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domingo, 6 de agosto de 2017

A Ordem do Progresso (10): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, desde as postagens anteriores:
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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 
(...)



CAPÍTULO 10 - ESTABILIZAÇÃO E REFORMA, 1964-1967

André Lara Resende

1.     Introdução

“O programa de estabilização implementado entre 1964 e 1968 logrou reduzir a taxa de inflação anual de algo próximo de 100% no primeiro trimestre de 1964 para algo em torno de 20% em 1969. Simultaneamente, o crescimento do produto, que em 1963 fora de apenas 0,6%, recuperou-se após 1966, e já em 1968 atingia a taxa de 9,8%”. (pg.197)

2.     Objetivos do PAEG

O Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) foi instituído logo no início do regime militar iniciado no ano de 1964, e tinha dentre seus objetivos basicamente a aceleração do desenvolvimento econômico, contenção da inflação, abrandamento de desnível econômico, possibilitar acesso a investimentos e empregos, e consertar a propensão a déficits. (pg.197-198)
“Tratava-se, portanto, de um programa que acentuava a importância da manutenção, ou da recuperação, das taxas de crescimento da economia”. A inflação era um dos maiores problemas a ser combatido. (pg.198-199)

3.     A política salarial no PAEG

O plano estabelecia resultados bastante otimistas no combate à inflação com objetivos para expansão monetária e com uma política salarial precisa. Até o ano de 1930 o Brasil não possuía uma política salarial determinada. (pg. 200)
Os efeitos desta política sobre o salário mínimo foram importantes, uma vez que este sofreu diminuição de 4,5% em 1965 e continuou a cair nos anos que seguiram. (pg. 201)

4.     Condução das políticas monetária e fiscal

“Das três “normas básicas” do programa desinflacionário do PAEG, a saber, contenção dos déficits governamentais, política salarial e política de crédito às empresas, a primeira foi a mais bem-sucedida”. (pg. 201)
As taxas de expansão monetária se mantiveram em nível superior a taxa de aumento dos preços durante o ano de 1965. Não obstante a baixa da inflação, pôde-se observar que a expansão monetária se manteve em níveis altos, a saber, 83,5%. (pg. 202)

5.     O impacto sobre a produção e os preços

As estatísticas demonstram que no ano de 1964 os preços subiram 90%, esse aumento é justificado por causa do crescimento das “tarifas dos serviços públicos, à liberação dos aluguéis congelados e a outros preços, num processo na época chamado de inflação corretiva”. (pg. 203)
Em 1965 a inflação começou a tender por uma redução. “Os dados anuais evidenciam que a queda no ritmo de crescimento industrial deu-se em 1963, a queda na tendência inflacionária em 1965 e a queda nas taxas de expansão monetária em 1966”. (pg. 203)
A política monetária sofreu mudanças no ano de 1966, a indústria demonstrou crescimento, por outro lado a agricultura teve uma má performance, o prejuízo do Tesouro caiu como resultado do aumento dos impostos e também com eliminação de despesas. (pg. 204)

6.     Os custos da estabilização

O crescimento foi interrompido do ano de 1963 até 1967. “O caráter regressivo sobre a estrutura industrial da política de 1966 fica mais uma vez evidenciado pelos dados do número de falências e concordatas requeridas por ramos de atividade. Os setores mais atingidos foram vestuário, alimentos e construção civil, nos quais o número de falências e concordatas requeridas mais do que triplicou entre 1964 e 1966”. (pg. 205-206)

7.     Além da ortodoxia simplista

Pode-se afirmar que a ortodoxia teve início com o reconhecimento da situação inflacionária. “A partir deste diagnóstico, a ortodoxia aponta a receita para o controle da inflação. Políticas monetária e creditícia restritivas, de forma que “enxuguem” o excesso de moeda no sistema e ponha fim ao estado generalizado de excesso de demanda. Como a principal fonte da expansão monetária excessiva, segundo o diagnóstico ortodoxo, é o déficit orçamentário do Tesouro, é necessário fazer também uma política fiscal restritiva”. (pg. 207-208)
O PAEG não era inteiramente rígido, pois apresentavas propósitos de manter taxas de desenvolvimento, ou seja, era tolerado um mínimo de inflação. Mas havia ausência de compatibilidade entre “o pressuposto da moeda estável na legislação e as altas taxas de inflação”. (pg. 209)
O referido programa demonstrou-se diverso das atitudes econômicas anteriores, pois o cenário político era diferente e pode-se intervir de forma mais enérgica. “As bem estruturadas e modernizantes reformas fixaram as bases do período de rápido crescimento econômico que se iniciou em 1968”. (pg. 211)

(continua...)

A Ordem do Progresso (9): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
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CAPÍTULO 9 - INFLAÇÃO, ESTAGNAÇÃO E RUPTURA, 1961-1964

Mário M.C. Mesquita
Durante o período que compreendeu os anos de 1961 a 1964 o Brasil experimentou diversas inquietações políticas, “teve três presidentes, cinco chefes de governo e seis ministros da Fazenda”. (pg.179)
Os primeiros anos da década de 60 foram marcados por inflação alta, desestabilização política, e os problemas já iniciados nos anos 40 e 50 foram se tornando cada vez mais intensos. (pg.179)

1.     A Tentativa de Estabilização sob Quadros

Em janeiro de 1961 foi a vez de Jânio Quadros assumir como Presidente da República por meio de voto popular, sendo um dos mais expressivos da história. As dificuldades enfrentadas na política se deram em grande parte por causa da herança deixada por Kubitscheck. (pg.180)
“As iniciativas de política econômica do governo seguiram essa ordem de prioridades: redução do desequilíbrio do balanço de pagamentos, renegociação da dívida externa e combate à inflação, em linhas gerais de forma consistente com o que se entendia na época como a visão ortodoxa”. (pg.180)
Jânio possuía um programa ligado a estabilização político-econômica do país, o que foi por água abaixo com sua renúncia em agosto do mesmo ano, sendo que até setembro foi vivenciado um descontrole fiscal, monetário e creditício. (pg.183)

2.     O Impasse Parlamentarista

A renúncia de Jânio fez com que fosse adotado o regime parlamentarista, posto que os militares vetaram a posse do Vice, João Goulart. O programa de governo que foi sugerido pelo primeiro-ministro possuía bons objetivos e intenções, era ousado e extensivo. (pg.183)
“A política econômica externa sob o parlamentarismo foi marcada por três eventos: o abandono do movimento em direção à unificação cambial, a negociação do primeiro Acordo Internacional do Café e a aprovação da Lei nº 4.131, a chamada Lei de Remessa de Lucros, que ainda regula aspectos importantes dos fluxos de capitais entre o Brasil e o exterior”. (pg.186)
Mesmo com as relações Brasil-Estados-Unidos abaladas, ambos se uniram para negociar o Acordo Internacional do Café, tendo este logrado êxito em consolidar os valores da commodity em seu período de validade. (1963 a 1968). (pg.187)

3.     A política econômica sob o presidencialismo restaurado

No ano de 1963 foi votado por meio de plebiscito o retorno do presidencialismo, e nesse embalo foi aprovado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. (pg.188)
Ainda em março deste ano foi implementado um plano para conter as despesas da União em conjunto com as políticas restritivas da SUMOC. Porém, no mês de maio o plano passou a ser deixado de lado, até porque foi estabelecido um reajuste do funcionalismo. (pg.190)
“Se os resultados domésticos mostraram-se decepcionantes, a evolução do setor externo da economia teve aspectos favoráveis. (...) O abandono do realismo cambial coincidiu com o fracasso das negociações, lideradas por Santiago Dantas, para reescalonar os compromissos externos do país”. (pg.191)
As forças políticas durante esse período foram pequenas, Goulart não se demonstrava capaz o suficiente para resolver os problemas macroeconômicos, apesar disso não pode esse fato ser o responsável pelo golpe militar inteiramente, mas certamente teve contribuição. (pg.194)

4.     Avaliação do período

Em resumo, o período de 1961 a 1964 se caracterizou pela recessão de 1963, o crescimento do PIB foi o mais baixo desde o fim da Segunda Guerra, a restrição de liquidez influenciou o desempenho da indústria. (pg.194)
A estabilidade procurada durante esse período não foi alcançada, pode-se explicar pela ausência de espaço, as ideias de expansão eram limitadas pelas posturas dos governantes. (pg.195-196)

(continua...)

A Ordem do Progresso (8): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
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CAPÍTULO 8 - DEMOCRACIA COM DESENVOLVIMENTO, 1956-1961

Luiz Orenstein e Antonio Claudio Sochaczewski

Introdução

No período em que Kubitschek governou, o setor público teve bastante apoio com políticas evidentes de desenvolvimento. As vantagens foram alcançadas tanto para o setor privado quando para o público. “A economia cresceu a taxas aceleradas, com razoável estabilidade de preços e em um ambiente político aberto e democrático”. (pg.157)

1.     A política cambial

A política cambial foi praticamente a única política econômica que o setor público tinha a época. A economia do país evoluiu de forma significativa na década de 1950 e 1960, em razão das estratégias operacionais adotadas pelos gestores econômicos. (pg.157)
A movimentação dos capitais autônomos teve alta a partir do ano de 1955, logo após ter passado por uma crise e atingido seu mínimo no ano anterior. A reforma que estava sendo aplicada fez com que reduzisse as categorias de tarifas apenas para a Especial e a Geral. (pg.159)
No ano de 1957 houve outra reforma, esta, por sua vez, aprofundou a modificação do processo de importação, pois a indústria estava alcançando cada vez mais etapas avançadas. (pg.160)

2.     As políticas de desenvolvimento

As políticas cambiais talvez possam ser entendidas como as mais importantes para o setor público naquele momento, e as demais políticas são vistas como políticas de desenvolvimento. Entretanto, as políticas não estavam sendo direcionadas por um planejamento específico, mas todas tinham como objetivo o desenvolvimento. (pg.161)
No final do ano de 1956 foi instituído o Plano de Metas, este tinha metas para cinco anos e seus objetivos priorizavam as seguintes áreas: alimentação, indústria de base, energia, educação e transporte. Além de construir uma nova capital para o país. (pg.162)
Os planos contínuos com tentativa de estabilizar serviram apenas como maneiras de diminuir a inflação para níveis aceitáveis de forma a não abandonar a evolução até se estabilizar. (pg.166)

3.     O papel do setor público

Os planos que foram implementados estavam passando a responsabilidade de coordenar as obras de infraestrutura para o setor público de forma a anular os impedimentos aos processos de industrialização. (pg.166)
Os maiores investimentos do período foram na indústria, principalmente na produção mineral e química, no qual estavam inclusas a “produção e refino de petróleo e a extração de minério de ferro”. (pg.168)

4.     As políticas fiscal e monetária

A importância das políticas fiscais e monetárias foram relativizadas em razão da maior ênfase no plano de desenvolvimento. “A política econômica, em especial a de moeda e crédito, era gerenciada pela SUMOC, pelo Banco do Brasil e pelo Tesouro”. (pg.170)
O Banco do Brasil vinha se expandindo, tanto com relação a moeda escritural quanto com o papel-moeda. “Na verdade, as três atribuições do Banco do Brasil combinavam-se funcionalmente e implicavam a crescente operação daquele estabelecimento”. (pg.170)
As contribuições com as empresas de transporte da União correspondiam a parcela mais importante de despesa do Tesouro, apesar de o governo ser reservado com relação a liberação de tarifas para este fim, em razão de estar preocupado com o peso que isso traria para a inflação e o custo de vida. (pg.172)
No ano de 1958 houve uma movimentação política a fim de que fosse aprovado o Programa de Estabilização Monetária (PEM), o qual deveria se aprimorar em duas fases. (pg.174)
“Na primeira, fase de transição e reajustamento, que se estenderia até fins de 1959, procurar-se-ia reduzir drasticamente o ritmo da elevação dos preços através de duas metas: uma, econômica, que se traduziria na correção das distorções criadas pela inflação, na distribuição da renda, na orientação dos investimentos e nos preços do setor externo da economia; outra, social, de se proteger o salário real ao invés dos reajustes constantes dos salários nominais. Na segunda etapa, fase de estabilização, procurar-se-ia, a partir de 1960, limitar a expansão de meios de pagamentos no necessário para o ritmo de crescimento do produto real, com vista a assegurar um grau razoável de estabilidade nos preços internos e reequilíbrio no balanço de pagamentos (PEM, 1958, p. 11-12)”. (pg.174)
No final das contas, Kubitschek entendeu por continuar seu governo de forma a procurar o desenvolvimento sem desprezar as políticas de controle monetário. Seu governo foi marcado por características contensivas e nos últimos anos passou a ser bastante instável, o que provocou repercussões na política econômica brasileira. (pg.177)

(continua...)

A Ordem do Progresso (7): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
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CAPÍTULO 7 - O INTERREGNO CAFÉ FILHO, 1954-1955

Demosthenes Madureira de Pinho Neto

1.     Introdução

Período relativo ao intervalo entre o suicídio de Vargas e a posse de Juscelino Kubitschek. (pg.143)

2.     A gestão Gudin

Café Filho assumiu a presidência com o suicídio de Vargas e nomeou Eugênio Gudin para ministro da Fazenda, este veio estabelecendo medidas seriamente ortodoxas com relação às políticas econômicas, mas principalmente as atitudes contra a inflação. (pg.143)

A conjuntura econômica externa

O Brasil passava por uma crise com os preços do café e a diminuição nas exportações até o meio do ano de 1954. Em razão disto, Gudin fez tratativas com o Fundo Monetário Internacional para renovar o empréstimo realizado por Aranha. (pg.144)
Em 1955 foi promulgada a Instrução 113 da SUMOC, sendo que a partir daquele momento a Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (CACEX) tinha autorização para licenças para importar sem cobertura cambial “equipamentos destinados à complementação dos conjuntos já existentes no país e classificados nas três primeiras categorias de importação”. (pg.146)
Essas atitudes tinham como objetivos principais a reforma financeira e econômica interna, mas pode-se dizer que não existiu “qualquer “ruptura”, no que tange ao tratamento concedido ao capital estrangeiro, que tenha sido introduzida pela instrução, já que o governo Vargas, apesar da retórica nacionalista, vinha progressivamente liberalizando a legislação aplicável aos fluxos de capitais privados”. (pg.147)

A política de estabilização doméstica

O mandato de Gudin tinha como objetivos principais “austeridade fiscal e contração monetário-creditícia”, uma vez que foram observados a expansão monetária e o déficit público, ambos em razão da inflação. (pg.147)
Gudin tinha a intenção de iniciar um programa fiscal severo, combinado com a diminuição das despesas públicas e o desenvolvimento da receita orçamentária. (pg.147)
Em razão deste programa, as contrações da expansão do crédito prejudicaram a liquidez que experimentou uma crise ao final de 1954. Mas foi o denominado “confisco cambial” que desencadeou o processo político que levou a troca de Gudin. (pg.149)

3.     A administração Whitaker

A primeira medida de Whitaker foi de acabar com o “confisco cambial”, pois considerava absolutamente ilegal, injusto e contrário à Carta Magna. Esta fase inicial foi de não contenção, pelo menos no que diz respeito ao auxílio às classes produtoras. (pg.149)

A condução da política econômica

Logo em seguida a assumir seu posto, Whitaker experimentou sua primeira crise, a bancária, no ano de 1955, que chegou até ocasionar uma paralisação na atividade da indústria e do comércio. (pg.150)
O novo ministro tentava de várias formas retomar a economia, diante disto entendeu por suspender temporariamente as aquisições de café, até que os concorrentes entendam os esforços que o Brasil fez para reter estoque. (pg.150)
“Whitaker, na verdade, parecia preocupar-se mais com a renda em cruzeiros da lavoura do que com a receita de divisas do país. De fato, a política cafeeira do ministro só era inteligível à luz dos objetivos maiores, encarnados pela reforma cambial com a qual visava restituir à cafeicultura o que o governo apropriava-se por meio do chamado ‘confisco’”. (pg.151)

A reforma cambial

Durante muito tempo o Brasil vinha tendo atitudes cambiais opostas às recomendações das entidades internacionais, especialmente do FMI. Gudin vinha adiando a centralização das taxas cambiais “ações, decorrente do regime de taxas múltiplas, era indispensável à sua política de estabilização interna”. (pg.151)
Foi então que o presidente estabeleceu os termos de uma reforma, tendo como principais condições as seguintes: “a consolidação a longo prazo dos vultosos compromissos externos de curto prazo; a obtenção de um stand by credit, a ser utilizado para evitar flutuações demasiado violentas no mercado livre; e, finalmente, a reformulação do sistema tarifário brasileiro para garantir relativa proteção às indústrias após a eliminação dos ágios cambiais”. (pg.152)
Ao final do governo do presidente Correa, o ministro da Fazenda foi substituído, sendo que o novo ministro, Mário Câmara, iria tentar manter a política monetária ortodoxa que estava sendo buscada. Contudo, restavam apenas mais três meses de governo presidencial e não havia muito mais a ser feito com relação a política econômica. (pg.154)

4.     Considerações gerais

O governo de Café Filho foi pequeno e não há muitos dados para se analisar. Mas pode-se dizer que o PIB e a indústria tiveram crescimentos, apesar de ter sido evidenciada uma constrição dos investimentos no ano de 1955. “No quadro político do pós-guerra, o governo Café Filho pode ser considerado um efêmero triunfo do “golpismo” udenista. Mais do que um ensaio, tratava-se de um anúncio de 1964”. (pg.154-156)


(continua...)

A Ordem do Progresso (6): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

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CAPÍTULO 6 - DUAS TENTATIVAS DE ESTABILIZAÇÃO, 1951-1954

Sérgio Besserman Vianna

1.     Introdução

No período de governo do presidente Vargas, a política econômica foi caracterizada como uma opção ao capitalismo, uma vez que fora “apresentada como resultado seja de uma estratégia abrangente e bem definida de desenvolvimento econômico”. (pg.121)
A ideia do governo era separar em dois momentos: primeiramente “haveria a estabilização da economia, o que, na visão ortodoxa das autoridades econômicas de então, consistia fundamentalmente em equilibrar as finanças públicas de modo a permitir a adoção de uma política monetária restritiva, e dessa forma, acabar com a inflação”, em seguida viriam “empreendimentos e realizações”. (pg.121)
Com a vitória de Vargas nas eleições de 1950, os Estados Unidos demonstraram maior vontade em auxiliar financeiramente os programas de desenvolvimento. Ainda em 1950 foi criada a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos - CMBEU, como demonstração dessa disponibilidade e foi essencial para o sucesso do segundo momento das ideias do governo. (pg.122)

2.     Rumo ao colapso cambial, 1951-1952

A política econômica externa

No início do governo as expectativas de melhora na economia eram promissoras, as relações com os Estados Unidos estavam indo bem, o preço do café vinha aumentando desde meados de 1949. (pg.122)
O combate à inflação tinha uma importância na rigidez da época imputado ao aumento das importações. “A inflação era explicada pela expansão dos meios de pagamento que, no caso brasileiro, chocava-se com uma oferta relativamente inelástica no mercado interno agravada pela escassez de oferta de bens de produção que tornava a melhoria de produtividade dependente de importações”. (pg.123)
Em 1952 o país enfrentou uma crise cambial que teve início com a falta de controle do comércio internacional em razão da discrepância presente entre “a concessão de licenças e a efetivação das importações”. (pg.125)

A política econômica doméstica e o desempenho da economia

Foi-se então definido o planejamento econômico do governo, com a concessão do controle para os encarregados a pensar sobretudo de forma mais rígida. (pg.125)
No setor público, as despesas tiveram redução, os custos com investimento foram restringidos, por outro lado, a receita teve aumento, muito por causa do desenvolvimento da economia, mas também em razão da inflação e principalmente da melhora na forma de arrecadar e pela expansão das importações. (pg.126)
A economia teve um bom desempenho, o PIB aumentou de 4,9% para 7,3% nos anos de 1951 e 1952. O setor que mais cresceu foi o de serviços, muito em razão da impulsão ocasionada pelas importações. Os dados mais importantes deste período estão relacionados com os investimentos realizados por causa das importações com taxa de câmbio sobrestimada. (pg.127)

3.     A transição para o novo ministério

Ao entrar no ano de 1953, o país sofria com uma crise cambial posto que o retardamento comercial estava avaliado em cerca de 600 milhões de dólares e a inflação ainda não tinha sido reduzida. O projeto de reorganizar o cenário econômico-financeiro para iniciar o momento de empreender não estava dando certo. (pg.127)

Relações econômicas internacionais

As crises sofridas pelo Brasil por volta dos anos de 1952 ocasionaram grandes atrasos comerciais, os quais levaram o Banco Mundial a resolver intervir na situação promovendo opções. O Brasil então sofreu de duas formas: primeiramente, o país permitiu que o Banco Mundial intervisse coercitivamente para que o Eximbank praticasse exigências rígidas no tocante ao empréstimo de dólares. Seguinte a isso, foi determinada a extinção da CMBEU e como consequência o encerramento dos financiamentos para os projetos apresentados. (pg.129)

Conjuntura econômica e evolução do quadro social e político

No ano de 1953, entra como destaque o empréstimo que o Brasil realizou com o Eximbank, no valor de 300 milhões de reais, com prazo para amortização de apenas três anos e com taxa anual de juros de 3,5%. (pg.130)
Neste mesmo ano foi promulgada a Lei do Mercado Livre, Lei nº 1.807, a qual tinha como um dos principais objetivos o aumento nas exportações, sendo que o mesmo não fora atingido, pois teve seu percentual diminuído em 11% com relação ao ano anterior. (pg.131)
O país ainda passava por inúmeros problemas internos, como, por exemplo, quando eclodiu a greve geral dos trabalhadores. O atual presidente, Vargas, havia realizado um acordo de melhorar a distribuição de renda e a qualidade de vida, mas como não ocorreu a greve emergiu. Além disso, Jânio Quadros vencia as eleições como prefeito de São Paulo o que debilitava a base aliada do governo presidencial. (pg.132)

4.     A nova tentativa de estabilização

O programa Aranha e os resultados de 1953

Aranha assume o Ministério da Fazenda com novas ideias, esperançoso que poderia estabilizar a economia com métodos ortodoxos. Os objetivos ainda não haviam sido estabelecidos, mas sabia-se quais eram os problemas principais: “a situação cambial e o financiamento do déficit público sem emissão de moeda e expansão do crédito”. (pg.133)
Ao promulgar a Instrução 70 o governo tentou abarcar esses dois problemas em uma mesma resolução. Diante dos resultados desta instrução, pode-se dizer que estes foram favoráveis, a exportação estava se recuperando, as importações não caíram e a receita foi elevada. (pg.135)
Os dados mais relevantes do ano de 1953 foram que a inflação aumentou de 12% para 20,8%, a economia não teve crescimento tão baixo, apenas 4,7% menor do que os anos precedentes, a indústria teve crescimento de 9,3%, o PIB de 0,2%. (pg.137)

Novas dificuldades: café e salários

As expectativas para o ano de 1954 eram positivas, esperava-se um crescimento da economia, a confiança também estava sendo depositava na safra do café e na renegociação da dívida com o Eximbank. (pg.138)
Neste ano ocorreu um problema, o salário-mínimo teve aumento de 100%, o que provocou muita tensão política e polêmica. Além disso, o país estava tendo problemas com o café, pois houve uma geada nos principais estados produtores, o que prejudicou em cerca de 3 milhões de sacas. (pg.139)
Ao final do mandato de Aranha, seus objetivos estavam demasiadamente danificados o que comprometia a estabilização econômica, não só em razão dos problemas com o café, como visto, mas também em razão do aumento do salário-mínimo realizado contra a sua vontade, pelo presidente. (pg.140)

5.     A última crise

A crise de 1954 que antecedeu o golpe, o qual derrubou Vargas, foi um dos motivos de enfraquecimento do governo o que possibilitou o presidente se isolar politicamente e criou os requisitos para o golpe ser promissor. (pg.141)
Após o golpe, várias nuances históricas e políticas desabrocharam, inclusive movimentos anti-golpes, mas talvez a mais importante foi a impulsão que a bancada centro-esquerda (PSD-PTB) teve para posteriormente eleger Juscelino Kubitschek. (pg.141)

(continua...)