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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 8 de abril de 2012

Trajetoria da politica brasileira: breve sintese - Miguel Reale Jr


O discreto charme da moralidade

Miguel Reale Júnior
O Estado de S.Paulo, 07 de abril de 2012

Vive-se uma crise na base congressual. Parlamentares e partidos reclamam da falta de atendimento de reivindicações e se rebelam para demonstrar sua importância: não aprovam a indicação de amigo da presidente da república para agência reguladora.

A artificialidade da base parlamentar, com cerca de 400 deputados, era evidente, pois apenas se instaurara em torno da figura carismática do presidente Lula, o grande eleitor, fazedor de sua sucessora, de governadores, deputados e senadores. Essa artificialidade, verificável a olhos vistos, é fruto de uma constante de nossa vida republicana: a força do poder carismático.
Na República Velha, quando presidentes eram escolhidos unicamente pelos próceres do Partido Republicano, com resultados garantidos pela fraude eleitoral, ter o candidato poder pessoal de sedução era irrelevante. Rui Barbosa, graças à sua inteligência, empolgou por duas vezes a juventude e a classe média: na campanha civilista de 1910 e na disputa com Epitácio Pessoa em 1919. Suas ideias avançadas jamais iriam, logicamente, frutificar nesse sistema político conservador. Na sociedade patriarcal, como poderia ser eleito um homem que pregava, em 1919, aderir à democracia social, propugnando pela felicidade da classe obreira, aplaudindo o socialismo no que trazia de pacificador por aproximar patrões e trabalhadores, reivindicando maior participação política da mulher e ter igualdade de remuneração salarial?
Assim, Rui, já glorificado como a Águia de Haia, comovia e envolvia apenas a incipiente classe média, pela força de sua inteligência e pela modernidade de suas propostas, sem ter o estadista nenhuma nuance de sedução demagógica.
A partir da Revolução de 1930 surgem, então, na vida política os líderes carismáticos. Getúlio Vargas, candidato derrotado à Presidência, traduz a exigência, nascida no movimento tenentista, de se garantir a verdade eleitoral, mas acaba por instaurar uma ditadura. Ao falar às massas recebe legitimação pelo reconhecimento entusiástico dos trabalhadores, criando-se uma ligação pessoal entre o chefe de Estado e o grosso da população, sob o domínio de afeição confiante. Getúlio, o pai dos trabalhadores, é consagrado presidente acima das liberdades democráticas. Deposto em 1945, retorna em 1950 com quase maioria absoluta dos votos. Jânio Quadros é outro líder carismático que, com a vassourinha, promete varrer a sujeira da política brasileira. Collor, o caçador de marajás, denunciador da corrupção do governo Sarney, é um líder carismático que, sem partido, vem a derrotar fragorosamente todos os caciques: Ulysses, Brizola, Aureliano Chaves, Mário Covas.
O voo do chefe carismático pode ser breve ou longo. Os partidos políticos dar-lhe-ão respaldo para poderem usufruir vantajosamente a sua proximidade com o líder, como beneficiários do prestígio do condutor das massas, enquanto houver popularidade. Se esta decresce, começa-se a abandonar o barco. Jânio e Collor tiveram na Presidência passagens meteóricas, deixados à deriva em seus devaneios de poder absoluto.
Na nossa História recente, dois presidentes não tinham o carisma dos demagogos, mas possuíam charme e programa: Juscelino, o peixe vivo, com a proposta de 50 anos em 5; Fernando Henrique, o intelectual político, degolador da inflação, trazia o plano de modernização da economia e programas iniciais de distribuição de renda. Sucede que em geral carisma não se transmite a candidatos correligionários, muito menos charme.
Lula, depois de três derrotas, soube se preparar para ganhar e pôde encarnar a figura do líder carismático que é, com projeto de poder de longa distância. Adaptou-se às necessidades de conter a inflação e teve como carro-chefe o programa Bolsa-Família. Com astúcia, navegou nas águas turvas do mensalão e "macunainamente" usou da "virtude" política da incoerência para se sair bem com uns e outros. No segundo mandato cresceu em popularidade, seja porque a população da classe E, graças ao Bolsa-Família, ascendeu à classe D, seja porque parcelas da classe C assomaram, em vista do boom econômico mundial, a níveis mais elevados de consumo.
O sucesso econômico e o dom natural de sedução de Lula o transformaram num líder cuja força atraiu inimigos e militantes políticos de toda ordem, ansiosos por serem seus seguidores e virem a integrar a mesma base política, com manifesto interesse eleitoral. Lula conseguiu, de forma rara, eleger a sua sucessora, uma novata na refrega eleitoral, mais gerente do que prócer política.
Assim, Dilma herdou a Presidência e a dita base parlamentar composta por políticos ávidos das benesses viabilizadas para os seguidores do chefe carismático. Este o único cimento a amalgamar tantos interesses contrários.
O destino, todavia, fez o líder, espécie de missioneiro, cair doente, com duvidosa participação efetiva no futuro processo político. Neste quadro, sem verbas e cargos para justificar o apoio ao governo, afloram, ainda por cima, na base parlamentar ressentimentos em vista das demissões por corrupção, longe da condescendência anterior, do período lulista, quando se passava a mão na cabeça dos "aloprados".
Neste momento, sem a certeza de Lula ser um protagonista no cenário político, Dilma vê-se no meio de uma crise que poderá acalmar no varejo com a liberação de verbas, como se deu para a aprovação da Lei da Copa. A presidente, no entanto, diz não pretender instalar a adesão ao "toma lá, dá cá". Em suma, Dilma herdou a Presidência, mas não o carisma e, ao contrário de Juscelino e de Fernando Henrique, não tem um programa de governo que empolgue.
Sua única arma disponível é a resistência ao sistema do "dando é que se recebe", que poderá entusiasmar a classe média. Mas surge a dúvida: será suficiente, no Brasil, o discreto charme da moralidade para se conseguir governar?
Advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A “moral” deles e a minha - digressoes por Paulo Roberto de Almeida



Uma livre digressão por:
Paulo Roberto de Almeida

O que é a moral e o que ela tem a ver comigo?
Todas as pessoas possuem algum tipo de moral, mesmo aquelas que disso não têm consciência ou que, aparentemente, não possuem moral nenhuma. Essa é, justamente, a “ética” de certas pessoas: a capacidade de serem imorais, no sentido de não possuírem valores muito explícitos, nenhuma restrição de comportamento, apenas a busca do interesse próprio, sem qualquer constrangimento mental ou bloqueios mentais, sequer remorsos post hoc.
Da moral pode-se dizer que ela é um conjunto de princípios que podemos exibir de modo explícito, ter consciência deles, ou fazer questão de aderir a esses valores – exclusivos ou compartilhados com outros – e defender certa “filosofia de vida”. Nem todos, como se disse, fazem isso de modo consciente; muitos apenas empiricamente, ou de modo prático, sem qualquer sistematização ou formulação voltada para objetivos pessoais. Esse conjunto de valores, esses princípios éticos que conformam o que chamamos de moral são em parte “herdados” da situação família, ou do ambiente de formação inicial, em parte adquiridos ao longo de diferentes processos de socialização, sendo o mais importante deles a escola elementar. Eles se tornam mais explícitos com a passagem da adolescência à vida adulta, quando aprendemos a cuidar de nossos próprios assuntos, libertando-nos da dependência familiar ou do casulo da vida infantil e da primeira adolescência.
Qualquer que seja o processo pelo qual “adquirimos” a nossa “moral”, ela pode influenciar nosso comportamento corrente, ou nossas iniciativas e empreendimentos – não necessariamente, contudo, pois todas as situações são possíveis, em termos de comportamentos individuais, mesmo os mais degradantes e abomináveis (como muitos tiranos já provaram ao longo da história. A moral pode, certamente, atuar como um freio ético a determinadas ações questionáveis de nossa parte – motivadas pelo já referido interesse próprio ou por puro egoísmo, o que são atitudes “normais”, digamos assim – ou então, ao contrário, contribuir para tomadas de posição francamente prejudiciais a terceiros, embora benéficas, no sentido estrito, ao próprio indivíduo.
A moral não existe apenas no plano individual, ou sobretudo ela justamente não existe primordialmente no contexto pessoal; ela costuma ser coletiva, ou social; em outros termos, como animais gregários, sempre aderimos à moral do “nosso grupo”. Existem movimentos, ou agremiações, fortemente influenciados por determinados princípios, que compõem a sua “moral”, nem sempre de modo explícito, mas determinados partidos, que pretendem encarnar a “razão da história”, acreditam que possuem uma moral superior, qualitativamente mais legítima do que a “moral comum”, de simples indivíduos não especialmente motivados e orientados para a ação coletiva.
O título deste pequeno ensaio retoma, no sentido individual justamente, o título similar de um obscuro opúsculo de Leon Trotsky – nome de guerra de Lev Davidovitch Bronstein – um dos mais famosos revolucionários russos, conhecido por ser um intelectual de prestígio, pelo menos ao lado de tiranos mais toscos, como Stalin (que aliás o mandou matar). Tentando justificar suas ações típicas de “terrorismo de Estado”, empreendidas durante a guerra civil da Rússia logo após a tomada violenta do poder pelos bolcheviques, Trotsky compôs seu livrinho – A Moral Deles e a Nossa – para justificar a existência e a aplicação válida do que chamou de “moral revolucionária”, que seria obviamente superior à simples “moral burguesa”; em nome da primeira, seria não apenas legítimo, mas igualmente necessário, reprimir e, no limite, eliminar burgueses reacionários e outros “inimigos da revolução”, uma vez que não haveria restrições morais quando se caminhava no “sentido da História” (em maiúsculas, como convém).
Trata-se, obviamente de uma fraude moral, mas muitos acreditam que o mundo pode, sim, ser organizado em termos desses dois conceitos opostos, “nós” e “eles”, ou seja, os que estão “a favor” da História e todos os demais, que podem ser simplesmente afastados do caminho e, se necessário, eliminados. Mas foi pensando nesse livrinho deplorável, nessa moral amoral, e contemplando o festival de imoralidades amorais, com que somos confrontados nos últimos anos – mesmo contra a nossa vontade – que tive a ideia de redigir algumas breves indicações sobre o que separa a moral “deles”, se é que eles possuem alguma, da minha, não sistemática, não pensada nesses termos, mas ainda assim alguma moral, se o termo se aplica. Mesmo de maneira improvisada, ou estereotipada, arrisco-me a fazer este conjunto de pequenas distinções que percorrem meu pensamento um pouco todos os dias:

Pequenas “pérolas” da moral deles e a minha

1) Eles gostam de ditadores e toleram ditaduras; eu abomino ambos;
2) Eles querem controlar a imprensa; e a quero totalmente livre;
3) Eles defendem direitos coletivos; eu prezo oportunidades para todos, com base na responsabilidade individual;
4) Eles gostam do Estado e o querem grande; eu desconfio o Estado e o quero controlado pelos cidadãos;
5) Eles acham que o mercado cria desigualdades e deve ser estreitamente controlado; eu acho que o mercado é um espaço neutro, para trocas livres, sem barreiras;
6) Eles se comprazem com um guia qualquer; eu prefiro apostar na liberdade humana;
7) Eles acham que resolvem todos os problemas sociais pela distribuição; eu prefiro investir na qualificação dos agentes para a produção;
7) Eles querem resolver o problema da desigualdade pela repartição dos estoques; eu gostaria que todos ficassem afluentes pelo incremento dos fluxos;
8) Eles abominam o capitalismo financeiro, taxando-o de improdutivo; eu considero esse tipo de mercado não muito diferente dos demais e igualmente produtivo;
9) Eles consideram que a justiça tem de ser administrada de cima; eu prefiro apostar na capacidade dos homens resolverem pendências de comum acordo, sem imposições de princípio de qualquer parte;
10) Eles acham que o mundo se divide entre os da esquerda, eles, e os da direita, aqueles que não concordam com eles; em lugar de progressistas eles são, na verdade, reacionários, pois querem fazer o mundo andar para trás, segundo velhas concepções do século XIX;
11) Eles não recuam diante de nenhum impedimento moral, para alcançar seus objetivos; eu acredito que os fins não justificam os meios;
12) Eles acreditam que uma mentira progressista vale mais do que uma verdade reacionária; certas coisas, para mim, não possuem adjetivos.

Brasília, 2 de janeiro de 2012

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Eu voto Distrital; vote você também (uma boa campanha)

Por princípio, e como regra de conduta pessoal, eu nunca sigo correntes, não faço campanhas coletivas, não sigo nenhum grupo, partido, igreja, movimentos, não faço parte de nenhum clube (a não ser um totalmente virtual, o clube filosófico-racionalista dos bem-pensantes e dos céticos saudáveis, que na verdade não compõem um movimento, tão somente uma orientação intelectual e um modo de vida).
Mesmo não fazendo parte de nenhuma campanha, não hesito em apoiar as boas causas, aquelas que podem, eventualmente, transformar o Brasil em um país melhor do que ele é.
E o que é o Brasil, atualmente?
Posso estar sendo injusto com os justos, mas eu vejo uma classe política dominada por "espertos", no sentido mais negativo da palavra, quando não são desonestos intelectuais ou transgressores pura e simplesmente. Transgressores da lei e dos bons costumes, da ética e da moralidade, e de muitas coisas mais.
Vejo um país cuja educação se degrada todos os dias, que constrói para si mesmo um roteiro de decadência, de baixo crescimento e de gastos irracionais, cujos custos serão assumidos por esta e pelas duas gerações seguintes.
Temos, sim, muitos problemas sociais, econômicos, educacionais, e temos sobretudo um problema de disfuncionalidade da vida pública.
Por isso creio que, mesmo sem ser o remédio milagre, sequer a solução ideal, o sistema de voto distrital pode representar um início de moralização da vida política nacional.
Por isso me associo a esta campanha e acredito que todas as pessoas de boa vontade, pessoas inteligentes que desejam um país melhor, deveriam também se associar a esta campanha.
Paulo Roberto de Almeida


Oi
O NOVO VÍDEO DO #EUVOTODISTRITAL ESTÁ NO AR

Agora mesmo passamos de 70 mil pessoas que apóiam o voto distrital. Isto só aconteceu por causa do seu empenho em divulgar. É muito importante que cada um de nós mobilize mais pessoas para assinarem a petição do #EuVotoDistrital e juntos mudarmos o Brasil.

Se você queria uma nova maneira para divulgar o voto distrital, agora ela existe. Os apoiadores do movimento criaram um vídeo incrível sobre o movimento com a intenção de divulgar ainda mais essa causa de uma forma fácil e rápida. Ele é a nossa cara: vivo, diverso e traduz o sonho de mudança.

Nosso desafio é espalhar esse vídeo e fazer com que cada brasileiro também sinta esse sonho

DIVULGUE JÁ PARA TODOS OS SEUS AMIGOS, FAMILIARES... PARA TODA A SUA REDE! PEÇA PARA ELES ASSINAREM A PETIÇÃO


Até mais!
Beatriz, Emygdio, Pablo e Vinícius

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Movimento #EuVotoDistrital
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Remover pralmeida@me.com desta lista de envio:

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Minha moral e a deles...

Minha moral e a deles...
(uma declaração de princípios)
Paulo Roberto de Almeida

O título acima representa uma paráfrase, ligeiramente invertida, de um pequeno panfleto redigido em 1938 por Leon Trotsky, então exilado no México: A Moral Deles e a Nossa. Meu texto, não apenas em função da inversão pronominal e da redução ao singular, se situa, decididamente, nas antípodas do espírito bolchevique e pretensamente revolucionário do exilado do stalinismo triunfante (e que se juntaria, macabramente, às suas vítimas dois anos mais tarde). Em seu panfleto cheio de circunvoluções filosóficas e justificativas de ocasião, Trotsky tentava legitimar a violência revolucionária praticada por Lênin e por ele mesmo, no curso da guerra civil que se seguiu ao putsch bolchevique, ao mesmo tempo em que condenava a violência de Stalin revelada nos processos de Moscou, de eliminação dos velhos bolcheviques, como sendo, segundo ele, uma moral degradada, uma violência anti-revolucionária e uma política degenerada, que objetivamente não servia à causa do socialismo.
Meu texto não pretende justificar nada, tanto porque eu não defendo governos ou regimes e não preciso legitimar nenhum poder político constituído, que não seja o poder da inteligência e o regime da razão. Meu texto visa apenas acertar as contas comigo mesmo, algo obviamente dispensável em condições normais de pressão e de temperatura, mas que se afigura necessário quando o mundo à nossa volta se torna um pouco confuso, pelo crepitar de inteligências refulgindo sob os flashes e microfones, dando lições a torto e a direito (bem, mais num sentido do que no outro), passando lição de moral em gente que pensa diferente de si próprio, tentando justificar certas coisas que me parecem óbvias na sua platitude estúpida. Nessas horas, sentimos necessidade de identificar certas coisas e de estabelecer claramente, o que nos separa, o que me separa de certa categoria de pessoas.
Não pretendo fazer de minha parte um tratado de moral, mas como disse uma vez George Orwell, em tempos de desonestidade declarada, de enganação geral, o ato de contar a verdade pode ser revolucionário. Trata-se apenas de relatar certas coisas evidentes por si mesmas, de confirmar a adesão a princípios simples e cristalinos, de manter a dignidade pessoal mesmo quando a maioria se inclina para o um lado, mas você não hesita e tem certeza de que o caminho é pelo outro lado. Essa postura não tem a ver com qualquer condição pessoal ou profissional, ela apenas existe, ponto.
No plano exclusivamente pessoal, por exemplo, acredito que se deve manter a palavra dada, mesmo quando se enfrenta uma situação adversa, decorrente desses compromissos assumidos. Obviamente não estou falando de promessas de apoio a quem quer que seja, dado que circunstâncias mudam, as pessoas mudam, e situações novas se apresentam; refiro-me a empenho em cumprir o prometido, em manter-se fiel ao que foi acordado com base em negociações abertas e transparentes. Por isso mesmo tenho buscado preservar certos princípios que me parecem permanentes, aliás reafirmados menos de um ano atrás, numa declaração de princípios que me permito reproduzir novamente aqui, pois ela expressa fielmente o que penso.

Existem certas coisas que independem da idade, da condição pessoal ou profissional, da situação econômica, de crenças religiosas ou afiliações políticas. Existem certos valores intangíveis que não são determinados por interesses econômicos ou vantagens momentâneas, que transcendem uma análise de custo-benefício imediato, ou mesmo perspectivas de ganhos no médio ou longo prazo. São questões inegociáveis, pelo menos para os que acreditam nelas.
Refiro-me a uma determinada concepção do mundo, da vida, da conduta pessoal, do comportamento social, do comprometimento com a própria história de vida. Esses valores são os da integridade moral, da honestidade intelectual, do compromisso com a verdade, da busca do que é moralmente justo, do que pode ser uma aproximação ao que é eticamente correto, ao que é legitimamente válido fazer, dizer ou defender. A busca da verdade é um desses valores que se mantêm íntegros, mesmo na adversidade, mesmo no confronto com forças superiores, mesmo nas dificuldades temporárias, mesmo ao custo do sacrifício de vantagens pessoais, de situações estabelecidas, de retrocessos materiais.
Tenho buscado, ao longo de minha vida – em meus escritos, em minhas atividades profissionais, em minhas aulas, na exposição de minhas idéias, em meu site pessoal, em meus blogs, em listas de discussões, em todas as minhas intervenções públicas – expressar exatamente aquilo que penso, não como reflexo de sentimentos pessoais, impressões subjetivas ou desejos individuais, mas como resultado de pesquisas, de leituras, de reflexões confrontadas aos dados da realidade, do debate aberto, da defesa da racionalidade, do uso da lógica como instrumento supremo de exercício da razão, enfim, como produto da mais simples expressão daquilo que representa a dignidade da palavra adequada à questão posta, a correspondência exata do problema colocado com uma solução possível, apenas determinado pela lógica, pela razão e pela verdade tentativa. Em uma palavra, tenho buscado viver de uma maneira digna.
O que vou dizer agora poderia ser precedido por: “Acredito que...”, mas não vou fazê-lo, pois considero o que vem exposto a seguir como uma espécie de imperativo moral. Não se deve fazer concessões a interesses partidários, a interesses econômicos, a fundamentalismos religiosos, a vantagens pessoais. Apenas a busca da verdade deve guiar aqueles que estão comprometidos com o debate aberto, a honestidade intelectual, a dignidade da palavra dada. Entre os valores que devem ser defendidos, com toda a determinação, estão a busca da honestidade intelectual, do bem comum, da dignidade da pessoa humana, da defesa desses mesmos princípios contra interesses pecuniários, da luta contra a mentira, o roubo, a violação da dignidade individual, a mistificação dos fatos e a distorção de provas empíricas. A demagogia e a mentira devem ser combatidas independentemente de quem as expressam, a fraude e a desonestidade devem ser reprimidas em quaisquer circunstâncias, os formalismos processuais devem ser repelidos em nome das evidências intencionais, e todos devem ser responsabilizados pelas palavras ditas e pelos atos cometidos.
São apenas algumas questões de princípio que devem ficar claras a todos os que interagem comigo, por quaisquer meios ou veículos. Sempre defenderei as mesmas idéias e valores, independente do tempo e da temperatura, da hora e da situação, sem qualquer concessão a oportunismos e acomodações.
Poderia acrescentar, entre parênteses, que considero o Brasil, seu cenário político, suas lideranças nacionais, os responsáveis pela ordem jurídica e os chamados representantes da vontade popular como singularmente distantes desses ideais, mas não vou fazê-lo, neste momento, pois creio que não é o caso de adentrar em uma discussão específica a uma situação. Esta é uma declaração de princípios, e como tal deve restar. Meus leitores inteligentes sabem do que estou falando; aqueles politicamente motivados, ideologicamente determinados, podem recusar minhas palavras, mas sou indiferente a esse tipo de contestação.
Acho que os que freqüentam os meus espaços de interação – site, blogs, listas, aulas, entrevistas e exposições orais e diretas – já sabem disso. Eu não precisaria relembrar tudo isso se, de vez em quando, algum espírito partidário ou fundamentalista, não tentasse colocar em dúvida esses princípios. Isto vale para minha conduta relacional (e pessoal), tanto quanto para a condução dos espaços de interação que me são dados administrar ou deles participar.
Esta é a minha moral, e por meio dela pode-se perceber que ela se distingue fundamentalmente da moral deles. Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de setembro de 2009.
Shanghai, 10 de junho de 2010.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Fracasso politico, demissao do cargo: se a moda pega...

Já são dois: o presidente da Alemanha e o primeiro-ministro do Japão.
O primeiro por terem reagido mal a suas observações sobre o envio de tropas ao Afeganistão como importantes para assegurar a presença da Alemanha no mundo.
O segundo por não ter conseguido cumprir uma promessa de campanha: a de retirar as forças americanas estacionadas na ilha de Okinawa.
Em outros países, políticos pegos em situações constrangedoras, de ordem moral (costumes, corrupção, malversação de fundos públicos) ou outra, acabam se demitindo dos cargos e abandonando a vida política.

Não vejo isso acontecendo no Brasil. Aliás, pelo andar da carruagem, não há nenhum risco de que isso aconteça any time soon, ou seja, renúncia voluntária, de vergonha, que não seja sob a ameaça iminente de um processo político.
Acho que nossos políticos já perderam a vergonha, se é que algum dia a tiveram...

Paulo Roberto de Almeida

sábado, 24 de abril de 2010

2071) Da (i)moralidade na coisa publica: um comentario de leitor

De todos os posts que "cometi" neste blog, a maior parte permaneceu obscura, alguns tiveram alguma repercussão, mas só um alcançou, por assim dizer, "sucesso absoluto", e isso por razões absolutamente estapafúrdias, que não tem nada a ver com seu objeto próprio. Inclusive, até hoje, não se obteve esclarecimento cabal quanto ao fundo da questão, que é este:
QUANTO GANHAM, POR MÊS, OU POR SESSÃO, OS CONSELHEIROS DA PETROBRAS?

Reproduzo aqui o link original do post, para saber do que estou falando (se alguém conseguir encontrar ordem, racionalidade, informação fiável, debate ordenado, na barafunda que se criou em torno dele):

quinta-feira, 18 de junho de 2009
1165) Conselheiros da Petrobras: 76 mil por mes

Quem desejar voltar a esse assunto horripilante, e frustrante (para todos aqueles que desejam ter uma informação fiável e não conseguem), que o faça por sua própria conta e risco, sabendo que sempre haverá um sabujo da Petrobras disposto a fazer uma cortina de fumaça sobre o assunto, e a esconder os dados reais.
Aliás, uma pergunta se impõe: tendo a candidata oficial ao cargo presidencial deixado o posto de Ministra-Chefe da Casa Civil, ela permanece como Conselheira da Petrobras? Ou foi substituída pela sua preposta e braço direito, que entende tanto de petróleo quanto eu de ictiologia?

Bem, sem mais delongas, pretendo apenas postar aqui o comentário mais recente encaminhado a esse fatídico post de "sucesso", que na verdade se dirige mais à moralidade na vida pública em geral do que ao caso específico da Petrobras, e é nessa condição e com esse objetivo que eu estou retirando-o da relativa obscuridade de uma nota de rodapé para este destaque de postagem independente.
Transcrevo em itálico:

Antonio Salles disse...
Ao buscar confirmar a autenticidade da informação sobre conselheiros da Petrobras, descobri este Blog. Li, atentamente, os comentários postados e percebi que aqui estão representados, boa parte de nossos cidadãos. Um jornalista que repassa uma informação sem ter buscado esclarecer adequadamente sua veracidade, alguns que se indignam com a aparente “verdade” que, por mais escandalosa que seja, seria apenas mais uma das inúmeras imoralidades cometidas por nossos atuais governantes e outros que rapidamente passam, deixando recados de indignação, seja com a notícia não confirmada, seja com a imoralidade apontada, além de todos aqueles que não se deram ao “luxo” de comentar, pois, afinal, “não mudaria nada”. Até aí, tudo bem, mas o que incomoda é um “anônimo”, certamente pouco letrado, seguidor do ignorante mor deste país, querendo se fazer passar por um cidadão pensante e de espírito crítico que, mesmo diante do “mea-culpa” nas entrelinhas do jornalista, descarrega sua raiva (típica de sua “classe”) e expõe sua completa falta de senso moral, atentando para os números e não à IMORALIDADE deste e de outros atos cometidos por essa “corja” que tomou de assalto o planalto, com a cumplicidade do voto da classe mais ignorante do país, aliada a banqueiros, empresários e outros corruptos (ou ingênuos) que visavam “lucrar” algo com essa nova onda esquerdista que colocou bandidos e terroristas no poder. O que mais me espanta nos últimos anos é perceber que aquela imagem do povo brasileiro “bom, trabalhador e honesto”, é um mito, criado há décadas, pois, independente da classe social, quase a totalidade desse povo, somente é “honesta” por falta de oportunidade. Quem vota em corrupto, troca voto por “bolsa-família”, etc... é tão corrupto quanto! E, como médico, devo informar ao ex-anônimo Alexandre Kleim que, o que o matará não é a raiva de ver comentários como esse, mas o desleixo e a falta de cuidado com sua pessoa.É preciso dar um basta nesta leva de ignorantes que passou a se julgar acima da lei e da moral!
Antonio Salles – Campo Grande - MS


A propósito dessa questão, permito-me remeter a um antigo trabalho meu:
1340. “A Ética na (e da) Política: Existe alguma diferença entre a esquerda e a direita?
Brasília, 13 outubro 2004, 9 p. Ensaio sobre a moralidade na política.
Espaço Acadêmico (nº 43, dezembro 2004).