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sábado, 12 de abril de 2014

Partido dos totalitarios: ainda o modus operandi dos companheiros - Guilherme Fiuza

O doleiro dos oprimidos

Guilherme Fiuza

O Globo, 12/04/2014

O deputado André Vargas não fez nada de mais. Apenas cumpriu o primeiro mandamento para ascender no PT: siga o dinheiro. Ou, mais precisamente, siga e consiga o dinheiro. Sua intimidade com o doleiro Alberto Youssef, preso no centro de um esquema que teria movimentado 10 bilhões de reais, não deixa dúvidas: Vargas chegou lá. Quem não entendeu como o obscuro deputado curitibano saltou de secretário de comunicação do partido para vice-presidente da Câmara dos Deputados não entende nada de PT.

O despachante de André Vargas era o homem que operava o duto entre os cofres públicos e os políticos amigos do rei (rainha). Se alguém achar que isso se parece com a quadrilha do mensalão, esqueça. O ministro Luís Roberto Barroso já explicou que a quadrilha não existiu, e o STF assinou embaixo.

A parceria fértil entre o doleiro de Vargas e o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, também preso, tem impressionante semelhança com a tabelinha entre Marcos Valério e o então diretor de abastecimento do PT no Banco do Brasil, Henrique Pizzolato — hoje embaixador da república mensaleira na Itália. Mas isso não é quadrilha, é estilo.

E pensar que antigamente o PT mandava Waldomiro Diniz pegar dinheiro com Carlinhos Cachoeira. Que coisa cafona. Mas isso foi uma década atrás, quando o partido ainda não tinha estudado direito a planta do Estado brasileiro.

Hoje está claro que a mensagem de André Vargas a Joaquim Barbosa, levantando o punho cerrado (símbolo da resistência mensaleira), era um aviso — como o de Raul Seixas sobre as moscas: se você mata uma, vem outra em seu lugar.

Os brasileiros, esses invejosos, já estão implicando com o Land Rover dado pelo doleiro ao diretor da Petrobras. Bobagem. Como ensinou Silvinho Pereira, o mais injustiçado e esquecido dos petistas, quem trabalha bem no setor petrolífero ganha Land Rover de graça. O Brasil está pensando pequeno.

Diante da dimensão dos negócios no seio do governo popular, as propinas na Petrobras são o troco do cafezinho — aquelas moedas que você joga na mão do pedinte pela janela do seu Land Rover. Se o garoto ainda fizer uma graça com bolinhas de tênis, você pode até dar a ele uma refinaria superfaturada. Esse bilhão não fará a menor diferença no balanço.

Algumas das maiores empresas brasileiras estão sendo destroçadas, ao vivo, para fabricar bondade tarifária e esconder inflação. Esse é o jogo multibilionário que o Brasil aceita chupando o dedo, louco para virar Argentina. São esses dividendos populistas que garantem um ambiente de negócios seguro para os doleiros oficiais, mensaleiros reencarnados e demais sócios do país de todos (eles).

Até o FMI já espalhou por aí que o governo brasileiro passou a maquiar suas contas, para gastar escondido com a indústria do populismo. E vem aí mais uma transfusão bilionária do Tesouro para o BNDES, que vai injetando nas estatais vampirizadas e envernizando a orgia fiscal.

É um complexo e fabuloso trabalho de pilhagem, com alcance de gerações — que naturalmente passou despercebido aos revolucionários da Primavera Burra. Nem a CPI da Petrobras mobilizou os engarrafadores de trânsito. Eles devem estar achando que pode ser um golpe neoliberal para tomar o que é nosso.

Com todo o seu profissionalismo, André Vargas sabe que não dá para contar a vida toda com a pasmaceira da opinião pública. Por isso, além de ter os amigos certos, ele também trabalhou com afinco no projeto petista que vale por mil doleiros espertos: o controle da informação.

O PT sonha com a desinibição da companheira Kirchner na coação da mídia e no adestramento das estatísticas. André Vargas também serve para isso: assim como se presta a fazer molecagem com Joaquim Barbosa, prega sem constrangimento o “controle social da mídia”. E o ensaio vai indo muito bem, do controle social do Tesouro ao controle social do Ipea.

O tradicional e respeitado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ganhou de presente do governo popular uma estrelinha vermelha. Passou a ser dirigido por acadêmicos-militantes, uma espécie de transgênero com vocabulário técnico e alma ideológica.

Estrelas da coreografia estatística como Marcio Pochmann — que saiu de lá para ser candidato do PT a prefeito de Campinas —, capazes de fazer os números dançarem conforme a música, trouxeram o charme chavista que faltava ao Ipea. Quem acompanhou essa metamorfose revolucionária não acreditou um segundo na famosa pesquisa que transformou o Brasil num país de estupradores.

O mais alarmante, porém, não foi a pesquisa em si, pois já se sabe que, com o PT, a inépcia e a desonestidade intelectual são quase indistinguíveis. O impressionante foi o Brasil comprar de olhos fechados mais uma bandeira fabricada pelo império do oprimido. Dá até para ouvir o comentário de André Vargas: kkkkkk.

 

Guilherme Fiuza é jornalista.

Seminario Especial no Uniceub (28-30/04/2014): Requerimentos para o Crescimento Sustentável - Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo novamente, com algumas pequenas mudanças, em especial, linkagem para textos disponível, uma postagem de alguns dias atrás, sobre o curso que vou dar no final deste mês no meu programa de pós-graduação:

Reproduzo abaixo o anúncio feito pela Secretaria dos programas de mestrado e doutorado em Direito do Uniceub (onde sou professor), sobre o seminário especial que darei durante minha breve estada no Brasil, em Brasília, na segunda quinzena do corrente mês de Abril. Depois acrescento mais algumas informações.

Seminário
Requisitos básicos para um crescimento econômico sustentado (9h)

Áreas: Políticas Públicas e Relações Internacionais
Professor: Dr. Paulo Roberto de Almeida
Datas: 28, 29 e 30 de abril de 2014
Horário: das 9h às 12h        
Local: Sala reuniões Multimeios  - Biblioteca

 Informações adicionais
- Para aproveitamento, de cada seminário são necessários 100% de presença e entregar resumo ou atividade que o professor definir (entrega até 06/06/2014);
- Leitura obrigatória antes dos seminários.

O programa do Seminário Especial encontra-se disponível no seguinte link: http://cl.ly/40142D1I1f0f

Textos oferecidos para leitura dos alunos e discussão em classe, encontram-se disponíveis como segue: 


1) ALMEIDA, Paulo Roberto de. “Políticas econômicas nacionais no contexto da globalização: a questão do desenvolvimento”, Revista Espaço da Sophia, vol. I, n. 11, fevereiro 2008,  ISSN: 1981-318X, 20 p; disponível: http://cl.ly/0A1V3o2X0u35 
2) –––––––– . “A Experiência Brasileira em Planejamento Econômico: uma síntese histórica”, 2004; disponível: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1277HistorPlanejBrasil.pdf.
3) –––––––– . “Dinâmicas da economia no século XX”, in SILVA, Francisco Carlos Teixeira da (org.). O Século Sombrio: uma história geral do século XX. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier, 2004, p. 47-70; disponível: http://www.academia.edu/5783550/040_Dinamicas_da_economia_no_seculo_XX_2004_.
4) BARRO, Robert J.; SALA-I-MARTIN, Xavier, Economic Growth. 2nd. ed.; Cambridge, Mas.: The MIT Press, 2003; Introduction, p. 1-22; disponível: http://cl.ly/3F193S3K3s17
5) JOHNSON, Harry C. “The Case For Flexible Exchange Rates”, Journal of the Federal Reserve Bank of St. Louis, June 1969, p. 12-24; available: https://research.stlouisfed.org/publications/review/69/06/Flexible_Jun1969.pdf





Retiro, do programa do seminário, esta informação:

Requisitos básicos para um crescimento econômico sustentado

EMENTA:
O seminário especial de Economia Política, no quadro da concentração em Direito e Políticas Públicas do programa de Mestrado e Doutorado em Direito, tem por objetivo aprofundar o conhecimento dos mestrandos ou doutorandos sobre os requerimentos básicos de um processo sustentado de crescimento econômico, base essencial de um processo inclusivo de desenvolvimento econômico e social. Ele vai tratar essencialmente da prática econômica dos Estados, com especial referência à experiência brasileira de desenvolvimento ao longo da últimas décadas, mas também se referirá aos elementos teóricos que sustentam as políticas econômicas, em escala macro, setorial ou de nível microeconômico. O seminário abordará, assim, tanto a parte conceitual, na qual serão expostas e discutidas as principais variáveis macroeconômicas, em termos teóricos, de um processo de crescimento sustentado, quanto uma parte especialmente referida aos processos registrados no caso do Brasil, com alguns exercícios comparativos sobre as políticas macroeconômicas e setoriais seguidas por países avançados e emergentes, seja os que apresentaram um bom desempenho no caminho do desenvolvimento, seja aqueles que registraram performances menos felizes.
            Serão discutidos conceitos e realidades relativas aos principais agregados econômicos e monetários, as teorias e as realidades do comércio internacional, ademais dos temas financeiros e de balanço de pagamentos. Para cada um dos pontos destacados para desenvolvimento analítico serão dados exemplos retirados da evolução econômica brasileira, assim como serão referidos dados e informações relativos à economia mundial. Os alunos tomarão conhecimento das principais bases de dados disponíveis, bem como dos sites dos principais organismos econômicos internacionais. As discussões em classe buscarão abordar os problemas econômicos correntes da agenda brasileira, com uma referência constante às medidas de política econômica adotadas pelo governo, bem como seu tratamento analítico, e crítico, com base nesses dados. Dois textos são fornecidos para leitura e discussão em classe.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
I.           ESTABILIDADE MACROECONÔMICA: ELEMENTOS BÁSICOS
1)    Política Monetária: Inflação, emissões de moeda; Milton Friedman
2)    Política Fiscal: contas nacionais, tributação, dispêndio
3)    Política Cambial: taxa de câmbio, movimentos de capitais
4)    Da microeconomia à macroeconomia: progressos conceituais?

II.             MICROECONOMIA COMPETITIVA: PARA UMA ECONOMIA SADIA
5)    Os preços como sinalizadores de toda economia: Ludwig von Mises
6)    Poupança e investimento: o processo de crescimento
7)    O governo e as medidas de intervenção na economia: o caso do Brasil
8)    Políticas setoriais: industrial, comercial, agrícola
9)    Desemprego e mercado de trabalho: condicionantes e políticas de governo
10) Leis de concorrência, carteis, monopólios, regimes de concessão

III.           BOA GOVERNANÇA: INSTITUIÇÕES FAZEM A DIFERENÇA
11) Planejamento: uma ilusão do século XX?; Friedrich Hayek
12) Planejamento e mercados: políticas indutoras e promotoras de crescimento
13) Executivo, Legislativo, Judiciário, órgãos de controle
14) Uma instituição chamada Justiça do Trabalho: necessária
15) O Estado e seu papel no processo de desenvolvimento: o caso brasileiro

IV.           EDUCAÇÃO DE ALTA QUALIDADE: O PAPEL DO CAPITAL HUMANO
16)   Ensino primário universal e de boa qualidade: a base de tudo; Adam Smith
17)  Escola técnica profissionalizante: ganhos de produtividade
18) Terceiro ciclo: a necessidade de conexão universidade-indústria
19) Políticas tecnológica e de investimentos: abertura externa e regulação

V.             ABERTURA AO COMÉRCIO INTERNACIONAL E AOS INVESTIMENTOS
20) Política comercial: abertura externa, blocos econômicos, OMC; David Ricardo
21) Política financeira externa: balanço de pagamentos, câmbio, dívida externa
22) Crescimento e crise na economia mundial: a trajetória brasileira
23) O resto do mundo: balanço de pagamentos e economia internacional
24)  A globalização, os antiglobalizadores e os reticentes: mitos e crenças

Agronegocio: mentalidade assistencialista e intervencionista ainda predomina entre academicos (da UniCamp, claro)

Reparem no que diz o representante da UniCamp: 
"No caso da segurança alimentar, o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Walter Belik, ressaltou que não adianta um País produzir grande quantidade de alimentos se as pessoas não têm renda para consumi-los. "Temos que mexer nos preços agrícolas para garantir acesso aos alimentos", sugeriu."

Ou seja, ele acha que é normal que as pessoas dependam do Estado para se alimentar, a mais básica de todas as atividades humanas. Tudo o que o país produz de alimentos se deve ao setor privado, à sociedade, aos grandes e pequenos proprietários de terras e produtores agrícolas. Tudo o que governo faz é cobrar impostos. Por que seria o governo a dar dinheiro às pessoas se é o setor privado quem cria riquezas? Por que não evitar essa intermediação nefasta, sempre corrupta e totalmente desnecessária, que é a distribuição de maná oficial?
E vejam ainda que ele pretende "mexer nos preços", ou seja, os preços já não seria mais os arbitrados no mercado, livremente, mas os decretados pelo governo.
Enquanto essa mentalidade continuar, o Brasil vai ser um país pobre, e o Estado gigante.
Paulo Roberto de Almeida 

Falta de política agrícola integrada traz insegurança
Debatedores do Fórum Estadão sobre sustentabilidade no campo foram unânimes em cobrar planejamento e ação do poder público

SUZANA INHESTA, TÁSSIA KASTNER
O Estado de S.Paulo, 12/04.2014

A lentidão do governo brasileiro em atender às demandas do agronegócio, setor responsável por cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB), foi o senso comum entre os participantes do Fórum Estadão - Brasil Competitivo, "A Sustentabilidade no Campo II", promovido pelo Grupo Estado e pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp/Senar-SP). As principais questões levantadas foram política agrícola, segurança alimentar, seguro rural, logística e infraestrutura.
Para o coordenador de Projetos do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Mauro Resende Lopes, no Brasil não há, por exemplo, uma cultura de avaliação de políticas públicas, "e sim uma insegurança institucional muito grande", enfatizou.
Segundo Lopes, a política agrícola nacional sofre de falta de governança institucional. "Resolver essa governança não é muito fácil, mas ficar sem ela é muito ruim." Ele ressaltou as constantes mudanças de pessoas em cargos, muitos deles técnicos, como a saída de Ênio Marques e de Célio Porto, do Ministério da Agricultura. "Os quadros técnicos do Ministério foram 'lipoaspirados', desidratados. A Pasta perdeu a musculatura do conhecimento, da capacidade técnica", disse, completando que é impossível ter improvisação na discussão de uma política agrícola.
Segurança alimentar. No caso da segurança alimentar, o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Walter Belik, ressaltou que não adianta um País produzir grande quantidade de alimentos se as pessoas não têm renda para consumi-los. "Temos que mexer nos preços agrícolas para garantir acesso aos alimentos", sugeriu.
Ele elogiou as iniciativas do governo em programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, mas disse que, ao mesmo tempo, outros programas teriam que ganhar mais visibilidade. "A ideia do Bolsa Família foi difundida até para outros países e atende hoje a mais de 13 milhões de famílias. Mas deveríamos retomar outros programas, de apoio à agricultura familiar, por exemplo."
Copa e eleições. A agilidade da construção da infraestrutura para a Copa do Mundo de Futebol, em contraponto à demora para solucionar os gargalos logísticos do setor, também foram citados pelos participantes. "O setor aguarda há anos a solução para o gargalo logístico e todos os estádios para a Copa estão sendo feitos em tempo recorde", declarou o diretor e professor titular da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), José Vicente Caixeta Filho.
Os especialistas também defenderam que o ano no qual ocorre eleições é período de oportunidade para reivindicações. Entretanto, conforme Lopes, do Ibre/FGV, no caso do setor agrícola nacional, a limitação dos pleitos esbarra no capital político. "Dessa forma, devemos nos fixar em um conteúdo mínimo e tentar hierarquizar as prioridades, embora não seja característica do brasileiro", disse.
O Fórum Estadão - Brasil Competitivo, "A Sustentabilidade no Campo II" ainda teve a presença do professor Robert Thompson, da Johns Hopkins University of Advanced International Studies. O especialista concorda que o seguro da agricultura "é cada vez mais importante e deve ser incorporado à política pública", e destacou em sua apresentação o crescimento da importância do seguro rural na política agrícola norte-americana.
Segundo ele, a nova Lei Agrícola (Farm Bill) norte-americana se baseia no seguro agrícola e tem como principal mudança a possibilidade de produtores garantirem até 95% da receita. "O produtor tem a opção de contratar uma cobertura adicional, de 86% a 95%", ressaltou. Até a lei agrícola anterior, o teto de seguro era de 85% da receita.

Thompson comentou, ainda, que é preciso maior investimento em infraestrutura no Brasil, mas ressaltou como ponto positivo do País o setor de pesquisa agropecuária. Ele citou os trabalhos desenvolvidos pela Embrapa. "A pesquisa no Brasil está em um estágio muito bom."

Segurança alimentar depende de renda rural
Seguro agrícola pouco avançou no País, alertam dois ex-ministros da Agricultura
12 de abril de 2014 |
VENILSON FERREIRA , ESPECIAL PARA O ESTADO - O Estado de S.Paulo
A falta de instrumentos que garantam a renda no campo em caso de adversidades climáticas e queda de preços dos produtos agrícolas é um dos principais obstáculos que devem ser superados pelo Brasil para que o País atenda às expectativas dos órgãos internacionais e se torne um dos principais fornecedores de alimentos do mundo. Um relatório da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, sigla em inglês) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) prevê que até 2020 a produção mundial de alimentos deve crescer 20% para atender à demanda mundial, sendo que a maior expansão será no Brasil, com previsão de aumento de 40%.
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·       A mudança necessária
Os ex-ministros da Agricultura Alysson Paolinelli e Roberto Rodrigues concordam que o Brasil tem condições para atender às projeções da FAO e da OCDE, mas alertam que a expansão da produção esbarra, entre outros fatores, na falta de instrumentos que garantam a renda no campo. Paolinelli criou, na década de 1970, quando foi ministro, o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) e, na gestão de Rodrigues, foi criada, em 2003, a lei que estabeleceu a concessão de subsídios aos prêmios do seguro agrícola. Ambos reconhecem que houve poucos avanços, pois o seguro agrícola representa pouco mais de 6% da área cultivada no País.
Sem estratégias. A questão da segurança alimentar, tema tradicionalmente tratado pelas áreas sociais do governo nos últimos anos, foi incorporada à pauta de discussões das lideranças rurais, que defendem sua inclusão na política agrícola conduzida pelo Ministério da Agricultura. Paolinelli reclama que o governo não tem dado a devida importância às projeções dos órgãos internacionais, o que, na opinião de Rodrigues, se deve à inexistência de estratégias para a produção agropecuária.
Na opinião de Rodrigues, "o governo federal não reconhece a importância e tem tratado o agronegócio brasileiro com profundo desprezo". Ele diz que o governo parece não levar em conta que o setor é responsável por 23% do Produto Interno Bruto (PIB); por 30% da geração de empregos e pelo desempenho positivo da balança comercial brasileira. No ano passado a balança do agronegócio fechou com saldo positivo de US$ 83 bilhões, enquanto o superávit do País foi de apenas US$ 2,5 bilhões.
Roberto Rodrigues observa que o governo dispõe dos instrumentos de política agrícola, mas o problema é que na hora de por em prática os assuntos relativos ao setor, estes estão dispersos nas diversas esferas do Executivo, como ministérios, autarquias e agências reguladoras, além serem afetados por decisões do Legislativo e do Judiciário. Ele defende que as questões da produção agropecuária e segurança alimentar devem ser tratadas como uma "Política de Estado", vinculada diretamente à Presidência da República.
Agricultura tropical. O dominio das técnicas de cultivo da agricultura tropical põe o Brasil num patamar diferenciado como fornecedor de alimentos para atender ao crescimento da demanda global. Rodrigues lembra que o aumento da produtividade no campo permitiu que nos últimos 20 anos a produção de grãos crescesse 220%, enquanto a área cultivada avançou 40%. Segundo ele, nos últimos 20 anos a produção brasileira de carnes teve crescimento expressivo: 90% em bovina, 238% em suína e 458% em aves. Neste período, a área de pastagem cedeu espaço para a soja, cana e florestas plantadas.
Paolinelli acredita que a grande vantagem do Brasil em relação aos seus concorrentes na produção de alimentos é o domínio da agricultura tropical. "Nossos concorrentes ficam admirados com o fato de conseguirmos cultivar três safras seguidas durante um ano", conta.
Ele lembra que o Brasil foi obrigado a desenvolver tecnologia própria para cultivo nos trópicos, porque não havia referência em outros países. O maior sucesso foi a soja, que, quando chegou ao Brasil, era cultivada apenas no paralelo 30, no Rio Grande Sul, em pouco mais de 200 mil hectares. A pesquisa agropecuária brasileira conseguiu adaptar a planta às condições climáticas do Cerrado e hoje a soja se espalha por 27,7 milhões de hectares.

Um dos trunfos citados por Roberto Rodrigues é o fato de o Brasil contar com um empresariado rural jovem, "com alta competência técnica e gerencial", que são herdeiros daqueles que sobreviveram às dificuldades impostas pelos diversos planos econômicos nas últimas décadas. Para evitar que o problema se repita, Rodrigues destaca a importância da adoção de um seguro de renda, que cubra os prejuízos decorrentes do descasamento entre preços e custos, além das perdas provocadas pelas adversidades climáticas

A farsa montada em Caracas: com a conivencia da Unasul? - Editorial Estadao

À mesa com Maduro

12 de abril de 2014 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
As conversações de paz entre o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e os dirigentes da frente oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD), mediadas por três chanceleres sul-americanos, entre o quais o brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, começaram anteontem sob o signo do descrédito.
Tudo indica que o sucessor do caudilho Hugo Chávez tenha acedido a sentar-se com a ala moderada dos adversários, liderada pelo governador do Estado de Miranda e ex-candidato presidencial Henrique Capriles, apenas para que não o acusassem, dentro e fora do país, de ignorar as pressões da comunidade regional e os apelos do papa Francisco pela contenção dos confrontos de rua que completam hoje dois meses e já deixaram 39 mortos, centenas de feridos e de presos.
Tanto que o chavista cuidou de antemão de delimitar nitidamente o terreno em que se moveria. Tratou de deixar claro que não havia concordado em participar de uma negociação nem "nunca" o fará. "Não tenho que negociar com ninguém. Nem negociação nem pacto", afirmou com a costumeira arrogância. E, apelando para a retórica redundante de seu mentor, completou: "Aqui, o que há é um debate, diálogo, o que é diferente de uma negociação e de um pacto".
Depois, fez-se de desentendido para desqualificar um inesperado conselho de Lula, dado na entrevista a blogueiros na terça-feira, convocada para marcar publicamente a sua ascendência sobre a afilhada Dilma Rousseff. "Maduro", recomendou o "pai da esquerda", como o venezuelano o reverenciaria no dia seguinte, "deveria tentar diminuir o debate político para se dedicar inteiramente a governar, estabelecer uma política de coalizão, construir um programa mínimo e diminuir a tensão".
Maduro fingiu que Lula propusera que ele formasse "uma grande coalizão com o povo, com as forças patrióticas, progressistas" - e não com os críticos que dela se dispusessem a participar. Aproveitou para negar, com deslavado cinismo, que estivesse governando menos do que lhe cobram os venezuelanos assolados por inflação, desabastecimento, corrupção nos gabinetes e criminalidade nas ruas. "Mesmo com os protestos não deixamos de governar nem um segundo."
Armado o sombrio cenário para o encontro no Palácio Miraflores, ele transformou o evento, transmitido ao vivo pela TV, em mais um dos seus frequentes shows de mídia com que testa a paciência dos seus compatriotas. Recentemente, anotou a oposição, ele falou sem parar durante 1h52min em cadeia nacional. Na reunião da quinta-feira, ele desancou os interlocutores durante 53 minutos, acusando-os de terem incentivado protestos violentos para derrubá-lo.
Com isso, assemelhou os adversários presentes, como Capriles, que defendem a sua remoção pelo voto popular nas próximas eleições, aos setores da MUD abertamente favoráveis à sua destituição. O principal articulador do "Fora Maduro" é o ex-prefeito do distrito caraquenho de Chacao Leopoldo López, do partido Vontade Popular. Detido logo nos primeiros dias das manifestações, foi largado numa penitenciária militar. O Ministério Público o acusa de chefiar um "grupo criminoso terrorista", pelo que poderá ser condenado a até 13 anos de prisão.
Quando finalmente a MUD teve a palavra, o seu secretário executivo Ramón Guillermo Aveledo negou as acusações e observou que "a Constituição não é para ser mostrada, mas cumprida", aludindo às repetidas vezes em que Maduro brandira a sua edição de bolso da Carta para amparar as suas invectivas. A intenção de Aveledo não era duelar com ele, mas apresentar a agenda oposicionista para o diálogo. O seu ponto de partida é a libertação e anistia dos presos políticos, além da anulação dos 3,8 mil processos contra dissidentes. Outro ponto crucial é o desarmamento dos grupos paramilitares que vêm reprimindo com incontida brutalidade as concentrações populares.
Seria preciso ignorar a natureza opressiva do chavismo para imaginar que Maduro possa ser persuadido a aceitar essas demandas.