo qual recebeu o prêmio;
3. escolher 15 (quinze) outros blogs a quem deve oferecer o “Prêmio Dardos”;
4. Avisar os ganhadores escolhidos deixando um comentário no blog linkado.

E já que cumpri os 2 primeiros itens acima, agora está na hora de entregar o Prêmio Dardos para:

1. Pezinho na África - um blog bem humorado sobre o dia a dia de uma família expatriada viviendo em Praia - Cabo Verde.

2. Onze & Onze - noticias interessantes e curiosas que rodam a web, mas nunca são compiladas em algum lugar.

3. Ofchan - tudo o que você queria saber sobre trabalhar no serviço exterior brasileiro.

4. Viagem na Viagem - o melhor blog de viagens; referencia para tudo e todos.

5. Clipping de Relações Internacionais - compilação dos acontecimentos na comunidade internacional.

6. Diplomatizzzando - o ABC da diplomacia brasileira.

7. Casinha de Sapê - um blog pessoal sobre economia e organização doméstica, pratos gastronômicos (muito bons!) e a boa educação do filho pequeno vivendo em outro país.

8. Time Trail - curte F1? O Sr. Gustavo traz noticias, criticas e acirrada competição mundial.

9. I can see Russia from my house - A bem humorada espera de ser chamada para tomar posse num concurso público.

10. Expedição Aventura Atacama - 2 amigos, 2 motos e muita descoberta pelos planaltos andinos.

11. Crônicas do Iglu - imigrante brasileira em Vancouver, vivenciando uma cultura completamente diferente da tropicalidade brasileira e mensalmente escrevendo sobre o crescimento do filho em terras canadenses.

12. Formiguinha Atomica - a rapidez de uma amiga percorrendo o bem estar da vida.

13. Destemperados - blog que originou os meus posts gastronomicos. Como eles mesmo se definem: food experiences; um dos melhores blogs da categoria

14. Melhores Destinos - Blog especializado em promoções de passagens aéreas, hospedagem e pacotes.

15. Snow Adventures - Nada como descer uma montanha vestida de branco com sua prancha de snowboard ou seu par de esquis.
Postado por FH às 13:41
Marcadores: Welcome

2066) Fechado para reformas (bem, apenas para correcao de numeracao)

Vou voltar a um assunto que tem me preocupado ENORMEMENTE nos últimos tempos: a inconsistência numérica dos posts neste blog, como já apontado por mais de um correspondente, entre eles, o que escreve abaixo.
De fato, por distração, pressa, falta de aulas de matemáticas elementares (neste caso simples aritmética), eu simplesmente misturei tudo e acabei alterando de tras para diante e de diante para tras a numeração deste site.
Esses números não são obviamente indispensáveis, e não servem para nada, apenas para satisfazer minha sensação de ordem no mundo e de linearidade -- a tal de flecha do tempo -- e para me indicar a quantas andamos de produtividade no trabalho.
O fato é que eu numero os meus trabalhos, originais e publicados, do contrário me perderia tal o volume produzido (devo ser um desses malucos stakhanovistas da escrita).
Comecei a fazer o mesmo nos meus diversos blogs, mas de vez em quando eu tropeço na numeração, por diversos motivos, entre eles o fato de incluir comentários a posts antigos, que de vez em quando figuram como cabeça de lista.
Vou tentar corrigir, mas se der muito trabalho (tenho de fazer um a um, obviamente), vou desistir.
Agurdem, impacientes, inclusive porque tenho de iniciar uma nova série, relatando minha viagem para o Oriente.

Eis o que escreveu um leitor tempos atras:

Paulo deixou um novo comentário...:

Almeida, não vou fazer um comentário sobre o post, não precisas nem publicá-lo. Acesso seu blog duas vezes por semana, vou à lanhouse, salvo a página num pendrive e leio o blog no pc de casa. Leio seu blog inteiro, mas de acordo com o sitemeter eu devo ser um daqueles internautas que tropeçam sem querer no blog, pois permaneço aproximadamente 10 segundos online. Bem, nessas idas e vindas, notei que suas postagens estavam em 13xx e quando fui acessar o blog novamente elas estavam já na casa dos 16xx. Depois da postagem 1361) Um Fórum Pela Liberdade de Expressão, vem a postagem 1662) A Arrogancia dos Engenheiros...
Se não houve um simples erro de digitação, onde estão as 300 postagens que faltam???
Obrigado pelo blog.

Postado por Paulo no blog Diplomatizzando... em Sexta-feira, Fevereiro 19, 2010 2:22:00 PM

2065) With a little help from my friends and readers...

Toda semana recebo do SiteMeter as estatísticas de visitas e páginas vistas neste blog, aparentemente em aumento constante e seguro.
Em todo caso, gostaria de agradecer, direta e pessoalmente, aos muitos leitores fiéis, aos comentaristas habituais (mesmo os anônimos), aos visitantes ocasionais, aos colaboradores voluntários e acidentais, enfim, a todos os que ajudaram, direta e indiretamente (tem aqueles que nem sabem que estão colaborando e eles serão provavelmente os mais numerosos), a fazer deste blog o que ele é, ou seja, um espaço livre, de informação, debate, interações, sobretudo de veiculação de ideias inteligentes neste vasto mundo cheio de decepções e frustrações com os muitos idiotas que nos governam e que ocupam espaços indevidos nos meios de comunicação.
Obrigado a todos, abaixo um resumo dos números:

Diplomatizzando

Estatística cumulativa (com algumas lacunas no meio):
18 de fevereiro de 2010: visits: 6,786; page views: 10,268; Average per Day: 313
25 de fevereiro de 2010: visits: 9,405; page views: 14,164: Average per Day: 374
4 de marco de 2010: visits: 12,147; page views: 18,078; Average per Day: 392
11 de março de 2010: visits: 14,724; page views: 21,709; Average per Day: 368
18 de março de 2010: visits: 17,684; page views: 25,776: Average per Day: 418
1 de abril de 2010: visits: 23,424; page views: 33,754; Average per Day: 390
22 de abril de 2010: visits: 34,466; page views: 50,057; Average per Day: 585

Recebido nesta última sexta-feira, 22.04.2010:

Visits
Total ....................... 34,466
Average per Day ................ 585
Average Visit Length .......... 2:10
This Week .................... 4,093

Page Views
Total ....................... 50,057
Average per Day ................ 879
Average per Visit .............. 1.5
This Week .................... 6,156

Preciso ainda conferir os temas mais frequentemente visitados e supostamente requisitados, para conferir o que anda em alta na minha bolsa particular, pois como recomendam os marketologos, tudo deve ser feito para atender à clientela...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 23.04.2010)

2064) A politica externa do Foro de Sao Paulo (ou do Brasil)

Por que a nossa política externa é assim
João Mellão Neto
O Estado de S.Paulo, 23 de abril de 2010

Para aqueles que não conseguem entender qual é a lógica que preside as aparentemente tresloucadas opções de Lula no que tange à política exterior vai aqui uma pequena colaboração.

Como reza a sabedoria popular: "Se você vir uma tartaruga em cima de uma árvore, fique atento. Tartaruga não sobe em árvore. Ou foi uma enchente ou então foi mão de gente." Se algo parece não fazer sentido numa determinada situação, a dica é pesquisar o tema mais a fundo. É sempre positivo ter em mente que absurdo não existe. Chamamos de absurdo tudo aquilo que "não se encaixa". Geralmente é algo que provém de um ordenamento lógico cujo sentido não conhecemos.

Alguém, entre os leitores, já ouviu falar do Foro de São Paulo? Não se trata de nada clandestino. É uma entidade latino-americana que, manifestamente, busca congregar e apoiar todos os partidos e movimentos ditos "de esquerda" da América Latina. O foro já existe há quase duas décadas e se reúne com frequência anual. Falar dele é um tabu em boa parte da mídia brasileira, tão infestada por patrulhas ideológicas de todos os lados. Na internet, por exemplo, existem poucas referências ao tema, quase todas elas carregadas de conteúdo ideológico: ou se é contra ou a favor. Informações precisas e despidas de opiniões são raras.

Por essa razão é tão difícil abordar assuntos como o do foro. A entidade existe e tem até um site. Acessa-se por meio da página do Partido dos Trabalhadores (PT). Sua história é a seguinte.

O Foro de São Paulo nasceu aqui, na nossa cidade, em julho de 1990. Foi uma reunião internacional bancada pelo PT a partir de uma sugestão de Fidel Castro a Lula dada cerca de um ano antes.

Como é próprio da ideologia de seus membros, a partir de então não parou de crescer. Os seus membros se reúnem em congresso quase todos os anos - cada um numa cidade latino-americana diferente - e aprovam atas, com posicionamentos políticos válidos para todos. Um de seus idealizadores é Marco Aurélio Garcia, que, nos últimos anos, tem sido o principal formulador da política externa do nosso governo, principalmente no que diz respeito à América Latina.

O objetivo mais importante do foro é manter acesa a chama do socialismo no nosso sub-continente. A ideia do dito ex-presidente de Cuba, nos idos de 1990, foi, então, muito oportuna. O Muro de Berlim, construção que dividia a Alemanha em duas partes e era o principal ícone do antigo regime comunista soviético, caiu em novembro de 1989 - com o agravante de ter sido derrubado espontaneamente pelas suas próprias vítimas. Aquelas pessoas que pelo mundo abraçavam a causa socialista repentinamente ficaram órfãs. Seus ideais haviam sido cabalmente desmentidos pelos fatos. A proposta de Fidel, à época, era altamente auspiciosa: reunir todos os partidos e movimentos políticos da esquerda, na América Latina, para procurar estabelecer o diálogo entre eles e, a partir disso, a articulação e a coordenação de suas ações.

Foi, e tem sido, um enorme sucesso. Hoje em dia, não há organização política representativa de cunho socialista, em toda a América Latina, que não seja filiada ao Foro de São Paulo. Trocam, de modo permanente, ideias e impressões entre si e - o mais importante - falam todos, agora, a mesma língua.

Muitos chegaram ao poder, como é o caso de Lugo, no Paraguai, Ortega, na Nicarágua, Morales, na Bolívia, Correa, no Equador, e muitos mais. Outros tantos ocuparam o poder antes e, numa tentativa oportunista de apresentar ao mundo alguma justificativa ideológica para seus governos, trataram de se filiar ao foro. Um caso que todos conhecem bem é o de Hugo Chávez, na Venezuela - com o seu conceitualmente confuso "bolivarianismo". Outro que chegou atrasado foi o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya.

O caso do Brasil é muito peculiar: foi aqui que o foro se viabilizou, beneficiando-se da infraestrutura oferecida pelo PT, já então um grande e representativo partido político. Luiz Inácio Lula da Silva tratou logo de abraçar a bandeira oferecida por Castro, que tinha também outro grande atrativo: caso o petista vencesse as eleições de 1990, contra Collor, o partido seria alçado à condição de grande líder das esquerdas da América Latina. O fato é que naquela ocasião Lula perdeu. Perdeu a Presidência da República e também a perspectiva de se tornar líder socialista do nosso sub-continente.

Já numa das primeiras assembleias anuais do foro ficou determinado, em ata, que era dever de todos os partidos e movimentos filiados defender o governo cubano e o seu líder, Fidel.

Em meados da década de 1990, Hugo Chávez se filiou ao movimento. Foi uma aliança benéfica para todos. Em troca de um pretexto e um aval ideológico consistente para o seu regime, ele vem usando as suas divisas internacionais, provenientes do abundante petróleo venezuelano, para ajudar a manter a economia cubana em pé e, também, estimular numerosos movimentos e partidos em toda a América Latina.

O PT perdeu a sua chance de liderar o foro. Agora, quem dá as cartas ali é o "bolivarianismo".

E o governo brasileiro, sob Lula, contenta-se apenas em seguir fielmente as diretrizes emanadas pela entidade.

Evidência disso é que Marco Aurélio Garcia ocupou, durante todos os últimos anos, o cargo de assessor especial da Presidência da República para assuntos externos e, a partir dessa condição, formulou livremente a nossa política diplomática para a América Latina.

O cidadão acaba de sair do governo para tentar alçar voos mais altos. Ele é, agora, o coordenador da campanha eleitoral da situação. No que depender dele, a nossa canhestra política externa vai ser, no futuro, ainda mais ideologizada do que é hoje.

Coitado do Brasil!

JORNALISTA, DEPUTADO ESTADUAL, FOI DEPUTADO FEDERAL, SECRETÁRIO E MINISTRO DE ESTADO

2063) Arquivo do Itamaraty: CHDD - Emb. Alvaro da Costa Franco

Na continuidade do post anterior, transcrevo a matéria sobre o CHDD e seu diretor, o incansável Embaixador Alvaro da Costa Franco

Documentos de nervos e sangue
CHDD difunde um dos maiores acervos diplomáticos do país

Carlos Haag
revista Pesquisa Fapesp, 170 - Abril 2010


© Reprodução do livro Barão do Rio Branco - uma biografia fotográfica

"O documento é uma impressão da história e sua medida. Ele é a história com sangue e nervos.” Foi com essa visão que em 2000 o embaixador Álvaro da Costa Franco assumiu a direção do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD). “Não era o meu interesse prioritário de início, e o centro, naquela época, só existia no papel. Mas me envolvi muito no programa de conservação do acervo do Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI) e senti a riqueza do que havia aqui, de quanto se podia fazer por aqui. Virei diretor para poder auxiliar o Ministério das Relações Exteriores, pois a função principal lá, afinal de contas, é fazer diplomacia e não conservar documentos. Eles precisavam de alguém para fazer isso aqui”, conta Costa Franco. O embaixador havia acabado de se aposentar e estava então à frente da Fundação Alexandre de Gusmão/MRE, à qual o CHDD é ligado. Durante um ano dirigiu um órgão de papel que analisava papéis até que em 2001 o centro passou oficialmente a existir, localizado no Palácio do Itamaraty, no mesmo corredor onde está o AHI, um dos mais ricos acervos sobre a história diplomática nacional. São três quilômetros de documentos com toda a correspondência diplomática do ministério e documentação variada, desde antes de 1822 até a década de 1960, quando Brasília foi inaugurada e parte mais recente dos arquivos foi levada para lá. “O CHDD existe para estimular os estudos sobre a história das relações internacionais e diplomáticas do Brasil e atua na criação e difusão de instrumentos de pesquisa, na edição de livros sobre história diplomática e na pesquisa e exposição sobre esse tema.”
Leia também
■ O Império da inovação
A ciência escondida nos arquivos do Itamaraty

O centro tem uma equipe jovem e modesta: são nove estagiários universitários e dois de nível médio, um pesquisador de história, um administrador e dois arquivistas. “Como não havia nada antes, o que eu fizesse já era alguma coisa. Mas eram tempos em que os patrocínios estavam em queda e aquela não era uma atividade que gerasse grande publicidade. Resolvi então assegurar a difusão para os historiadores e para os interessados da área por meio dos Cadernos do CHDD, a fim de criar algo que fosse contínuo, de engajamento duradouro”, conta o embaixador. Os Cadernos do CHDD são uma revista “quase um livro” com 400 páginas, semestral, que foi iniciada em 2002 e se encontra no seu décimo quinto número e se dedica à publicação de documentos e estudos sobre a história das relações internacionais. Neles é possível encontrar-se desde circulares do Ministério da Relações Exteriores nos anos polêmicos de 1930 a 1939 a textos inéditos do Barão do Rio Branco, escrevendo sob pseudônimo em sua juventude, passando por preciosidades como as memórias de Sérgio Teixeira de Macedo, um diplomata relembrando a sua infância nobre, que nem por isso o deixou escapar de uma educação das mais miseráveis. A revista é distribuída gratuitamente para universidades, bibliotecas, academias, institutos geográficos, entre outros, e pode ser lida, on-line, no site www.chdd.Funag.gov.br. “Ao publicar na internet, temos um impacto grande, bastando lembrar que devemos estar atingindo os cerca de 20 mil alunos de relações internacionais que existem no país atualmente”, lembra o diplomata. O detalhe fundamental é que toda a edição é feita pela mesma equipe jovem do centro, embora a impressão esteja a cargo da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), em Brasília. “Eu e os estagiários fomos aos poucos nos improvisando em editores para dar conta do material. Afinal são textos antigos que exigem muitas revisões e uma leitura cuidadosa para que cheguem ao final impecáveis. São edições modestas, mas que repercutem bastante junto a uma comunidade, porque atingem diretamente o público interessado em história das relações internacionais”, afirma. “Além disso, também fizemos várias edições organizadas por professores universitários que propõem temas e trabalham em conjunto com o centro, uma mostra do potencial da ligação entre o Ministério das Relações Exteriores e as universidades que pode ser realizado por intermédio do CHDD.” Além da revista, o CHDD também já editou mais de 20 livros, alguns com mais de um volume.

O CHDD também promoveu pesquisas sobre imagem e diplomacia desde o Segundo Reinado e levantou um grande número de imagens das revistas ilustradas publicadas no Rio durante o Império e durante a gestão do Barão do Rio Branco que era um voraz colecionador de recortes de jornal, entre os quais de caricaturas, incluindo as de imagens suas. Estão sendo fichadas as que retratam o Barão com vistas a publicação, possivelmente em 2012, centenário do seu falecimento. Em 2000 o centro organizou ainda a exposição O Barão e a caricatura, que circulou por Brasília, Curitiba, Rio Grande do Sul, São Paulo e deve ir ainda este ano para Manaus. Entre os projetos futuros do centro estão a publicação da correspondência de Domício Gama com Rio Branco, a missão especial do Visconde do Rio Branco ao Prata, a correspondência de Nabuco de Washington, a Conferência de Havana, a correspondência de Oliveira Lima de Tóquio, entre outros. Também aguarda publicação a pesquisa Inovações tecnológicas e transferências tecnocientíficas: a experiência do Império brasileiro.

“Tudo sobre a vida intelectual do Brasil com os países estrangeiros pode ser estudado nesses arquivos para além das relações diplomáticas e políticas”, acredita Costa Franco. “O diplomata segue uma carreira com muitas profissões e nesse trabalho junto ao centro pude ter contato e trabalhar com historiadores, professores, estudantes e ser um pouco como eles. Parcialmente, creio que consegui o que queria, mas ainda há muito a ser feito”, avalia. “História oral, por exemplo, é algo que precisamos fazer com urgência, recolher o depoimento de antigos diplomatas. Também organizar seminários, premiar trabalhos”, lamenta. Para o embaixador, porém, é preciso mais tempo e dinheiro. “Como se pode fazer história das relações internacionais se só trabalhamos uma das partes? O que acabamos tendo é uma visão unilateral por aqui pela falta de chances de sair e conhecer o que há em outros arquivos sobre o Brasil. Por exemplo: temos pistas fortes de que havia no Prata a ideia de que o Império brasileiro era frágil por causa do separatismo e do escravismo. Ou seja, se fôssemos invadidos ao sul logo haveria um movimento de separação e outro movimento de sublevação dos escravos e, pronto, cairia a monarquia brasileira, algo que explicaria a agressão paraguaia. Isso, porém, requer que visitemos mais arquivos na Argentina, no Paraguai, no Uruguai, certo?” Segundo ele, era preciso que se criassem bolsas para que se pudesse visitar arquivos no exterior. “Isso é algo que eu gostaria de ter feito durante a minha gestão, que agora se encerra, à frente do CHDD, para ter a visão do outro”, afirma. “Mas creio que consegui deixar com os jovens do centro o meu recado de que nós temos um compromisso: a maior honestidade intelectual possível e um grande respeito aos documentos.” Que, afinal, são de nervos e sangue.

2062) Ciencia e tecnologia na diplomacia do seculo 19 - Pesquisa Fapesp

Humanidades - Relações internacionais
O Império da inovação: A ciência escondida nos arquivos do Itamaraty
Carlos Haag
revista Pesquisa Fapesp, 170 - Abril 2010

Salão nobre do Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro

Nada mais moderno e atual do que a discussão sobre inovação tecnológica e P&D como forma de diminuir a dependência externa do Brasil e colocá-lo em pé de igualdade com as grandes nações do Primeiro Mundo. Curiosamente, como revela uma pesquisa recente, nada mais antigo também do que pensar nessas questões. Em Inovações tecnológicas e transferências tecnocientíficas: a experiência do Império brasileiro, os pesquisadores Sabrina Marques Parracho Sant’Anna e Rafael de Almeida Daltro Bosisio, a partir de um projeto do Centro de História e Documentação Diplomática (CHDD), feito no Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI), descobriram documentos que revelam a ação do Estado brasileiro e de seus agentes diplomáticos, entre 1822 e 1889, no sentido de usar a inovação tecnológica e a ciência como forma de criar uma nação, civilizar o Brasil e colocar o jovem país em compasso com os territórios europeus nos quais o Primeiro e o Segundo Reinados se espelhavam.

“Foi muito importante a ação do Ministério dos Negócios Estrangeiros no sentido de transferir tecnologia fazendo circular pessoas, bens e informações, numa tentativa de criar condições para a formação e manutenção do Estado imperial, almejando o seu ingresso no grupo das nações civilizadas e reduzindo o hiato que, segundo se acreditava, o separava dele. Ora querendo se aproximar da Europa, ora buscando uma civilização adequada ao mundo dos trópicos, uma Europa possível, construía-se uma identidade nacional baseada no território e num sentimento de exclusão”, explicam os pesquisadores. Segundo Sabrina, coordenadora da pesquisa, “a discussão sobre a formação da ideia de nação no Brasil é longa e controversa, mas o material indica que múltiplos atores sociais efetivamente se empenharam na construção de elementos de distinção da metrópole a partir da superação do estigma da natureza selvagem e se fizeram protagonistas de um Estado independente a partir da construção de uma imagem de cultura e civilização na especificidade dos trópicos”.

O universo do material da pesquisa constituiu--se da documentação disponível no Arquivo Histórico do Itamaraty. No total, foram lidos 297 maços documentais e levantados e fichados cerca de 5.500 documentos, dos quais resultou a seleção e reunião de 2.621 resumidos e classificados por tema que hoje compõem o catálogo, pronto, mas ainda sem data para ser editado, apesar da quantidade preciosa de informações para pesquisa que contém. Os documentos vêm acompanhados da precisa localização no arquivo. “No papel desempenhado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros como mediador das relações entre o Brasil e os demais Estados, buscando superar as desigualdades e fazer com que o país entrasse no grupo das nações tidas como civilizadas, deu-se ênfase à circulação de ciência e tecnologia diretamente relacionada ao movimento de trazer, para dentro do país, o saber que se disponibilizava no resto do mundo, buscando encontrar nas transferências as bases de construção de uma nação em sincronia com suas congêneres”, notam os pesquisadores.

Uma das primeiras e mais constantes preocupações era com a educação da mão de obra, seja pela importação de obras para aplicação no Brasil, seja pelo envio de pessoal qualificado para aperfeiçoamento no exterior. “Salta aos olhos o grande fluxo de ofícios e despachos relativos à instrução pública na busca de métodos educacionais e na compra de livros e equipamentos para faculdades. São desde guias para a introdução de aulas de ginástica até livros variados para a formação de cursos especializados, numa vontade de civilização. Os documentos indicam esforços de universalização do saber, equiparação a modelos europeus e apontam para o desejo de constituição de elites aptas ao controle do Estado e de formação da população como povo capaz de construir a nação”, observam os pesquisadores. Em detrimento da educação universal, porém, os cursos para formação de mão de obra especializada parecem receber ênfase e não por acaso a preocupação centrada na formação das bibliotecas dos cursos jurídicos de Olinda e São Paulo: entre 1822 e 1841, mais de um terço dos documentos são relativos ao assunto. Afinal, era o curso que tinha o lugar central na formação do Estado nacional e ocupava a preocupação das elites dirigentes.

“O fato é revelador na medida em que se criava o curso pelo estado de independência política e que se tornava incompatível demandar, como antes, estes conhecimentos à Universidade de Coimbra. O país precisava começar a formar seus próprios bacharéis. Médicos, engenheiros, militares e técnicos do governo continuariam sendo enviados ao estrangeiro para completarem a sua qualificação. Estes profissionais tornaram-se pensionistas do Estado.” Uma parte do catálogo fala justamente da concessão de benefícios de viagem para aperfeiçoamento no exterior, já que não são raras no Império as práticas de envio de estudantes brasileiros para qualificação no estrangeiro e formação de uma elite capaz de suprir as demandas dos quadros técnicos para operacionalização do Estado. As pensões deveriam: solucionar um problema imediato notado pelo Império; formar um profissional que, além do fim último de sua viagem, devia deixar os olhos sempre abertos para o aprendizado do mundo. “As viagens em comissão e aquelas de estudo, exigindo com frequência relatórios semestrais, foram, de fato, de formação”, dizem os pesquisadores.

Plantio de café: cônsules se empenhavam na remessa de sementes
No entanto, aos poucos, as viagens comissionadas por interesses do Estado vão ganhando proeminência sobre as longas viagens de estudo. “A partir de 1827, o governo passaria a tratar a instrução individual no exterior como de interesse do próprio estudante e deixaria de financiar períodos de formação completa no estrangeiro, deixando que os títulos de doutor ou bacharel ficassem a expensas das famílias abastadas da elite imperial. O financiamento das viagens de instrução passaria a se restringir ao que chamaríamos hoje de especializações e abarcaria apenas as áreas vistas como de interesse imediato do Estado nacional.” Ora vista como meio de ascensão social individual, ora vista como instrumento de civilização fundamental ao Império, a política de educação se fazia no movimento de padronização do acesso à formação civilizadora no interior do país e de formação de elites técnicas para atender a fins específicos da burocracia estatal. “Assim, o movimento de declínio das viagens de estudo em prol do crescimento das viagens de estudo a cargos comissionados parece ser concomitante aos processos de internalização da formação profissional e de busca da maior universalização do acesso ao ensino primário e secundário.”

A exceção, a partir de 1841, eram as pensões destinadas aos estudantes de belas-artes, já que a criação de um corpo de profissionais formados no estrangeiro com valores universais se fazia premente no momento em que Pedro II começava a construir sua imagem de mecenas e homem das artes e quando, no âmbito imagético, pintores, músicos e arquitetos parecem ter contribuído para forjar um sentimento de pertencimento nacional. “Assim, se a engenharia e a medicina, a agricultura e outros ramos do conhecimento se apresentaram como foco fundamental do Estado, oscilando da formação de quadros no estrangeiro para a formação no interior do país, direito e belas-artes aparecem aqui como casos-limite: o primeiro, símbolo maior do que deveria ser exclusivamente nacional, forma administrativa do Estado que se fundava; o segundo, símbolo do que deveria ser pautado em modelos estrangeiros, forma universal, civilizada, a enquadrar a nação nos cânones consagrados do belo internacional.”

Entre 1822 e 1834, o Ministério dos Negócios Estrangeiros inicia suas primeiras atuações a fim de promover a troca de plantas e sementes com outras regiões do mundo, agindo, sobretudo, como mediador nas trocas entre instituições brasileiras ligadas à agriculturas e suas congêneres no exterior. “Olhando o procedimento de envio de sementes, tudo parece apontar para a emergência dos primeiros esforços do Estado em implementar inovações na agricultura diversificando a produção e contribuindo para o progresso nacional, já que a agricultura de gêneros para exportação era vista como fonte de civilização”, notam os pesquisadores. Categorias como rotina, indolência e falta de cultura eram usadas para designar o estado em que se achava a produção agrícola nacional, e as técnicas vindas das nações avançadas eram consideradas inovações necessárias para eliminar esse atraso. De início, até 1834, o papel do ministério era secundário na aquisição e remessa de sementes, mas aos poucos ele se tornou atuante por meio do seu corpo diplomático, que passou a participar ativamente na obtenção de informações científicas e na aquisição e remessa de novas espécies. “Uma clara mudança na ação dos representantes brasileiros no exterior pode ser notada e vários foram os ofícios enviados descrevendo novas espécies que fossem úteis ao desenvolvimento da agricultura nacional. Sementes e mudas foram remetidas com detalhadas informações sobre o plantio, solo apropriado, época para o cultivo e colheita, zona climática adequada para cada espécie. As plantas passaram a ser descritas com seus nomes científicos e de acordo com a classificação de Lineu.”

Pedro II: mecenas

“Cônsules e outros agentes diplomáticos passaram a se empenhar pessoalmente na remessa de sementes, mesmo sem um pedido formal do governo imperial. Muitas vezes, os próprios diplomatas tomaram a iniciativa de selecionar e enviar informações científicas que pudessem contribuir para a aclimatação de novas espécies e para a racionalização da agricultura”, avaliam os pesquisadores. Agentes contratados para tratar de assuntos de imigração também foram envolvidos na elaboração de trabalhos que pudessem contribuir ao desenvolvimento da indústria e do comércio do país e se empenharam na aquisição e remessa de sementes e plantas como algodão, tabaco, café, amoreira, freixo, quina, guaco, verbena, carvalho, baunilha, canela, pinheiro, anil, açafrão, e uma série de outras sementes que deveriam ser aclimatadas para serem úteis na construção do Estadão-nação imperial. “Além do envio de sementes e mudas, passou a ocorrer um crescente intercâmbio de publicações entre instituições científicas brasileiras e suas congêneres no exterior. Os próprios diplomatas brasileiros selecionavam e enviavam artigos científicos que pudessem contribuir para a aclimatação de novas espécies e para a racionalização da agricultura”, contam. “Em seus ofícios e correspondências, faziam relatos de experiências realizadas por cientistas que lhes eram contemporâneos, novas máquinas empregadas para determinadas culturas, enfim novidades no que diz respeito à tecnologia agrícola daquela época. Depois de remetidas as sementes, tais agentes demandavam os resultados do plantio para que a observação empírica lhes servisse de guia nas novas remessas.”

Num terceiro momento, entre 1865 e 1889, há um arrefecimento na atividade de troca de insumos e cresce a participação do governo brasileiro nas exposições mundo afora, tornando o Brasil fornecedor de produtos exóticos e úteis ao comércio internacional. A partir de 1870 observa-se na documentação, afirmam os pesquisadores, um aumento dos pedidos de sementes e mudas nativas do país por outros governos: palmeira, carnaúba, tajujá, fibras têxteis e também de espécies aprimoradas no país, como café, tabaco e cana-de-açúcar. “Com a ênfase nas exposições, as trocas de sementes voltaram a ocorrer no âmbito das instituições científicas que, mesmo vinculadas ao governo, ganharam autonomia”, dizem os pesquisadores. As poucas espécies que chegaram ao Brasil não vieram, como antes, com dados sobre cultivo e plantio, mas acompanhando os novos tempos, com estatísticas comerciais e apontamentos sobre a sua rentabilidade do café, já que, entre os anos de 1876 e 1877, amostras de café brasileiro foram enviadas à França para análise do produto e aprimoramento de sua qualidade a fim de aumentar seu valor de venda no mercado estrangeiro. “Ao longo do século XIX, ao lado da construção do Estado brasileiro, delineou-se uma política agrícola voltada para a exportação. Nesse transcurso, a administração da agricultura pelo governo deixou de lado as ciências naturais, como a botânica, a química e a geologia, para fazer uso das ciências econômicas como forma de desenvolver essa atividade agrícola. Esse novo paradigma passou a coordenar a divulgação científica tal como empreendida anteriormente pelos agentes diplomáticos.”

Ao longo de todo esse período estudado houve, além dos pedidos do Estado, muita iniciativa individual dos diplomatas, bem como a receptividade às inúmeras ofertas feitas, no estrangeiro, de inovações tecnológicas que poderiam servir ao desejo de civilização do Império, prova da importância do ministério no cumprimento da “tarefa civilizacional” que lhe foi indiretamente delegada pelo Estado brasileiro. “É interessante notar que o papel desempenhado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros forjava, como mediador das relações entre o Brasil e os demais Estados, imagens do eu e do outro, buscando superar as desigualdades e fazer com que o paísentrasse no grupo das nações tidas como civilizadas. Aos diagnósticos de civilização ausente e de um território-potência, se sobreporia também o de um aparato estatal faltante, definindo, no período, uma identidade nacional e um mito originário: cosmogonia a repercutir indefinidamente sobre um Estado eternamente em formação”, completam os pesquisadores. Tarefa para a ciência, via diplomacia.

Leia também:
- Documentos de nervos e sangue
CHDD difunde um dos maiores acervos diplomáticos do país

2061) Brasilia: capital da esperança... e da gastança

A história contemporânea do Brasil começa, praticamente, com o governo JK, pois acredito que a era Vargas ainda representa uma transição da República oligárquica para a modernidade industrial, tendo sido JK a também fazer avançar, decisivamente, o processo de industrialização, completado, finalmente, pelos militares.
Mas Brasília, sua maior obra arquitetônica, foi também o início da inflação acelerada no Brasil, que até então vinha apresentando valores modestos, de um dígito.
Não apenas a inflação, mas a dívida pública e a irresponsabilidade emissionista e orçamentária.
Na verdade, Brasília foi construída sem orçamento, fora do orçamento, contra o orçamento. Isso é preciso ressaltar.
O resto, a capital da corrupção e outras coisas mais, não é exclusivo de Brasília, pois teria acontecido em qualquer lugar do Brasil, infelizmente...
Em todo caso, presto minha homenagem à capital reproduzindo duas excelentes matérias do Observatório da Imprensa (ver o programa no endereço: www.tvbrasil.org.br/observatorio)

OI NA TV
A aventura de Brasília
Por Lilia Diniz
Observatório da Imprensa, 22/4/2010

Noite de 21 de abril de 1960. Em pleno Planalto Central – onde três anos e dez meses antes só havia seriemas e arbustos retorcidos – sapatos altos sujos de terra vermelha e cartolas circulam no baile de inauguração de Brasília. Ministros, senadores, deputados federais, funcionários públicos e chefes de Estado de diversos países conferem as instalações da nova capital. Emocionado, o presidente Juscelino Kubitschek realiza o sonho de transferir a sede do poder para o interior do Brasil. Cumpre o que determina a Constituição Federal desde 1891. Uma polêmica que dividiu o Brasil entre "mudancistas" e "antimudancistas". O Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (20/4) pela TV Brasil relembrou a guerra travada na imprensa durante a construção de Brasília.

Para contar esse episódio, o Observatório gravou uma série de entrevistas em Brasília e no Rio de Janeiro: Ronaldo Costa Couto, historiador e escritor; Claudio Bojunga, jornalista e biógrafo de JK; Villas-Boas Corrêa, colunista político; Tereza Cruvinel , jornalista, apaixonada pela história da transferência da capital; Eliane Cantanhêde, jornalista da Folha de S.Paulo; Carlos Chagas, jornalista do SBT; Raimundo Nonato, responsável pela primeira publicação de Brasília; e Maria Elisa Costa, arquiteta e filha do urbanista Lúcio Costa, responsável pelo projeto do Plano Piloto.

Em editorial [ver íntegra abaixo], Alberto Dines comentou que a transferência "continha a matéria-prima necessária para produzir vibração e destravar o espírito de mutirão, adormecido desde a entrada do país na Segunda Guerra Mundial". Dines explicou que a mudança "é filha de muitas razões", entre elas a necessidade de aliviar a pressão das ruas do Rio de Janeiro acionada pelos jornais de oposição. "Aquela cidade em forma de ave ou avião, suspensa em cima de arrojados pilotis, despertou nos brasileiros a vontade de sonhar, levantar voo, criar."

Primeiros passos
Ronaldo Costa Couto explicou que a mudança da capital entrou em pauta no início de 1955, durante a campanha presidencial de JK, em um comício na pequena cidade de Jataí, em Goiás. "Ele fez algo que nunca tinha feito em toda a sua trajetória política: pediu aos presentes que fizessem perguntas, que ele gostaria de debater. Fez-se aquele silêncio e, de repente, um rapaz franzino, magro, emocionadíssimo, com a voz quase se recusando a sair, pergunta: `Se o senhor eleito for, cumprirá o que manda a Constituição, transferindo a capital para o Planalto Central?´. O Juscelino hesitou por alguns segundos e então respondeu: `Se a Constituição determina, eu o farei´", contou.

O historiador acredita que JK "induziu" a pergunta para que a cobrança partisse do povo. "Veja que coisa inteligente. O povo perguntou: `Tem esse comando na Constituição, o senhor não vai cumprir?´ O que ele responde? `Eu vou cumprir´. Qual poderia ser, por exemplo, a reação das forças armadas? Elas são guardiãs da Constituição, elas não puderam fazer nada. Ele estava atendendo a uma cobrança popular", avaliou. Para Ronaldo Costa Couto, JK foi um "autêntico democrata". Observava atentamente a relação entre liberdade de imprensa e democracia. "Democracia era um valor superior para ele", destacou.

Um dos motivos que levaram JK a lutar pela transferência da capital foi a pressão que a população do Rio de Janeiro exercia sobre os Três Poderes. "Juscelino acompanhou muito de perto a crise que levou ao suicídio de [Getúlio] Vargas, em 24 de agosto de 1954. E observou muito como o poder funcionava no Rio. Então, por exemplo, uma greve de estudantes por causa do aumento da passagem de bonde, acuava a presidência da República", disse. Dines comentou que uma manchete do Correio da Manhã, do Diário de Notícias ou da Tribuna da Imprensa levava o povo para a porta do Palácio do Catete, sede da Presidência da República. JK sentia-se acuado.

Poder pressionado
"JK também nota que qualquer entrevista mais agressiva de líder militar colocava o governo em xeque, colocava a República em polvorosa. Por tudo isso, o Juscelino meteu na cabeça que tinha que tirar a capital do Rio de Janeiro. Não era só a questão de vir para o interior brasileiro. Era também sair do Rio de Janeiro por uma questão de sobrevivência. Ele achava que no Rio de Janeiro não havia condições de governabilidade", disse Ronaldo Costa Couto.

A Câmara e o Senado também sentem a pressão das ruas no Rio de Janeiro. Villas-Boas Corrêa relembrou que as sessões do Congresso repercutiam na cidade. "A Câmara vivia apinhada. No dia dos grandes debates, a galeria enchia. Não era gente que ia lá quebrar móveis ou fazer reivindicações. Era gente que assistia ao espetáculo dos debates parlamentares."

Villas enfatizou que o jogo político acontecia no Congresso. Contou que todos os jornais publicavam seções fixas sobre as atividades da Câmara e do Senado. "O Heráclito Salles, que foi o maior repórter parlamentar de todos os tempos, um escritor fabuloso, ocupava a última página do Correio da Manhã com uma matéria sobre a sessão da Câmara. E havia os repórteres políticos, que ficavam livremente andando pelas ruas, pelos partidos", lembrou.

A imprensa entra em ação
Dines perguntou a Ronaldo Costa Couto sobre a primeira reação da imprensa ao projeto de Juscelino Kubitschek de mudança da capital. "A maior parte da imprensa não via com bons olhos a transferência da capital, nem a grande imprensa paulista, nem a grande imprensa carioca. Ele não tinha a imprensa espontaneamente do lado dele, porque no Rio queriam que a corte permanecesse. Era a cidade maravilhosa, com condições de vida excelentes e tinha muito a perder", disse.

Claudio Bojunga avaliou que no Rio de Janeiro a resposta foi muito ambígua. "Eu diria que grande parte da cidade se sentiu esbulhada: `levaram o nosso cetro!´. Em um nível mais profundo, acredito que houve uma corrente que entendeu que aquilo representava o amadurecimento de um projeto antigo." A idéia da transferência logo ganhou um aliado: a Última Hora, de Samuel Wainer. O Diário Carioca também apoiou a mudança e foi o primeiro jornal a instalar uma sucursal em Brasília. A revista Manchete evoluiu junto com a capital e dedicou diversas edições à construção da cidade, mas ainda não tinha expressão nacional.

O presidente sabia que precisava conquistar a simpatia da grande revista ilustrada do período: O Cruzeiro, dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. "O Chatô tinha uma certa má vontade com o Brasil e era o rei da imprensa na época, chefe dos Associados. Juscelino convenceu o Chatô a ser embaixador em Londres. A verdade é que o Chatô foi se aproximando da idéia de Brasília, foi compreendendo a importância daquele projeto que é algo que não se mede pelo cálculo econômico. É uma coisa de estadista, uma decisão estratégica e maior. Ele quase não ficou na embaixada, mas evidentemente que isso contribuiu para atrair a simpatia do líder dos Associados para Juscelino", explicou Bojunga.

JK monta sua estratégia
Em 1957 foi lançada a primeira publicação brasiliense, a Revista de Brasília. A Novacap – companhia criada para executar o projeto de edificação da cidade – precisava de um boletim informativo para abastecer a opinião pública nacional e internacional sobre o andamento das obras. O criador da revista, Raimundo Nonato, contou que a curiosidade em relação à transferência era grande e não havia como esclarecer a opinião pública sem um veículo destinado exclusivamente a Brasília.

"A imprensa estava praticamente toda contra. Então, eu idealizei uma revista, a princípio simples, pobrezinha, na qual se configurasse a marcha da construção de Brasília. Mas o doutor Israel Pinheiro, diretor da Novacap, não admitia polêmica, não admitia atrito", lembrou. A revista não podia ser usada para responder às críticas que eram feitas à transferência. Enquanto Israel Pinheiro evitava polemizar, Lúcio Costa não deixava as críticas sem resposta. Maria Elisa Costa lembrou que seu pai lia os jornais diariamente e respondia a todas as críticas por meio de cartas.

A mudança encontrou forte resistência no Rio de Janeiro e em São Paulo. O Jornal do Brasil declarou-se contra Brasília. Via em JK o responsável pela corrupção nas obras e atacava a política econômica do presidente. Outro jornal que fazia oposição sistemática e criticava a mudança da capital era O Globo. Já o Correio da Manhã acreditava que o Rio de Janeiro seria esvaziado politicamente com a perda do Distrito Federal.

Os piores adversários
Raimundo Nonato acrescentou que Diário de Notícias era "um pouco rebelde". Outro jornal contrário à transferência foi O Estado de S.Paulo. Entre todas as vozes contra Brasília, duas se destacavam: o jornalista e político Carlos Lacerda, dono da Tribuna da Imprensa, e Gustavo Corção, articulista católico de ultra-direita, do Diário de Notícias. "O Carlos Lacerda fazia oposição não só partidária, era fanático, fundamentalista. Havia colunas em que ele escrevia `o cafajeste máximo´ [sobre JK]", contou Claudio Bojunga.

"O Corção era um daqueles furibundos jornalistas e líderes católicos. Criticava Brasília todo dia. durante anos. E uma das críticas dele era que o lago de Brasília jamais encheria. Podia colocar água de rio, riacho, ribeirão que o lago não ia encher porque a terra daqui era tão desértica, tão porosa que ia chupar a água toda. Então, na véspera da inauguração de Brasília, quando o lago chegou à cota 1000, o Juscelino passou um telegrama para o Corção de duas palavras: `Encheu. Viu?´", contou Carlos Chagas.

JK monta uma estratégia para conseguir o apoio da imprensa e suavizar parte das críticas. "Juscelino chamou os empreiteiros e disse: `Vocês vão ganhar muito dinheiro, muito dinheiro mesmo. Agora, eu quero uma coisa. Com esse dinheiro absurdo que vocês vão ganhar, eu quero que vocês dediquem uma pequena parte, ou grande, eu não sei, a fazer publicidade. Vocês vão ter que botar páginas e páginas anunciando Brasília, falando de Brasília, mostrando Brasília´. E assim fizeram os empreiteiros", disse Chagas. Desta forma, JK conseguiu fazer os proprietários de jornais olharem Brasília sob um novo ângulo.

JK reverte o quadro
"Tem algumas coisas fantásticas durante o governo JK que foram de uma habilidade assustadora. Por exemplo, o Juscelino transformou Brasília em uma passarela. Brasília em construção. Trouxe aqui a rainha da Inglaterra, o príncipe do Japão. Vieram aqui todos os grandes escritores; trouxe grandes figuras mundiais – [Andre] Malraux, por exemplo, que era ministro da Cultura da França, e que chamou Brasília de `A Capital da Esperança´. Nesse desfiles todos imprensa ia junto, repercutindo dentro e fora do país", disse Ronaldo Costa Couto.

Apesar de ter procurado aproximar-se de intelectuais em toda a sua trajetória política, JK sofreu duras críticas. "Ele levou muita pedrada. As pedras mais fortes talvez tenham sido atiradas no começo pelo Gilberto Freyre, que era ligado à UDN [União Democrática Nacional]. `Onde já se viu cidade onde as construções não têm corrimão?´Desde brincadeiras como essas até cobrar que tinha que ser mais compatível com as tradições brasileiras, que vinham da arquitetura colonial", disse. Costa Couto explicou que a primeira leitura dos intelectuais era simplista. Criticavam a criação de "uma cidade no meio do nada, trocando o Rio pelo sertão". À medida em que os debates foram se aprofundando, perceberam que era a descoberta do Brasil profundo.

Eliane Cantanhêde disse que ao estudar a instalação das sucursais dos jornais na nova capital descobriu que os grandes nomes da cobertura política "levaram furo coletivo" há 50 anos: "Eles vieram cobrir a inauguração de Brasília, então eles pegaram sua malinha e vieram cobrir um evento. Chegaram aqui e foram ficando, foram ficando, e um belo dia descobriram: `Não é um evento, é uma capital que vai virar capital mesmo´. Eles não tinham onde morar, a família ficou. Eles foram furados porque não perceberam que não era só um evento, era de fato uma capital que estava se instalando e que hoje tem 50 anos, consolidadíssimos".

***

Capital da utopia - a construção
Alberto Dines # editorial do Observatório da Imprensa na TV nº 542, exibido em Observatório da Imprensa, 20/4/2010

Os Anos Dourados produziram Brasília ou foi o contrário – Brasília criou os Anos Dourados? Foram dourados mesmo ou a nostalgia pintou-os de dourado?

O binômio energia-transporte era apenas um plano de metas, mas a transferência da capital para o interior do país continha a matéria-prima necessária para produzir vibração e destravar o espírito de mutirão, adormecido desde a entrada do país na Segunda Guerra Mundial.

A imprensa carioca renovava-se. A cidade do Rio de Janeiro crescia, cada vez mais maravilhosa e também cada vez mais aguerrida: a manchete de um vespertino impresso no centro levava imediatamente multidões às portas do Palácio do Catete ou da Câmara dos Deputados.

Brasília é filha de muitas razões, uma delas, talvez a mais premente, foi a necessidade de aliviar a pressão das ruas. JK conseguiu: para isso usou a sua incrível capacidade de somar atraindo parte da imprensa para o seu projeto. Desta verdadeira distensão nasceu um dos momentos mais férteis da cultura e da arte brasileira.

Aquela cidade em forma de ave ou avião, suspensa em cima de arrojados pilotis, despertou nos brasileiros a vontade de sonhar, levantar vôo, criar. Meio século depois, esta nova série do Observatório da Imprensa traz de volta a vibração que construiu Brasília para compará-la com os frutos que produziu.