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domingo, 7 de outubro de 2012

Diplomacia e burocracia: rapidamente como uma tartaruga


Diplomacia brasileira fica parada no excesso de burocraciaFavoritar

Itamaraty enfrenta regras demais, que dificultam parcerias, missões e ambições


ProSavana: Brasil apoia a agricultura de Moçambique, por meio da Embrapa, com orçamento de R$ 500 milhões
Foto: DivulgaçãoProSavana: Brasil apoia a agricultura de Moçambique, por meio da Embrapa, com orçamento de R$ 500 milhões Divulgação
BRASÍLIA Em 2004, em uma visita ao Senegal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acolheu um pedido de seus anfitriões: um avião para ajudar a combater a praga de gafanhotos que arrasava as lavouras do país, mas a aeronave só foi entregue ao governo do país africano quatro anos depois, porque o processo se alongou com idas e vindas de missões e uma demora na aprovação pelo Congresso.
Esse caso emblemático revela como é inflexível e morosa a burocracia na esfera diplomática brasileira, o que prejudica as crescentes aspirações geopolíticas do país no mundo. Preocupada com a antiquada legislação, criada nos anos 80, após o escândalo das polonetas calote do governo Polonês sobre empréstimos do Brasil , a presidente Dilma Rousseff determinou a elaboração de estudos para ajustar o sistema atual, que atrapalha investimentos, acordos de cooperação e até mesmo doações.
Mediante apoios financeiros ou de cooperação técnica, o Brasil busca aplicar uma teoria de Joseph Nye, cientista político da Universidade de Harvard, que vem se disseminando no Itamaraty desde o início do governo Lula: o chamado soft power. Nye usa o conceito para definir o poder brando, pelo qual um país exerce sua hegemonia com parcerias, ações culturais ou ideológicas livres de imposições bélicas ou comerciais agressivas. O problema é que as regras nacionais hoje impedem, por exemplo, que o Brasil firme acordos livremente com países que tenham dívida conosco ou antes de uma chancela do Senado, entre outros entraves.
Às vezes, uma dívida de US$ 5 milhões impede um negócio de US$ 500 milhões disse uma fonte da área diplomática.
Segundo o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Márcio Cozendey, o Brasil tem crédito de US$ 2,1 bilhões, excluídos os apoios do BNDES às exportações, com alguns países africanos e caribenhos por empréstimos feitos no passado, entre os quais Senegal, Antígua e Barbuda e São Tomé e Príncipe. Ele confirmou que existe uma discussão no governo para adequar as normas do Brasil às aspirações atuais.
Cooperação para melhorar imagem lá fora
Entre as alternativas em estudo, está a criação de acordos guarda-chuva que permitam os mesmos parâmetros e critérios na renegociação de diversas dívidas, o que deve acelerar o processo de análise e aprovação, que hoje leva em torno de dois anos. Outra medida em estudo é tornar os chamados empréstimos concessionais voltados para países de economias menos favorecidas mais atraentes, aplicando descontos maiores e taxas menores, conforme o mercado. Hoje, os empréstimos são corrigidos em 2% ao ano ou pela taxa Libor.
Como hoje as taxas estão muito baixas, a ideia é que não fosse uma coisa fixa, mas com descontos sob condições de mercado. É um pouco como o Fundo Monetário Internacional (FMI) procede quando tem um programa de dívida com países em desenvolvimento. Eles dizem: o país pode pegar empréstimos no mercado até tanto e, acima disso, só se forem concessionais, que têm 35% de desconto, seja no prazo, seja na taxa explicou Cozendey.
Os acordos de cooperação são uma tentativa de o Brasil reforçar a presença no mercado internacional.
O Brasil historicamente era um país mais receptor do que doador em parcerias, mas nos últimos anos surgiram os modelos de cooperação Sul-Sul disse o embaixador Fernando de Abreu, presidente da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), entidade ligada ao Itamaraty.
Por meio da ABC, são possíveis cooperações técnicas, livres de amarras, mas para isso é necessário apoio dos parlamentares. Hoje, há acordos em vigor via ABC com 95 países (US$ 120 milhões até 2014), mas a demanda é muito superior à capacidade da agência.
Para o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, a apreciação dos acordos internacionais deve ser feita caso a caso, mas de forma mais rápida.

Soft Power diplomático: parceria com Japão é modelo para o BrasilFavoritar

ProSavana quer levar à savana de Moçambique o mesmo avanço agropecuário do cerrado brasileiro

BRASÍLIA O modelo de apoio brasileiro a países da África na linha soft power é livre de condicionalidades, mas não ignora boas oportunidades de negócios para as empresas nacionais. Exemplo do modelo de parcerias bilionárias que o Brasil quer incrementar é o ProSavana, cooperação entre Brasil e Japão que pretende levar à savana de Moçambique o mesmo avanço agropecuário que o cerrado brasileiro teve nas últimas décadas, inclusive com o apoio do próprio Japão, pelo Programa de Desenvolvimento do Cerrado (Prodecer).
O ProSavana envolve a exportação de tecnologia pela Embrapa e tem orçamento de US$ 500 milhões dos governos em até 20 anos para investimentos no corredor de Nacala, região do Norte de Moçambique para onde serão destinados os recursos e a assessoria técnica. Paralelamente à cooperação, Brasil e Japão já convocaram suas instituições privadas para levantar um fundo de US$ 2 bilhões para efetivamente investir e aproveitar o ganho de produtividade que será possível obter em Nacala. O Japão investe também em capacidade de infraestrutura para escoamento da produção.
O fundo Nacala no Brasil está sendo organizado pela FGV Projetos e pela GV Agro, que atuaram como consultoras da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) no ProSavana. Projetos similares já foram desempenhados pela FGV para outro grupo de países da África (fundo de US$ 1,2 bilhão) e para a República Dominicana (US$ 500 milhões). A FGV já desenvolveu programas desse tipo em 12 países do Hemisfério Sul, sobretudo no setor agropecuário, levando em conta que a produção de alimentos precisará dobrar até 2050 para atender à demanda mundial.

Vale a pena desenvolver o biodiesel? - Fernando Lagares Távora


Vale a pena desenvolver o biodiesel?

A produção mundial de biodiesel, em 2010, foi de 19,5 bilhões de litros. Os continentes europeu e americano respondem por quase 80% dessa produção, com 13 bilhões de litros de biodiesel (US EIA, 2011). A estimativa para 2020 é de uma produção de 41,9 bilhões de litros (FAO, 2011)[1].
Em 2010, a capacidade total brasileira, já instalada, de produção de biodiesel alcançou 5,8 bilhões de litros ao passo que a demanda pelo combustível foi da ordem de 2,5 bilhões de litros, o que indica uma sobreinstalação de 137%[2]. Além disso, há grande disparidade no tamanho das usinas. Há casos, como no Mato Grosso e em Minas Gerais, em que a maior usina tem 191 e 126 vezes, respectivamente, a capacidade de produção da menor (MME, 2011).
Nos últimos dois anos, em decorrência da expansão significativa da capacidade ociosa da indústria de produção de biodiesel, têm surgido demandas recorrentes perante os poderes Executivos e Legislativos para criação de um novo marco regulatório para o combustível[3].
Entre as demandas mais comuns, ressaltadas, por exemplo, pelo Centro Brasileiro de Infraestrutura[4] – estão: i) incentivos à exportação do biocombustível; ii) estabelecimento de metas compulsórias mais robustas para mistura de biodiesel; iii) redução da carga tributária; iv) reformulação do sistema de leilões para a comercialização do produto; v) políticas mais inclusivas para a agricultura familiar; vi) fomento à diversificação de matérias-primas para a produção do biodiesel[5].
O grande problema decorrente do atendimento de demandas dessa natureza pode ser uma maior intervenção estatal no setor, o que acaba provocando distorções alocativas, já que parte das medidas modifica não só o preço pago pelo biodiesel, mas também o custo repassado para a sociedade.
Por outro lado, a falta de intervenção pode inviabilizar o desenvolvimento de uma indústria da qual o país dispõe de clara vantagem comparativa: não só terras abundantes, mas também inúmeras fontes de matéria-prima e um inestimável pacote tecnológico já desenvolvido.
Atualmente, o cenário produtivo de biodiesel é nebuloso: mais da metade da capacidade produtiva encontra-se ociosa; o país praticamente não exporta nada de biodiesel; a produção existente é altamente concentrada no insumo soja; o critério social ainda é cambaleante porque há necessidade de consolidação da participação da agricultura familiar, principalmente com uso de uma maior diversidade de matérias-primas; o custo tecnológico ainda é alto, pois o preço do biodiesel é superior ao do diesel; enfim, há vários temas a serem debatidos na consideração de proposta de um novo marco regulatório.

sábado, 6 de outubro de 2012

Tratado de Banimento Completo dos Testes Nucleares - 1996

Não nos iludamos: ainda não está em vigor, e dificilmente entrará em vigor, pela oposição dos grandes e de alguns pequenos que se estão nuclearizando...
Paulo Roberto de Almeida 

By ALISON MITCHELL
The New York Times, September 24, 1996

UNITED NATIONS, Sept. 24 -- President Clinton signed a treaty today that would ban all nuclear weapons testing and called on world leaders to take further steps to limit weapons of mass destruction. He also urged them to show 'zero tolerance' for international drug smuggling and for terrorism.
In an address to the 51st session of the United Nations General Assembly, Mr. Clinton noted that it was the second year in a row that he had asked diplomats and world leaders to take a strong stand against what he calls the 'new threats' of the post-cold-war era: Drug traffickers, terrorists and unsafeguarded weapons materials. 'Frankly, we have not done that yet,' Mr. Clinton said.
'Real zero tolerance requires us to isolate states that refuse to play by the rules we have all accepted for civilized behavior,' he said. 'As long as Iraq threatens its neighbors and people, as long as Iran supports and protects terrorists, as long as Libya refuses to give up the people who blew up Pan Am 103, they should not become full members of the family of nations.'
Mr. Clinton's annual visit to the United Nations was unusually brief -- less than two hours long -- and was coupled with a campaign rally later in New Jersey. It came at a time when the Administration has said it would use its Security Council veto to keep Boutros Boutros-Ghali, who the United States says has not initiated enough reform at the United Nations, from serving a second term as Secretary General.
Nonetheless, the President and the Secretary General met and posed for a photo together, with Mr. Boutros-Ghali smiling and Mr. Clinton looking stiff and solemn. Later Mr. Clinton said the question of Mr. Boutros-Ghali's tenure did not arise 'because he and everyone else knows our position,' adding, 'They know it's firm.'
Before delivering his address, Mr. Clinton used the same pen with which John F. Kennedy signed the Limited Test Ban Treaty in 1963 to sign the Comprehensive Test Ban Treaty. The comprehensive accord is intended to thwart the development of new generations of weapons by banning all nuclear explosions, underground and above ground, military or civilian, high yield or low yield.
The President called the treaty 'the longest-sought, hardest-fought prize in arms control history.'
An overwhelming majority of countries, including the five declared nuclear weapons powers -- the United States, Britain, China, France and Russia -- have now agreed to the treaty and the comprehensive ban. But India, which set off a nuclear explosion in 1974 and is believed to have a clandestine nuclear weapons program that it does not want to give up, has said it will not sign because the treaty does not set a date for the total elimination of nuclear weapons. Pakistan, which is also thought to have a covert nuclear program, has indicated that it will boycott the pact if India does.
The treaty will not go into effect for at least two years, and Clinton Administration officials say they hope India can be brought around by then. Without assent by India and other potential nuclear states, the treaty and its enforcement measures will not enter into force although countries that do ratify it will be required to observe its provisions.
The President, however, said today that the signatures of the five declared nuclear powers, along with those of the vast majority of countries, 'will immediately create an international norm against nuclear testing even before the treaty formally enters into force.'
'Some,' Mr. Clinton said in a reference to India, 'have complained that it does not mandate total nuclear disarmament by a date certain. I would say to them, do not forsake the benefits of this achievement by ignoring the tremendous progress we have already made toward that goal.' Representatives of about 60 countries signed the treaty by the end of the day.
The treaty, however, must also be approved by national legislatures. The makeup of the next Congress may determine whether the accord wins Senate ratification in the United States. The Republican platform repudiates the treaty as 'inconsistent with American security interests' and argues that the United States, in order to deter the threat of weapons of mass destruction from rogue states, will 'require the continuing maintenance and development of nuclear weapons and other periodic testing.'
This month the Senate indefinitely shelved a vote on another arms control measure, the Chemical Weapons Convention. 'I deeply regret that the United States Senate has not yet voted on the convention,' Mr. Clinton said. 'But I want to assure you and people throughout the world that I will not let this treaty die.'
Besides advocating the implementation of the chemical weapons treaty, the President called for five additional steps in arms control: freezing the production of nuclear bomb-making material; making further reductions in nuclear arsenals; stregthening measures against nuclear smuggling; improving compliance with a biological weapons treaty and banning anti-personnel land mines.
Mr. Clinton also urged United Nations members to adopt a declaration on crime and pledge to give no sanctuary to drug traffickers and terrorists. In a move that could help blunt Republican charges that he has been lax about fighting drugs, the President announced that the United States would provide more than $100 million in military equipment, services and training to Mexico, Colombia and other South American and Caribbean nations to 'stop the flow of drugs at the source.'
The United States owes $1.7 billion in back dues, peacekeeping fees and special assessments to the United Nations and its agencies, making it the country with the biggest debt to the United Nations. Mr. Clinton noted that America was also the organization's largest contributor and said he was committed to paying off the debt. He stressed that he also wanted to see further budget-cutting and streamlining of the world organization.
'In this time of challenge and change, the United Nations is more important than ever before,' he said, 'because our world is more interdependent than ever before. Most Americans know this.'

Pausa para... Fernando Pessoa (na tabacaria...)

Tabacaria
Fernando Pessoa

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos, 15-1-1928

O racismo em construcao no Brasil

MinC faz edital só para negros
Folha de S.Paulo, 6/10/2012


O anúncio do lançamento de editais exclusivos para criadores e produtores negros, feito anteontem pelo Ministério da Cultura, dividiu opiniões entre acadêmicos e artistas brasileiros. Enquanto parte defende os editais, que devem ser lançados no Dia da Consciência Negra (20/11), outros os consideram preconceituosos. ”É um absurdo. Se eu fosse negro, ficaria muito puto. É uma coisa de demência, ligada à culpa cristã de classe média branca. É só um passo a mais pelo ódio racial que está sendo potencializado desde que o PT entrou no poder”, disse o cantor Lobão.
Para o autor de “Cidade de Deus”, Paulo Lins, a medida anunciada pela ministra Marta Suplicy é boa e necessária. ”O negro tem que ter privilégio e inclusão em tudo. Ele foi sacrificado durante 400 anos de escravidão no país.” KL Jay, do Racionais MC’s, concorda com Lins sobre a dívida que o Brasil tem com os descendentes de escravos. “O país me deve muito mais.” Já o cineasta Zelito Viana, que produziu “Terra em Transe” (1967) e “Cabra Marcado Para Morrer” (1985), considera a medida “racista”. “Agora haverá editais também para anão e para mulher?”
Para o professor de ciência política da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) João Feres Júnior, a medida é importante porque a cultura brasileira é “extremamente branco-cêntrica”. ”Os produtores de narrativas são quase que exclusivamente brancos ou falam de uma perspectiva da qual a questão do racismo e da discriminação é invisível.” O compositor, pesquisador e escritor Nei Lopes concorda com Feres Júnior. ”Há uma grande ‘invisibilização’ da produção do povo negro nos circuitos da ação cultural”, afirmou Lopes.
Danilo Miranda, diretor do Sesc-SP, disse ter inicialmente se assustado com o anúncio. “Achei que seria inadequado para um país que respeita a igualdade. Mas, depois, achei que se tratava de algo adequado para tornar o Brasil um país mais justo.”
LEGALIDADE
Para o sociólogo Demétrio Magnoli, a medida é discriminatória porque viola a igualdade constitucional entre os cidadãos, mas hoje “infelizmente” é legal graças à decisão do Supremo Tribunal Federal a favor das cotas raciais no vestibular da universidade de Brasília (UnB).

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Alemanha, 22 anos depois da reunificacao - Deutsche Welle


Alemanha: 22 anos após unificação, ajuda ao leste gera polêmica

Deutsche Welle, 3 de outubro de 2012
Desde o colapso da antiga Alemanha Oriental, estados do leste do país são financiados com bilhões de euros. Hoje, porém, cada vez mais cidades localizadas no lado ocidental necessitam de apoio financeiro.
Passados 22 anos desde a reunificação da Alemanha, a distância entre os estados do Leste e do Oeste voltou a aumentar. O Produto Interno Bruto (PIB) dos antigos estados orientais caiu 2% e corresponde, hoje, a 71% do PIB dos ocidentais. Diante de tais perspectivas, jovens abandonam suas cidades e deixam uma lacuna de mão de obra jovem no Leste, onde os salários são quase 25% abaixo do nível verificado no Oeste.
Mas regiões da parte ocidental, como a do Vale do rio Ruhr, também têm de lidar com as consequências das mudanças estruturais pós-reunificação. Há muito tempo se sabe que as linhas de financiamento precisam ser reorganizadas. Passada a euforia da reunificação, a realidade bate à porta.
Previsão equivocada
Errar é humano, e Erich Honecker, que governou a Alemanha Oriental entre 1976 e 1989, passou por tal experiência de maneira trágica em seu último ano no cargo. Em janeiro de 1989, os estados e o chefe de governo do Leste fizeram uma previsão que, dez meses mais tarde, se revelaria um grande engano.
Honecker preocupava-se com o futuro do Muro de Berlim. "Ele ainda vai existir dentro de 50 ou 100 anos, se os motivos para a sua existência não forem eliminados", acreditava. Segundo seu ponto de vista dogmático distorcido, o capitalismo era nessa época o maior obstáculo para a queda do "muro de proteção antifascista".
Na Alemanha reunificada, o capitalismo e a economia de mercado mostram-se como uma forma social resistente e compassiva. Para Honecker, se a economia de mercado não fosse mais eficiente do que a economia planificada, a antiga República Democrática Alemã (RDA), a Alemanha Oriental, ainda existiria.
23 de agosto de 1990
O trabalho de reorganizar um país dividido por quase 41 anos foi e é uma tarefa sem precedentes. E, por isso mesmo, erros foram e são cometidos. Mas o mais importante nesse processo é que a população da Alemanha Oriental se decidiu contra a opressão estatal e a favor da liberdade e da unificação.
A condição para isso foi a resolução da Câmara do Povo, em 23 de Agosto de 1990, sobre a "entrada da Alemanha Oriental no âmbito de aplicação da Constituição da República Federativa da Alemanha, de acordo com seu Artigo 23".
O Dia da Unidade Alemã, 3 de Outubro de 1990, marcou também o auge de uma impressionante mudança. No último ano de sua existência, a RDA se tornou realmente uma república democrática alemã, o que nunca havia sido.
Pacto de Solidariedade 
De acordo com uma premissa do ex-chanceler federal alemão Willy Brandt, o que junto pertence deve crescer junto politicamente, geograficamente e socialmente. Em um primeiro momento, a economia não era incluída.
A indústria do Leste não era competitiva no contexto internacional, havia empregados demais, a produtividade era baixa, e a qualidade dos produtos era inferior aos do Oeste. Cerca de 14 mil empresas estatais foram vendidas em poucos anos. A antiga Alemanha Oriental se encontrava em uma espécie de "liquidação de final de estação".
Com o chamado Pacto de Solidariedade um gigantesco programa de cerca de 1,4 trilhão de euros foram injetados no Leste alemão entre 1990 e 2010, sendo que cerca de dois terços foram e são investidos em serviços sociais. O histórico contrato é válido até 2019 e, até lá, os recursos financeiros para o Leste serão reduzidos gradativamente.
Distribuição de recursos
Do ponto de vista do Leste alemão, o fato da esgotada economia socialista ter sido saneada com a ajuda do poder econômico da antiga Alemanha Ocidental foi um golpe de sorte. Já para os alemães do Oeste, a regulação do Pacto Solidário juntamente com a introdução de novos impostos foi algo natural. Mas, passados 21 anos desde a implementação do pacto, o financiamento do Leste enfrenta dificuldades de aceitação.
A distribuição desse suporte financeiro é particularmente polêmica. Há muito tempo, em algumas regiões do Oeste verificam-se sintomas parecidos com os dos novos estados orientais pós-reunificação: desaparecimento da indústria, alta taxa de desemprego, emigração e municípios endividados.
Pede-se cada vez mais por uma distribuição de recursos utilizando o critério de necessidade principalmente nas velhas regiões industriais do Vale dos rios Ruhr e Reno. Até mesmo políticos do Leste alemão reconhecem o pedido do Oeste. Papéis invertidos
Oberhausen, Gelsenkirchen e Wanne-Eickel, na porção ocidental do país, por exemplo, não estão em melhores condições do que alguns municípios do Leste. Por vezes, a situação chega a ser pior. Com isso, alguns prefeitos do Oeste não querem mais ter a obrigação de financiar o lado oriental. E o mesmo sentem cada vez mais alemães do lado ocidental, que vivenciam o fechamento de bibliotecas, piscinas públicas e repartições públicas.
Uma coisa é certa: a síndrome de ajuda enfraqueceu-se no Oeste e a posição de vítima da parte oriental da Alemanha é vista agora de forma crítica. Muitos municípios dos Estados orientais da Saxônia e da Turíngia não precisam mais de subsídios e, em contrapartida, parte do norte da Alemanha e da região do Vale do rio Ruhr estão endividados há muito tempo.
O Pacto da Solidariedade em sua configuração atual será assunto após as eleições parlamentares de 2013 na Alemanha. Ao final das discussões, pode ser que seja criado um pacto de solidariedade para todos os estados alemães.

O ministro que lava mais branco e o elefante (branco, claro...) - Reinaldo Azevedo

Tenho certas simpatias (livros, viagens, gastronomia, cultura, inteligência) e muitas antipatias (ignorância deliberada, má-fé, desonestidade intelectual, uso dos cargos públicos para vantagens pessoais, e muitas outras mais).
Entendo que as pessoas devam atuar com a melhor informação disponível -- hoje prestada de graça a todos nós, graças ao Santo Google -- e se pautar pela lógica formal, ou seja, regras de mínima coerência nos argumentos, sua consistência com os dados empíricos, evidências formais com base em documentos e em propósitos (o famoso "a quem beneficia?"), etc.
Confesso que começo a sentir certo constrangimento, ou melhor, uma vergonha pessoal, ao assistir a verborragia maluca de certas nulidades que ascenderam ao STF sem a devida preparação, entre os quais dois da safra verdadeiramente companheira, homens que foram colocados ali para facilitar a obra indecorosa dos companheiros. O ministro que lava mais branco é certamente constrangedor, para quem é obrigado a assisti-lo argumentar no vazio, e provavelmente também para os seus companheiros de toga (ops, com perdão pela expressão comum). Tem outro, que também está ali para cumprir tarefas partidárias, e que deve dar tratos a bola em sua argumentação, pois não tem cultura jurídica, ou sequer cultura, para fazê-lo de forma consistente.
Enfim, assim caminhamos para a mediocridade neste país, no qual a imprensa também se degrada, ao não cultivar a inteligência. Fiquemos com certos raciocínios lógicos, e aqui vamos atacar de elefante. Graças ao ministro que lava mais branco.
Estamos em plena época, como diria Millor Fernandes, das fábulas fabulosas...
Paulo Roberto de Almeida 


Ricardo Azevedo, 4/10/2012

O ministro Ricardo Lewadowski protagonizou ontem um dos momentos mais constrangedores do Supremo Tribunal Federal. Se, na segunda-feira, Celso de Mello havia apelado a Cícero, a Santo Agostinho e a Santo Tomás de Aquino, lembrando-nos, afinal, de que o STF é um corte constitucional que honra o saber acumulado de gerações, Lewandowski ontem não se fez de rogado. Malsucedido em sua viagem pela Antiguidade Clássica, quando atribuiu ao escultor Fídias uma frase do pintor Apeles, houve por bem não ousar no terreno da alta cultura — já que o Google trai quem não sabe o que procura — e se deixou levar pela retórica, digamos, popularesca, lustrando os que, afinal de contas, preferiram não acumular saber nenhum. Ao defender a inocência de José Genoino, contou a fábula dos cegos que apalpam um elefante. O que tocou na cauda disse que o bicho se parecia com uma vassoura; o que tocou a orelha, com um leque; o que tocou a tromba… Bem, leitores, não quero que este texto descambe para a linguagem de botequim.
O que estaria querendo dizer o Esopo de São Bernardo? O que ou quem seria o elefante? Quais personagens representariam o papel dos cegos? Só uma conclusão é possível. O processo estaria no lugar do paquiderme, e seriam os demais ministros, privados da visão de conjunto, a apalpar, literalmente às cegas, a realidade, colhendo, todos eles, não mais do que impressões parciais da realidade. Ainda bem que lá estava o professor Lewandowski para, com mais aguda vista do que todos os outros homens, iluminar os fatos. Só ele saberia, porque ministro cuidadoso, que um elefante não é uma vassoura, um leque ou uma mangueira d’água… Como toda fábula, a do ministro também tinha uma moral: “Em terra de cegos, quem tem olhos absolve petistas”… Alguém deveria, nem que fosse por caridade, proteger Lewandowski de si mesmo. Como todo o respeito, está se transformando numa figura patética.
A defesa de Genoino
O ministro voltou a ser implacável com Valério e seus associados. Também resolveu não queimar vela para mau defunto e condenou Delúbio Soares por corrupção ativa. O próprio ex-tesoureiro já deixou claro que sabe qual é seu destino, anunciando que vai cumpri-lo como mais uma tarefa partidária. Quem mobilizou o ânimo militante de Lewandowski foi mesmo José Genoino. Ali não estava o juiz; ali não estava o revisor do processo; ali não estava o membro da corte suprema do país. Ouviu-se foi a voz de um militante. Havia mesmo indignação na sua voz. A sua maneira, ele procurara ser o Celso de Mello do outro lado.
Notem bem, leitoras e leitores: não estou aqui a exigir que Lewandowski condene quem acho que deva ser condenado para que, então, eu o elogie. Nada disso! Estou a cobrar outra coisa: um pouco de decoro na argumentação. A acusação de que se cuidava ontem era “corrupção ativa”. O ministro simplesmente ignorou o objeto que estava em causa e partiu para defender a suposta legalidade de um empréstimo que o Rural teria feito ao PT, que contara com a assinatura de Genoino.
E se esforçou, então, com mais energia do que a própria defesa do ex-presidente do PT, para demonstrar que Genoino só assinara os documentos do empréstimo que a Justiça considera falsos porque, afinal, fazê-lo estava entre as suas atribuições. Assim, entende-se, condenar Genoino seria aderir à tese da “responsabilidade objetiva”: só porque estava no cargo, seria então culpado. Calma lá! O esquema que passou a ser chamado de “mensalão” era, como resta claro dos depoimentos até mesmo de Delúbio, uma decisão do comando do PT — com a anuência de Lula, é evidente! Genoino não era um qualquer nessa estrutura. Ao contrário! Estava na presidência da legenda, sucedendo José Dirceu. Não se chega ao topo da hierarquia partidária sem conhecer suas entranhas, seus métodos, suas escolhas.
E como Genoino conhecia! Ele era, aliás, um dos cardeais do partido, talvez a sua cabeça mais ágil para lidar com assuntos do Congresso. Pode-se acusá-lo de muita coisa, menos de ser idiota. Então Delúbio lhe apresentava documentos, e ele os ia assinando assim, sem mais nem menos? Então era ele o presidente do partido que, de forma deliberada, comprava a base aliada, e devemos acreditar que ignorava a lambança? Parte da dinheirama repassada aos corruptos passivos saiu desses empréstimos chancelados por Genoino.
Lewandowski, não obstante, insiste que ele não sabia de nada. Vá lá… Se acha isso mesmo, que diga. Mas que o faça julgando o que está sendo julgado. E não se cuidava, ali, da veracidade ou não dos empréstimos, mas da compra de apoio parlamentar. Num momento em que esperou encontrar um socorro do ministro Marco Aurélio, deu-se mal. Tentando conquistar a solidariedade do outro para a sua tese de que assinatura de Genoino nos empréstimos era parte de suas atribuições, teve de ouvir uma resposta vexaminosa, que poderia ser resumida assim: “Sim, ministro, assinar o documento era parte das atribuições de Genoino, mas não um empréstimo fraudulento”.
Um ministro ligeirinho
O ministro surpreendeu a muitos. O Lewandowski que não tem demonstrado especial amor pela celeridade parecia ontem ter comido a sua lata do superespinafre. Quando se imaginava que a sessão caminharia para o fim, ele fez questão de votar — a tempo ao menos de o Jornal Nacional informar que o relator havia absolvido Genoino. Com quantos votos contará na corte? Não dá para saber. Mas parece que o PT não anda a desprezar qualquer nesga de esperança. Nesta quinta, ouviremos, certo como dois e dois são quatro, o seu voto absolvendo José Dirceu.
Lewandowski também resolveu apelar a Kafka, sugerindo que Genoino é vítima de um julgamento discricionário, que apela ao absurdo. É uma má leitura da realidade e… de Kafka. Josef K., a personagem de “O Processo”, é levado pelas autoridades, acusado de um crime que nem ele próprio sabe qual é. As lambanças que unem os petistas, Marcos Valério e os bancos são conhecidas. Em parte delas, há a assinatura de José Genoino!
No extremo da argumentação insana, o ministro cantou as glórias de Genoino e nos contou que a sua assinatura só foi exigida porque, afinal, ela conferia credibilidade ao documento, segurança. Entendi, então, que o homem que assinava uma peça do que o próprio tribunal considera uma tramoia não era o presidente do partido, aquele que era um dos chefes da organização, que conhecia, por óbvio, seus segredos, seus projetos e seus atos. Nada disso! O Genoino que assinava era o outro, o homem sem mácula. Na formulação de Lewandowski, o PT até poderia ser alvo de algumas desconfianças, mas Genoino jamais!
Curioso! Como Lewandowski deve absolver também José Dirceu, entendo que o ministro quer nos fazer concluir que o verdadeiro chefe do PT era mesmo Delúbio Soares. Quem acredita nisso? Não sei que parte do elefante o ministro andou tateando; sei que não foi uma boa parte.

A cultura da transgressao como norma - ministro Celso Mello


De onde veio o mensalão

03 de outubro de 2012 | 3h 09
Editorial O Estado de S.Paulo
O decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, responsabilizou diretamente o governo Lula pelo mensalão, ao proferir na segunda-feira o seu voto no julgamento do escândalo. Em nenhuma das 29 sessões anteriores se encontrará manifestação de igual contundência e impacto político, no corpo de um libelo de mais de uma hora sobre os efeitos da corrupção para as instituições e a sociedade. Textualmente: "Este processo criminal revela a face sombria daqueles que, no controle do aparelho de Estado, transformaram a cultura da transgressão em prática ordinária e desonesta de poder, como se o exercício das instituições da República pudesse ser degradado a uma função de mera satisfação instrumental de interesses governamentais e de desígnios pessoais". Note-se: Mello não se fixou no partido no poder, o PT, nem nos seus cúmplices na operação do esquema, mas nos condutores do governo. Só faltou chamá-los pelos nomes, sobrenomes e apelidos.
Desse modo, ele foi muito além de seus pares na rejeição da patranha de Lula e sua gente de que os montantes distribuídos a pelo menos uma dezena de deputados federais no início do seu mandato se destinavam a cobrir dívidas de partidos aliados e a financiar futuras campanhas eleitorais, pelo mecanismo do caixa 2, usado "sistematicamente" no País, segundo o ainda presidente. Dos 10 ministros atuando no julgamento, apenas um, o revisor Ricardo Lewandowski, encampou essa versão pelo valor de face. Até o seu colega Dias Toffoli, que trabalhou para José Dirceu na Casa Civil e servia a Lula como advogado-geral da União quando o escândalo rebentou, entendeu que o mensalão foi concebido para comprar apoio parlamentar ao governo. (As ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber ainda não deram a conhecer a sua opinião.) "Não se pode cogitar de caixa 2 nem mesmo coloquialmente", fulminou o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto. "Ao contrário da roupa no tanque, quanto mais se torce a verdade, mais ela encarde."
Na sessão que terminou pela condenação unânime dos políticos indiciados por corrupção passiva, notadamente o ex-presidente do PTB Roberto Jefferson e o do PL (atual PR) Valdemar da Costa Neto, foi Britto quem mais esteve perto, depois de Celso de Mello, naturalmente, de conectar o mensalão ao Planalto. Ao apontar a "arrecadação criminosa de recursos públicos e privados para aliciar partidos e corromper parlamentares", afirmou que o esquema fazia parte de um "projeto de continuísmo político idealizado por um núcleo político". Mello foi mais explícito ao falar em "altos dirigentes do Poder Executivo e de agremiações partidárias" - numa evidente referência aos principais réus políticos do processo, que começam a ser julgados hoje: o ex-ministro Dirceu, o presidente à época do PT, José Genoino, e o então tesoureiro da legenda, Delúbio Soares, acusados de corrupção ativa e formação de quadrilha. Adiantando-se a eventuais alegações dos seus defensores e correligionários, Mello observou que o STF está respeitando os direitos e garantias dos réus, sem "flexibilizar" uma coisa ou outra.
Mas não deixou de assinalar, pouco depois, que a corrupção parlamentar - alimentada por "transações obscuras idealizadas e implementadas em altas esferas governamentais" - deve ser punida "com o peso e o rigor das leis", por configurar uma tentativa criminosa de manipular o processo democrático. A "aliança profana entre corruptos e corruptores", sendo os primeiros "marginais do poder", como os qualificou o ministro, constitui uma "perversão" da ordem graças a qual "o Estado brasileiro não tolera o poder que corrompe e nem admite o poder que se admite corromper". A exposição de Celso de Mello parece encarnar a virada de página na vida institucional do País que a Suprema Corte demonstra almejar, em última análise e em boa hora, com o julgamento do mensalão.
Não apenas pelos seus votos, mas pelos princípios que os embasam, ao lado do exame dos fatos contidos nos autos, os ministros consagram o direito dos cidadãos de exigir, como destacou o decano, "que o Estado seja dirigido por administradores íntegros, legisladores probos e juízes incorruptíveis".

Do Grande Apagao (um so) aos muitos mini-apagoes: progressos?

O apagão brasileiro de 2001 -- motivado por uma seca especialmente renitente, que fez baixar tremendamente as reservas das hidrelétricas, em meio ao processo de transição do monopólio absoluto do regime anterior às privatizações nas distribuidoras, o que motivou baixo investimento temporário no sistema -- foi um dos motivos da vitória eleitoral da oposição no ano seguinte: os companheiros satanizaram exageradamente as privatizações (e continuaram fazendo isso pelas três eleições seguintes), tentando provar que o que era Estado funcionava muito bem, só falhando quando se entregavam as jóias da Coroa aos perversos capitalistas.
Pois bem, depois de anos de gestão companheira -- a começar pela primeira ministra das minas e energia, depois chefe da Casa Civil e atual presidente -- e de tentativas canhestras de fazer renascer gigantes estatais no setor, o que temos tido são dezenas de mini-apagões, não mais causados por algum mau humor de São Pedro, mas inteiramente devido à incompetência gerencial do Estado na administração do sistema.
Se formos somar todas as dezenas de apagões ocorridos em todo o Brasil desde 2003, isso representaria um outro grande apagão.
Um progresso não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida


Pane em transformador de Itaipu causa corte de energia em vários estados

Problema afetou parte das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além dos estados de RO e AC

04 de outubro de 2012 | 1h 46
Ricardo Valota, O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - Parte das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e os estados do Acre e Rondônia sofreram, na noite de quarta-feira, 3, corte na distribuição de energia em razão de uma pane num dos transformadores de uma subestação da usina de Itaipu, administrada por Furnas, em Foz do Iguaçu (PR).
Segundo o Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN), não se sabe ainda que tipo de pane afetou o transformador. O problema teve início às 20h56. O sistema de geração de energia começou a se normalizar às 21h22.
Em algumas cidades, o corte na energia durou cerca de 15 minutos. Ainda, segundo o ONS, a pane gerou perda em Itaipu, obrigando o envio imediato de um pedido às empresas distribuidoras que suspendessem momentaneamente a distribuição para aliviar e equilibrar o sistema.
Em São Paulo, a Eletropaulo, empresa responsável pela distribuição de energia elétrica em 24 cidades do Estado, informou que o corte durou entre 2 e 5 minutos e atingiu pelo menos oito cidades da Região Metropolitana. Na capital, ficaram sem energia elétrica alguns bairros das zonas sul e leste. Na Grande São Paulo, foram afetados 695 mil clientes.
O ONS informou ainda que queda da energia no estádio Centenário, em Resistência, na Argentina, onde jogariam as seleções do Brasil e da Argentina, não está relacionada com problema em Furnas. Durante 26 minutos de pane no sistema, o país, segundo o ONS, perdeu entre 3 mil a 3.500 megawatts.
No Rio de Janeiro, ficaram sem energia alguns bairros da capital fluminense e municípios da Baixada e da Região Metropolitana, como Niterói e São Gonçalo. Segundo a assessoria de imprensa da concessionária Ampla, que atende as cidades de Niterói, São Gonçalo e da Região dos Lagos, a interrupção no fornecimento começou às 20h55. Em 80% das cidades cobertas pela Ampla, a falta de energia durou aproximadamente 15 minutos e, nas demais, a interrupção foi por cerca de 30 minutos. A energia foi totalmente restabelecida pouco antes das 21h30.
Na área coberta pela Light, a queda de energia atingiu algumas subestações do município do Rio, além de Nova Iguaçu, Itaguaí e Seropédica, na Baixada Fluminense. A interrupção no fornecimento não chegou à zona sul da capital fluminense nem no centro financeiro do Rio.
Em Minas Gerais, a Cemig informou que a falta de luz atingiu vários municípios do estado, entre eles Sete Lagoas, Uberaba, Patos de Minas, Uberlândia, Lavras, Caxambu e Ribeirão das Neves. No Paraná, alguns bairros de Curitiba também sofreram com a interrupção no fornecimento de energia. (com Agência Brasil)

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Doutor Freud e seu paciente venezuelano...

Um dos primeiros casos conhecidos no mundo de psiquiatria eleitoral, certamente merecedor de algum trabalho psicanalítico no curso da fase final da campanha presidencial...

Chávez: Me comprometo a ser mejor presidente de lo que he sido a partir del 8-O
Venezuela en Notícias, 2 Octubre 2012
"A partir del 08 de octubre, me comprometo a ser mejor presidente de lo que he sido", así lo afirmó el presidente de la República Bolivariana de Venezuela y candidato a la reelección, Hugo Chávez, durante su actividad de campaña realizada este martes en horas de la tarde en Barquisimeto estado Lara.
Destacó que en el próximo periodo de gobierno 2013-2019, se esforzará aún más para acelerar la consolidación del proceso socialista en el país, así como concretar todos aquellos proyectos y planes impulsados por la Revolución Bolivariana en los últimos trece años.
Chávez reiteró que la avalancha bolivariana no la para nadie y se va a convertir en una avalancha de votos, "se queda pequeña Barquisimeto para la marea bolivariana, para la avalancha de Chávez. En Barquisimeto gana Chávez, en Lara gana Chávez y en toda Venezuela gana Chávez, vamos a barrer a la burguesía... Este es un pueblo heroico que no se va a calar más traidores”.
Igualmente afirmó que en las elecciones de este domingo 07 de octubre, quedará demostrado por amplio margen que la Revolución Bolivariana es apoyada por la mayoría de los larenses y que todos los venezolanos y venezolanas que quieren a su Patria y que piensan en el futuro de sus hijos e hijas, continuarán respaldando las grandes misiones y logros.
YVKE MUNDIAL / Martes, 2 de octubre de 2012